𝐗𝐕𝐈𝐈
˖˙❛ 𝐒𝐄𝐗, 𝐃𝐑𝐔𝐆𝐒 𝐄 𝐄𝐓𝐂. ❜ ꜝꜞ
17 ... ❨ capítulo dezessete❩
━━ estamos felizes mãe, estamos nos divertindo.
escrito por 𝖗𝖊𝖈𝖈𝖆𝖜 𝖊 𝖒𝖘𝖚𝖌𝖚𝖗𝖔
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Sintonizem a música do capítulo em: Wildflower, Billie Eilish, para uma experiência melhor. Quando o símbolo * aparecer, troquem para O Children, Nick Cave.
Tokyo, 2022
Dias atuais
Lexie já perdera as contas de quantas vezes voltou pra casa, absorta nos próprios fones de ouvido, caindo nas lágrimas. Não lembrava do rosto de ninguém que lhe perguntou se estava bem enquanto caminhava de tarde, chorando.
Realmente não estava, mas não admitiria nem para ela mesma. E as coisas não mudariam agora, ainda mais depois de fazer vinte anos e não ter conquistado porra nenhuma.
Se sentia inútil, suja, burra e até digna de piedade. Pois, ao olhar para trás, só via lágrimas. Sua vida era misericórdia. Nem sequer achava um momento feliz para que tudo valesse a pena.
Era mais um dia daqueles que se ela tivesse que morrer, doeria menos. Mas vestiu sua roupa e foi para a universidade, escondida no moletom e desviando de qualquer dos seus amigos que poderia lhe dar uma carona.
Preferia andar sempre que podia. Era a melhor opção, pois pensava na vida e ainda tinha tempo pra respirar em plenos pulmões. Além de que ninguém pegaria no seu pé por fumar logo cedo.
Encolhia o corpo pelo corredor e se escorava no seu armário, como se ali pudesse descansar dos olhares mortais que recebia por parecer "esquisita" aos olhos dos outros, ainda mais agora que o campus notava que certa coisa rolava entre ela e a dupla.
Um barulho de lacre seguido de uma voz feminina a tirou da névoa de pensamentos:
- Eu odeio você.
- Que foi? - Evans fechou o armário e tirou os fones para escutar melhor Shoko. Sem perceber, começou a suar frio.
Eram aqueles arrepios horríveis.
- Por que não me contou?
- Contar o que?
- Que vocês estão ficando.
- Ah, isso. Bem, eu...
- "Ah, isso"? Evans, eu fiquei sabendo pela boca deles!
- Isso é muito ruim?
- Isso é péssimo! Por que não me disse nada?
- A gente saiu ontem e quando chegamos, eu capotei. Acordei agora pouco e vim pra cá. - A morena recapitulou para a amiga, frisando sua falta de tempo e paciência. Moleza atingiu seu corpo.
- Estou feliz por você e por eles. Você não sabe a quanto tempo eu esperei por isso. Ei, tá tudo bem?
Lexie não disse nada, apenas fechou os olhos e contorceu o rosto, tentando forçar um sorriso. Sempre que as coisas ficavam boas dessa forma, algo dava errado.
Era sequencial. Era normal. Era praticamente o que ela já esperava. Desamparado e solidão.
Não podia ligar para o pai, muito menos para qualquer tia distante. Ninguém a atendia ou fazia questão de ajudá-la.
Nem para a mãe, já que Lexie continuava pagando a operadora do celular dela só pra ter o conforto de sentir que suas mensagens algum dia seriam lidas, ainda que não visualizadas.
A única pessoa que sempre via era Maxine. No reflexo dos olhos de Gojo, no sorriso sereno de Geto, nas gargalhadas de Shoko e sempre, no fundo de qualquer cômodo.
Foi difícil vê-la se apaixonar inúmeras vezes e não poder dizer nada. Sempre fingindo não querer a garota, lhe aconselhando com um "se ela não te quis, azar o dela" e um abraço que durava horas e horas. Uma paixão secreta doída dos pés à cabeça.
Na verdade, a parte mais dolorida era lembrar de quando saiu da reabilitação e pegou o celular, pela primeira vez em muito tempo, não teria mensagens dela. O número de Max bloqueado e todas as memórias vindo à tona como um furacão.
Infelizmente foi a melhor decisão. Maxine Aiken a iluminava como o único raio de Sol na escuridão, em uma cidade pequena e triste. Mas queimava sua pele da mesma maneira.
Nunca teria tomado as decisões que tomou se pudesse voltar no tempo. Apesar de que a vida passa tão rápido e as coisas boas nunca são pra sempre, tinha noção disso.
Por meses a imagem da ruiva chorando, em posição fetal, ficou na sua mente, martelando como um prego solto. Não conseguia imaginar a dor que sentiu ao ser bloqueada e desaparecer da vida de Lexie.
Mas não tinha outra alternativa. Elas nunca deixariam de ser as únicas a se amarem tanto assim, naquela intensidade, mas não podiam estar juntas. Ninguém sabe o tamanho do estrago.
Quando estava pegando suas coisas no quarto da clínica, Sophie, a moça que cuidou dela todo esse tempo, bateu na porta e lhe entregou uma caixa vermelha, dizendo para abrí-la quando estivesse preparada.
Dias após descobrir a morte da mãe, ela tomou coragem. Isto é, não havia motivo para não sofrer um pouco mais.
Sentada no chão do seu novo quarto - na casa do seu pai -, trancou a porta e sentiu mais do que nunca a cabeça latejar de tanto chorar. Ocupou a cabeça com o que pôde, indo em direção à caixa.
Retirou a tampa e viu uma imensidão de cartas com apenas números no envelope. Do 1 ao 365; correspondente ao número de dias que ela ficou internada.
As cartas foram devoradas em menos de três horas e chegando na última, Evans já não tinha forças.
"Porque se sua mente te enganou como a minha e te fez pensar que eu a esqueci, leia essa merda e saberá que eu não seria capaz, nem por um milésimo. Vai me dizer que não te resta um pingo de curiosidade pra saber o que seríamos se não fosse o dia que deixamos de ser nós? Eu te espero, Evans. Espero que esteja me esperando também. Já que o que os olhos não vêem, o coração não sente, espero que não se sinta mal com o que eu te disse. Nada disso foi mentira, esse tempo todo. É uma pena que eu nunca tenha tomado coragem para te dizer. Ainda te amo, você sabe muito bem. Te encontro nem que seja a última coisa que eu faça. Não me esqueça, por favor.
NEOQEAV"
Lexie gritava pedindo socorro. Batia na própria cabeça com raiva do que fizera mesmo sabendo que já era tarde demais. Seu celular voou contra a parede em um súbito ataque de pânico e nada mais parecia real dentro do quarto.
As palavras de Maxine a deixavam acordada de noite, incapacitada de parar de vomitar, chorar ou de parar de usar sua bombinha de ar. Calafrios por toda parte.
O termômetro estouraria debaixo do seu braço. Sangue fervia ao ponto de borbulhar. E seu corpo frágil, balançava para frente e para trás, sem forças.
Seu pai perdeu as contas de quantas vezes entrou no quarto dela e viu que a filha não tinha condições de ir pra escola e então, a levava carregada para o hospital. Ou então, enfiava seu corpo debaixo do chuveiro, sem paciência para o "drama" que fazia.
Passando alguns segundos viajando, sua mente voltou ao lugar quando Shoko lhe cutucou. Engoliu seco.
- Lexie?
Sempre que os via, a morena ouvia uma música triunfal começando a tocar. Eles carregavam essa energia estranha de se destacarem sempre, em todo lugar que chegavam.
Sempre o estilo excêntrico e o sorriso de Suguru e o cabelo branco e os olhos claríssimos de Satoru. Um o completo oposto do outro.
Caminhavam inconsequentes pelo corredor da universidade, prontos para roubar a cena. Todos os olhares eram dirigidos a eles. Em qualquer ocasião, na verdade, e ali não era exceção.
Mas dessa vez foi diferente. Evans não sentiu absolutamente nada, apenas sentiu o coração palpitar dez vezes mais rápido ao ver aquela gravata preta pendendo no pescoço dos garotos e ter um flash terrível de Maxine Aiken.
Ambos cobrindo-a com os braços acima de sua cabeça, parando para conversar.
- E aí? - O platinado iniciou a conversa.
- Oi. Eu não sei o que está acontecendo, mas ela não parece bem.
- Ei, o que aconteceu? - O moreno checou sua temperatura. - Você está fria demais.
- Eu não estou me sentindo muito bem.
- Vamos pra enfermaria.
- Não, não. Não precisa. Eu volto pra casa.
- Que? Sozinha? Sem chances. Eu volto com ela.
- Shoko, fica aí. Nós vamos.
- Não, Satoru, eu posso ir sozinha.
- Olha pra mim. - Suguru pegou seu rosto com as duas mãos e levantou seu olhar pra ele. - Você não está bem, não fique forçando seu corpo. Você precisa de alguma coisa? Quer que a gente resolva algo aqui?
- Eu só precisava de uma bombinha. A minha de resgate já está acabando.
- Eu vou buscar. No máximo meia hora eu estou lá, não vou demorar muito. Mais alguma coisa? - Jogou a franja pra trás e pegou a chave do carro no bolso.
Evans balançou a cabeça negativamente e o moreno piscou em sua direção, lançando-lhe um olhar terno antes de virar as costas e correr até o estacionamento.
- Você vai ficar bem, eu tenho certeza. Quer que eu vá junto?
- Não. Eu preciso ficar sozinha.
O estabelecimento mais perto era a vinte minutos da universidade, o que estimava meia hora até a fraternidade, onde Gojo apressou para ir.
Em questão de cinco minutos, ambos estavam no quarto dos meninos, cada um em um canto. Lexie se encontrava sentada na sacada, a cabeça pendendo na grade enquanto chorava baixinho.
Já Gojo estava do lado de dentro tentando parar as pernas que tremiam de forma descontrolada. Ficara preocupado e não sabia bem como ajudá-la.
*Tocava "O Children", Nick Cave do celular da garota, mas ela não se preocupou em colocar fones. Queria externar o sentimento.
Ela se sentia mais sobrecarregada do que nunca. Por um lado, se considerava uma falha com a faculdade e suas escolhas e obrigações; por outro, mal podia seguir em frente da sua vida sofrida.
Uma voz falhou atrás dela:
- Você parece péssima. - Satoru se sentou próximo, de costas pra ela.
- Obrigada pelo elogio. - Lexie fungou baixinho, sem o encarar.
- Não consigo mentir.
- Nem calar a boca. Afinal, por que está aqui? Ainda mais desse jeito?
- Eu sei que não gosta que te vejam chorando.
Evans não pode deixar de sentir uma pontada no peito. Ninguém nunca se preocupou tanto ao ponto de fazer coisas que ela considerava importantes.
- Hum. Obrigada.
Alguns minutos de silêncio tomarem conta antes do platinado continuar:
- Sabe, quando criança, eu costumava ter crises de ansiedade todas as vezes que eu ia pra escola. Quando apresentava trabalho, quando chegava a hora do lanche e eu não sabia com quem sentar e até quando chegava a hora de ir embora e os porteiros nos colocavam em fila para entrar no carro.
- Por que?
- Sei lá. Eu só era estranho. - Ele percebeu que talvez tivesse ofendido a menina e tentou corrigir. - Quer dizer, eu tinha minhas paranóias. Mas, sabe como eu melhorei?
- Hum. - Não estava tão interessada.
Voltou os olhos para cima, sob o ombro, ao sentir um toque nas costas. Satoru estendia a mão em sua direção e tinha um sorriso enorme no rosto.
- O que é isso?
- Dançar pode ajudar, sabia? Vem.
Lexie revirou os olhos, enxugando as lágrimas. Não disse nada, apenas bufou e pegou sua mão, se levantando com dificuldade.
Ainda estava meio zonza, mas não via outra opção senão aceitar. Aquele menino podia ser tão insistente quanto uma criança de nove anos.
Gojo pegou a mão de Lexie e levou a outra para sua cintura, balançando o corpo de acordo com o ritmo da música.
Tentava encaixar os passos aos dela, com dificuldade para não tropeçar. Foi o que conseguiu pensar em fazer naquele momento de tensão e fragilidade.
Bolou algo rápido e fácil, já que só queria vê-la sorrir. Também não gostava de admitir, mas ver Lexie Evans chorando quebrava seu coração.
❛ hey little train, wait for me ❜
Isto pois a garota era tão genuína e livre que dava raiva da vida por fazê-la sofrer tanto. Ele se sentia um merda por não conseguir proteger a menina em seus braços. E agora, fazia o máximo que podia.
- Eu não sei dançar muito bem. Você consegue guiar?
O quarto estava iluminado por baixas luzes, apenas o led azul no teto e frestas de luz entre as cortinas fechadas.
❛ I once was blind but now I see ❜
A garota ainda continuava cabisbaixa, mas fez o esforço de deixar a voz baixa sair:
- Aham.
❛ have you left a seat for me? ❜
- Ótimo, porque se você não conseguisse, nós já estaríamos no chão.
Gojo rodopiou Lexie, tirando uma risada leve da mesma, logo colando seus corpos novamente.
Praticamente um choque a cada vez que seus olhos se conectaram, junto dos seus corpos coladas um ao outro em um ritmo sinfônico.
❛ is that such a stretch of the
imagination? ❜
Balançavam de um lado para o outro, sentindo a melodia da música criar um clima calmo e delicioso entre eles.
Satoru Gojo não fazia questão de esconder seu sorriso bobo ao ver os cabelos de Lexie voarem quando ele a tirou do chão e rodou seu corpo no ar, fazendo-a abrir os braços e sorrir.
❛ hey little train, wait for me ❜
Dessa vez, Lexie rodou Satoru, tirando uma risada gostosa do garoto. Ele passou suas longas e finas mãos pelo seu cabelo e alisou seu rosto, dando um selinho na testa dela.
- Dançe comigo toda vez que se sentir triste. Consegue fazer isso?
- Sim. - A própria menina achou estranho não pestanejar pra falar.
- Prometa pra mim.
- Com uma condição.
- Qual? - Ele hesitou por um minuto.
- Não precisa me pedir. Só me puxe pra dançar.
- Combinado, minha princesa.
- Eu prometo, Satoru. Prometa pra mim também.
- Prometo.
Ele colocou suas mãos nas costas da garota e a puxou para um longo e forte abraço, o qual a fez perder o ar. Mas isso não a fez gostar menos. Ao contrário disso, amou cada segundo que se sentiu bem dançando com Satoru.
Era um sentimento inexplicável. Algo que sentiu poucas vezes na vida - dizer 3 era muito - mas que esperava nunca parar de sentir.
❛ was held in chains but now i'm free ❜
Lexie encostou a cabeça sobre o peito de Gojo, escutando os batimentos cardíacos dele, enquanto o mais alto encostou o queixo no topo da cabeça dela.
E os dois ficaram ali, apenas balançando os corpos conectados um ao outro. Pensou em sua mãe por um instante. Em como ela estaria feliz e orgulhosa em ver sua filha conseguindo a paz que tanto desejou, nem que fosse por um curto período de tempo.
Eles faziam bem a ela. Tão bem quanto uma fogueira no inverno. Era uma combinação perfeita. Podiam ter problemas assim como todos no mundo, mas quando estavam juntos, nada mais parecia importar.
❛ we're happy, ma, we're having fun. ❜
(estamos felizes mãe, estamos nos divertindo.)
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esse cap foi tão fofo 💔
alguém aí pegou a referencia de harry potter?
a max tá batendo na porta já 👀👀
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