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CAPÍTULO 71 - O guarda

Um pouco perversa, é do que ele me chama
Porque isso é o que eu sou, isso é o que eu sou
Valerie Broussard - A Little Wickedicked
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NO CURTO TEMPO em que eu estive em Mag Mell, eu tinha sido ameaçada pelo próprio Manannán e havia descoberto muito mais sobre mim do que nos últimos ciclos que compusera a minha vida. Ainda assim, eu sentia em meu coração que minha estadia ali revelaria muito mais do que eu sequer era capaz de imaginar.

Naquele dia em que reencontrei o meu pai, decidi aproveitar o tempo que havíamos perdido, portanto passei o resto do dia ao seu lado. Quando retornei à torre, o céu já estava cedendo o seu lugar para noite. E ao me aproximar daquela que por ora era a minha residência, percebi que meus guardas já estavam a postos. Havia ao menos seis deles espalhados ao redor da torre, armados com suas longas espadas e sabe se lá quantas armas a mais carregavam naquelas armaduras desgastadas. Uns conversavam amigavelmente com os druidas, enquanto outros, apenas me olhavam furtivamente, claramente desconfiados. Franzi o cenho enquanto subia mal humorada até meus aposentos que ficava no topo da torre esculpida entre o tronco do mais antigo dos carvalhos.

Ao chegar aos últimos degraus da escada espiralada, ouvi a pulsação de um coração batendo em ritmo suave e lento.

Havia um guarda prostrado em frente à porta, e sua postura rígida indicava que ele estava completamente alerta a qualquer sinal de invasão. Ele tinha o objetivo de me proteger, embora eu não precisasse da sua proteção.

— Acredito que tenha recebido ordens para manter seu posto por toda noite. — eu disse, assim que fiquei de cara a cara com guarda.

Ele era alto, talvez duas cabeças acima da minha. Seus cabelos escuros estavam cortados em uma altura significativamente baixa para os costumes de seu povo e uma barba cor de terra cobria o seu rosto. Já seus olhos tão marrons quanto o barro, encararam-me com dureza, antes de falar:

— Essas foram as minhas ordens. — Aprumou ainda mais a sua postura — Acredito que seja Erieanna, certo? — especulou, embora já soubesse a resposta.

— A própria. — respondi — E você é?

— Cáel. — respondeu, ele, em tom seco.

— Cáel... — Testei o som do seu nome em minha boca — Certo, senhor guarda. Já que sua presença aqui é algo irrefutável, é preciso, portanto, definir os seus limites. Primeiro: jamais passe por aquela porta sem a minha autorização ou acabará queimado. — Conjurei as chamas em minhas mãos. O guarda, no entanto, apenas desviou o olhar para o fogo, e sequer pareceu intimidado com minha ação. — Segundo... — prossegui — Enquanto seu objetivo for o de me proteger, saiba que você e seus homens estarão seguros. Seremos amigos enquanto suas ordens não entrarem em conflito com a minha sobrevivência. Caso o contrário, não hesitarei em matá-los. — ameacei — Por fim, devo alertar para que mantenha seus guerreiros longe de mim. Já convivi com homens e sei como eles podem se tornar cruéis após serem privados de sexo por um longo tempo. Se algum deles tentar me tocar sem permissão, eu juro que o farei sofrer e ao ponto de desejar a morte. Não nos conhecemos, ambos não sabemos do que somos capazes. Mas pode ter certeza... Eu colocarei essa torre abaixo e os transformarei em cinzas se por ventura tentarem me violar. — Encarei-o com frieza — Você entendeu?

O guarda que até então me encarava com seus olhos escuros, trincou o maxilar antes de proferir:

— Não sei com que tipo de escória veio a se envolver. Porém, posso lhe garantir que meus homens são simples, mas são honrados. Eu mesmo trucidaria com qualquer um deles se por acaso viessem a violar qualquer mulher. Não se preocupe, minha cara, posso lhe assegurar não somos esse tipo de pessoa. Lamento por você ter conhecido homens tão ruins.

Sua honestidade me pegou desprevenida. Ao ouvi-lo, não me senti ameaçada. Portanto, decidi que, por ora, ambos estávamos seguros.

— Não preciso do seu lamento. Eu sobrevivi sem ele. Também não preciso da sua pena, assim como não preciso da sua proteção. Sua presença aqui é uma mera formalidade. Não fique no meu caminho e eu não me intrometerei no seu. Se tudo ocorrer bem, logo estaremos livres um do outro. Com sorte sobreviveremos ser derramar uma gota de sangue. Cada um seguirá o seu destino e jamais voltaremos a nos falar. — Caminhei em direção a porta — Agora se me der licença, eu preciso descansar.

Tentei adentrar em meu aposento, todavia, Cáel bloqueou a passagem com sua estatura sobrepujante.

— Como sabe que somos guerreiros e não meros guardas? — Indagou, em um misto de desconfiança e curiosidade.

Fitei-o prolongadamente, antes de responder:

— Já vivi na Escandinávia junto aos vikings e também em Asgard. Os guerreiros vikings, assim como vocês, não se preocupam em manter os trajes impecáveis. Além disso, apenas os guerreiros possuem o mesmo olhar repleto de desconfiança e determinação cuja lealdade é muito maior do que qualquer guarda. Encontrei esse mesmo olhar em seus homens enquanto percorria o caminho até aqui. No mais, os guardas de Asgard costumam manter um posto fixos e estratégicos quando são incumbidos de guardar alguém ou um local. Seus homens, ao contrário, espalham-se com facilidade pelo ambiente, são irrequietos, não gostam de permanecer imóveis por muito tempo. São guerreiros que somente se dão por satisfeitos enquanto estão imersos no calor de uma batalha. E isso os torna muito mais perigosos. Guerreiros só tem um líder e eu ainda não descobri a quem eles são leais.

Seu olhar escuro me analisou com demasiada cautela. Contudo, ele não emitiu qualquer palavra. Apenas liberou a passagem para meu quarto.

Em silêncio, passei por ele. Entretanto, antes de cruzar a porta, Cáel segurou meu braço e baixou seu rosto rente ao meu.

— Disseram-me que eu deveria guardar uma mortal. Só não me disseram o quão perigosa ela é. Enquanto meus homens estiverem seguros, você também estará. — advertiu, em tom sombrio, e sua respiração quente tocou o meu rosto.

Desvencilhei do seu toque com brusquidez. Contudo, antes de entrar no quarto, eu zombei:

— Parece que não conhece os deuses, meu caro. Eles são habituados a dizer meias verdades. Sempre desconfie do que dizem, principalmente no que se refere ao Senhor dos Mortos. Aqueles que que lidam com a morte, não são confiáveis. Tenha isso em mente. — Então eu finalmente passei pela porta e a fechei. Deixando do outro lado, um guerreiro completamente imerso em seus pensamentos.

Não consegui dormir naquela noite. A respiração cansada do homem do outro lado daquela grossa porta de madeira invadia minha mente trazendo à tona antigas lembranças perturbadoras.

Eu já havia passado noites em claro, não por desejo próprio, mas por pura necessidade. Sempre que os vikings retornavam de suas explorações marítimas, ou quando comemoravam o Yule, eu precisava me manter em alerta se quisesse evitar a ser brutalmente violada. Então eu nunca dormia em determinadas noites sombrias, pois temia ser acordada com um bárbaro em cima de mim, percorrendo sua língua asquerosa pelo meu corpo enquanto forçava a me invadir com violência. Ficar acordada concedia-me a chance de ouvir os passos trôpegos dos homens embriagados se arrastarem pela neve antes que eles adentrassem no salão dos escravos. Permanecer alerta era a única ação que me afastava do estupro. Eu sempre fugia antes dos homens chegarem ao salão. E, enquanto eu corria envolta a escuridão da noite fria, eu ouvia os pavorosos gritos das mulheres que eram brutalmente violadas pelos malditos guerreiros vikings.

Pelo resto da noite os seus gritos de pavor ecoavam no fundo minha mente, impedindo que meu sono viesse. Então eu acendia uma fogueira e passava a noite em claro, protegida apenas pela densa floresta que me cercava.

Quando eu retornava pela manhã, meu coração doía ao ver as marcas dos abusos estampados nas peles das escravas, assim como nos frágeis corpos das meninas que foram brutalmente forçadas a se tornarem mulheres. Sempre havia baixas após noites sombrias como aquelas. Muitas não suportavam a dor e a vergonha de ter sido tão terrivelmente usadas por homens tão cruéis e simplesmente acabavam com as suas míseras vidas. Outras eram mortas pelos próprios sádicos escandinavos cuja sede por sangue jamais saciava. Ainda era jovem quando descobri que a morte era um conforto na vida das escravas, pois finalmente se tornavam livres.

Com muito esforço, dissipei as lembranças perturbadoras da minha mente e ignorei o som da respiração alterada que atravessa as frestas daquela maldita porta. Porém, antes de conseguir dormir, decidi que ajudaria Cáel a sobreviver às suas vigílias sem que sua mente ficasse perturbada. Havia misturas de ervas que concediam a energia necessária para dissipar o sono, assim como havia aquelas que surtiam o efeito contrário e induzia a sonolência.

Ajudá-lo traria um descanso a minha mente. Terríveis lembrança de outrora não me assombrariam.

Ao chegar à solução para o problema de ambos, finalmente consegui dormir.

Naquela manhã quando a luz do Sol se fez forte o suficiente e penetraram as janelas clareando toda a torre, eu fui obrigada a despertar mesmo que ainda estivesse com sono. A claridade me impedia de dormir, por essa razão, apenas me enfiei no único vestido que havia trazido da casa de Cernunnos, e em seguida, deixei o quarto.

Ao sair pela porta, notei que Cáel ainda permanecia em seu posto.

— Olá. — cumprimentei analisando seu rosto. Seu olhar cansado já não nutria brilho feroz que havia vislumbrado anteriormente. Até sua postura era menos rígida comparada ao dia anterior.

— Olá. — respondeu, sem me lançar um mísero olhar.

— Acredito que vais dormir durante o dia. Desse modo, preciso que me indique um de seus homens para que me acompanhe ao centro comercial dessa ilha. Não conheço nada de Mag Mell, além dessa torre. — expliquei, resumidamente.

Cáel rapidamente se colocou em alerta.

— O que pretende fazer na cidadela? — ele perguntou, desconfiado.

Encarei-o, tentando descobrir o motivo da sua súbita desconfiança, mas nada encontrei além de um par de olhos marrons fixos em mim.

— Preciso encontrar vestes. Tenho apenas um par de vestidos que não são o suficiente para minha estadia prolongada.

Eu também precisava de uma espada e de ervas. Porém, não revelaria tais informações a ele. Algo me dizia que Cáel não iria gostar de saber que eu estava à procura de armamento.

— E como vais pagar pelo que precisa? — ele indagou, escondendo o sorriso por de trás daquela barba escura.

Realmente nem cheguei a cogitar que deveria pagar por algo. Achei que Mag Mell havia transcendido a sede por ouro.

— Merda! — resmunguei, irritada — Não acredito que terei de encontrar uma forma de conseguir se para poder comprar os malditos vestidos. Não esperava ter de lidar com esse tipo de situação.

Cáel soltou uma gargalhada que me irritou profundamente.

— Prata ou ouro não tem serventia aqui, Erieanna. Usamos outra forma de pagamento a qual chamamos de escambo. — ele informou, presunçoso.

Escambo. Já tinha ouvido falar de tal tipo de negociação. Li em algum lugar que antes de se usar os metais preciosos como moedas, as pessoas viviam de trocas. Quem possuía vaca, trocava o leite por grãos e vice-versa. Tudo dependia da necessidade, e conforme a dificuldade ou escassez da mercadoria, seu valor poderia se tornar imensurável. Parece, portanto, que era necessário que eu descobrisse o valor das minhas habilidades, se quisesse negociar com os habitantes da ilha.

— Eu preciso de vestidos e darei um jeito de consegui-los. Preciso apenas que um de seus homens me leve até a cidadela.

Cáel semicerrou seus olhos em desconfiança.

— Dois de meus homens irão com você. — disse, por fim.

— Apenas um é necessário. — contestei com veemência.

O guarda sorriu com deboche, antes de declarar:

— Estou mandando dois de meus homens porque estou lhe concedendo o benefício da confiança. Se por acaso eu perceber que tens a intenção de desenterrar o caos com suas ações, mandarei todos os meus guerreiros ao seu encalço. Não quebre a confiança e com o tempo eu lhe darei a privacidade que tanto deseja.

"Dois pares de olhos me vigiando era melhor do que vários deles." Pensei. Por esse motivo, eu aceitei a sua maldita ordem.

— Tudo bem. Mostre-me seus homens. — resmunguei, irritada.

Cáel, então, deixou seu posto e desceu os degraus escada espiralada até chegar ao solo. Segui ao seu encalço e observei marchar até o acampamento dos homens, onde permaneceu por um tempo considerável. Depois de muito esperar, ele retornou até a mim, trazendo consigo dois fortes guerreiros os quais presumi que me acompanhariam a cidadela.

— Flym, Gearóid. Conheçam, Erieanna, a mortal a quem fomos incumbidos de proteger. — informou, Cáel, aos homens que permaneceram em silêncio, apenas me encarando com seus olhos frios e expressões carrancudas.

— Creio que podemos partir. — eu disse, indicando que não tinha intenção de perder tempo.

— Tragam os cavalos! — gritou Cáel, em tom de comando.

Outros dois guerreiros deixaram a tenda e trouxeram os cavalos de pelagem marrons que já estavam selados.

Tanto Flym, quanto Geróid, subiram em suas montarias com extrema desenvoltura. Fazia um bom tempo que eu não andava a cavalo. Depois que aprendi a desvanecer, jamais precisei utilizar tal tipo de transporte. Todavia, eu não conhecia a cidade e por isso não era capaz de desvanecer até ela. O cavalo, por ora, teria de servir.

Percorri a crina do animal com um toque de delicadeza. Segurei sua cara alongada em minhas mãos e fixei meus olhares no seu olho tão negro como a noite mais sombria.

— Peço permissão para montá-lo. Prometo que não te farei mal. — sussurrei para o cavalo que abanou a cabeça, como se tivesse me compreendido.

Senti que os olhos de Cáel e seus homens me observavam com atenção. Porém, não soube dizer o que se passava em suas cabeças.

Segurei a sela em minha mão e avaliei a altura do cavalo, antes de tentar montá-lo.

— Sabe montar, Erieanna? — Cáel, perguntou, com um leve tom de deboche.

Lancei-o um furioso olhar de esguelha ao homem que duvida de minhas habilidades. Soltei a sela que eu segurava e juntei as barras do meu vestido, prendendo-as em um grosso nó acima dos meus joelhos.

Ambos os homens lançaram olhares lascivos em direção as minhas coxas torneadas que ficaram expostas. Ignorando todos os olhares. Segurei as talas que prendiam as selas e impulsionei meu corpo sobre o cavalo. Em um piscar de olhos eu estava perfeitamente alinhada em minha montaria.

— Eu era uma Valquíria. Aprendi a montar em cavalos alados. Acredito que sou apta a montar em cavalos comuns. — proferi com sarcasmo, fazendo com que Cáel perdesse a capacidade de falar.

— Vamos? — Bati meus pés no tronco do cavalo que começou a trotar com delicadeza.

Os homens também deram comandos as suas montarias e logo me ultrapassaram, tomando a frente da jornada. Entretanto, antes de nos afastarmos, Cáel gritou:

— Tomem cuidado com a Erieanna. Existe uma cobra por detrás desse rosto bonito!

Os homens me lançaram olhares desconfiados ao ouvi-lo. Detestei-os por aquilo.

— Vá dormir, Cáel! — Gritei de volta, sem desviar o olhar do caminho à minha frente.

Seguimos o rastro de uma estreita trilha que se estendia por entre as densas árvores que pareciam se comunicar entre elas à medida que nos observavam com certa desconfiança.

Fazia um clima agradável e os feixes dos raios solar que transpassavam as clareiras da mata, aquecia nossos corpos conforme percorríamos o trajeto em um ritmo lento.

Enquanto seguia atrás dos homens, escutei suas conversas e não gostei do que ouvi:

— Não estou gostando nada disso — resmungou, Flym, o guerreiro ruivo de porte esguio cujas sardas cobriam boa parte de seu rosto — Nós éramos guerreiros de extremo valor quando estávamos na Irlanda. Servimos o próprio rei de Ulster. Tínhamos reconhecimento e admiração por ter protegido nosso país bravura. Achei que Mag Mell nós proporcionaríamos muito mais, no entanto veja o que nos tornamos? Formos rebaixados a meros guardas que foram incumbidos de proteger uma reles mortal. Cáel perdeu a cabeça! Não consigo reconhecê-lo. — O ruivo balançou a cabeça negativamente.

— Cáel sabe exatamente o que está fazendo, Ferrugem. Ele prometeu que nos levaria a Mag Mell, e assim o fez. Com certeza suas ações tem um propósito. Tenha um pouco de paciência, homem. — rebateu, Geróid, com rispidez. Sua voz grave como um trovão combinava com seu porte forte. O homem parecia uma muralha esculpida em músculos e sua cabeça careca era toda coberta por complexos desenhos negros.

— Fale por você! Eu o conheço há muito tempo, fui um dos primeiros homens a se juntar ao seu bando. Cáel anda estranho, sinto cheiro de algo errado no ar. Meus instintos nunca me enganam. — Flym não desistiu de seus argumentos.

— Não deixe sua desconfiança chegar aos ouvidos de Cáel. Todos sabemos que ele não lida muito bem com conspirações. Acho melhor guardar seus comentários para si. Temos problemas o suficiente para lidar, não precisamos arrumar conflito entre nós. — Advertiu, Geróid, impaciente. Ao contrário de seu parceiro, ele era leal ao seu líder.

Flym se calou e manteve uma expressão carrancuda até chegarmos ao início da estrada que se alargava por entre a mata. Prosseguimos adiante em completo silêncio, até que Flym não aguentou segurar a curiosidade e perguntou, por fim:

— Diga-me, por que raios os deuses estão guerreando por conta de uma mortal?

Não gostei do seu tom afiado, muito menos da forma como me olhava. Detestei a sua postura esnobe.

— Se quer respostas, pergunte a eles. — respondi, rudemente.

Pelo canto dos olhos, percebi que Geróid escondeu o riso.

— Não seja tão condescendente! — exclamou com arrogância — Nós estamos te protegendo, merecemos ao menos uma explicação sobre essa maldita guerra.

Flym estava testando a pouca paciência que eu tinha. Com certeza Cáel havia o mandado, pois sabia que ele era um maldito linguarudo sem escrúpulos.

— Não preciso de proteção. Não foi eu quem pedi vigilância. Por mim, poderiam ir embora a qualquer momento e eu sequer sentiria falta. — proferi, mais arrogante do que desejava.

O bastardo ruivo gargalhou alto, como se duvidasse de minhas palavras.

— Uma dama tão bela como você, vestida nesses trajes de luxo com certeza precisa de proteção. — Seu olhar recaiu em meus seios — Talvez mais do que imagina, milady. — Exibiu um sorriso cheio de malícia que expunha seus dentes sutilmente afastados.

Flym estava muito enganado ao meu respeito e eu iria provar.

Sem que percebesse ou tivesse tempo de agir. Inclinei sobre a sua montaria e habilmente puxei sua longa espada da bainha que ele carregava em sua cintura.

O homem arregalou seus olhos cor de mel, ao sentir o aço afiado tocar a pele débil de seu vulnerável pescoço magro. Quando Flym tentou comandar a montaria para longe de mim, eu conjurei um círculo de fogo a sua volta, prendendo ao meu domínio. Assustado, o cavalo relinchou e se apoiou sobre as patas traseiras. Em nenhum instante, tirei a espada da garganta do guerreiro que havia me desafiado.

— Como pode ver, posso me defender sozinha. — Afundei levemente a lâmina da espada em sua pele, fazendo com que um fio de sangue escorresse por seu pescoço.

Escutei o retinir da espada de Geróid sendo desembainhada e lancei a ele um perigoso olhar de aviso. Ele não deveria se intrometer naquele embate.

— Se ousar se mexer, juro que atravessarei essa lâmina em seu pescoço. — sibilei pausadamente.

Flym mal respirava. Suor brotou em suas temporadas enquanto seu coração batia tão forte quanto os tambores das celebrações do Yule.

— Esse foi apenas um aviso. Não volte a fazer acusações sobre aquilo que não conhece. Tampouco insinue perigosas ações que podem levar a sua morte. Dessa vez ameacei a sua garganta, da próxima será a sua masculinidade. Já arranquei tal membro de alguém que mereceu, posso muito bem fazê-lo novamente e sequer me arrependeria.

Flym não ousou realizar qualquer movimento, porém, seus olhos diziam que ele havia entendido cada ameaça que saiu da minha boca.

Tirei a lâmina de pescoço e ordenei que as chamas se apagassem. Flym, por sua vez soltou o ar que prendera em seus pulmões e respirou aliviado. Estendi a espada em sua direção. Seus olhos cheios de ira se fixaram em mim, antes dele pegar a arma e devolvê-la a sua bainha.

Ao ordenar que meu cavalo voltasse a trotar, notei que Geróid já havia guardado a sua espada e me olhava com ar de admiração. Sorri para o guerreiro robusto, havia uma estranha cumplicidade entre nós.

Voltamos a seguir nosso caminho. Os homens me alçaram em uma fração de instante.

Geróid, que ainda escondia o sorriso, lançou um olhar provocativo ao seu companheiro e abriu a boca para dizer algo, contudo, Flym o cortou:

— Não diga uma palavra. Já obtive a minha lição. — ele resmungou, contrariado.

Seguimos o resto do trajeto em silêncio. Não tardou para que avistássemos os portões da cidadela. Mesmo de longe, a exuberante arquitetura de Mag Mell saltava aos olhos. Era uma ilha magnífica. Os deuses realmente sabiam ostentar suas moradas. Manannán não era diferente, sua residência era esplendorosa, não era à toa que tinha a fama de ser comparada ao lugar de felicidade eterna, pois até mesmo a tristeza era afugentada ao vislumbrar a beleza indescritível daquela local.

Passamos por uma linha ponte de pedras tão brancas como a neve, onde abaixo dela o mar de agitava sobre as rochas. Os portões estavam abertos. Não era necessário mantê-los fechados, pois eu sabia que havia um poderoso escudo protetor envolta de toda ilha, que impedia a entrada de invasores. Além disso, apenas eu e os druidas vivíamos às margens da exuberante cidadela.

A medida em que adentrávamos por entre as mais variadas moradas, observei que as pessoas dali sequer nos lançavam qualquer olhar. Todas trajavam vestes finas e muito elegantes. Algumas mulheres conversavam animadamente enquanto andavam de braços entrelaçados pelos caminhos sinuosos que se abriram por entre as construções de esplendorosas estruturas, cujos detalhes saltavam aos olhos de qualquer visitante.

Subimos um pouco mais, e atravessamos uma larga escadaria até que chegamos a um pátio em que encontravam-se um grupo de homens bem afeiçoados conversando animadamente sobre o solstício de inverno que ocorreria em breve.

Era difícil imaginar que em outro lugar, no mundo dos homens, o frio impiedoso do inverno assolava todo um povo e sua vegetação. Contudo, apesar de Mag Mell não respeitar o equilíbrio que regia os mundos, ao menos mantinha viva as antigas tradições: o Yule também era celebrado naquela ilha. Saber disso trouxe-me um pouco de conforto.

Deixamos o pátio para trás e finalmente chegamos à área comercial que se encontrava demasiada agitada. Crianças corriam livremente por entre o mercado; homens perambulavam à procura de bebidas enquanto os jovens rapazes se exibiam para as moças que lhes lançavam tímidos olhares furtivos. Aquela gente estava tão alheia aos perigos que os cercavam do lado de fora daquela ilha. Mal se davam conta que estávamos em guerra.

Senti o forte cheiro de ervas penetrar em meu nariz. Rapidamente lembrei de meus afazeres. Desci do cavalo e o guiei até Geróid.

— Não há necessidade que sigam meus passos como se fossem minha sombra. Apenas fiquem por perto. Não sairei de suas vistas. — Entreguei-lhe a sela do meu cavalo.

Geróid assentiu em concordância. Flym, embora não tenha aprovado a decisão de seu companheiro, manteve-se calado. Ele não me enfrentaria tão cedo.

Segui o odor das ervas e especiaria que me levaram até um pequeno estabelecimento abarrotado dos mais diversos temperos. O local emanava uma variedade odores que se perdiam no ar. Havia potes de todos os tamanhos dispostos nas prateleiras de madeira. Dei início a exploração daquele minúsculo lugar que guardava tanta preciosidade, e percorri meus olhos por todas as ervas e misturas que haviam ali. Estava inalando a doce fragrância da lavanda, quando um homem de porte roliço passou pela porta que havia escondida entre as estantes, e me cumprimentou alegremente:

— Em que posso ajudar, milady? — Ele lançou um olhar preciso para o vidro de essência de lavanda em minhas mãos — Estás à procura de algo que lhe deixe com uma fragrância incrível, capaz de enfeitiçar qualquer homem? — arriscou — Ou deseja algo mais voluptuoso? — Lançou-me um olhar lascivo. Não gostei nem um pouco do modo que ele me olhava, como se estivesse me despindo.

Devolvi o frasco na prateleira.

— Tenho uma lista de ervas das quais preciso. — informei, evitando a olhá-lo.

— E como pretende pagar por elas? — Sua voz comedida em um tom pesado, provocou uma sensação esquisita dentro de mim.

Girei os calcanhares de modo a encará-lo. O homem descaradamente me devorava com seus pequenos olhos que quase se perdiam em sua face redonda.

— Qual seria o tipo de pagamento adequado por algumas ervas?

Ele diminuiu a distância e se colocou muito próximo de mim. Contive, portanto, o ímpeto de me afastar, caso contrário ele entenderia que estava com medo, o que era um tremendo erro, pois eu apenas nutria um sentimento de repulsa.

Naquele momento, enquanto estávamos tão perto, percebi algo que até então não me ocorrerá. Eu ouvia as suaves batidas de seu coração, assim como ouvia as de Cáel, bem como as de seus homens. Todavia, percebi durante o percurso que algumas pessoas não tinham pulsação, tampouco sentia qualquer vitalidade emanando de seus corpos. Talvez algumas delas estivessem mortas. No entanto, tinha certeza que o homem à minha frente estava vivo.

— Alguns me pagam com boas cervejas, outros com os mais suculentos cortes de carne. Depende muito do que eu desejo. — respondeu, o comerciante, olhando para o decote do meu vestido — Diga-me o que necessita e depois negociaremos o pagamento.

Ponderei sabiamente antes de lhe informar o que eu desejava. Eu sabia muito bem o que o homem queria como pagamento e eu não estava disposta a pagá-lo de tal forma. Entretanto, eu não sairia dali sem o que necessitava.

— Preciso de alecrim e ginseng. Também procuro camomila e valeriana.

Rapidamente, o sagaz comerciante, percorreu toda a extensão daquele minúsculo estabelecimento, e separou o que eu pedirei em pequenas trouxas de um tecido cor de areia.

— Está tudo aqui. — Mostrou as ervas enfileiradas sobre o balcão.

Analisei todas as ervas, sentindo sua fragrância, bem como a sua textura e cheguei à conclusão de que não estava sendo enganada.

— Agora precisamos conversar sobre o pagamento. — Ele abriu um sorriso lascivo. Seus olhos escuros ostentaram um brilho perigoso.

— Diga-me o seu preço. — ordenei, sem qualquer medo.

Munido de más intenções, o comerciante afastou-se até a porta e a fechou. Qualquer mulher seria uma presa fácil, aprisionada naquele mísero lugar, mas não eu. Ele havia caçado a presa errada.

— Quero você e agora! Erga suas saias e dê-me o que eu desejo. — O homem marchou até a mim, determinado a me tomar nem que fosse a força.

Esquivei-me do seu alcance.

— Esse é um preço um tanto injusto. Tenho certeza que alguns punhados de ervas não valem tanto assim. — pontuei, fugindo da sua proximidade, impedindo que ele me tocasse com suas mãos gordas.

— Eu tenho o que precisa, e você tem o que eu desejo. Parece-me uma troca justa. — ele disse, irritado.

Escutei passos apressados se aproximando da porta. Flym ou Geróid com certeza entrariam naquele estabelecimento a minha procura. Eu tinha pouco tempo para me acertar com aquele homem asqueroso.

— Além disso — ele prosseguiu —, uma rameira como você não tem muito a oferecer além daquilo que a torna mulher. Eu posso ser bem gentil se me conceder o prazer que eu almejo. Minha esposa acabara de falecer e eu estou ávido por uma mulher. Por sorte os deuses te colocaram em meu caminho. — O sorriso perigoso novamente se apossou de seus lábios.

O homem tentou me encurralar mais uma vez, contudo, antes que ele se aproximasse o suficiente colocando sua vida em risco, a porta escancarou-se abruptamente, revelando um Geróid furioso bloqueando a sua entrada com seu porte corpulento.

O comerciante arregalou os olhos ao fitar o guerreiro cujo os olhos estavam cravados em mim a procura de qualquer indício de fora do padrão.

— Acredito que tenha se equivocado ao meu respeito. Uma rameira com certeza não teria guardas ao seu encalço. — Sorri como uma cobra prestes a dar o bote — Agora que tenho a sua devida atenção, estamos prontos para negociar.

Encarei seus olhos escuros que fixaram nos meus em completo desentendimento. Sem qualquer receio, impulsionei a minha mente para dentro da sua e a invadi sem dificuldade. Não havia nenhum mísero muro protegendo os seus pensamentos e lembranças. E ali, imersa na mente do homem vil, soube que eu não fui a primeiras a quem ele havia comprado os favores sexuais. Naquele estabelecimento havia mais dor do que os potes dispostos nas prateleiras, o chão estava manchado com sangue de mulheres e de jovens inocentes que tiveram de pagar um preço alto demais por aquilo que necessitavam.

Tomada pela fúria, aproximei meu rosto de seu ouvido e sussurrei:

— Vais me dar o que eu preciso, bem como vais me dizer exatamente onde encontrou tais ervas. Além disso, jamais voltará a cobrar preços tão injustos a qualquer pessoa. Se engasgará com as palavras e perderá o ar até sufocar caso insista a prosseguir com a injustiça. Por fim, jamais voltará a funcionar com uma mulher. Sua virilidade está morta a partir de agora. Hoje pagará por todas as mulheres a quem estragou a vida. A justiça finalmente chegou bateu à sua porta. Jamais se esquecerá do que eu disse e todas as vezes que se deitar lembrará verá os olhos de todas as mulheres por você foram violadas, vigiando-te como espíritos silenciosos que nunca te deixaram em paz.

Encarei seus olhos petrificados. Embora não tivesse a capacidade de falar, a cor pálida de seu rosto indicava que compreendera tudo o que eu lhe dissera.

— Diga-me onde encontro as ervas. — pedi, retirando-me da sua mente com suavidade.

O comerciante piscou os olhos saindo do transe e disse-me exatamente onde costumava encontrar aquilo que eu tinha solicitado. Ele, então, empacotou o meu pedido e entregou-me com as mãos trêmulas. Seu medo evidenciou que minhas ameaças estavam cravadas no fundo de sua essência. O homem jamais voltaria a abusar de qualquer mulher.

— O que disse ao comerciante de especiarias? — Indagou, Geróid, assim que deixamos aquele local.

— Nada que lhe interesse. Apenas o convenci de que era necessário me conceder aquilo que eu desejava. — Sacudi os ombros com indiferença.

Geróid não fez mais perguntas. Seguimos em silêncio até às lojas de vestidos.

Em pouco tempo naquela cidadela, descobri que aquela gente era demasiada oportunista e pouco se importavam em ajudar aqueles que necessitavam de suas mercadorias.

A dona do estabelecimento de vestimentas teve a ousadia de dizer que tudo que ela precisava era de um marido para sua filha. Um que fosse um deus. Ambas eram mortais e só moravam em Mag Mell, porque Cernunnos havia trazido seu esposo que trouxe consigo a sua família. No entanto, agora que ele havia morrido, apenas um casamento com alguém que ocupasse uma alta hierarquia, poderia garantir a permanência de mãe e filha em Mag Mell.

Eu lhe disse que não poderia lhe prometer qualquer casamento, pois era contrária a tal tipo de acordo. Também não entregaria a sua filha a qualquer deus, mesmo que tivesse tal poder.

A jovem menina acompanhou nossa conversa completamente cala. Seu olhar era triste e eu não soube interpretar se era pelo luto ou por ter de enfrentar um destino o qual não desejava. Ao vê-la tão desolada, eu perguntei se ela queria casar. Todavia, sua mãe lhe cortou a resposta e disse com rispidez que ela desejava ficar em Mag Mell, portanto era de seu desejo se casar.

Aquelas questões não eram de minha responsabilidade. Cada um tinha seus problemas a lidar e eu não tinha intenção de me envolver em um conflito familiar.

A mulher ao saber que eu era íntima de Cernunnos, deu-me de bom grado tudo o que eu precisava, desde vestidos até trajes de combate de jovens guerreiros franzinos que por sorte cabiam em mim.

Apesar de ter conseguido o que eu viera procurar, não fiquei satisfeita. Então, antes de sair daquela loja, eu disse a jovem que se ela quisesse mais do que um casamento, eu poderia lhe ensinar a ser uma guerreira. Disse-lhe que Mag Mell era um lugar incrível, mas que nenhum lugar valia o preço de sua infelicidade. Eu poderia lhe conceder a chance de escolha, pois ao se tornar uma guerreira, ela poderia viver em qualquer lugar do mundo. Poderia, portanto, encontrar a felicidade e ser livre para escolher a quem amar. E antes de partir, informei exatamente onde me encontraria, caso aceitasse a minha oferta.

Geróid e eu deixamos a cidadela um pouco depois do meio do dia. Flym que se recusou a nós fazer companhia, esperava-nos de cara amarrada junto dos portões. Sem proferir qualquer comentário a respeito de nossos afazeres, ele se juntou a nós e manteve uma distância segura de mim.

Infelizmente, não havia nenhum mísero ferreiro naquele local. Eu teria de encontrar outra forma de conseguir uma espada, teria de pedir a Cernunnos e não sabia qual seria sua reação ao ouvir tal inesperado pedido.

Perdida em meus pensamentos, cheguei à conclusão de Mag Mell era um lugar estranho e um tanto injusto. Poderia até ser um lugar bom para algumas pessoas. Contudo, infelizmente, um lugar não é capaz de ser bom para todos. Algumas minorias sempre arcam com as consequências da felicidade alheia. O bom e o ruim trata-se apenas de uma questão de perspectiva. Mag Mell não era boa para com as mulheres que quando não eram estupradas em estabelecimentos obscuros, eram vendidas em casamentos em troca de residência. Mag Mell, para tanto, não era boa para mim, pois eu não sabia lidar com injustiças. Então eu soube que aquela ilha jamais seria o meu lar.

(CAPÍTULO SEM REVISÃO)

Olá galerinha!

Espero que tenha gostado. Preparem os corações, pois em breve terão de lidar com duras revelações!

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Bjus Tia Lua

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