
CAPÍTULO 68 - Os Tuatha Dé Danann
[...] 𝐴𝑡𝑒́ 𝑎 𝑝𝑟𝑜́𝑝𝑟𝑖𝑎 𝐷𝑒𝑢𝑠𝑎
𝑇𝑒𝑚 𝑖𝑛𝑖𝑚𝑖𝑔𝑜𝑠.
𝑩𝒊𝒍𝒍𝒊𝒆 𝑬𝒊𝒍𝒊𝒔𝒉 - 𝑨𝒍𝒍 𝒕𝒉𝒆 𝑮𝒐𝒐𝒅 𝑮𝒊𝒓𝒍𝒔 𝒈𝒐 𝒕𝒐 𝑯𝒆𝒍𝒍
Antes do Sol se pôr no céu, eu já me encontrava trajando um grosso vestido marrom que estava escondido sob um pesado manto de pele cinza. Cernunnos, havia providenciando vestes que se adequavam perfeitamente a minha estatura. Eu não era conhecida por ser alta, ao contrário, minha altura mediana me equiparava as mulheres de meu povo que eram conhecidas por serem baixas e esguias.
Quando Cernunnos bateu a minha porta, eu já estava preparada para enfrentar o mundo e seus desafios. Uma nova vida se iniciaria a partir daquele momento.
— Vamos? — Foi tudo o que ele disse quando me estendeu as mãos.
Cernunnos puxou-me em direção ao seu corpo e inalou a fragrância que emanava do meu cabelo livremente solto, antes de desvanecermos para outro lugar daquele vasto mundo que eu não conhecia.
Aterrissamos em uma grande sala cujas paredes ornamentadas em vívidos detalhes dourados, ofuscaram levemente a minha visão. Desviei meu olhar para meus pés, e deparei com o esboço da minha imagem refletida no lustroso piso negro que sustentava meu peso. Cernunnos, continuou com a mão em minha cintura, impondo uma ação de posse que foi muito bem aceita por mim, quando me dei conta que vários pares de olhos nos observavam.
Levantei o rosto, ergui o queixo, e juntando toda coragem que eu nutria, devolvi o olhar a todos que me avaliavam dos pés à cabeça.
Estávamos no salão do trono que era ocupado pela mais bela senhora que eu já tinha visto. Seu olhar tão verde como duas esmeraldas, me encaravam com tanta intensidade, ao ponto de me fazer pensar que estava vendo através de mim. Tive a sensação de que minha alma estava sendo observada. Seus ondulados cabelos que pareciam com a neve, escorriam como um manto branco e se mesclavam com seu vestido claro que se moldava com perfeição em todas as curvas suaves de seu corpo. Embora sua pele madura carregasse algumas marcas de expressão, elas não a tornavam menos bela, ao contrário, serviram apenas para realçar seus traços fortes, e lhe conferiam uma característica tão imponente. Tive a certeza de que estava diante de Danu — a deusa Mãe.
Havia mais oito deuses naquele salão. Um deles carregava um longo martelo entalhado em runas, e eu deduzi que se tratava de Sucellus: o deus que, segundo meu pai, era associado ao início da primavera, bem como o florescimento da Natureza. Reconheci também, Lugh, o deus Sol cujos brilhantes cabelos reluziam como se fossem verdadeiros fios de ouro. Uma aura reluzente pairava ao seu entorno, seus olhos dourados me fitavam em um misto de curiosidade e desconfiança. A última deusa que identifiquei naquele panteão, foi Morrigan, a quem eu destinei minhas últimas preces antes de ver minha família ser assassinada pelos vikings. Ela não veio ao meu encontro quando mais precisei. Era realmente irônico estarmos ali, tão próximas.
Morrigan era exatamente como meu pai havia descrito. Seu corpo tonificado por músculos moldava-se perfeitamente em seu vestido negro. E, embora tivesse o porte de uma guerreira, suas curvas revelavam uma sensualidade feminina que poucas mulheres possuíam. Seus cabelos escuros lembravam uma noite estrelada cuja beleza não pode ser descrita. Ela era bela, exatamente como diziam as lendas. Porém, seus olhos eram totalmente diferentes dos quais eu imaginava... Eles eram distintos um do outro. Enquanto a íris de um se caracterizava pela coloração amarela, o outro era tão azul quanto o céu diurno. Era impossível não encarar aqueles olhos selvagens que brilhavam intensamente, à medida em que ela me olhava.
Enquanto Danu cumprimentava seus convidados, eu tentei descobrir quem eram os demais deuses, contudo, nenhum nome me veio à mente. Eu não passava de uma criança quando fui arrancada de minhas origens e forçada a conhecer uma nova cultura. Eu sabia muito mais sobre os nórdicos, do que o meu próprio povo.
Momentos antes de Danu se aproximar de mim, forcei-me a ficar o mais ereta possível e mantive a melhor expressão de neutralidade em meu rosto. Ninguém sequer imaginava os anseios que se agitavam dentro de mim.
— Erieanna — ela disse com sua voz aveludada — Finalmente nos conhecemos. — Seus pálidos dedos deslizaram suavemente pela extensão de minha mandíbula, enquanto seus olhos verdes me estudavam meticulosamente.
Não sabia se devia fazer uma reverência, ou apenas sorrir. Não tinha ideia do que a deusa esperava de mim. Entretanto, antes de proferir qualquer palavra, Danu, voltou-se a atenção para Cernunnos que ainda mantinha as mãos em minha cintura.
— Cer — Seus olhos brilharam quando se encontraram com os dele — Sempre é um prazer revê-lo — Ela plantou um beijo suave no canto de seus lábios e eu não gostei do modo como ambos se olhavam. Havia algo implícito entre os dois; algo que eu não consegui identificar.
Naquele momento senti que parecia errado ter os braços de Cernunnos ao meu entorno, portanto, ao fingir que ajeitava o casaco sobre mim, sutilmente me afastei de seu toque. Ele nem percebeu que eu havia me afastado, pois seu olhar estava completamente fixo na deusa Mãe. Se o mundo despencasse a sua volta, ele nem perceberia.
— Então você é a famosa Erieanna! — exclamou o deus reluzente — Estava curioso para conhecer a jovem que motivou Cernunnos a quebrar um acordo dos deuses e o levou a invadir Asgard. — Ele abriu um largo sorriso — És tão bela quanto eu imaginei que fosse. — Estendeu a mão em minha direção — Sou Lugh — disse, sorrindo.
Segurei suas mãos em um aperto firme.
— Prazer em conhecê-lo. És exatamente como as lendas o descrevem. — declarei com um sorriso em meus lábios.
Lugh gargalhou alto.
— Vocês mortais sempre me surpreendem. — revelou, animadamente.
— Acho que quis dizem que as mulheres sempre te surpreendem — rebateu a jovem deusa cujos longos e selvagens cabelos ruivos contrastavam-se com as sardas em sua face. Ela estendeu suas mãos delicadas em minha direção antes de dizer: — Sou Epona e é um prazer conhece-la.
Estava prestes a iniciar um diálogo com a senhora dos cavalos, quando Morrigan disparou:
— Parece que as histórias a seu respeito já perpassam as fronteiras entre os mundos. Deve se sentir muito importante, já que és a primeira mortal a conhecer dois importantes panteão dos deuses. — Ela inclinou levemente a cabeça para o lado de modo a me avaliar.
Reconheci sua voz de imediato. Era com ela que Cernunnos falava naquela primeira manhã em que acordei nas terras celtas.
Novamente não fui capaz de emitir qualquer frase, pois um outro deus, aquele que parecia ser o mais velho de todos, falou:
— Peço que releve o comportamento de meus irmãos — Seus olhos de um azul quase cinza pareceram amistosos — Estamos todos curiosos a seu respeito e esperamos que algum dia possa contar a história de como conheceu Cernunnos, e principalmente, como chegou até nós. Poucos mortais foram capazes de atrair a atenção dos deuses. Você deve ser especial. — completou, e me analisou prolongadamente, assim como os demais deuses também o fizeram.
— Infelizmente, meu caro Dagda. Talvez não haverá tempo o suficiente para que Erieanna conte-nos a sua história. — declarou Danu ao se sentar em seu trono — Todavia, acho prudente revelar que caberá a nós decidirmos sobre o seu destino. — Ela cruzou as pernas e encarou a todos com muita segurança — É por essa razão que estamos reunidos. Temos uma decisão importante a tomar.
Senti um arrepio percorrer a minha espinha, ao passo que um leve tremor tomou conta de minhas mãos. Pelo canto dos olhos vi Cernunnos trincar o maxilar enquanto furioso, encarava Danu como uma fera prestes a abater uma presa.
— Seu destino já fora decidido. — bradou Cernunnos, ferozmente.
— Penso que não. — rebateu Danu, sem lhe dar muita atenção.
A deusa levou sua pálida mão em direção a uma mesa disposta ao lado de seu trono e ergueu um pedaço de pergaminho rente ao rosto.
— Sempre foi de meu conhecimento o fato de que Cernunnos invadiu Asgard, sem qualquer permissão, e trouxe consigo uma mortal. Eu estava disposta a relevar tal ato inflacionário, afinal que importância pode ter uma mortal para os deuses? — Sorriu, com certo deboche — Todavia, a situação tomou um rumo inesperado, pois ontem pela manhã, recebi uma carta de Odin, o deus nórdico líder dos Aesir.
Meu coração errou uma batida ao ouvir aquela revelação. Que motivos Odin tinha para escrever a Danu? Será que ele sabia que eu estava na morada dos Celta? Aquilo não parecia nada auspicioso.
— Para que estejam cientes da nossa situação, narrarei a vocês as próprias palavras de Odin — prosseguiu a deusa, que começou a ler a carta:
"Minha cara Danu,
Escrevo acima de tudo, como um amigo e admirador de sua força e liderança. Poucas mulheres são tão incríveis quanto você e poucas se tornaram tão poderosas. Contudo, apesar da admiração que nutro por você e o seu povo, fiquei surpreso ao saber que o deus cornífero, que pertence a seu clã, infringiu o nosso acordo há muito tempo firmado, na qual teve a ousadia de invadir minhas terras sem a minha permissão, e em um ato de pura traição, sequestrou Erieanna: a incrível jovem que lidera minhas Valquírias.
Acredito que nesse momento você saiba exatamente o motivo pelo qual escrevo essa carta... Exijo que devolva Erieanna a Asgard: lugar à qual pertence e de onde nunca deveria ter sido arrancada. Ela é importante para os nórdicos.
Por ora escrevo como um amigo que desfruta do longo tempo de paz que concedemos ao nosso povo. Se devolver Erieanna, estarei inclinado a esquecer que Cernunnos infringiu o antigo acordo que firmamos de não invadir o panteão de outros deuses ou seus respectivos domínios. Contudo, caso ignore o meu pedido, é necessário que leve em consideração o fato de que não medirei esforços para trazer Erieanna de volta a Asgard. Uma recusa ao meu pedido significará um ato de guerra. E, acredito eu, que não seja de seu interesse acabar com um longo período de paz.
Nos últimos séculos, nós compactuamos de uma boa e amistosa relação de amizade, lamentaria muito se nos tornássemos inimigos. Guerras sempre deixam marcas profundas no povo que juramos proteger. Deves lembrar do quanto é terrivelmente doloroso ter de enviar aqueles a que nos importamos ao campo de batalha para que possam enfrentar a morte.
Tendo em vista todas as considerações expressas nessa carta, creio que três dias seja tempo o suficiente para que planeje o retorno de Erieanna. Mas, caso seja imprudente e se recuse em atender a minha solicitação, não me restará outra opção a não ser compreender que decidiu optar pela guerra.
Permaneço na expectativa de que o bom senso não lhe tenha fugido a razão.
Cordialmente,
Odin, Senhor dos Aesir e Protetor de Asgard.
Danu levantou seu olhar para os deuses cujas expressões se assemelhavam a minha. Sentimentos de descrença, indignação e raiva emanaram por aquele salão.
— Acredito que temos uma decisão bem simples a tomar. Penso que estou certa em afirmar que não é desejo de ninguém aqui, ir à guerra por uma mera moral. — Não houve qualquer traço de emoção em sua voz, quando Danu preferiu aquelas palavras amargas.
Uma dor aguda atingiu meu coração ao me dar conta que o meu povo estava prestes a me abandonar mais uma vez. A fúria começou a se instalar em cada parte de mim enquanto um caroço surgiu em minha garganta, à medida em que eu segurava o choro de raiva que ameaçava jorrar por meus olhos.
Como de costume, engoli o choro e encarei todos aqueles malditos deuses com bravura. Eu não ia despedaçar na frente daqueles bandos de egoísta que sequer me conheciam, que não faziam ideia do tamanho da minha dor. Cernunnos ao perceber que eu estava prestes a explodir, tentou se aproximar de mim. No entanto, eu o afastei desferindo um olhar dilacerante.
— Se é do meu destino que estamos falando. Acredito que eu tenho o direito de me defender ou ao menos expor a minha perspectiva da história. — Falei, respaldada pelo ódio.
Danu arqueou sua sobrancelha clara e ponderou prolongadamente antes de dizer:
— Creio que seja justo lhe conceder a palavra.
Andei alguns passos à frente e me posicionei a poucos metros de Danu, que se ajeitou no trono para me ouvir.
— Em primeiro lugar — comecei, em alto e bom tom — Quero deixar bem claro o fato de que vocês perderam o direito de decidir o meu destino quando permitiram que os vikings matassem meus pais, bem como quando deixaram que eles fizessem de mim uma escrava. — Senti meu queixo tremer furiosamente — Perderam o direito de exercer qualquer decisão sobre a minha vida quando deixaram de ouvir minhas preces, quando eu implorava para não ser estuprada. — Lágrimas começaram a escorrer por minha face e eu as limpei com brusquidez — Vocês me abandonaram há muito tempo e agora acham que podem decidir sobre a minha vida? — Aumentei o tom de voz, incapaz de controlar a ira — Não, vocês não podem e não vão.
Virei-me para encará-los, todos estavam em completo silêncio. Até mesmo Cernunnos, teve a decência de parecer culpado.
— Se há uma guerra sendo declarada por minha causa. Saiba que é tudo culpa de vocês — Apontei meu dedo para cada um deles — Eu fui escravizada pelos vikings porque vocês me deram as costas. Onde estavam quando eu fui sacrificada em nome de Loki? Ninguém se importou quando eu fui levada a Asgard contra a minha vontade. Vocês simplesmente se esqueceram de mim. — Cerrei os punhos para controlar a magia que ansiavam para ser liberada contra todos daquela sala — Eu fiz o que era necessário para sobreviver. Fiquei presa a Loki por um maldito laço de Sacrifício. Quase fui morta por Freya em duelo. Precisei me tornar uma Valquíria, mas não as liderei, pois a nomeação nunca ocorreu. Nunca quis fazer parte da Escandinava, tampouco de Asgard, ambos os lugares só me fizeram mal. — Suspirei profundamente — Cernunnos foi o único que veio ao meu encontro e me ajudou quando eu mais precisei. A ele eu sempre serei grata — Desviei meu olhar para o deus cornífero que permanecia em profundo silêncio. — Eu não voltarei para Asgard e isso já está decido. Sangue será derramado se tentarem me forçar a voltar para o lugar, o qual eu jurei que jamais colocaria os pés. A guerra já está declara, resta apenas decidir se será contra Odin, ou contra a mim. — bradei, entredentes.
Voltei minha atenção para Danu que estava de pé em frente ao trono.
— Deixarei as suas terras, as quais nunca fui bem-vinda. E quando escrever a Odin para lhe informar que eu deixei a sua morada, diga ele que eu nunca mais voltarei a Asgard, pois eu não sou sua propriedade. Eu não pertenço a ninguém. — Dei meia volta e comecei a me afastar daquele maldito lugar.
— Erieanna — Cernunnos segurou meu braço impedindo que eu prosseguisse o meu caminho. — Não posso te deixar partir. Eu prometi que te protegeria. Não falharei com você novamente. — Medo e culpa pairavam em seu olhar.
— Não há muito que possa fazer por mim agora, Cer. Deves me deixar partir. — Pedi, sentido meu coração partir mais uma vez.
— Não posso. — Ele sussurrou, completamente quebrado.
— Deixe-a ir. — Ordenou, Danu, friamente.
— Não! — Rugiu Cernunnos, enquanto garras afiadas despontavam em seus dedos.
— Então eu mesma a levarei para Odin. De preferência, esta noite.
Furiosa, Danu começou a marchar ao meu encontro.
A magia que até então estava contida, jorrou para fora de mim. Meu corpo inteiro acendeu em chama enquanto o chão tremia sob meus pés.
— Tente a sorte. — Desafiei, pronta para enfrentar a deusa, ou qualquer outro deus que estava ali.
Conforme diminuía a distância até mim, uma energia avassaladora penetrou cada canto daquele salão. A face de Danu era uma completa confusão que se alterava velozmente em suas três faces. Seus cabelos ora brancos, ora ruivos estavam completamente ouriçados devido a magia emanava do seu interior.
— Quem você pensa que é para me enfrentar e declarar guerra em meu próprio domínio? — silabou, as suas três vozes em conjunto. Estávamos tão próximas que nossa energia se fundiu uma na outra, travando uma luta de poder.
— Eu sou Erieanna. Pertenço ao povo que você jurou proteger, mas falhou. — Cuspi as palavras repleta de duras verdades. Irá surgiu em seus olhos.
Danu levantou a mão para me atacar com seu poder brutal, porém, foi interrompida pela voz de Morrigan que ecoou entre nós:
— Basta, Danu! Você foi longe demais! — Advertiu a deusa da guerra, colocando-se entre nós duas.
— Ela tem razão e você sabe disso. Nós a abandonamos de forma cruel. Ela implorou por nossa ajuda e nós sequer a ouvimos. Falhamos com ela mais de uma vez e você sugere que cometamos o mesmo erro? — Morrigan balançou a cabeça negativamente — Eu te segui aos confins do mundo. Por você enfrentei, várias vezes, os Fomhoire nos campos de batalha. Dilacerei seus inimigos um a um, tudo porque acreditava que protegeria os Tuatha Dé Danann. Mas, se decidir entregar Erieanna a Odin, sinto lhe informar que nossa relação chegará ao fim. — ela declarou, sem deixar transparecer qualquer remorso.
— Compartilho do mesmo pensamento de Morrigan. — afirmou Cernunnos — Desde quando começamos a abandonar nossa gente? É isso que nos tornamos? Porque se for, acredito que eu já não tenha mais nada a contribuir nesse clã.
Meu coração disparou dentro de mim. Mal podia acreditar que Cernunnos estava abandonado o seu mundo para me defender. Nunca imaginei que ele fosse capaz de ir tão longe por mim. A magia enfurecida, se assentou de volta ao meu ser.
— Tanto Cernunnos quanto Morrigan tem razão — Emendou Lugh — Sobrou tão pouco da nossa gente. Não podemos desprezar aqueles que não nos esqueceram. — E embora tenha soado determinado em sua convicção, pude notar um pouco de tristeza em sua voz.
Danu também já não estava tão enfurecida. Ela apenas encarava seriamente todos dos deuses à medida em que eles expressavam seus posicionamentos
— Minha cara Danu, é preciso enxergar o propósito que há por trás da vinda de Erieanna. Goste você ou não, ela é uma das mortais que juramos proteger. Lugh está certo ao afirmar que estamos caindo no esquecimento. Desde que esse tal cristianismo chegou em nossas terras, vemos a cada dia, os mortais se voltando contra nós. O que acontecerá conosco quando interromperem suas preces? Quando os sacrifícios sessarem? O que será da nossa existência? Da nossa magia? Qual será o nosso propósito? Devemos, mais do que nunca, proteger e abrigar aqueles que não nos abandonaram, pois eles são a único elo entre que nos afasta do esquecimento.
Seu discurso me fez recordar o que Hades havia me falado a respeito do tal deus cristão cuja religião estava se alastrando por muitos países. O deus do Submundo estava certo: o cristianismo era uma verdadeira ameaça a todos os deuses.
— Votaremos, então? — Indagou aquele deus que não se apresentou a mim, cujo rosto de traços fortes era parcialmente coberto por seu cabelo acobreado que pairava abaixo de suas nádegas encobertas por um kilt em tons verde.
— Creio que não há necessidade de uma votação, caro Taranis. — respondeu Danu, resignada — A decisão já fora tomada. Erieanna ficará. Estamos, portanto, em guerra contra Odin.
Assim que concluiu a frase, Danu voltou a ocupar seu trono, onde despejou o seu corpo cansado. Sua mão massageava o centro de sua testa, quando ela começou a disparar ordens sem dirigir qualquer olhar para os deuses:
— Morrigan está incumbida de preparar os exércitos para um conflito eminente. Deves contactar Manannán Mac Lir e convocar o exército dos mortos. Odin certamente mandará seus einherjar contra nós. Devemos estar preparados para contra-atacar.
— Terás seu exército. — declarou Morrigan, sem deixar espaço para dúvidas.
— Lugh — continuou Danu — Conto com você para nos trazer a vitória, assim como o fez quando derrotou os Fomhoires. Tenha em mente que Odin é o deus da guerra. Não será fácil derrotá-lo.
— Estou confiante da vitória. — assegurou, o deus do Sol, destemido como esperado.
— Epona — a deusa prosseguiu com as ordens — Espero que seus cavalos, assim como suas guerreiras estejam preparadas para esta guerra. Chegou a hora de provar sua lealdade para com os Tuatha Dé Danann.
— Cernunnos — Seu olhar finalmente se ergueu para encontrar a face do deus cornífero — Terás de tomar cuidado. Proteja-se, pois Odin não descansará até ter seus preciosos chifres decorando a sua sala de reunião. Não baixe a sua guarda em nenhum instante. Lembre-se que Loki está ao lado do senhor dos Aesir, e é sabido que esse deus é muito astuto. Não confie em ninguém, meu querido. — Foi temor que ouvi em sua voz. Soube, portanto, que Cernunnos era importante para Danu.
— Quanto a você, Erieanna — ela respirou fundo antes de falar: — Tornou-se o bem mais precioso dos Tuatha Dé Danann. — A deusa desviou o olhar para os demais deuses — Cada um de vocês tem uma missão importante nessa guerra, porém, o principal objetivo de todos é manter Erieanna protegida e longe de Odin. Perdê-la significará o fim. Se Odin pôr as mãos nela, significa que perdemos a guerra, portanto será uma questão de tempo até que sejamos dominados. — Danu cravou seu olhar frio em mim — Permanecerá conosco até a guerra chegar ao fim. Após, saibas que és livre para ficar, ou partir. Nós não abandonamos os nossos. — Aquela foi a última frase dita antes de dispensar a todos.
E, enquanto eu desvanecia junto a Cernunnos de volta para o meu quarto, eu soube que estava presa novamente. A segurança cobraria um preço alto. Todavia, fosse de meu desejo ou não, a guerra de fato havia chegado. Dois mundos, e duas importantes religiões, estavam prestes a ruir.
(CAPÍTULO SEM REVISÃO)
Espero que tenham gostado dos capítulos!
Parece que o parquinho dos deuses vai pegar fogo!
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Bjus, Tia Lua
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