𝐈𝐈.
˖˙❛ 𝐒𝐄𝐗, 𝐃𝐑𝐔𝐆𝐒 𝐄 𝐄𝐓𝐂. ❜ ꜝꜞ
02 ... ❨ capítulo dois ❩
━━ mas eu te odeio, eu realmente te odeio.
escrito por 𝖗𝖊𝖈𝖈𝖆𝖜 𝖊 𝖒𝖘𝖚𝖌𝖚𝖗𝖔
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Los Angeles, 2018
07h23 segunda‐feira.
Havia se passado apenas dois dias após a mãe de Lexie ter descoberto sobre as drogas. O clima dentro daquela casa com certeza não era um dos melhores, e Lexie se sentia péssima.
Não por usar drogas e sim, pela maneira que Giovanna descobriu. Pensamentos pouco egoístas para alguém com um ego pequeno como o dela.
Durante o fim de semana, Maxine tentou ao máximo ocupar a cabeça de Lexie. De todas as formas possíveis. Mas dentro de casa, o único assunto era decepção. Decepções, brigas e sofrimento. Igual quando brigamos com quem mais amamos e o mundo parece não fazer sentido.
Ainda mais naquele momento, proibida de sair de casa. Com as narinas sangrando e os olhos embaçados, cheios de lágrimas. Nem sequer sabia o motivo pelo qual estava chorando.
Lexie sentia que poderia enlouquecer a qualquer momento, ainda mais sem o efeito das drogas sobre si. De certa forma, elas eram um escape para seus problemas reais. Como o ar para os pulmões.
A garota se sentia inútil sem seus comprimidos.
Por agora, Lexie estava se arrumando para ir à escola, sua cabeça latejava como nunca e o que ela mais queria era ficar deitada na cama o dia inteiro, mas ela sabia que sua mãe nunca permitiria. Nenhuma mãe no universo permitiria, na verdade.
Colocou seu moletom preto junto com uma bermuda da mesma cor, que ia até os joelhos. Seu all star de sempre e uma touca cinza, deixando só alguns fios sob o rosto.
Sua cara estava terrível. Pior que o normal. Cheia de olheiras arroxeadas e profundas e olhos vermelhos pelas noites mal dormidas, mas isso era o que Lexie menos se importava.
Apenas pegou sua mochila e seguiu pelo corredor, passando pela cozinha vendo que sua mãe tomava um café. Assim que foi atravessar o cômodo, pronta para sair de casa, ouviu a voz de sua progenitora atrás de si:
- Vou te acompanhar até o carro.
- Não precisa.
- Vamos. Não sei mais se você pode através uma rua sozinha.
- Eu ainda não sou tão burra assim. - Fingiu um sorriso e pegou a torrada em cima da mesa, indo em direção a porta da saída. - Fica aí.
- Assim que sair da escola venha direto para casa. Já avisei Maxine sobre isso.
Lexie olhou para cima e fechou os olhos. Colocando o fone de apenas um lado, deu um longo suspiro ao apertar os lábios com força.
- Tá bom. - A morena imediatamente saiu da casa, batendo a porta.
Não teve que esperar muito para que o carro de Maxine parasse em frente da sua casa e abrisse a janela da frente. Lexie bufou uma risada ao ver a amiga de óculos de sol enquanto sorria para ela.
- E aí, Evans? Bora? - Max tragou o cigarro que tinha entre os dedos, sorrindo novamente para ela.
- Essa hora da manhã, Aiken? Jura? - Lexie passou por Max fazendo um high five com ela, indo a caminho do banco do passageiro.
Não demorou para que o motor do carro rugisse e saísse dali, correndo na direção da escola. O melhor lugar que Lexie podia estar dentro daquelas condições.
E no fim do dia sempre seria sobre Lexie e Max. Tudo. A dupla dinâmica. Suas risadas, a maneira como suas vozes se encaixavam e como suas mentes pensavam a mesma coisa, em questão de segundos. Talvez fosse a forma como suas mãos iam de encontro automaticamente. Ou apenas, como sabiam que se amavam de um jeito caótico, completamente delas.
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Tokyo, dias atuais.
O auditório estava lotado. Aproximadamente 900 pessoas espremidas por entre as cadeiras ou sentadas no chão, para assistir ao debate.
Evans permanecia se perguntando como, naquele lugar, cabiam tantas pessoas e quantas haviam ali, para saber se deveria ou não entrar em pânico.
Suas mãos já suavam frio e a cada minuto sua ansiedade lhe sabotava mais um pouco. Pois, embora já tivesse falado com multidões em raras ocasiões na escola e na faculdade, ela nunca tinha dirigido sua palavra a tantas pessoas.
Ainda mais para 195.028 delas, que assistiram-na online também. Ouvindo cada argumento seu e julgando-o como um oponente de verdade.
Talvez tenha sido uma decisão estúpida se inscrever para isso. Muito no calor do momento, às pressas, e sem cabimento. E agora não tinha como voltar atrás. Bastava tirar bom proveito e se drogar mais tarde, para aliviar a tensão.
A multidão só crescia e mais professores tomavam seus lugares na bancada principal, junto dos candidatos, todos microfonados.
Geto estava do outro lado da grande mesa, vestindo uma camiseta de golas amarrotada e uma gravata meio desarrumada no pescoço, passando a ideia de alguém experiente mas que não cedeu ao luxo por completo.
Do outro lado, Evans parecia que caiu de paraquedas ali. Roupas despojadas e olheiras, ela só queria alimentar seu ego. Nada mais.
Então, o soar dos alarmes no corredor, às 8:00 da manhã em ponto, indicou que o dia começaria.
- Bom dia, pessoal. Sejam muito bem-vindos à universidade Osaka! Nossa missão como uma das maiores instituições de ensino do mundo é dar um estudo de qualidade a milhares de jovens e criar novas oportunidades no mercado de trabalho, e até mesmo na vida pessoal de cada um de vocês. Sejam muito bem-vindos.
Foram mais algumas horas de enrolação por ali. Palestras sobre a esquematização de cada curso, recados sobre as regras, anúncios de novos professores e até mesmo premiações de alunos destaque no ano passado.
Tomando conta do microfone, o coordenador da universidade falara junto dos diretores, alguns professores e os antigos representantes e membros do conselho estudantil - ou aqueles que queriam, claro.
Quando o relógio, ao centro da sala, indicou duas da tarde, Sr. Kento, um dos professores mais conhecidos da instituição, tomou posse do microfone ao anunciar o início do debate.
- Primeiramente, uma boa tarde a todos. Senhoras e Senhores, como muitos de vocês sabem, anualmente, neste evento, nós realizamos uma série de debates com intuito de eleger o presidente do corpo estudantil. Aquele que apresenta as qualidades necessárias para ser o líder do grupo e coordenador de inúmeros assuntos importantes da nossa universidade. Um braço direito. Tudo isso, claro, com base na opinião de vocês. Vocês são os juízes hoje. E, por isso, é com muito orgulho que apresento nossos candidatos deste ano: Nobara Kugizaki, Megumi Fushiguro, Yuta Okkotsu, Utahime Iori, Suguru Geto e Lexie Evans. Uma salva de palmas para eles!
Na hora em que o último nome foi pronunciado, Suguru arregalou os olhos. Não com medo, mas surpreso que a garota havia acabado de chegar na universidade, não sabia nem do que se tratava o debate, e mesmo assim participou da roda.
Era no mínimo uma atitude corajosa.
O primeiro debate foi interessante. Com o tema "como acabar com o analfabetismo no mundo" as primeiras eliminações foram: Yuta Okkotsu, da equipe B, e Nobara Kugizaki, da equipe A.
Na segunda discussão, cuja pauta era educação para o futuro do trabalho, Megumi e Utahime foram eliminados.
E agora era a rodada final. Isto resultava em um último debate em detrimento do vice presidente do corpo estudantil e o presidente. De qualquer forma, ambos, Evans e Suguru, só aguardavam o tema para elaborarem suas teses.
- O tema do nosso último debate deste ano é: como as relações internacionais afetam a escolaridade. De um lado, temos a representante da equipe A; Lexie Evans, defendendo a influência positiva, e do outro, o representante da equipe B; Suguru Geto, explorando os possíveis impactos negativos. Todos prontos? Entenderam?
- Sim! - Em coro, gritaram.
- Equipe A, quando quiser.
Houve um momento de silêncio e tensão, antes que a mulher se juntasse com o grupo já eliminado, discutisse um pouco e voltasse para a bancada, levantando de sua cadeira e estendendo uma folha de papel sob a mesa.
- Boa tarde a todos. Como vocês devem saber, presumo, as relações internacionais exercem um papel crucial na promoção da educação global. Não só no âmbito do ensino fundamental, como no médio e no superior. A colaboração entre os mais diversos países pode gerar intercâmbios culturais e programas educacionais e isso pode favorecer o enriquecimento da experiência de vários estudantes e ampliar os horizontes deles para novas ideias ou projetos notórios. Temos casos de estudantes, por exemplo, nos Estados Unidos, que foram convocados pela NASA! Essas parcerias ajudam na troca de conhecimento e práticas pedagógicas, promovendo uma compreensão mais ampla do mundo, além de fortalecerem laços diplomáticos, que é o que estamos precisando hoje em dia, não é mesmo? - Lexie nem percebeu quando as palavras saíram de sua boca.
- Isso é uma ideia muito meritocrática, não? No mínimo, utópica. Apesar dos diversos benefícios, é inegável que a desigualdade e a dificuldade no acesso à educação é universal. As relações internacionais podem acentuar disparidades, concentrando recursos em certas regiões e deixando outras desfavorecidas. Não me parece justo, baseado em dados.
As palavras de Suguru deixaram Evans mais exaltada ainda. Entretanto, tudo que saia da boca dele depois da manhã desse dia, era besteira, o que fez com que a menina respondesse de pronto:
- Argumento que as parcerias internacionais podem e devem ser direcionadas para enfrentar desigualdades, justamente para promover projetos deste cunho. Inclusivos e equitativos.
- Sem dúvidas a senhora tem intenções positivas. Porém, muitas vezes, estes exatos projetos refletem interesses políticos e econômicos e acabam resultando em influências externas que comprometem a autonomia dos sistemas educacionais nacionais. Ou seja, tomam partidos alheios e desfavorecem o pensamento político de alguns. Estamos entrando em uma questão muito maior aqui, Senhorita Evans.
- Nem tudo é político, Sr. Suguru. Pensar assim é parte de um retrocesso gigantesco. Defendemos que a cooperação internacional pode fortalecer os sistemas educacionais, sim. E isso proporciona trocas de melhores práticas e inovações, sem necessariamente comprometer a soberania educacional ou nacional do nosso território.
- Falando em soberania educacional e nacional, como faríamos para manter nossa identidade cultural? O mundo se tornará homogêneo? Padrões de educação estrangeiros fariam diferentes nações perderem sua cultura.
Satoru observava os dois da primeira fila, fazendo sons de dor e deboche enquanto acompanhava o colega trocando farpas com a outra jovem. Isso estava bem mais pessoal do que deveria parecer. Só faltava a pipoca, pensou.
- E isso enriqueceria currículos! Perspectivas globais preparam para cada vez mais intercâmbios de ideias e relações interconectadas. Não imagino o mundo polarizado, onde cada nação deva ter sua própria educação, seu sistema nacional de financiamento e entre outros inúmeros tópicos. - A garota pensou um pouco, tomou um gole d'água e questionou - Então você está dizendo que cada um deve ter o seu sistema educacional para que as dificuldades de acesso se preservem? Para que as desigualdades continuem? Seu discurso implica em algo ambíguo e controverso, percebe?
Nesse minuto, todo o auditório cochichou. Esta era, pela reação popular, a cartada final. Se Suguru não soubesse como responder isso, perderia o posto.
Ele permaneceu em silêncio por alguns segundos. Evans pôde perceber que o garoto olhou para o melhor amigo e ao invés de esboçar uma preocupação, ele riu e em seguida respondeu:
- Você aceitaria ser submissa a outro alguém?
Silêncio total.
- Vamos, responda.
- Dependendo de quem e das condições. E de como isso me favoreceria.
- É a mesma coisa para os países. Se a relação entre eles for boa, ótimo. E se não for? O que faríamos? Acho que seu discurso é controverso da mesma forma. Contar com a sorte em interferências econômicas e políticas não é nem um pouco profissional.
Lexie Evans fervia de ódio. Que discurso mais idiota era esse? O que ele queria dizer com aquilo? Se eu soubesse que poderíamos humilhar nossos oponentes, eu também jogaria sujo!
A garota e sua maldita mania de se esquivar quando ficava nervosa. Era um dos maiores problemas em sua vida.
- Com licença, meninos. Com licença. Embora existam outros argumentos, já estouramos nosso horário. Acho que essa é uma boa hora para puxarmos a votação que decidirá o grupo vencedor e o nosso presidente do corpo estudantil. Todos os alunos podem se dirigir à urna em frente ao palco e digitarem seu candidato preferido. Lembrem-se: A para a candidata Evans e B para o candidato Geto. Por favor, não deixem o auditório e permaneçam em seus assentos após a votação. Revelaremos o resultado em torno de 30 minutos. Obrigado.
Satoru foi um dos primeiros a votar. Após, de fininho, ele subiu até o palco e ficou sentado atrás da mesa, nem que ninguém o visse.
- Mandou bem.
- Ela vai me odiar. - Sorriu só de pensar na irritação da garota.
- Não era o objetivo?
- É, talvez.
- Só para constar, eu votei nela. Umas dez vezes.
- Você é um filho da puta, mesmo.
- Vai dizer que ela não estava ganhando? Você só usou a cartada do desespero.
- Mentira.
- Verdade.
- Mentira.
- Verdade.
- É. É verdade.
Então, antes de acabar com a conversa, um vulto se pôs ao lado deles. Do lado oposto, para ser mais específico.
- Foi ridículo o que você fez com ela, Suguru.
- Lá vem a mamãe Shoko pra dar palpite. - Gojo, revirou os olhos e os tapou com os óculos, levantando para ficar na mesma altura que os colegas.
- Fala sério, cara. Primeiro dia dela.
- Eu estava falando de geopolítica.
- Só se for a geopolítica do seu cu, né? - A garota deu um tapa no braço do amigo, repreendendo-o. - Não custava nada ser mais legal com ela.
- Eu acho que ela não precisa que você tenha pena dela.
- Eu também acho. - Geto se apoiou no amigo, tanto em suas palavras quanto em seu ombro. - Ela sabe se virar.
- Eu não estou com pena. Estou falando pra vocês criarem juízo! Todo mundo entendeu a conotação sexual.
- Quer dizer que todo mundo curte BDSM?
Shoko decidiu fingir que não ouviu o comentário do garoto de cabelos pretos e as risadinhas dos amigos e só continuou a falar:
- Até o Sr. Kento olhou estranho!
- Ele é o dono do puteiro! Ele que conduz a suruba, porra.
- Do que você tá falando, Satoru? Se liga, o Nanami é decente.
- Você que pensa.
- Juro, se vocês não fossem praticamente meus irmãos, eu odiaria vocês. Sério.
- Que elogio.
- Vem cá dar um abraço. - O menino de cabelos brancos puxou os dois para um abraço, deixando a menina no meio dos três.
- Sai daqui, nojento. - Shoko o empurrou levemente.
Eles riram juntos, por um minuto esquecendo que ela fora repreendê-los.
Lembranças eram o que os três mais tinham.
- Mas, olha, estou falando sério, tá? Ela é legal.
- Tá bom, Shoko. Já entendemos.
- Vocês sabem que ela está na Nexus, né?
- Sim, sim, a gente sabe. - Geto afirmou, suspirando.
- Fica quieta, ela tá vindo.
- Tchauzinho, rapazes! - Shoko correu para o lado oposto, mandando beijinhos para a amiga e os dois amigos.
Quando todos retomaram os lugares, Evans acabara de voltar do banheiro e da sua pausa temporária para vagar pelos corredores, se pondo ao lado do oponente. Suguru articulou bem pouco as palavras e tentou dizer em um sussurro:
- Tá brava?
- Não.
- Dá pra ver. - Ele ajeitou a gravata e sorriu torto pra garota, que forçou simpatia pra ele.
- Se eu fosse você, não falaria mais nenhuma merda pra mim.
- Ninguém está falando merda pra você.
Gojo baixou os óculos até a altura do nariz, sorrindo para a menina quando respondeu:
- A não ser que você queira.
- Seria uma pena ter que humilhar vocês do mesmo jeito que fizeram comigo na frente do auditório todo, né? Falar em como seu pai sente vergonha de vocês. - Evans dirigiu o olhar para o de cabelos brancos.
Naquele instante, nenhum dos dois entenderam. Ficaram curiosos, mas não ao ponto de ficarem com medo. No entanto, assim que Lexie Evans foi colocando os pingos nos is, o nervosismo se instaurou na conversa.
- Do que você tá falando?
- Ela tá blefando. - Gojo afirmou.
- Satoru, não é você que gosta de pegar no pé dos mais fracos? - A garota cochichou no ouvido do rapaz, sentindo a raiva subir.
- Eu não sou burro de pegar no pé dos mais fortes. É diferente.
- Da próxima vez que vocês falarem qualquer merda sobre mim, pensem duas vezes. Eu sei o que aconteceu na festa do Noritoshi, alguns anos atrás. - Lexie os ameaçou.
No segundo seguinte, Suguro e Satoru arregalaram os olhos e se entreolharam, percebendo que a morena não estava apenas querendo sair por cima, e sim que sabia toda a verdade sobre a festa de anos atrás.
- Como sabe disso? - Satoru foi quem perguntou.
Ambos engoliram seco. Ninguém sabia do acontecimento caótico daquele dia - a não ser os pais de Gojo. E se a universidade soubesse, a reputação dos dois podia ir por água abaixo.
- Eu tenho as minhas fontes. Agora, boa sorte para nós, não é mesmo? - Lexie sorriu de forma sarcástica, logo voltando para seu lugar demarcado do outro lado da mesa.
A dupla então havia percebido que Lexie Evans não era uma pessoa a ser desafiada, por não ser muito fácil de lidar. O que poderia ser igualmente bom e ruim. De qualquer forma, não correriam esse risco.
- Com licença, turma. Boa tarde. Passados os 40 minutos, estamos aqui com os resultados. Primeiro, eu gostaria muito de agradecer aos que ficaram e apoiaram o evento. Nosso trabalho é estimular todas as formas de educação e é uma honra tê-los conosco aqui. Também queria agradecer os participantes desse debate e convidar todos vocês para explorar as novidades que vêm pela frente na nossa universidade. Por fim, sem mais delongas, vamos revelar quem é o grande vencedor. - Pausou por um instante antes de continuar. - Em uma votação acirrada, com 7 votos de diferença...
As palmas da mão de Evans grudavam umas nas outras, tendo pequenas descargas elétricas a golpeando pelas costas. Agora que todas as atenções estavam mais voltadas do que nunca ao palco, a garota não podia deixar de sentir seu rosto pegar fogo. Suas bochechas, de tão ardentes, faziam o calor em seu corpo parecer insuportável.
E assim que Nanami pronunciou o nome tão esperado, todo auditório vibrou.
- Suguru Geto é o vencedor!
E a partir daí, Lexie já não ouvia nada. Todos sons estavam embutidos em um só zumbido. Um "pi..." sem fim, queimando seu último neurônio.
Não via nada, da mesma forma. Tentou disfarçar a tristeza e a raiva no olhar, mas não deve ter funcionado muito bem, pois quando foi saindo, algumas pessoas tentavam consolá-la.
Só ignorou tudo até chegar na única aula do dia que teria que ter. Pelo menos seu curso não era tão chato e árduo como Medicina, ou Direito. Era apenas Artes e tudo que tinha de sobra era tempo. E paciência.
Demorou até que os alunos chegassem e se sentassem nos respectivos lugares, esperando pelo professor, que deveria chegar logo.
- Posso sentar? - Um menino de chiquinhas perguntou.
- Claro.
- Valeu. - Colocou a mochila do lado da mesa e se sentou, ajeitando seu caderno sob ela. - Alguma ideia do que vamos fazer hoje?
- Artes.
Não era para soar grosso e na mente de Lexie, não havia soado. Sorte a dela era que para ele também não passava de uma brincadeira.
- Se fosse aula de matemática acho que eu me mataria.
- Eu também. Pode ter certeza... - Procurou o nome do garoto na memória, não obtendo sucesso.
- Choso. O seu?
- Evans.
- Você é daqui?
- Não. LA, na verdade.
- É. Não costumamos ver tantos sobrenomes americanos por aqui.
- Talvez eu seja uma exceção.
- Talvez. Ou talvez você só seja mais uma excluída. - Os dois riram.
- Quem sabe...
Antes de terem mais chances de continuar a conversa, outras duas pessoas chegaram: Itadori e Maki.
- Evans! Oi, garota. E aí?
- Oi, Maki! Achei que nunca mais te veria. - Elas se cumprimentaram em um abraço, antes da morena dirigir a palavra ao menino de cabelo rosado. - E aí, Itadori. Foi mal por ontem, eu estava meio...
- Relaxa, filha. Tá de boa. Como você tá?
- Bem e você? - De repente toda raiva que ela carregava se soltou de seus ombros. Era bom estar rodeada de pessoas que a faziam sentir bem.
A faziam sentir como se estivesse voltando pra casa.
- Bem também..
- Por pouco o debate, em?
- Nem me fale. Eu estou por aqui. - Evans apontou para a cabeça, como se estivesse esgotada.
- Foi má sorte a final com Suguru. Ele tem o melhor material, melhor estudo, melhor tudo.
- Bom, pelo menos você será a vice, né? - Maki quis apoiar a amiga.
- Verdade. Eu até tinha me esquecido disso.
- Vocês já sabem quem vai dar aula pra gente esse ano? - Choso perguntou aos outros dois colegas, tentando dissipar o desconforto da morena.
- Sei não.
- Pelo que eu ouvi é o Nanami.
- Ah, legal. Ele é gente boa.
E as horas se desenrolaram até ir embora, com o quarteto mais próximo do que nunca. No mesmo curso, tinham quase o mesmo pensamento e as mesmas ideias. Isto é, se conectaram bastante.
Passaram rindo pelo corredor, indo juntos até a Nexus, onde fariam o trabalho passado para eles nessa última aula. "A história da arte". Cada um com uma idade, desde a antiga até a contemporânea.
Lexie e seu jeitinho nerd não podiam deixar de escolher a era das bruxas. Dos gatos e caldeirões. As trevas: idade média. E sabia exatamente o que fazer para impressionar, afinal tudo que tornava um artista um artista era entender de onde veio a arte.
Eram quase 18:00 quando voltaram para o dormitório de Itadori, abrindo vários pacotes de salgados e estendendo uma cartolina pelo chão.
A conversa fluía tão normal e deliciosamente que nem perceberam quando já era 20:39 e eles não haviam nem decidido a base da apresentação.
Lexie Evans trançava as longas madeixas de Choso, enquanto ele ia escrevendo no papel a frente o título em bastão.
- Podíamos dar o título de: Idade da pedra. - Itadori sugeriu, limpando os dedos sujos na própria calça.
- Cala a boca. Eu nem estou no trabalho e sei mais que você. - Sukuna interviu, rindo do caçula. - Não dá "da pedra" e sim, do cobre.
Ninguém entendeu nada, mas deram risada.
- A arte em cada século é uma boa pedida.
- Eu gostei desse! - Lexie apoiou Maki, dando-lhe um hi-five. - Inovador.
- Nem tanto, né, mas tá bom. Melhor que nada.
- Ixe, gente. Eu acho que fiz merda.
Todos olharam para Choso com um olhar de preocupação. Ao encararem a folha, todas as letras estavam tortas e o começo do título era: Idade da...
Itadori caiu no chão, gargalhando junto do colega.
- Puta que pariu, eu não acredito que você fez isso! Mano!?
- Ah, não, Choso! Porra, meu! - Maki tirou as canetas da sua mão e puxou pra si o papel.
- Foi mal! Foi reflexo!
- Quem deu a ideia de deixar ele com o papel, mesmo? - Lexie perguntou, se apoiando no corpo de Choso ao gargalhar em cima dele. Sua barriga doía de tanto rir.
- Eu. - Sukuna apareceu e se deitou na cama, fingindo uma careta angelical.
Estava explicado, pensou.
Naquele momento, Lexie soube que seu novo ciclo de amigos estava crescendo e que, podia ser melhor do que nunca. Pessoas verdadeiras, parecidas com ela e com os mesmos pensamentos.
Quem sabe tudo estava colaborando para ela se soltar mais, confiar mais nas pessoas. Quem sabe era a hora de sair da bolha que vivia e realmente viver, ao invés de sobreviver.
Pois, com essas pessoas ao seu lado, ela se sentia bem. Tranquila e...bem quista. Como se fosse bem-vinda em algum lugar na vida.
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o próximo capítulo...hehehe
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