'✦ 𓂃⊹ 𝑱𝒂𝒎𝒆𝒔 𝑯𝒆𝒕𝒇𝒊𝒆𝒍𝒅 — 𝑴𝒆𝒕𝒂𝒍𝒍𝒊𝒄𝒂.
'✦ 𓂃⊹ 1992.
'✦ 𓂃⊹ 𝙎𝙁𝙒.
'✦ 𓂃⊹ 100% 𝒐𝒓𝒊𝒈𝒊𝒏𝒂𝒍.
'✦ 𓂃⊹ 𝑮𝒂𝒕𝒊𝒍𝒉𝒐𝒔: 𝒑𝒂𝒍𝒂𝒗𝒓𝒂𝒔 𝒅𝒆 𝒃𝒂𝒊𝒙𝒐 𝒄𝒂𝒍𝒂̃𝒐, 𝒎𝒆𝒏𝒄̧𝒂̃𝒐 𝒅𝒆 𝒎𝒐𝒓𝒕𝒆, 𝒖𝒔𝒐 𝒅𝒆 𝒅𝒓𝒐𝒈𝒂𝒔 𝒍𝒊́𝒄𝒊𝒕𝒂𝒔, 𝒊𝒏𝒔𝒊𝒏𝒖𝒂𝒄̧𝒂̃𝒐 𝒅𝒆 𝒔𝒆𝒙𝒐.
'✦ 𓂃⊹ 𝙎𝙚 𝙫𝙤𝙘𝙚̂ 𝙣𝙖̃𝙤 𝙘𝙤𝙣𝙘𝙤𝙧𝙙𝙖 𝙤𝙪 𝙨𝙚 𝙨𝙚𝙣𝙩𝙚 𝙙𝙚𝙨𝙘𝙤𝙣𝙛𝙤𝙧𝙩𝙖́𝙫𝙚𝙡 𝙘𝙤𝙢 𝙖𝙡𝙜𝙤 𝙘𝙞𝙩𝙖𝙙𝙤 𝙖𝙦𝙪𝙞, 𝙣𝙖̃𝙤 𝙡𝙚𝙞𝙖.
'✦ 𓂃⊹ 𝙈𝙞𝙣𝙝𝙖 𝙞𝙣𝙨𝙥𝙞𝙧𝙖𝙘̧𝙖̃𝙤 𝙥𝙖𝙧𝙖 𝙚𝙨𝙘𝙧𝙚𝙫𝙚𝙧: 𝘾𝙚𝙣𝙩𝙚𝙧 𝙊𝙛 𝘼𝙩𝙩𝙚𝙣𝙩𝙞𝙤𝙣 — 𝙅𝙖𝙘𝙠𝙨𝙤𝙣 𝙒𝙖𝙩𝙚𝙧𝙨.

ᝰ 𝐐𝐔𝐄𝐑𝐈𝐀 𝐓𝐄 𝐎𝐃𝐈𝐀𝐑, 𝐌𝐀𝐒 𝐍𝐀̃𝐎 𝐂𝐎𝐍𝐒𝐈𝐆𝐎.

[❤️‍🔥]

𔘓 𝚂/𝙽 𝙿.𝙾.𝚅 𔘓

𝐃𝐈𝐀 𝟏𝟓 𝐃𝐄 𝐌𝐀𝐈𝐎 𝐃𝐄 𝟏𝟗𝟗𝟐, e cá estou eu. Estou de braço dado com meu melhor amigo do mundo: Dave Mustaine. Estamos sentados numa área verde do festival, com uma graminha macia e flores ao redor, enquanto damos uma entrevista muito bacana para um programa da MTV.

— Então, me falem mais que lance é esse... quem teve a ideia de colocar mais um guitarrista no Megadeth? — o repórter questiona.

Eu dividia microfone com o Dave, ele olha para mim enquanto aponta para mim com seu dedo indicador e um sorriso idiota no rosto.

— Eu tive essa ideia porque é sempre bom ter algo a mais, deu um peso muito legal no som desde que a banda começou. Tem eu, Dave e nosso guitarrista fodão — eu respondi cordialmente.

— Por que a S/N canta mais? — o repórter pergunta.

— A S/N tem a voz melhor, eu prefiro tocar guitarra então eu canto, mas não tanto quanto ela. Aliás, se duvidar até guitarra ela toca melhor do que eu! — Mustaine respondeu rindo, e imediatamente eu o abracei.

— O que tá dando o que falar ultimamente é o Rust In Peace que vocês lançaram a pouco tempo e mais especificamente na Holy Wars tem três solos de guitarra, confesso que sou fã, mas de onde veio a ideia de vocês dois tocarem o último solo sincronizado?

— De nós dois! — respondemos em uma só voz.

— Eu e Dave somos muito indecisos... — eu comentei vagamente.

— É, ia ser um solo pra ela, outro pra mim e o último ia ser do outro guitarrista, mas ele falou que nós poderíamos tocar. Só que ia ficar desigual, então decidimos tocar juntos e sincronizados! — o ruivo disse, passando a mão em seus cabelos.

— Exatamente, e isso foi uma boa ideia porque nos rendeu um Grammy! — eu disse rindo, vitoriosa, lembrando de pegar o troféu nas mãos.

— Nosso terceiro Grammy! — ele comemorou. — Somos muito fodas!

— Somos pra caralho! — eu completei, o dando mais um abraço.

Depois de muitas perguntas interessantes, dúvidas de fãs e duas perguntas meio chatas — sempre tem, não existe entrevista perfeita —, estávamos chegando no momento da última pergunta:

— S/N e Dave, como é para vocês trabalharem um com o outro?

Mustaine fez o favor de me deixar responder primeiro, então peguei o microfone carinhosamente e comecei a falar.

— Trabalhar com o Dave é incrível! Ele é um ser humano extraordinário, e mesmo com todas as nossas diferenças a gente consegue se ajeitar e encontrar um ponto em comum para desviar de um obstáculo. Talvez a gente seja um pouco complicado, mas sempre damos nosso jeitinho. Isso sem contar que ele é um guitarrista muito foda! Te amo, amigo. Você é minha inspiração.

Disse o olhando, e ele imediatamente me abraçou enquanto o repórter nos olhava de forma fofinha.

— Cara, trabalhar com essa chata aqui é a melhor coisa que eu poderia ter feito na minha vida! Ela me entende, e me completa também! Eu sou muito difícil de lidar e mesmo assim ela sempre dá um jeito para conseguir me entender. Se eu sou um guitarrista foda ela também é, mas além de tudo escreve umas letras incríveis e é super eficiente! Essa mulher foi quem compôs killing is my business and business is good em fucking 10 minutos! Você é uma inspiração para mim. Te amo, amiga.

Meus olhos estavam marejados, mas me contive e abracei Dave, agradecendo por suas palavras gentis e calorosas.

— A entrevista foi incrível, eu amei conhecer vocês e vou ver o show mais tarde. Agora nós vamos chamar o comercial então, tem como chamarem?

Eu e o ruivo imediatamente ficamos um ao lado do outro, bem mais próximos para podermos chamar o comercial como sempre fazíamos em entrevistas e outros programas.

— Eu sou a S/N Cavendish! — eu disse.

— Eu sou Dave Mustaine! — ele disse em seguida.

— Nós somos do Megadeth e você está assistindo MTV Headbanger Balls! — dissemos juntos, fazendo o famoso horns up enquanto olhavámos para a câmera.

Depois da entrevista terminar e nos despedirmos dos repórteres, eles foram entrevistar outros artistas. Afinal de contas nós estávamos num renomado festival de primavera. A line-up era bem simples mas tinham bandas de peso como Megadeth, Metallica, Sepultura, Venom, Slayer e Corroded Coffin. Durava dois dias, sábado e domingo.

Hoje era sábado, nesse primeiro dia Venom, Sepultura e Megadeth iriam se apresentar. Amanhã seria Slayer, Metallica e por último Corroded Coffin.

Estávamos todos hospedados num hotel bem próximo do local onde era o evento, mas mesmo assim todas as bandas e fãs estariam aqui hoje para prestigiar seus amigos. Eram quase 15h, o que significava que o show do Venom iria se iniciar logo mais, 18h seria do Sepultura, e 21h seria do Megadeth — momento de eu e meus amigos subirmos ao palco, indo até 23:30h, daí teríamos a festa de after, a famosa confraternização que eu amo.

— Oi, gente! Achei vocês! — ouvimos uma voz feminina vindo por trás de nós e rapidamente nos abraçando. Foi meio do nada, mas já sabíamos quem era.

Se tratava de Hades Osbourne, filha do príncipe das trevas e guitarrista do Corroded Coffin. Ela era nossa amiga desde 1986 quando a banda foi criada e lançaram seu primeiro álbum — desde então já tem três.

A guitarrista estava com seus cabelos escuros e lisos soltos. Isso sem contar que usava uma pulseira de spikes, uma camisa do Venom (do álbum Black Metal), calça preta com correntes nas laterais e coturnos pretos envernizados nos pés. Era alta e sempre estava com um sorriso no rosto.

— Estava aonde, morceguinha? — o ruivo questionou a mais nova, bagunçando levemente seus cabelos.

— Eu estava dando entrevista para outro repórter do MTV Headbanger Balls! Vim buscar vocês pra gente ir ali, o show do Venom já vai começar! — ela dizia animada.

Vale ressaltar que a guitarrista é melhor amiga de Cronos, o vocalista e baixista da banda. Eu e Dave também somos muito fãs deles, além de serem nossos amigos, e amigos dão suporte uns aos outros então nada melhor do que isso.

Além do mais, Hades também é namorada do Kirk. Isso mesmo, Kirk Hammett, do Metallica!

Você deve estar se perguntando porque nós do Megadeth, temos amizade com a namorada de um dos caras do Metallica. Essa é uma pergunta que tem uma longa — acredite quando eu digo "longa" — explicação, mas que no fim desse dia, todas as peças vão se encaixar nesse quebra-cabeça quase infinito, vou te explicar logo mais. Quando eu tiver tempo, e acima de tudo paciência para reviver um passado complicado.

Agora estou meio ocupada, tenho que ir prestigiar meus amigos do Venom. Volto logo em alguns instantes, sei que a Hades — a autora mesmo, essa vagabunda —, vai dar quebra de tempo na minha narrativa, então aguardem alguns parágrafos, o.k.?

[...]

São 21h da noite, estávamos no camarim terminando de dar os últimos retoques para que pudéssemos subir ao palco. Eu usava minha regata branca simples com um colar lindo que tinha uma cruz prateada com alguns pingentes vermelhos. Também usava uma calça jeans clara um pouco rasgada e justa, com cinto de bala e coturnos um pouco surrados em meus pés — eu realmente gostava deles, ainda mais com aquele cadarço trançado diferente que a Hades fez mais cedo para mim, deixando em estrela.

— Tá na hora de subir naquele palco e arrasar, gata! — Dave disse, se sentando ao meu lado no sofá cinzento do local.

— Vai ser difícil entregar um show melhor do que o do Venom e do Sepultura, os caras são bons demais.

— A gente não precisa entregar um show melhor que o deles, mas precisamos dar o nosso melhor, isso que importa!

— É por isso que eu amo trabalhar com você! — eu comentei contente, pegando minha flying v prateada que estava ao lado do sofá, devidamente afinada e ajustada.

— Megadeth tem que subir ao palco agora! — um funcionário da staff disse, nos fazendo levantar e imediatamente ir ao palco.

[...]

No fim do show eu estava toda suada, assim como meus companheiros de banda. Nossos cabelos estavam molhados pelo suor, e eu tinha jogado um pouco da água da garrafinha em meu peito para me refrescar, Dave tinha tirado a camisa, eu tinha ficado só com o top que uso por baixo e jogamos nossas palhetas e baquetas para a platéia. Era um grande público que tinha nos assistido naquela noite, consegui sentir o amor e a admiração de cada pessoa presente ali naquele mar de gente.

As pontas de meus dedos estavam doloridas, acho que nunca toquei tão rápido na vida, mudar a velocidade de algumas músicas é sempre bom, mas nesse caso acho que perdi um pouco a prática. Melhor treinar um pouco quando chegar em casa.

Nos dirigimos até o hotel novamente. Afinal de contas o local turístico estava fechado somente para nós — os músicos e seus roadies. Fui até o quarto que estava dividindo com Dave, a cama dele estava arrumada só por conta do serviço de quarto.

Enquanto tomava uma boa ducha refrescante eu pude ouvir as risadas nos corredores e a música alta lá embaixo. Era realmente uma época boa para se viver e levar a vida que eu levo, não gostaria de fazer nada diferente de como está agora.

Dirigi-me até o quarto novamente para poder vestir uma roupa agradável para festa do after. Consistia num short preto um pouco curto, uma camisa preta do personagem Nosferatu, um all star preto de cano alto e nada mais. Passei meu perfume de sempre e tratei de secar meu cabelo com o secador e coloquei uma pulseira prateada com um pingente singelo ao redor de meu pulso.

Eu sempre quis ficar mais "a vontade" nessas festas de after com as bandas que eu já conhecia a um tempo, não queria ficar toda produzida como uma groupie. Afinal de contas, eu sou a rockstar, porra!

Caminhei pelo corredor até chegar no elevador, e o primeiro andar estava de fato um pandemônio. O salão de festa estava em puro alvoroço com música, bebida, rockstars e groupies.

— Eu e o Dave tínhamos começado a achar que você tinha morrido no banheiro — ouvi a voz de Hades ao meu lado, enquanto ela me entregava uma cerveja gelada.

Ela estava com um top cinza e calça jeans preta rasgada, dessa vez com um cinto preto diferente, com alguns pingentes no mesmo junto à all star roxo que parecia ser novo, levando em conta da coloração. Ela tinha uma gargantilha de spikes pequenos ao redor do pescoço e pulseiras pretas de couro nos pulsos.

— Relaxa, morceguinha. Só estava me certificando de estar bem limpa! — eu disse, pegando a cerveja e dando um gole no mesmo instante.

— Cheirosa igual penteadeira de puta — disse Mustaine, aproximando seu nariz de meus cabelos.

— Vou encarar isso como um elogio — eu revirei os olhos antes de brindar com os dois e dar mais um gole do conteúdo alcoólico.

A festa foi seguindo, alguns fotógrafos foram chegando, outros amigos famosos como atores e modelos, groupies, alguns fãs e mais gente que eu não soube muito bem rotular. Bebi bastante, mas não estava nem próxima de beirar a embriaguez pois meu fígado de rockstar é bem resiste. Interagi com amigos, comi doce, tirei foto com alguns fãs, flertei com algumas groupies e já estava desgastada.

Embora eu ame festas assim, tem dias que eu só quero ficar no meu cantinho. E, provavelmente hoje é um desses dias nos quais eu só quero ficar no meu canto, sem contar que meu ex está aqui. Por que não estaria? Afinal de contas ele é o líder do Metallica.

As peças podem não se encaixar muito agora, porém logo mais estarão.

Disfarçadamente, fui me esgueirando entre as pessoas até conseguir chegar no elevador. Selecionei a cobertura, não tinha quarto lá, era uma área aberta com um pequeno jardim e uma vista para o festival, podia-se ver os palcos, os trailers, os caminhões e outros equipamentos.

A brisa fresca brincava com meus cabelos e eu a sentia em meu rosto. Caminhei até mais próximo da mureta e me debrucei calmamente na mesma, ouvindo a música abafada do primeiro andar. Levei minha mão até o bolso traseiro e peguei o maço de cigarros que estava lá, junto com meu isqueiro vermelho.

Acendi um cigarro mentolado e senti aquela nicotina aromatizada saindo por minhas narinas no momento em que dei a primeira tragada. Fechei meus olhos em seguida e pensei em tudo o que aconteceu na minha vida até chegar aqui onde estou, e ser essa pessoa que sou.

Até que fui interrompida por alguém que chegou. Não olhei para trás mesmo que tenha ouvido o barulho das portas do elevador, e ouvi os passos pesados chegando até mais perto de mim. Ao olhar para o lado, à quase um metro de distância estava ele: James Hetfield.

Seus cabelos dourados e longos estavam sendo levemente jogados pelo vento. Barba agora se fazia presente em seu rosto, os olhos azuis ainda eram os mesmos de anos atrás. A altura sempre foi incontestável, a diferença é que agora o vocalista tinha um corpo com a aparência mais "forte", isso sem contar a forma como estava vestido. Uma regata preta com uma jaqueta do Danzing por cima, calça jeans preta e coturnos nos pés, haviam alguns anéis em suas mãos.

Ele levou uma mão até um bolso interno da jaqueta e tirou de sua carteira de cigarros um deles, o acendendo logo em seguida. Incrível como aquele loiro desgraçado não havia dito uma palavra sequer, estávamos fumando lado a lado como completos estranhos — mas acho que depois de todos esses anos, era o que éramos.

Você deve pensar que sou só mais uma ex amargurada, entre tantas que ele deve ter acumulado ao longo dos anos. Só que a história é bem mais complicada do que parece. Lembre-se do que eu disse: as peças vão se encaixar.

— Oi... — ouvi aquela voz ao vivo e em cores depois de muitos anos se referindo a mim.

— Oi — eu respondi calmamente enquanto apagava meu cigarro na mureta e deixava a guimba em um cinzeiro que estava ali perto.

— Quanto tempo, né? — ele me questiona casualmente.

— Anos... — eu suspirei, enquanto olhava o palco um pouco distante lá embaixo.

— Vi que estava namorando com o Axl Rose... — ele terminou de fumar seu cigarro que tinha um cheiro sútil de uva.

— Terminei. De ruivo estressado na minha vida já basta o Dave — eu disse, rindo de forma anasalada.

— Não te julgo — ele comentou brevemente.

— Você não estava noivo de uma garota chamada Francesca? — questionei para igualar.

— Terminei. Não consigo me casar com alguém que não amo — no momento em que James disse aquilo, eu senti uma vontade imensa de chorar.

Senti até mesmo lágrimas se acumularem nas esquinas de meus olhos, mas não deixei elas sequer se atreverem a rolarem por minha face.

Ficamos em silêncio por alguns minutos, um silêncio um pouco desconfortável porém necessário. Eu não falava com ele a uma década, era estranho ainda mais pelo fato de termos vivido algo tão intenso e hoje sermos praticamente dois estranhos.

— Queria que Cliff estivesse aqui... — eu suspirei calmamente.

— Eu também queria. Sem o Cliff eu me sinto meio perdido.

— Acho que todos nós nos sentimos meio perdidos sem ele. Aquele baixista filho da puta sempre sabia o que fazer — sorri levemente ao recordar-me de meu querido amigo.

— Se ele estivesse aqui, provavelmente diria "parem de ser chatos, seus cuzões"! — James disse, tentando imitar a voz dele no final.

— "Se amem, caralho"! — eu tentei imitar o tom de voz de Burton.

— Ele sempre fazia isso quando a gente brigava...

— Lembra daquela vez em que nós dois ficamos nos fazendo de difíceis por causa de uma guitarra? — eu sugeri.

— Ele só faltou bater com a guitarra na nossa cabeça... — ele riu levemente, me fazendo rir também.

— A gente sempre se fez de difícil — eu disse, relembrando como tudo havia acontecido.

— James e S/N, se fazendo de difícil um com o outro desde 05 de Março de 1980.

Meu coração palpitou ao ouvir aquela data, foi o dia em que eu e ele nos conhecemos numa loja de discos. Estávamos no auge de nossos 16 anos.

— Você lembra? — eu questionei, surpresa.

— Como esquecer?

— Aquela era uma época boa, não é? Nossas únicas preocupações eram conhecer bandas novas e terminar o ensino médio — relembrei-me, extremamente saudosa.

— Pena que tudo isso acabou...

— Em 11 de Abril de 1982 — eu disse firmemente.

Os olhos azuis dele passavam um ar de incredulidade enquanto me olhava.

— Você lembra?

— Como esquecer? — eu disse o mesmo que ele havia dito alguns segundos atrás.

Ficamos em silêncio por mais um tempo, aquele silêncio massivo, pesado e desconfortável estava tomando conta da ocasião mais uma vez. Talvez fosse necessário, mas talvez eu não soubesse explicar nada do que se passava ali, meu coração estava doendo muito para me fazer perceber algo, e as memórias martelavam em meu cérebro, trazendo uma confusão inimaginável.

— Por que não estamos como antigamente? — ele questionou, num tom tristonho.

— Porque pessoas mudam, tempo passa... já faz uma década, James — eu disse, calmamente, ainda triste mas disse.

— Eu não tive escolha — ele disse.

— Sim, você teve. Se fosse demitir o Dave, ao menos conversasse com ele antes. O que você fez foi péssimo.

— Eu até hoje tento entender por quê você terminou comigo por causa do Mustaine...

— Porquê eu acho uma injustiça o que você fez. Eu e ele tínhamos composto vários riffs e solos para o Kill 'Em All... letras, capa... e você simplesmente decide expulsar ele? — no momento em que eu desbloqueei essa memória, Hetfield se calou.

Ficou olhando lá para baixo, sentindo a brisa em pleno silêncio.

— O Dave é meu melhor amigo... pensei que naquela época ele fosse o seu também.

— Era muito complicado manter vocês e manter uma boa reputação — ele respondeu de forma simples.

— Esse é o seu problema, James. Você se preocupava com a reputação, e não se preocupava com os que estavam próximos de você.

Estava surpresa em como não estávamos gritando. Porque nós simplesmente terminamos aos berros e distribuindo palavrões.

— S/N, você e o Dave deram uma surra naquele casal. Ele quebrou a perna do cara, e você bateu tanto naquela menina que quebrou o nariz dela — ele me fez relembrar de um dia fatídico em 1982.

— Eles estavam fazendo bullying com o Lars por causa da altura dele. E se eu e ele pudéssemos voltar no tempo, iríamos dar aquela surra neles de novo — eu suspirei. — Tanto eu quando Dave somos superprotetores com as pessoas que amamos... e, amamos o Lars.

Ao dizer isso pensei em como fui capaz de não falar com James durante esses dez anos, sendo que mesmo após o término continuei sendo amiga de Lars, Cliff, fiz amizade com Kirk por causa de Hades e conheci Jason.

— Talvez eu tenha sido um pouco babaca naquela época... — era bom ouvir meu ex assumindo tudo aquilo.

— Um pouco? Você foi muito.

— É... eu fui muito babaca naquela época... — ele olhou para o céu e respirou fundo, eu vi seu pomo de Adão subir e descer. — Incrível como estamos tendo essa conversa sem gritar.

Mesmo depois de todos esses anos, nós dois continuamos pensando parecido

— Acho incrível também, se levarmos em consideração que terminamos gritando.

Foi uma confusão muito grande, eu não estava sabendo que pretendiam demitir o Dave. E, no dia em que o acordaram já demitindo o ruivo, eu ouvi a discussão e fui me certificar do que estava acontecendo. Ali mesmo teve o famoso "bate boca" e eu terminei com o vocalista.

— Eu lembro que a última frase que você gritou para mim foi: "se você põe sua reputação acima daqueles que estão te apoiando, eu não sou mais sua namorada".

— Eu também lembro da última frase que você gritou para mim — pisquei e suspirei em forma de pesar. — Foi: "se você for embora com o Mustaine, não precisa mais me procurar".

— E você não procurou... — ele disse num tom melancólico.

— Não foi o que você disse? — eu arqueei levemente uma sobrancelha.

— Foi... — ouvir James assumindo as coisas no sentindo pejorativo é bem raro, então estou presenciando um acontecimento foda. — Se eu pudesse voltar no tempo não teria falado nada daquilo.

— O que? — questionei, totalmente surpresa por ouvi-lo dizendo aquilo.

— Eu queria te odiar, mas não consigo...

No momento em que ele pronunciou tais palavras, eu senti meu coração bater mais rápido dentro do peito — quase como se espancasse minha caixa torácica. Todas as memórias daqueles dois anos namorando vieram na minha mente, sei que é pouco tempo considerando os dez anos que estamos sem nos falar, mas em dois anos muita coisa acontece. Ouvir James me falando aquilo me fez lembrar de coisas que eu tinha simplesmente enterrado nas profundezas de minhas memórias.

O dia em que nos conhecemos na loja de discos de vinil, a procura do mais recente do Misfits. As tardes tocando piano e compondo riffs de guitarra, as sessões de carinho depois dos ensaios, os beijinhos durante as conversas, os presentes e bilhetes contendo declarações de amor, as tardes chuvosas vendo os filmes de terror que Cliff indicava. As noites intermináveis de sexo, nas quais nós realmente fazíamos amor.

O dia em que perdi minha virgindade com James tinha sido um dos dias mais especiais da minha vida. Ele me fez esquecer minhas inseguranças e amar meu corpo o suficiente a ponto de ficar completamente nua na frente dele, deixar ele me tocar, dar beijos, segurar meus pulsos ou entrelaçar minhas mãos nas dele naqueles lençóis.

O dia em que completamos o ensino médio e jogamos as becas para cima com os amigos enquanto estávamos comemorando o início da nossa vida de rockstar.

Nós tínhamos tantos planos, tantas metas... e tudo foi arruinado pela negligência dele.

— Eu seria capaz de te odiar se o meu peito não ardesse toda vez que eu penso em você, se eu não tivesse vontade de chorar toda vez que lembro do que nós tínhamos... se eu não... me arrependesse por ser um completo cuzão dez anos atrás!

— James-

— Por que você acha que eu nunca namoro alguma mulher por muito tempo? — aquilo era uma coisa que eu nunca tinha parado para pensar, e tudo fazia sentido agora. — Porque eu consigo entender agora que só ficava com elas para suprir a falta que você me faz... mulher, você é o amor da minha vida!

— Mas... eu, eu...

Só tinha vontade de chorar, eu sentia que se eu piscasse duas lágrimas iriam escorrer por meus olhos de tão pesado que meu olhar estava. Eu estava arrepiada e com o coração tão rápido quanto riffs marcantes.

Na mesma hora, James se ajoelhou no chão, ficando na minha frente e abraçando minhas pernas enquanto apoiava a cabeça em meu colo.

— Me perdoa, me perdoa! — a voz dele estava embargada, um pouco mais pesada, como se ele tivesse com um nó na garganta da mesma maneira que eu estava.

A julgar pelo tom da voz dele, parecia que ele estava chorando. E, na hora que ele olhou para cima eu vi, ele estava chorando, aqueles olhos perfeitos de íris azuis estavam cheios de lágrimas que escorriam por sua face. Nunca tinha visto James chorar na vida, no velório de Cliff ele tinha se escondido para fazer isso, porque ele sempre foi aquele que toma a frente e tem que se mostrar forte.

Nunca demonstrou esse nível de fragilidade.

— Eu queria te pedir desculpas desde o dia seguinte que terminamos mas, eu nunca fui por medo. Medo de você me rejeitar, e eu também me rejeitaria no seu lugar. Depois sua banda foi crescendo, teve a morte do Cliff, você foi ficando mais famosa. Estávamos cada vez mais famosos e sem tempo, eu já estava desistindo de falar com você e tentando seguir a minha vida, mas eu não consigo! — ele continuava dizendo e eu só sentia mais vontade de chorar. — Não consigo imaginar um futuro sem você porque não existe! Sem S/N Cavendish não existe James Hetfield!

— James... levanta, por favor, levanta do chão... — eu disse, evitando contato visual com ele.

Ele prontamente se levantou, secando as lágrimas em sua face com o dorso de sua mão esquerda.

Olhei para ele por alguns instantes, analisando sua face e observando mais seus traços. É estranho pensar que nós temos 28 anos agora, e que passamos tanto tempo assim separados. Mas, aproveitando que estamos aqui, pude também analisar cada palavra que ele me disse, confesso que estou receosa. Pensei no que Dave me aconselharia a fazer, no que Cliff me aconselharia a fazer... e, acima de tudo: o que eu quero fazer.

Meu peito ardia em brasa, minha respiração estava pesada, e um nó havia se formado em minha garganta. A vontade de chorar não passava, e meus olhos ainda estavam com lágrimas acumuladas.

Depois de quase dois minutos de silêncio, eu não exitei em o abraçar o mais forte que pude e deixar aquelas lágrimas acumuladas tomarem por minha face. Eu estava chorando com força, descarregando todas as emoções que eu precisava, coisa que eu não fazia a anos. Senti o perfume de James e seus braços fortes ao redor de mim, me fazendo sentir segura.

Eu senti tanta saudade desse abraço, senti tanta saudade do meu grande amor!

— Sim — eu disse, ainda sentindo o nó em minha garganta se desenrolar.

— Hm? — ele questiona, confuso.

Eu o olho, com plena certeza do que estou falando, e ele seca minha lágrimas com um sorriso repleto de compaixão.

— Sim, eu te perdoo!

Imediatamente um sorriso de felicidade e ternura se estampa no rosto dele, que leva suas mãos até meu rosto para me dar um beijo. Eu continuava abraçando suas costas e me sentia agora mais segura do que me senti em muitos anos. Sentir os lábios dele sobre os meus depois de uma década está sendo uma sensação sem igual. A forma como os lábios dele se encaixavam com os meus sempre foi simétrica, e eu sempre me sentia no céu.

Era um beijo lento e tranquilo; conseguia passar exatamente todas as sensações e significados para tudo aquilo. A paixão, o perdão, a redenção... tudo.

A brisa gélida da noite ainda nos atingia, mas o calor de nossos corpos era mais do que suficiente para eu estar contente e aquecida naquele momento. Nem consigo acreditar que o tenho de volta — ou que nunca o perdi.

— Eu te amo.

Ele disse quando encerramos o beijo, mas permanecemos com nossos rostos próximos.

— Eu também te amo. E te quero como sempre quis.

No momento em que eu disse isso, um sorriso de felicidade genuína surgiu no rosto dele, era incrível como até mesmo o olhar dele conseguia expressar o que ele estava sentindo, já que os olhos são as janelas da alma. E ele me abraçou fortemente mais uma vez, enquanto ficávamos rindo feito dois adolescentes apaixonados, como no dia em que ele me pediu em namoro em 1980.

Estar com James novamente é mais que um recomeço, é dar continuidade ao nosso sentimento.

[...]

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Mais um imagine do Papa Het porque a Hades tá inspirada! Me agradeçam depois! 😘

Aliás, mudei um pouco a estética, gostaram?