CAPÍTULO 43: Quem é morto sempre aparece.


Ainda que minha mente estivesse envolta em um único pensamento, acho inacreditável o fato de que eu consiga me recordar com clareza todos os fatos e emoções que se apossaram de mim naquela fatídica noite.
Lembro que minha boca estava seca, como de um dia após uma noite de bebedeira. Lembro da sensação de formigamento em minhas mãos que suavam como se uma onda de calor tivesse se apossado de todo meu corpo. Não me recordo de ter ouvido som algum além das rápidas e descompassadas batidas do meu coração ecoando no interior de meus ouvidos enquanto, emanando uma fúria devassadora, eu adentrava pelos portões de Valhalla buscando apenas um alvo, apenas um homem dentre centenas de guerreiros recém convertidos a einherjar.
— Seja bem-vinda à Valhalla, Erieanna. saudou Bragi com seu típico e ardiloso sorriso de uma víbora.
— Não é um bom momento para suas piadas. — rosnei, sem de fato olhá-lo e tomada por um instinto primitivo, usei a magia para lança-lo de encontro a parede mais próxima. O deus deixou cair sua arpa ao se chocar bruscamente contra chão.
As poucas pessoas que estavam por perto, claramente se espantaram com minha reação. Não me abalei com as expressões de acusação que tomaram conta de suas faces. De nada me importava o que pensavam ao meu respeito. Ignorei-as como sempre fazia e voltei a me dirigir para o meio do salão. Meus olhos ágeis procuravam apenas uma pessoa, e se naquele momento me perguntassem o que faria ao encontrá-lo, eu simplesmente não saberia o que responder.
A cada passo, a cada rosto que analisava, ficava mais próxima de chegar a mesa dos deuses. Havia centenas de guerreiros de longos cabelos loiros como daquele a quem eu procurava, mas nenhum deles tinha o rosto que vez ou outra assombrava meus sonhos.
Continuei minha procura como se minha vida dependesse tal achado. Os risos embriagados de todos os homens ali presentes faziam com que minha irá dobrasse de tamanho. Fiquei parada bem no meio do salão e deixei que meus olhos trabalhassem com precisão, buscando em cada canto, em cada mesa, em cada face... e foi então que eu o vi... Lá estava ele, o maldito viking com seus mesmos intensos olhos azuis, com seus cabelos dourados trançados para trás, enquanto carregava uma robusta caneca de cerveja e gargalhava junto aos seus companheiros.
Nojo. Antes de sentir raiva, foi a sensação de nojo que atingiu a boca de meu estômago. A terrível sensação de ver o fantasma de alguém outrora me fez muito mal.
Sutilmente peguei a adaga presa em uma de minhas coxas e com extremo cuidado para que ninguém percebesse minhas ações, caminhei até o homem silenciosa como uma raposa prestes a abater sua presa.
Antes de atingi-lo, tive um rápido vislumbre dos acontecimentos que se seguiriam: vi o corpo ensanguentado do viking sobre a mesa enquanto suas mãos seguravam a adaga que fora cravada em seu coração. Vi seus familiares olhos azuis fixarem-se em meu rosto e uma expressão de surpresas e assombro tomar conta de sua face ao reconhecer-me e também dar-se conta, um pouco tarde demais, que eu o havia esfaqueado. Ele não morreria. Mortos, infelizmente, não morrem em Asgard. Mas sentiria dor, e para mim, por hora, seria o suficiente.
Dissipei as imagens de meus pensamentos, girei a adaga em minhas e mãos caminhei devidamente preparada para dar o golpe certeiro no homem que ria sem imaginar o perigo que o espreitava. Porém, antes de alcançar meu alvo, fortes mãos enlaçaram minha cintura e impediram minhas ações.
— Essa não é uma boa ideia, Coração de Gelo. — Advertiu Loki que habilidosamente tomou a adaga que eu carregava e escondeu-as em suas vestes.
— Isso sou eu quem decido. — rebati entre dentes, tentando soltar meu braço do seu aperto um tanto forte demais.
Loki continuou a me segurar enquanto seus olhos me olhavam com demasiada seriedade.
Encarei-o de volta. Um combate silencioso era travado em nossos olhares.
— Erieanna? — ouvi, então, aquela voz que por tanto tempo fez parte da minha vida, chamar o meu nome num tom baixo e rouco.
Devagar, Loki livrou-me de seu toque e eu virei-me em direção ao homem que ansiava por minha atenção. Quando seus olhos azuis se encontraram com os meus, uma expressão de surpresa e saudade esboçou em seu rosto. Quanto a mim, apenas fiquei parada, sem esboçar qualquer reação. Somente encarei Ragad, olhei diretamente em seus olhos e nenhum som saiu de meus lábios. Nem mesmo o som de minha respiração que por um momento falhou.
Ragad fez menção de chegar ao meu encontro, mas eu dei dois passos para trás, fugindo de seu alcance, tentando me proteger do seu toque ácido, da dor que ele poderia infringir em minha alma.
Loki ao perceber meu desconforto, colocou-se à minha frente e não deixou que Ragad se aproximasse.
— Eu não esperava te encontrar por aqui. — disse Ragad que franziu o cenho por estar completamente confuso.
"Eu também não esperava te ver". Pensei, pois as palavras teimavam em não encontrar o caminho para minha língua.
— Vejo que já conheceu a nossa mais nova Valquíria. — Odin surgiu inesperadamente e dirigiu a palavra a Ragad ao passo que nos encarou com muita atenção. Depois, claramente intrigado com a situação, concentrou seu olhar sobre mim. — O que está fazendo aqui, Erieanna?
O torpor das emoções desencadeadas pelo reencontro com Ragad finalmente se dissipou, por isso fui capaz de responder:
— Vim reencontrar um velho amigo. Ragad era meu dono quando morava em Midgard. — expliquei. — Soube que as Valquírias o trouxeram para cá, então resolvi vê-lo, saudá-lo por finalmente fazer parte do grande exército de Odin. — Menti, porque a verdade não cabia ali.
Odin olhou para Ragad, depois para Loki e por fim, para mim. Ele semicerrou seu único olho esbranquiçado antes de levar a cerveja aos lábios e depois falar:
— Pode me acompanhar por um instante, Erieanna?
— Claro! — respondi de prontidão.
Não fazia ideia em relação aos planos de Odin, e mesmo assim, segui ao encalço do deus supremo que atravessou todo salão e nos levou para uma pequena sala próximo a uma dispensa; uma sala que até e então nem sabia da existência.
Ao chegar no local, o deus logo tratou de fechar a porta para garantir a privacidade necessária para nossa conversa. Rapidamente analisei o ambiente em que nos encontrávamos: o lugar não tinha nenhum pingo de luxo, ao contrário, era pequeno e sem ventilação. Uma mesa não muito grande ocupava o centro cômodo e nas desgastadas prateleiras encostadas nas paredes, havia uma vasta porção de queijos e grãos.
Observei atentamente Odin aproximar-se de um barril, puxar a rolha, deixando que o líquido âmbar da cerveja escorresse para dentro de sua caneca, fecho-o novamente e depois fixou seu único olho em mim.
— Sente-se. — pediu com frieza.
Demorei um pouco para recusar:
— Estou bem de pé. — afirmei mantendo uma postura segura.
Ele trincou o maxilar e depois quebrou a caneca de cerveja com seus grossos dedos, antes de comandar:
— Eu mandei se sentar agora! Não é um pedido, é uma ordem e você deve obedecer! — Sua voz carregada de uma raiva mortal, estrondou pelas quatro paredes daquela minúscula sala e eu reprimi, com todo o esforço, o impulso de estremecer. Nunca tinha visto agir daquela forma: a verdadeira face do deus cruel de que todos falavam.
Estufei ainda mais o peito e ergui o queixo enquanto encarei-o com bravura.
— Não vou me sentar e ficar acuada como uma frágil presa que não pode se defender. Se vais me dizer algo, terá que me olhar nos olhos, de igual para igual, ou então podes usar a força para me colocar sentada naquela cadeira, mas saiba que vou revidar, não sou do tipo que aceita ser tratada com força bruta. — Adverti ferozmente.
O deus supremo encurtou a distância entre nós, até que nossos narizes quase se tocassem e proferiu num tom contido e perigoso:
— Você está me desafiando? — Arqueou a sobrancelha acima do tapa olho. — Não se esqueça que posso apagar sua existência com um simples estalar de dedos. — O hálito da cerveja invadiu minhas narinas. Contive, portanto, a vontade de me afastar de seu alcance.
— Saiba que também posso eliminar suas mãos com um simples estalar de dedos. — Devolvi a ameaça. — Resta apenas saber quem será mais rápido.
Por um longo momento, Odin nada disse. Apenas continuou a me olhar, mas embora seu único olho estivesse fixo em minha face, seus pensamentos estavam bem longe dali. Não muito tempo depois, ele piscou o olho e retornou para aquela minúscula sala.
— Você me lembra alguém... — Segurou meu queixo com cautela e analisou minha face. — Alguém que me desafiava muito mais que minha esposa Frigga. — Uma expressão de melancolia tomou conta de seu semblante. — Às vezes tenho a vaga impressão de ter te conhecido de algum lugar. — Uniu o cenho ao centro da testa. — Esqueça o que falei. Isso seria impossível. — Afastou-se de mim e caminhou até a porta.
Minha mente estava confusa, dessa forma, permaneci calada tentando organizar as ideias, buscando, em vão, compreender o estranho monólogo do deus supremo.
— Erieanna... — Olhou para trás antes de voltar para o salão. — Não fira nenhum homem enquanto estiver nesse salão. Essa é uma linha que não lhe concedo autorização para cruzar. — Advertiu seriamente.
— Acho que devemos falar de reciprocidade... — Quebrei o silêncio por fim. — Não sei se devo levar sua imposição em consideração, quando, em nenhum momento, pensou no meu bem estar ao trazer Ragad à Valhalla para se juntar ao seu exército. — Respirei fundo antes de prosseguir. — Esse viking já me fez muito mal e creio que esteja ciente de tudo que passei em Midgard. Talvez esteja pedindo muito mais do que eu possa cumprir. — expus o que eu pensava.
— O que está morto, não pode morrer, minha cara Erieanna. Derramar sangue não trará sua vingança. Apenas causará um grande rebuliço, e talvez, servirá para atrair alguns inimigos. E além disso... Bem, digamos que esteja culpando o deus errado, Loki foi o único responsável por trazer seu ex-dono à Valhalla. — pontuou Odin.
"Loki! Aquele desgraçado!" pensei furiosa.
Achei que não poderia sentir mais raiva do deus da mentira, porém descobri naquele momento, que eu estava tremendamente enganada.
— Então mantenha seu guerreiro longe de mim. Caso contrário, terá que escolher uma outra aliada. — Adverti irredutível, considerando, vagamente a hipótese de estar, mais uma vez, habitando o mesmo mundo de Ragad.
— Suas considerações serão levadas em conta. Os aliados devem sempre vir em primeiro lugar. — Dito isso Odin saiu pela porta e voltou a se banquetear com os mais novos soldados de sua infantaria.
Sai logo depois e optei por não permanecer naquele salão, caso contrário, tinha certeza de que arrumaria muita encrenca e no momento fazia de tudo para evitar qualquer confusão.
A passos rápidos caminhei por meio daquela gente embriagada e ouvi duas pessoas chamarem por meu nome; ironicamente, as duas pessoas que, por puro egoísmo, decidiram por me fazer prisioneira. Ignore-os, nenhum dos homens mereciam minha atenção. Passei pela majestosa porta de Valhalla e não sabia como chegaria no castelo de Asgard, mas com sorte encontraria alguém pelos arredores que poderia levar-me de volta.
Minha mente envolta de uma confusão de pensamentos, apenas comandava de forma habitual os movimentos de minhas pernas ao traçar cada passo. Era como se eu estivesse orientada para continuar andando mesmo que tal função não tivesse sido previamente planejada. Estava alcançando às margens da mata que cercava todo o palácio de Valhalla, quando — inconvenientemente — Loki surgiu a minha frente. Assustada, recuei um passo para trás tentando me salvaguardar de seu alcance.
— Preciso falar contigo. — começou ele parecendo estar desesperado.
— Não quero te ouvir. — rebati de prontidão e tentei desviar a passagem que ele bloqueou.
— Erieanna, por favor, deixe-me explicar. — Tentou segurar meu braço, mas eu o impedi.
— Não ouse tocar em mim ou juro que arranco o coração do seu maldito peito! — Ameacei entredentes lançando um olhar assustador; tão assustador quando as palavras que saíram de meus lábios.
Sei que Loki se abalou com a ameaça, pois embora tenha mantido uma postura firme, seus olhos azuis levemente arregalaram ao perceber o quanto eu estava furiosa consigo.
— Peço apenas que me ouça. — Insistiu novamente.
— Não quero ouvir suas desculpas, razões ou mentiras. Não quero te ouvir, pois sei que não serei capaz de compreender seus motivos. O que está feito, está feito. Não temos mais nada a tratar. — – Retomei a caminhada.
Todavia, antes de afastar me por completo, ele soltou:
— Sei onde e qual será o segundo desafio que Acme terá de enfrentar.
Interrompi minhas passadas. Não voltei meu olhar para ele, apenas fiquei imóvel no local ponderando se devia ou não acreditar no deus da mentira.
— Se for de seu interesse obter essa informação, saiba que, primeiramente, terá de ouvir minha explicação sobre ter trazido Ragad à Valhalla. Ouça-me e poderá salvar sua amiga. É bom acordo, afinal. — emendou Loki ciente de que eu faria tudo que estivesse ao meu alcance para salvar Acme.
Virei-me para encará-lo. Loki estava com as mãos no bolso da sua calça de couro marrom e esboçava a mesma expressão de confiança que quase nunca deixava sua face. Tornei a aproximar-me dele e encostei o indicador no seu rígido peito.
— Se essa for uma de suas artimanhas, saiba que nunca mais ouvirei qualquer palavra que saia de sua boca. Te darei mais um voto de confiança, mas tenha em mente que esse pode ser o último. — Adverti olhando fixamente em seus límpidos olhos azuis.
— Acredito, então, que devo gravar tais palavras como se fosse um mantra. — disse ele. — Se importa de desvanecemos para um lugar seguro, longe de bisbilhoteiros?
Não respondi. Somente enganchei as minhas mãos em torno de seu pescoço.
— Espero que não me arrependa dessa decisão. — falei um tanto receosa.
O deus exibiu um curto e discreto sorriso antes de desvanecer levando-me consigo.

A primeira sensação da qual me lembro ao ter aterrissado em nosso misterioso destino, foi do instigante odor de folhas e terra invadindo meu nariz. Ouvi, também, o desaguar das águas de uma cachoeira antes de separar-me de Loki e caminhar até às margens de um rio que refletia perfeitamente a imagem da lua cheia, em toda sua plenitude, nas suas águas cristalinas.
Sentia-me como se estivesse em casa, como se fizesse parte daquele lugar.
— Erieanna, não quer se sentar? — indagou Loki num tom baixo mantendo-se atrás de mim.
Voltei meu rosto de encontro ao seu.
— Mantenho o que disse a Odin... Prefiro evitar a sentar-me e tornar-me um alvo fácil. Você se tornou meu inimigo, portanto não baixarei minha guarda em sua presença. — respondi de forma ríspida.
Ele levemente franziu o cenho antes de falar:
— Por mim tanto faz. — Chacoalhou os ombros demostrando indiferença.
Então ficamos em silêncio, somente os sons da natureza manifestavam-se ao nosso redor.
— Comece. — ordenei. — Espero que essa conversa seja breve. — completei.
Loki posicionou-se ao meu lado e começou a falar:
— Primeiramente, quero deixar claro que não tive outra escolha a não ser trazer Ragad para Valhalla. — Mesmo notando que revirei meus olhos, ele prosseguiu. — Sei que vai soar repetido, mas fazia parte do acordo que firmamos e não havia outra forma das coisas acontecerem: Ragad tinha que se tornar um einherjar.
— Sempre esse maldito acordo! — exclamei com desdém. — Quer saber, achava que você era um deus diferentes de todos, que não se preocupava em quebrar as regras... — Concentrei meus olhos nos seus. — No entanto, estou cada vez mais certa de que eu me enganei. — Deia às costas e iniciei uma curta caminhada pela beira do rio enquanto tentava capturar um dos vagalumes que haviam chegado até ali.
— Erieanna... — Loki, novamente, tentou se explicar, porém eu interrompi.
— Guarde suas explicações para si! — Gritei furiosa. — Estou farta de seus motivos, de seu egoísmo, de suas mentiras...
— Ragad está vivo! — disparou fazendo-me calar.
Fitei o rosto do deus da mentira que me olhava com seriedade. E naquela calorosa noite, mais uma vez, meu coração disparou sob meu peito.
— Vivo! Como assim? — questionei incerta sobre como agir a partir daquela revelação.
— Ragad foi esfaqueado no coração enquanto dormia. E assim como ocorreu contigo, por um instante ele morreu. Entretanto, curei seu ferimento antes que se tornasse fatal e depois o trouxe à Valhalla. Ele não sabe que ainda está vivo, essa é uma informação que até então só cabia a mim e agora também pertence a ti. Não sei o que fará com ela, mas estou certo de que devias saber. — explicou enquanto andava ao meu encontro.
— Odin acredita que Ragad está morto. — argumentei tentando extrair qualquer resquício de mentira em suas palavras.
— Odin também acha que você está morta e nós dois sabemos que essa não é a verdade. — replicou sorrindo de canto.
Olhei para o nosso reflexo na água do rio.
— Parece que se tornou um hábito deixar as pessoas vivas quando elas deveriam morrer. — ironizei suas recentes ações.
— Parece que se tornou um hábito quebrar as regras por causa de você. — rebateu trincando o maxilar enquanto me encarava sem piscar seus hipnotizantes olhos azuis.
Respirei fundo tentando compreender o que se passava na cabeça do deus da mentira. Tentando desvendar o que eu era para ele e o porquê tentava consertar as coisas entre nós.
— Por que o manteve vivo? — indaguei, dessa vez olhando diretamente em sua face.
Loki não titubeou nem por um instante antes de responder:
— Porque você, Erieanna, é a única que pode decidir se Ragad deve viver ou morrer. Essa decisão não cabe a mim ou qualquer deus. A escolha deve ser sua e apenas sua. — Fez menção de segurar minha mão, mas desistiu no mesmo instante.
Ambos sabíamos o significado daquelas ações. Loki poderia ter deixado a situação seguir o curso programado. No entanto, manteve Ragad vivo para me conceder a chance de decidir o meu destino: se eu deixasse o ex-Lerd viver, Loki jamais me libertaria do laço de sacrifício para impedir-me de retornar a Midgard, já que o feitiço de Ragad ainda prevaleceria; Mas se eu o matasse, bem Loki não teria motivos para me prender a tal laço. Não haveria ameaça se eu retornasse para casa, nada estaria entre a minha liberdade, a não ser que seu egoísmo falasse mais alto. O deus da mentira me ofereceu a possibilidade de trazer justiça a mim e meus pais, mas acima de tudo, concedeu-me a escolha de decidir o que era melhor para mim. E aquilo era muito mais do que eu poderia esperar.
— Acho que chegou o momento de falarmos do segundo teste. — Falei mudando de assunto.
Finalmente sentei-me à beira do rio e molhei meus pés nas frias águas que me acolheram de bom grado. Loki sentou-se ao meu lado, porém manteve os pés nas gramas.
— Quanto a isso, acredito que seja melhor te mostrar. — Ao perceber que franzi o cenho desconfiada, ele rapidamente emendou. — Se eu te contar, tenho certeza de que irá para lá sozinha e isso não é uma decisão prudente. Por isso, prefiro eu mesmo te levar ao local. — Assegurou com veemência.
— Então é melhor que saiba que mantenho a ameaça que te fiz mais cedo. — Fiz questão de refrescar suas lembranças.
— A de que arrancaria o coração de meu peito se eu me atrevesse a te tocar? — questionou com um pequeno sorriso nos lábios.
— Acho que por hora, terei de anular essa promessa, já que terá de me tocar para levar-me de volta ao castelo de Asgard. — Não fui capaz de evitar que um sútil sorriso surgisse em minha face. — Estou me referindo a promessa de que se ousar a enganar-me, será a última vez. — emendei em tom de seriedade.
— Estou ciente dessa promessa. — Levantou-se e estendeu-me a mão. — Acho melhor te levar de volta.
Segurei sua mão e ele ajudou-me a me pôr pé. novamente enlacei seu pescoço.
Sem nada dizer, Loki desvaneceu para dentro de meus aposentos.

Já dentro do meu quarto, ele permaneceu segurando-me em seus braços e depois, com delicadeza, levou o dorso de uma de suas mãos ao meu rosto e o acariciou. Seus olhos observaram cada traço da minha face e tive a sensação de que estava memorizando cada um deles, como se não fossemos mais nos ver; como se aquele fosse nosso último momento juntos. Também usei a oportunidade para analisar seu rosto, as finas marcas de expressão acentuadas em sua testa, as pequenas e quase despercebidas rugas em torno de seus claros e vividos olhos azuis. Queria passar os dedos pelos fios dourados de sua barba que precisava ser podada e até mesmo tocar o desenho de sua sobrancelha. Desejei segurar seu rosto em minhas mãos e fazer com que ele me olhasse para sempre. Mas, infelizmente, Loki saiu do transe a qual estava preso, engoliu a seco e, em seguida, afastou-se de mim e caminhou em direção a saída do quarto.
— Erieanna... — ele disse enquanto segurava a porta semiaberta. Fiquei parada no meio do cômodo esperando que prosseguisse.
Seus lábios entreabriram-se e milhares de sentimentos passaram por seus olhos. Sentimentos que se fossem transformados em palavras, nos deixaria vulneráveis. E embora muitas palavras ansiassem por ser ditas, apenas duas encontrou o caminho para sua boca:
— Boa noite. — Foi tudo o que disse.
Queria correr para seus braços e guiá-lo para minha cama. Queria sentir seus lábios nos meus e entrelaçar nossos corpos até termos a sensação de que nos tornamos apenas um. Queria, por pelo menos naquela noite, esquecer que um caos nos envolvia. Queria só por uma vez, deixar de lado o fato de que éramos um deus e uma mortal e ser apenas um homem e uma mulher sem medo de aceitar as consequências de uma paixão. Queria todas essas coisas e algumas a mais, contudo apenas falei:
— Boa noite, Loki.
Então eu o vi sair pela porta e antes que ela se fechasse, eu pensei: "não vá!" Porém, já era tarde, o deus já havia partido.
Entretanto, o pequeno sopro da liberdade que me fora concedido, já tinha se infiltrado em todo meu ser.
A esperança estava viva. Tão viva quanto eu.

(CAPÍTULO SEM REVISÃO)
Olá, tudo bem como vocês?
Estou sem tempo para responder os comentários, mas saibam que eu leio todos eles. Assim que conseguir organizar minha vida, prometo que responderei todos eles.
Espero que estejam gostando da história!
Bjus, Tia Lua
P.S: NÃO SE ESQUEÇAM DE VOTAR! :)
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