𝐗𝐗𝐗𝐕𝐈𝐈𝐈
˖˙❛ 𝐒𝐄𝐗, 𝐃𝐑𝐔𝐆𝐒 𝐄 𝐄𝐓𝐂. ❜ ꜝꜞ
38 ... ❨ capítulo trinta e oito ❩
━━ vamos conseguir superar isso? vai doer?
escrito por 𝖗𝖊𝖈𝖈𝖆𝖜 𝖊 𝖒𝖘𝖚𝖌𝖚𝖗𝖔
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Para uma melhor experiência, sintonizem a música do capítulo em Christmas Kids, Roar. Quando o símbolo * aparecer, troquem para "It'll be okay, Shawn Mendes.
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Naquele dia Lexie nunca se sentiu tão grata por ter pessoas tão boas ao seu lado. Isto, claro, pensou depois de quase dois meses cuidando da sua melhor amiga, todo dia dormindo no hospital ao seu lado e tentando superar o que aconteceu. Agradeceu Satoru por sua paciência e compreensão com ela, agradeceu Suguru pela ajuda física e mental, agradeceu Shoko por não julgá-la e por respeitar seu tempo e claro, a mais importante de todas, agradeceu Maxine por ter defendido sua amiga com unhas e dentes.
Também se sentiu culpada. O que não foi à toa, já que só não conseguiu ajudar a amiga por estar completamente fora de si. Se culparia para sempre. E nunca esqueceria o que viu e o que passou naquela madrugada, tentando reanimar a amiga na entrada do hospital - já que a solução realmente foi levá-la correndo nos braços - enquanto os paramédicos tentavam a afastar. Nunca se esqueceria da única resposta que Maxine deu a todo tratamento, antes de conseguir falar: segurar a mão de Lexie. Nunca tiraria aquele peso de dentro de si mesma, nem com droga alguma, nem com terapia.
E depois de dois meses e meio no hospital, Maxine ainda não conseguia falar direito. Depois do acontecido, seu maxilar quebrou. Seu maxilar, nariz, duas costelas, o braço direito e uma das pernas, além de todos os danos internos aos seus órgãos. Ela apanhou muito. Muito e numa intensidade surreal. Tanto que Lexie, quando viu seu rosto iluminado pelas luzes do hospital, azuis e vermelhas refletidas pelas ambulâncias paradas na porta, tomou um susto. Pensou se algum dia seu rosto voltaria a ser o mesmo ou se algum dia ela conseguiria se perdoar por ter deixado aquilo acontecer na sua frente.
Não se importava com o próprio trauma. Ele havia se tornado superficial perto da gravidade da situação de Maxine, que teve, no decorrer do tratamento, duas paradas cardíacas. Lexie estava lá no dia e quase faleceu junto. Quando o monitor do hospital parou, ela abriu os olhos e tocou no botão da emergência. Também não esperou ninguém vir correndo. Foi até o corredor, desesperada, e começou a gritar por socorro. Algumas enfermeiras foram direto para o quarto enquanto outras olhavam de fora a situação e pareciam pensar "boa sorte pra ela".
Maxine não respondeu à primeira tentativa de reanimação. Nem a segunda ou a terceira. A frequência dos choques só foi aumentando até que o barulho insuportável do monitor voltasse a funcionar e todo desespero do quarto se dissipasse devagar. E tudo só piorava quando a médica entrava na sala e reforçava que a situação dela era delicada, como se Lexie não tivesse percebido isso antes. Como se precisasse ser relembrada todo santo dia.
No final das contas, foi até bom. Porque sempre que lembrava disso, pensava em mais um jeito de agradecê-la quando estivesse melhor. E querendo ou não, Geto e Gojo também se envolveram mais com ela. De uma forma surreal, tanto que quando Lexie entrou no quarto e viu os dois segurando a mão dela, quase deixou as lágrimas tomarem conta mais uma vez. Embora eles tenham desfeito aquilo rapidamente, ela viu e amou.
A mãe de Maxine, vez ou outra, vinha a visitar, mas não parecia tão carinhosa ou tão preocupada quanto deveria, o que Evans julgou ser horrível da sua parte. Entretanto, também não ia se meter nos negócios de uma família que não era sua. Só se importava com a jovem Aiken, de qualquer forma.
Ainda não queria ficar sozinha com nenhum homem. Nem mesmo seus namorados, que todo dia levavam flores e presentes, torcendo para a melhora de Maxine. Pois qualquer movimento brusco, Lexie cogitava temer por sua vida. Não que tivesse medo deles, mas sentia um aperto no coração ao lembrar de todo o incidente e de como ela havia se tornado vulnerável em questão de segundos.
Shoko era outra que sempre ficava lá com ela. Apoio imenso. Saía das aulas e ia direto para o hospital, revezando os turnos da noite com Lexie, sempre que a via muito cansada. Além disso, ela realmente gostava da ruiva e por tempos, se pegava chorando. Quando Aiken abriu os olhos pela primeira vez, felizmente Shoko estava lá. Deu um suspiro de alívio, levando as mãos ao em torno da boca e até soltou uma risada anasalada de negação misturada com emoção.
O monitor hospitalar já havia se tornado o pior som do mundo, no entanto. Apitando sem necessidade e com uma frequência ridícula. Porém, ele era o que mantinha Lexie esperançosa, já que se Maxine parasse de respirar, ele seria o primeiro a não funcionar. E no final do dia, sempre que xingava aquele barulho, também agradecia por ele ainda estar tocando.
Também passava mais tempo do que deveria tentando ver se o peito da amiga ainda subia e descia. Deitava ao seu lado, encostando a cabeça no seu braço, e dormia ali mesmo - apenas quando havia outro alguém por perto.
E sobre seu vício? Bem, não conseguia usar nada muito pesado. Panda, às vezes, trazia um beck ou outro escondido no bolso, mas não passava disso. Afinal, nem podia fazer nada com sua amiga em coma justo por conta das drogas.
Saiu de lá e ficou fora apenas um dia. O dia em que Shoko e os dois amigos imploraram para ela fazer um passeio com eles e a chantagearam ao máximo - no bom sentido - para a tirarem de lá. Acabou que Lexie foi persuadida e quando notou, estava em um estúdio de tatuagem. Não só para tatuar outra homenagem a Maxine, mas para tatuar "os três".
Suguru com o: ⅓, Satoru com o: ⅔, e Lexie com o último número.
A dor parecia tão irrelevante que poderia fazer até um dragão gigante e colorido nas costas que nada seria o suficiente para tirá-la do estado apático em que estava. Pode-se dizer que ela estava pior do que nunca. Sem chão ou rumo qualquer, aterrorizada com a ideia de perder a única pessoa que amava como família na face da terra.
Mesmo assim, acabou a tatuagem e correu pro hospital, quase ignorando a presença dos dois garotos. Voltou andando sozinha, olhando para trás o tempo todo, encolhida no próprio moletom, com medo e receio. Eles a seguiam de longe, também preocupados com a forma que ela continuava lidando com tudo. E seguindo os conselhos de Shoko: "nada disso passaria sem uma ajuda profissional".
Mas Lexie Evans não ligava. Depois de alguns dias, agora estava sentada na varanda do quarto de hospital, regime que Maxine progrediu na sexta semana internada. Abraçava os próprios joelhos e sentia a bunda doer naquela cadeira confortável. Suguru estava sentado na cadeira ao seu lado, com a mão tentando chegar sob seu joelho e Shoko, sentada no chão gelado de granito.*
- Vai passar, Lexie.
- Não vai, Shoko. Eu sei que não.
- Não tem como você melhorar se você não quiser.
- Eu vou embora daqui.
- Que? - Suguru tragou e passou o cigarro para amiga.
- Quando Maxine sair do hospital. Nós podemos alugar algum quarto no meio da cidade, ficar lá até ela melhorar e depois...depois é depois. Eu quero dar uma vida boa pra ela.
- Lexie, as coisas não funcionam assim. E a sua faculdade?
- Eu não quero mais cursar nada.
- E a sua vida? Você vai deixar tudo pra trás?
Satoru chegou na varanda no instante em que disseram isso. Apoiou uma das mãos no ombro do namorado e a outra no ombro da namorada, a qual se encolheu, ficando atrás deles e tentando olhar para as expressões que exibiam.
- Ela comeu e dormiu. Tomou alguns remédios agora, então acho que ela vai capotar.
- Lexie disse que ela vai se mudar quando Maxine for embora.
- Que? Você vai o que? Não vai, não.
- Satoru, eu não consigo mais ficar aqui. Não quero mais.
- Mas...
Ele parou de tentar encostar nela e deu um passo para trás, o cenho franzido em confusão. Shoko se levantou, levantando as mãos para cima e olhando para Suguru, como se dissesse "acho que isso é coisa de vocês." O moreno assentiu e abaixou a cabeça, mordendo os lábios, aflito.
- Eu não quero soar egoísta, mas e a gente? Eu sei que você está nervosa e que tudo parece estar dando errado, mas...
- Eu amo vocês. - Lexie olhou pros dois, soltando os joelhos. - Eu só sei disso.
Geto balançou a cabeça várias vezes sem olhar para eles, disfarçando as lágrimas que escorriam do seu rosto. Não sabia porque estava chorando, mas sabia que algo não estava certo. Satoru logo percebeu e começou a fazer um cafuné no seu cabelo, sem querer chamar muita atenção.
- E eu não mereço vocês. Nem um pouco.
- Claro que merece. Nós te amamos também.
- É diferente.
E era mesmo.
- Você quer nos afastar. É isso.
- Suguru...
- É isso, não é? - Ele interrompeu o amigo e olhou para ela. - Nós estávamos bem. Nós tínhamos tudo pra dar certo, todas as vezes. Mas parece que você sempre quer ter um motivo para não dar certo com a gente. Parece que você está disposta a lutar por tudo, menos pela gente.
- Não é isso.
- É sim. É exatamente isso.
- Satoru... - Ela pediu apoio para o platinado querendo que ele a defendesse, mas ele limpou a garganta e se pôs atrás do melhor amigo.
- Não dessa vez, Lexie. Ele está certo.
- Mas...
- Tem alguma coisa que você está escondendo da gente?
Ela engoliu seco.
- Não.
- Certeza? - Gojo forçou mais um pouco.
- Sim, cara. Certeza.
- Então qual o motivo de você sempre querer afastar a gente?
- Eu não quero afastar ninguém. Eu só...estou com medo.
- Lexie, todo mundo tem respeitado seu espaço. Até o Sukuna. Mas não dá pra viver assim pra sempre. Eu acho que nós três já sofremos o suficiente um pelo outro. Tá na hora de você tentar, assim como nós tentamos esse tempo todo por você.
- Você acha que eu não tenho tentado? - Aumentou o tom da voz, soltando os joelhos e olhando no fundo dos seus olhos.
- Ele não disse isso.
- E então o que ele quis dizer, em?
- Que em nenhum momento você sacrificou algo pra estar com a gente. E nós sacrificamos quase tudo pra estar com você.
Ela ficou boquiaberta, sem saber ao certo o que responder. Era verdade e ela não queria encarar. Nunca quis ver isso. Era mais fácil só tapar os olhos e fingir que não via.
- Porra, Lexie, nós quase imploramos de joelhos por você. E agora, depois de tudo isso, você quer ir embora? Sem mais, nem menos?
- Não foi isso que eu quis dizer.
- Foi exatamente isso, Lexie. Exatamente isso.
- Você acha que isso é um jogo? Acha que é legal ficar brincando com os sentimentos dos outros desse jeito?
- Desculpa.
Todos que queriam falar, se calaram. Tudo que sequer pensaram, tinha sido em vão. A dor na voz dela era tão grande que os envergonhou por terem dito tamanhas palavras. Engoliram seco, esperando que ela ao menos falasse algo:
- Eu...eu estou com medo. De tudo. Tudo parece estar dando errado e eu não...não quero amar de novo se isso significar me machucar de novo. Olha pra Max. Ela quase morreu. Ela não consegue nem falar, nem abrir a boca, tadinha. - Olhou pra trás só para conferir se a melhor amiga estava dormindo. - Ela foi pra cima deles pra me defender da merda que eu tinha feito.
- Que merda você fez?
- Eu pedi pra eles pararem de fumar do meu lado. - Mentiu. - Estava me deixando com vontade e eu não ia me controlar.
- Então você não estava fazendo merda.
A feição preocupada e compreensiva deles a deixava triste. Não gostava de estar mentindo.
- É.
- Lexie, você não fez nenhuma merda.
- Posso até não ter feito naquele momento, mas tudo está uma merda. Tudo. Literalmente tudo.
- E a gente?
- Vocês não. Vocês são as únicas pessoas que conseguem me deixar tranquila.
- Então não deixa esses seus pensamentos bobos atrapalharem isso. - Satoru falou. - Se nós te fazemos bem, deixa a gente continuar fazendo isso.
- Nós não vamos fazer nada de ruim com você. Ele só vai fazer as piadas bestas de sempre e...
Geto não conseguiu terminar de falar. Ouviu os soluços de Lexie e com a iniciativa do amigo, os dois abraçaram-na com força. Beijaram o topo da sua cabeça e sussurram sons tranquilizantes, daqueles que fazem para bebê dormir.
- Vai ficar tudo bem.
- E mesmo que não fique, nós vamos estar aqui. Inteira e completamente apaixonados por você.
- Se isso ajudar em algo, né...
- Satoru. - O moreno chamou sua atenção.
A garota engoliu seco e olhou pra cima, querendo que as lágrimas entrassem de volta dentro dos seus olhos e sumissem. Mordeu o lábio superior, tirando algumas peles dali, e falou, com a voz baixa quase inaudível:
- Será que nós podemos comer alguns cupcakes na lanchonete?
- Claro, meu amor.
Sorriram.
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