𝐗𝐗𝐗𝐈𝐈
˖˙❛ 𝐒𝐄𝐗, 𝐃𝐑𝐔𝐆𝐒 𝐄 𝐄𝐓𝐂. ❜ ꜝꜞ
32 … ❨ capítulo trinta e dois ❩
━━ tentar amar
escrito por 𝖗𝖊𝖈𝖈𝖆𝖜 𝖊 𝖒𝖘𝖚𝖌𝖚𝖗𝖔
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Além disso, para uma melhor experiência, sintonizem a música do capítulo em Colors, Halsey.
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Em meio à vastidão luminosa de Tóquio, havia um aquário que transcendia as expectativas de qualquer visitante. Suguru soube, desde a chegada de Lexie em sua vida, que teria que levá-la lá. Se esforçava na intenção de ser, no mínimo, romântico o suficiente para ver os olhos dela brilharem outra vez.
Arrastou Satoru para fora do quarto e disse que, em duas horas, eles sairiam da fraternidade. Só esperou a garota se arrumar - do jeito pouco vaidoso que era - e ainda aproveitou para tirar um cochilo breve. Quando acordou, era o único atrasado. Lexie tinha um copo enorme de suco de laranja nas mãos e Satoru mexia em um bolo de cartas de baralho, na escrivaninha em frente a cama. Eles conversavam entre si, dando risadas e parecendo realmente felizes um com o outro. Ao perceberem o moreno acordado, um silêncio diferente do constrangedor se instalou no cômodo.
— Bom dia, flor do dia. - O platinado tirou as mãos do baralho e se apoiou na mesa atrás de si.
— Caralho. Que horas são?
— Duas e dez.
— Você dormiu bastante, em.
— Porque vocês não me acordaram?
— Você fica bonito dormindo. - Lexie deu de ombros, sem pensar muito.
— Deixei você dormir um pouco. - Já Satoru parecia animado demais na resposta.
— Vou tomar banho só. Bem rápido.
— Eu também não tomei banho.
— Tomou sim, Satoru. Nem vem de história.
— Você nem tava acordado!
— Vai logo tomar banho, lindo. Eu seguro esse maníaco pervertido comigo.
— Agradeço.
Geto encostou a porta do banheiro logo assim que entrou e já foi tirando a camisa fina que vestia. Sua calça moletom pendia um pouco larga na cintura e a barra até chegava a arrastar no chão, mas não era incômodo. Uma das mãos pegou a escova de dentes e a outra levou a pasta na sua direção. Seus olhos ainda um pouco mais fechados que o normal tentavam absorver toda a informação através da janela aberta do banheiro, mas pararam logo sobre outra coisa.
Lexie Evans caminhava lentamente até ele com toda sua beleza ao contrário de suave. Uma parte do seu cabelo preto preso em um pequeno coque samurai no topo da cabeça e o restante solto, deixando a mostra os lados raspados. Seus olhos claros penetrando nele por meio do espelho e sem falar na sua roupa característica dela. Uma blusa estampada com algum anime bem conhecido, um casaco de moletom cinza e uma bermuda preta, mesmo que fizesse um pouco de frio no Japão.
Logo o moreno descobriu que o boné dela estava na cabeça de Satoru, comprimindo seu cabelo bagunçado assim como a regata preta fazia com seus braços. Ele também entrou no banheiro com sua estatura enorme e permaneceu atrás de Lexie, fazendo o mesmo que ela; abraçando-o.
A garota ficou no meio, abraçada às costas do moreno enquanto Gojo abraçava ela e o melhor amigo ao mesmo tempo - ou tentava esticar os braços para tanto.
— O que acha de fazer tranças hoje? - Evans deu a ideia.
— Não. Eu queria…
Não completou a frase. Ficou em silêncio por um longo período até que o mais alto o interrompesse.
— Queria o que?
— Combinar.
— Combinar?
— Combinar com você. - Olhou pra Lexie no espelho. - O cabelo.
Ela deu um sorriso extremamente grande e riu, genuinamente. Suas bochechas coraram um pouco e ela o apertou mais ainda.
— Gostei.
— Ei! Não é justo. Eu vou ficar de fora!
— Você pode prender um tiquinho do seu, Satoru. Olha… - Se desvencilhou do moreno e foi até a pia parar tentar achar um elástico. Logo lembrou que havia um em seu pulso. - Senta aí.
Satoru fez o que a menina mandou e se sentou na privada. Fazia um biquinho enorme por não poder participar da brincadeira.
— Eu também quero combinar com vocês!
— Satoru, você é mesmo um bebê, não é? - Geto bagunçou seu cabelo antes de tirar a calça e a cueca e entrar no banho. Ligou o chuveiro sem nem se importar com os dois ali.
Mas percebeu assim que abriu os olhos que Lexie e Satoru estavam o encarando como se estivessem vendo uma divindade na terra. Molharam os lábios e engoliram a seco, então Suguru fechou a cortina típica do Japão em frente ao box e resmungou:
— Vocês não tem jeito mesmo, minha nossa.
— Você tira a roupa na nossa frente e a gente não tem jeito?
— São necessidades básicas, Suguru. - Lexie caçoou, tirando sarro do famoso dialeto que usavam para defender homens. Mesmo assim, não parou de mexer no cabelo dele. - Você deveria entender.
— Ei, meu cabelo. Vou pintar ele de preto. - Cruzou os braços na frente do corpo, irritado.
— Tá louco?
— Não! Seu cabelo é lindo. E vai ficar lindo agora também.
Gojo resmungou um pouco mais até, depois de um tempo, se olhar no espelho. Assim que viu o pequeno chumaço de cabelo preso em um elástico preto, levou as mãos à boca. Esboçou um sorriso sem dentes e abriu a cortina do box, orgulhoso em mostrar o penteado para o amigo.
Ficou esperando alguma fala de aprovação, mas o amigo começou a rir. Não de maldade, mas de como achava meigo o fato dele querer combinar algo tão banal com eles. Se alguém dentre eles tivesse que se considerar especial, seria Satoru, o qual havia nascido com a loteria dos genes ganha. Tudo nele era lindo e mesmo assim, queria um cabelo preto tão sem graça quanto o de Lexie e Geto.
— Quem é esse homem sexy de cabelo branco preso na minha frente? Será que ele pode me passar o número dele e da menina morena linda atrás dele?
— Não sei. Você terá que perguntar pro outro moreno gostoso quem é.
Suguru juntou as mãos embaixo do chuveiro e esperou encher para jogar água para fora do box. O pouco que respingou no teto não foi nada comparado ao tanto de água que molhou os dois do lado de fora, que começaram a rir e se afastaram rapidamente. Ameaçaram a abrir a torneira e participar ainda mais da brincadeira, mas o moreno já havia se rendido, gritando “parei!” repetidas vezes.
Fechou o registro e se enrolou na toalha. Satoru e a menina saíram do banheiro e se sentaram na cama, esperando o príncipe se aprontar. Após tanto tempo de conflitos e mal-entendidos, eles finalmente encontraram a harmonia que tanto lhes faltava. O peso das palavras não ditas e das mágoas acumuladas ao longo do tempo já se aliviavam, dando lugar a uma paz inesperada.
Podiam expressar abertamente o que sentiam uns pelos outros, um novo tipo de vínculo se formada a cada minuto. Um mais profundo e sincero do que o outro. Não havia mais necessidade de esconder, de reprimir ou de fingir indiferença. O amor era a prova viva de que, apesar de todas as brigas, o laço que os conectava era indestrutível. Em plena sintonia, se sentiam.
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Suguru soube desde que se apaixonou por Lexie que teria que levá-la para o maior aquário de Tokyo. Ou melhor, ser romântico o suficiente para fazê-la suspirar como fez quando viu eles pela primeira vez. Seu jeito ainda causava isso nele. A forma como seu casaco moletom cinza caía perfeitamente em cima da blusa de anime e combinava de um jeito inesperado com a bermuda preta.
Ou como ela ficou linda com o penteado que ele amava usar. O coque samurai preso para trás, destacando os lados raspados da sua cabeça que normalmente não apareciam tanto. As tatuagens, os piercings e seu modo de ser tão frenético e indeciso, quase igual ao de Satoru, o qual não ficava para trás no quesito beleza.
Sua regata preta e bermuda tão branca quanto seu cabelo também preso - ou pelo menos que tentava ser preso pelo elástico - faziam-no parecer simples até demais. Afinal, não era todo dia que se encontrava um homem de olhos azuis feito o oceano pacífico e um cabelo platinado. Ainda sim, a corrente em seu pescoço dava todo charme possível pra ele.
O moreno vestia o mesmo de sempre. Uma camisa de mangas compridas preta, uma bermuda azul escura e as famosas meias que chegavam beirando a canela. No geral, os três não precisavam de muito. Ainda mais quando se tem muitas tatuagens pelo corpo, piercing na sobrancelha, músculos até demais e os brincos na orelha.
Foram até o carro e deram partida. Não muito tempo depois, estavam na porta daquele local. Lexie foi imediatamente envolvida por uma atmosfera surreal, onde a realidade parecia se misturar com um sonho. O ambiente estava imerso em um tom azul profundo, quase etéreo, que dominava o espaço como uma maré calma. As paredes se tornaram tão parecidas com água que eles juravam ver o movimento das ondas.
Luz emanava de todas as direções, refletida nas superfícies reluzentes dos tanques cilíndricos que se erguiam como colunas cristalinas, preenchidas com águas e peixes dos mais diversos. Tantas cores, escamas e tamanhos que os olhos chegavam a não focar direito.
Cada um desses pilares aquáticos erguidos do chão ao teto abrigava delicadas medusas, que flutuavam como fantasmas, seus corpos translúcidos capturando e refletindo as luzes ao redor. As criaturas pareciam dançar em câmera lenta, suas formas esvoaçantes se movendo graciosamente, quase como se fossem parte de uma coreografia secreta. Eles, ali, se sentiam como pequenas criaturas dentre o oceano tão grande e vasto. Tudo isso quanto Lexie mal conseguia fechar a boca, observando em silêncio, fascinada pela suavidade com que as medusas deslizavam pela água, suas formas pálidas contrastando com o azul brilhante que as circundava.
Acima dela, um espetáculo de pequenas esferas luminescentes flutuava, suspensas por fios invisíveis, criando a ilusão de estrelas aquáticas. Essas esferas, ora piscando, ora emitindo um brilho constante, lembravam pequenos planetas distantes, transformando o teto do aquário em um firmamento subaquático. Uma galáxia imersa em água cristalina, de alguma forma a lembrava os olhos de Gojo. O reflexo delas no chão brilhante e nos tanques de vidro criava um efeito de infinito, como se o oceano tivesse sido trazido para dentro daquele espaço, mas com uma beleza ainda mais mágica e contida.
Algumas estruturas cúbicas de vidro também eram iluminadas ao fundo e pareciam servir de passagens para outras dimensões, quase como portais para um mundo submerso. O reflexo das luzes e das formas fluidas das medusas se repetia em cada superfície, tornando difícil distinguir onde a realidade terminava e a ilusão começava.
Por um instante a morena teve medo de tocar em qualquer coisa que fosse. Ficou receosa em apoiar a mão no pilar d'água, mas logo foi incentivada pro Satoru que pegou sua mão e da maneira mais devagar que pôde, a levou até o vidro.
— Como eu nunca vim aqui antes?
— Também não sei, gatinha.
— Uau, isso é….lindo. Parece…
— O paraíso? - Suguru surgiu do outro lado do vidro, colocando sua cabeça para o lado para que Lexie pudesse o ver.
— É. O paraíso.
— Isso só porque você está com a gente. Se estivesse sem a nossa maravilhosa companhia, não seria tão bom assim.
— Não vou discordar. - Deu um sorrisinho besta na direção do platinado, que proferiu o comentário anterior. - Mas só porque eu nunca conheceria esse lugar se não fossem vocês.
— Uma hora ou outra você conheceria. Aposto.
— É. Esse é literalmente o lugar mais lindo do mundo. Nunca vi algo assim.
— Só os olhos dele.
— É. Esse aquário é seu, Satoru.
— Que honra, meus amores. Me sinto o rei desse lugar.
— Não deveríamos ter falado isso. - Geto se arrependeu imediatamente e já foi andando para frente, seguindo o passeio.
— Não mesmo. - Lexie riu, mas não deixou de também se irritar com o platinado retrucando. - Mas tudo bem. Eu gosto daqui.
— Deveríamos passar todos os dias aqui. Parece que o mundo para. - Gojo se apoiou em uma parede escura.
— Isso me lembra o Caribe. Uma vez minha mãe me trouxe um cartão postal de lá e o lago era exatamente dessa cor.
— O caribe é tão lindo assim, princesa? - Geto passou os braços por cima dos ombros dos dois.
— Muito mais que isso. Mas eu prefiro lugares frios.
— Tipo?
— Tipo o Alasca. As montanhas e os lagos congelados. Dá até pra patinar.
— Você patina?
— Eu tento.
— Eu falo que não tem uma coisa no mundo que você não saiba fazer. - Satoru esfregou os lábios, nem um pouco carinhosamente, nela. Foi um selinho brincalhão.
— Por que não vamos para lá? Iríamos ao lago sempre que pudéssemos e acordariamos com essa vista todo santo dia.
— Tudo parece ser melhor no Alasca. - Gojo concordou com o amigo.
— Não sei vocês, mas eu vou morar lá.
Uma onda de tristeza e decepção atingiu os dois garotos. Eles se entreolharam rapidamente e sentiram uma leve expectativa frustrada. Por um momento pensaram que Lexie os incluía nos planos futuros, mas aparentemente não era assim.
Quando percebeu, a morena rapidamente retratou o que quis dizer, dando margem para seu sonho não ser somente seu. Ser deles.
— Nós poderíamos morar lá.
— E acordar todo dia com essa vista?
— É.
— Acho que deveríamos treinar como seria abrir as cortinas e ver isso.
Já com os passos acelerados, agora eles estavam de frente com um enorme aquário repleto de tubarões, peixes e um fundo de parede coberto de corais e bolhas. Devaneando nos próximos pensamentos, eles se perdiam na ideia de viverem a vida que queria para eles naquele instante. Um sopro de felicidade por cima da nuca fez Lexie arrepiar por completo. Se sua felicidade já parecia algo palpável, viver com quem amava no local de seus sonhos parecia ainda mais surreal.
— Estou falando sério. Meu sonho desde que eu me entendo por gente é esse.
— Também estou falando sério. Só me dê tempo de acabar a faculdade.
— Lá faz muito frio, Suguru. Não sei se você aguenta.
— Ele é sangue ruim, Lexie.
— Cala a boca.
— Bom, então eu não tenho objeções. Vocês?
— Nenhuma. - Ambos disseram, em uníssono.
— Então é melhor vocês cumprirem a promessa de vocês, porque não tem viagem no Alasca sem nós três.
— Só estaremos completos se formos os 3. Não um, não dois, mas sim, três.
— Isso.
— Sempre os três.
Tempo vai, tempo vem, passaram horas no aquário. Comeram por lá também e agora, de frente para uma pequena fonte no centro da cidade, estavam sentados. Lexie dividindo o colo dos dois, deitada com as pernas apoiadas no moreno - enquanto ele fazia um carinho na canela que arrepiava todos seus pelos do corpo - e o tronco virado para cima de apoio em Satoru, o qual lhe entregava uma cerveja na mão e se segurava para não acender um baseado na frente da garota.
Nada diferente daquilo fazia efeito neles. Era como se o mundo os respeitasse pela primeira vez e o tempo que levaram para estarem bem havia finalmente começado a recompensar. Tudo estava azul e cinza para ela. E para eles, esverdeado numa tonalidade em que ninguém sequer sabia que a vida podia ganhar.
A garota jogou as mãos pra cima e de reflexo, Gojo entrelaçou uma dela com a dele. Para não deixar o melhor amigo de fora, fez o mesmo com a nuca do rapaz, que quase se derreteu com aquele toque inesperado.
— Meu aniversário está chegando.
— Nossa, é verdade, né?
— E você já sabe o que vai fazer?
— Se eu estiver viva até lá…
— Lexie! - Suguru pareceu um pouco irritado. - Não fala isso.
— Eu não gosto de comemorar meu aniversário.
— Por que não? - Gojo também ficou intrigado.
— Sei lá, eu perco um ano de vida.
— Na teoria não era pra você pensar assim, né.
— Mas eu penso. E tenho certeza que você também pensa, Suguru.
— Penso.
— Ótimo. Que coisa boa. Dois depressivos agora.
— Mas é verdade! Quando você faz aniversário, cada dia mais próximo da velhice você fica.
— Eu não vou sofrer com a velhice. Meu cabelo já é branco.
— Que inveja. Eu queria ter cabelo branco.
— Eu queria ter os seus olhos, Suguru! - Satoru se aproximou dele no banco e olhou bem de perto seu rosto. - Olhos roxos e o meu cabelo branco.
— Seus olhos já são lindos, Satoru.
— São mesmo.
Suguru deu um sorriso de orelha a orelha. Achava realmente os dois muito bonitos, tanto que duvidava que algum dia encontraria alguma pessoa mais bonita que eles. Por um instante até imaginou como seriam os filhos dos dois, mas tirou da cabeça rapidamente aquela ideia.
Como a praça estava cheia, um grupo de quatro meninas viu aquilo e então, sorriu de volta para o moreno. Lexie na mesma hora sentiu um sentimento diferente tomar conta dela. Foi quase instintivo. Assim que ouviu cochichos relativos a “Aquele de olhos azuis é lindo, mas aquele moreno….puta merda. Ele é outro nível!”, teve vontade de morrer.
Levantou a cabeça e olhou diretamente para as meninas que sorriam bobas naquela direção. Mas de nada aquilo pareceu adiantar assim que os olhos delas bateram também no platinado. Porém, ele estava com uma cara tão fechada quanto a de Lexie, mais focado em dizer algo ao amigo:
— Suguru, por favor, nunca mais sorria assim em locais públicos.
Geto só sabia rir sem parar, ainda mais quando Evans, acenando incessantemente a cabeça, tapou sua boca para que ninguém visse tamanha beleza. Tentou esboçar algumas palavras dizendo para que eles parassem de drama, mas nada foi possível. Quem, com o cenho franzido, disse algo foi ela:
— Precisamos de alianças. Urgentemente.
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Era uma tarde de domingo, por volta das quatro horas, e a fraternidade estava completamente vazia, exceto por duas figuras sentadas à bancada, compartilhando um sanduíche. Satoru e Suguro conversavam sobre algo banal, nada que realmente importasse, mas o clima entre eles era leve. Haviam, finalmente, resolvido suas pendências, pelo menos em parte. Contudo, ainda não tinham conversado com Maxine Aiken, a única peça do tabuleiro que permanecia de fora. Eles sabiam que, para ficarem com Lexie de verdade, precisariam pelo menos simpatizar com a única família que ela reconhecia de coração.
Lexie estava na casa de seu pai, o que deixava uma leve preocupação em ambos. Não queriam que ela se afastasse, mas Lexie os tranquilizou, explicando que seu pai apenas queria resolver alguns negócios importantes da empresa. A realidade, no entanto, era mais sutil. O pai de Lexie iniciou um processo de mudança em seu comportamento. E ele não foi benéfico. Se antes costumava ligar ao menos duas vezes por semana, ultimamente, as ligações ocorriam apenas uma vez ao mês, e eram meramente para saber sobre a faculdade.
E a garota percebia que ele estava se esforçando para mudar, controlando-se para não explodir com ela por qualquer deslize. Mas a verdade é que Lexie já não se importava tanto. A sensação de alívio por finalmente ter seu espaço superava qualquer tentativa de reconciliação. A ausência de contato, algo que poderia ter doído no passado, agora era um eco distante, e ela não estava disposta a correr atrás de algo que, para ela, já havia se esvaído há muito tempo.
Amor é convivência, no final das contas. E era certo dizer que conviveu mais com Toji, seu segurança enquanto vivia com o pai, do que com qualquer parente que não fosse sua mãe. E por mais ridículo que fosse, às vezes ficava triste. Tão triste que isso refletia em seu comportamento e aparência, que não pareciam melhorar nunca. As bolsas embaixo dos olhos muito fundos e o rosto seco quase sem carne nas maçãs das bochechas. Tentava levar tudo numa boa, mas algo estava errado
A porta de um dos quartos foi aberta, e, assim como Geto, Gojo também ficou confuso. Era raro ver alguém passar um final de semana sem nenhuma festa ou evento na fraternidade, especialmente naquele estado. Ao olhar para o topo da escada, avistaram os mesmos olhos astutos de uma raposa. Amarelados e centrados.
A cena os levou de volta ao momento daquela manhã. Max apareceu na porta de Lexie às nove, abatida. Sem dizer uma palavra, ela deitou-se ao lado da amiga enquanto Geto e Gojo, que dividiam a cama, observavam confusos. Pensaram em abrir a boca, mas nem sequer tinham reação pra falar algo. Lexie parecia não se importar, acolhendo Max com naturalidade. Quando a ruiva murmurou que não se sentia bem e precisava de Lexie, a estranheza se dissipou; perceberam que aquilo, para elas, era normal.
Max adormeceu logo depois, seu sono profundo deixando-a alheia ao movimento da cama. Quando todos acordaram, ela permaneceu imóvel, respirando lentamente, dopada de remédios.
Agora, de tarde, Max finalmente descia as escadas, ainda sem estar completamente consciente. Seus olhos semiabertos e a boca mais seca que o normal. Coçava o rosto e olhava ao redor, tentando reconhecer o ambiente. Seus passos eram pesados e lentos até que ela chegou à cozinha. Lembraram do dia em que Lexie teve uma parada cardíaca. Não parecia normal à primeira vista, mas depois de irem atrás para saber como aquilo funcionava, descobriram que para alguns usuários de drogas aquilo podia ser recorrente.
O silêncio que tomou conta do lugar era palpável. Vendo que a garota não sabia ao certo o que fazer, Suguro agradeceu por ter deixado todos os ingredientes do lanche na mesa e como quem não quer nada, montou um sanduíche para ela. Nada disse, apenas cortou as fatias de pão de forma, colocou o tomate, o presunto, o queijo e a alface. Empurrou o prato na direção dela e esperou. Ela devorou o sanduíche em poucos segundos, sem hesitar, como se aquilo fosse a única coisa que ancorava sua mente no presente.
A tensão no ar continuava crescente enquanto eles observavam Max, esperando por algo que talvez nem ela soubesse dizer. O moreno reparou que a fatia de presunto ficou no prato e numa tentativa de quebrar o clima ruim pela sua nova namorada, mesmo que aquela não fosse sua vontade completa, disse:
— Você não gosta?
Ela olhou para ele sem entender muito bem o que queria dizer. Então, o platinado esclareceu:
— De presunto. Você não gosta?
— Não. Nem de tomate, mas eu estou com fome.
— Quer mais um? - Suguru perguntou já preparando outro, dessa vez sem o presunto e o tomate. Sua produção foi em fileira, pois sem perceber, fez três sanduíches um na sequência em que ela comia o outro.
— Hum. Pode ser.
Ficaram calados por mais tempo do que o esperado. O único barulho ali era Maxine infiltrando a casca meio dura do pão e abrindo a geladeira para pegar algo para beber. De tão fraca que estava, teve que soltar a comida para pegar a jarra com ambas as mãos.
— Acho que precisamos conversar.
— É. – Geto se pronunciou, Gojo estava com a cabeça baixa, parecendo não disposto a conversar.
— Só queria pedir desculpas pelo o que aconteceu. Eu tava meio alterada, tava brava com a situação toda e acabei me exaltando um pouco com vocês. Sei que amam a Lexie e ouvir que são a “segunda opção” foi demais para vocês. – Fez aspas com os dedos. — Até pra mim foi demais, né? Eu me arrependi de verdade. Só espero que entendam que eu não vou me afastar dela. Sei que nós três amamos ela e eu só quero que ela seja feliz, e se for com vocês, por mim tá ótimo. Eu disse pra ela que nós duas somos família e que se vocês são a família dela também, acho que são a minha por consequência.
Suguro e Satoru ficaram surpresos com a fala de Max. Eles já sabiam o amor que uma tinha pela outra, mas não imaginava a forma que a mulher aceitaria isso tão bem, contando com o fato que ela já foi apaixonada pela melhor amiga pela metade de sua vida. De certa forma, Satoru e Suguru entendiam isso. As histórias parecidas ajudavam a deixar a narrativa mais próxima da realidade e aliviar a raiva que poderiam sentir nesse processo.
Maxine suspirou, e logo continuou;
— Voltei pois estava tudo uma merda, e eu soube da quase overdose que ela teve. Lexie merece muito ser feliz, e dá para ver que com vocês ela é.
Suguro fez aquele barulho de “hum” em tonalidade de risada para Max, não para duvidar do que ela disse, mas querendo expressar um “é, eu sei”. Como ele já tinha ouvido a conversa antes, sabia o significado que uma tinha para a outra, e entendia isso mais do que ninguém.
Satoru, por outro lado, parecia estar em uma luta interna, seu ego e sua paixão batalhavam para ver quem falava mais alto. E com o toque de Geto em sua coxa fazendo com que o platinado soltasse um resmungo e olhasse para o moreno - que já não queria briga e tinha antecipado essa conversa há muito com o amigo, ele disse, contrariado:
— Foi mal. – Gojo suspirou. Parecia aquelas crianças que faziam birra e não gostavam de assumir a consequência dos próprios atos. — Por mais que o fato que ela te ame mais ainda mexa um pouco comigo.
O amigo olhou para ele, sorrindo, e pegou sua mão por baixo do balcão.
— Você vai se acostumar.
Satoru revirou os olhos, tentando apagar da mente o comentário que ela fez. Não sabia se tentava agir normal ou se voltava atrás do que acabara de dizer e começava a brigar com a ruiva.
— Acho que não tenho opção, né? Vou ter que te aturar.
— Satoru.
O palatinado revirou os olhos mais uma vez. Lembrou, com o aviso do amigo, que Maxine estava tentando se recuperar de um dia difícil e ele não deveria fazer brincadeiras como essas nesse momento.
— Tá, tá. Pela Lexie.
Maxine se sentia feliz por ter se resolvido com eles, pois sabia que era algo preciso. Sabia que era algo importante para sua melhor amiga.
— Pela Lexie. - A mulher e o moreno repetiram.
— Ótimo. Agora sem esse papo gay de reconciliação, porque eu tenho algo mais importante a dizer. - Colocou os pratos na pia e se virou pra eles.
— Me interessa? - Satoru virou a cabeça na direção de Suguru, o qual parecia totalmente indiferente outra vez enquanto disse aquilo. Chegava até a ser insensível.
— Depois de amanhã é o aniversário da Lexie.
— Já?
— É. Depois de amanhã.
Ambos estavam confusos, já que não lembravam tão bem da data. Lexie havia comentado sobre, mas nem chegaram a assimilar que estava tão próximo assim.
— E o que você quer fazer?
— Uma festa surpresa!
— Lexie odeia surpresas. – Suguro franziu o cenho.
— Quem se importa com isso? Eu odeio abandono e ela me abandonou do mesmo jeito. Reparação histórica.
Geto e Gojo arregalaram os olhos diante da declaração, não sabiam o que dizer e olharam um para o outro confusos, mas o clima desagradável foi embora quando uma risadinha foi ouvida.
— Vocês ficam sem graça com muita facilidade.
Um alívio tomou conta dos dois, que se entreolharam e pensaram em conjunto: finalmente alguém que deixava Satoru Gojo sem saber como reagir. E então, começaram a rir. Juntos, os dois, mas indiretamente com Maxine também, percebendo o quão idiota ela podia ser.
Afinal, não era tão difícil gostar dela.
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