CAPÍTULO 40 - Egoísmo
Por muitas vezes ouvi Ragad dizer que ele jamais me libertaria de servi-lo e sempre fiquei magoada por seu egoísmo. Entretanto, ouvir Loki dizer eu estava presa junto a ele por conta de um maldito laço de sacrifício, que por consequência me impedia de ser livre, foi mil vezes mais doloroso. Doeu. Uma dor imensurável e impossível de colocar em palavras. Doeu, porque ao contrário de Ragad, eu estava apaixonada por ele. Mas como disse uma vez meu falecido pai certa vez "amores, às vezes, causam mais dor do que felicidade. Corações foram feitos para bater e também para serem partidos". Não tenho conhecimento se meu pai aprendeu tal lição em seu treinamento como druida, ou se foi do jeito mais difícil: vivenciando tal infeliz experiência. Eu, contudo, aprendi da pior forma: descobri que ter um coração partido, dói.
Naquele dia, após ouvir aquelas amargas declarações, permaneci deitada em minha cama em completo silêncio, com as lágrimas aprisionadas dentro de mim, sentindo a dor me consumir como um veneno letal que age lentamente, dilacerando o meu coração. Perdi a noção do tempo e talvez a noção de quem eu era. Não pensei em nada, nem em mim ou em Loki. Não era capaz de raciocinar, apenas senti a tristeza tomar de mim. O que me salvou de ruir, ironicamente foi ouvir os sons das trombetas que anunciariam o retorno de Acme, Por um instante, passou pela cabeça a ideia de não retornar à Arena, no entanto, dissipei aquele pensamento rapidamente, pois era meu dever estar lá por minha amiga. Decidi, portanto, sair do quarto e enfrentar Loki que estava à minha espera do outro lado, prostrado no corredor.
Segurei a maçaneta com as mãos trêmulas. Pela primeira vez em toda minha vida, encontrava-me insegura de minhas ações. Respirei fundo e alinhei a coluna. Inalei o ar com força e decidi abrir a porta. Loki, que não esperava por aquela atitude, caiu de costas aos meus pés.
Evitei a olhar para o deus assim que agilmente por de cima de seu corpo. Apenas segui apressadamente pelo corredor, ouvindo ele chamar chamava por meu nome. Ignorei-o, eu poderia ser sua prisioneira, mas não tinha intenção alguma em obedecê-lo.
Continuei a me dirigir para fora do castelo, mas Loki me interceptou antes que eu chegasse a escada, bloqueando a minha passagem.
— Erieanna, por favor, deixe-me explicar. — suplicou mais uma vez.
— Sai da minha frente, Loki, ou juro que te jogarei escada abaixo. — adverti entredentes, ainda evitando a olhá-lo.
Desesperado, o deus segurou os meus braços com demasiada força. Suas mãos tremiam. Naquele momento, nem parecia ser um deus. Seus olhos revelaram os temores de um mortal.
— Tire suas mãos de mim. — ordenei, pausadamente, fuzilando-o com o olhar. — Agora! — bradei furiosa.
Loki me liberou de seu toque e passou as mãos nos cabelos num gesto de completo desespero.
— Você não me deixou outra escolha. — Inesperadamente, enlaçou-me pela cintura e desvaneceu levando-me consigo.
A ira que se apossou de mim ao me dar conta de que Loki havia me tirado do palácio, fez com que eu nem sentisse o costumeiro mal-estar ocasionado por determinado tipo de viagem. Não precisei de muito tempo para reconhecer o atual destino, soube exatamente onde estávamos, assim que aterrissamos no refúgio de Loki: a montanha em que havia me trazido a antes de irmos para Nifelheim.
— Seu maldito, egoísta, mentiroso! — Esmurrei seu peito com tanta força, que Loki perdeu o equilíbrio e se estatelou no chão. — Leve-me de volta para Asgard! Agora!
— Não. — declarou — Não antes de me ouvir.
Uma fúria incontrolável me possuiu, o que me levou a usar a magia para imobilizá-lo contra a parede de armas, e com apenas um leve mover de mãos, direcionei todas elas impiedosamente em direção ao deus. Apenas um estalar de dedos e eu poderia feri-lo gravemente. Loki era uma divindade, não morreria tão facilmente.
— Vai me levar de volta. Eu não me importo em feri-lo — Ameacei. Uma ameaça que estava disposta a cumprir.
Loki me encarou com seriedade. Tínhamos nos tornados inimigos, no mesmo dia em que havíamos nos entregado aos braços um do outro. Quanta ironia!
— Ferir-me não nos levará a lugar algum. Ninguém, além de você, conhece a localização desse lugar. Esse é meu refúgio, fica num ponto cego da magia de Asgard, o que o torna invisível, até mesmo para o Heimdall. — Deixou que um leve sorriso surgisse em seus lábios.
— É mentira! Você está mentindo!
— Será que estou? Responda-me, Erieanna, como acha que fomos capazes de desvanecer para fora do castelo de Asgard se esse é um feito impossível de ser realizado por causa da magia que o protege? — Arqueou a sobrancelha ao fazer tal indagação.
Nunca tinha parado para pensar em tal proeza. Lembro-me que Balder mencionou tal fato, assim como as Valquírias em seus treinos, mas nunca prestei atenção, até aquele momento, quando percebi tardiamente que Loki conseguiu burlar magia de alguma forma.
— Eu... É bem... Eu... Não sei dizer como fez isso. — Fiquei desapontada por ter deixado aquele detalhe escapar.
— Se me soltar, eu te digo como sou capaz de desvanecer para esta montanha, assim como lhe explicarei os motivos que me levaram a tomar todas as decisões que nos trouxeram até aqui. — propôs sua barganha.
Ponderei sabiamente antes de tomar minha decisão. Pensei em todas as possibilidades que me levariam a sair dali sem o auxílio de Loki, até que cheguei em uma hipótese considerável.
— Esse lugar não é totalmente invisível, minha águia me achou e ela pode fazer isso novamente, assim como pode partir carregando uma mensagem minha pedindo que me resgatem. — Meus lábios se curvaram em um pequeno sorriso.
— Eu sinto muito, minha querida Erieanna, mas ela não poderá te encontrar. Percebi minha negligência quando sua águia veio até você. Por isso, tive de colocar feitiços sob os arredores dessa rocha, impedindo que qualquer espécie de águia se aproxime daqui. O mesmo vale para os corvos, já que nunca sei quais deles pertencem a Odin.
— Talvez essa seja mais uma de suas artimanhas, talvez tudo que saia de sua boca sejam mentiras. — acusei sem piedade.
— E talvez estejamos discutindo a minha mais conhecida habilidade, quando, nesse exato momento, Acme pode estar precisando de você. Seria mais prudente me soltar para que possamos resolver tudo de uma vez. Assim voltaremos o quanto antes para Asgard. — Negociou com perspicácia.
Loki tinha razão, estávamos perdendo tempo num embate que teria apenas um fim.
Soltei-o da magia que o prendia e o deus estatelou no chão junto as armas ao seu redor.
— Estou ouvindo sua explicação, peço que seja breve. — Cruzei os braços abaixo do peito, batendo o pé em um gesto de impaciência.
Loki levantou-se do chão, alongou os músculos e olhou-me com demasiada intensidade.
— Primeiro, explicarei o mais simples, que se trata da possibilidade de eu ser capaz de desvanecer para cá. — Suspirou pesadamente. — Antes de vir à Asgard, há muito tempo atrás, eu estudei detalhadamente sobre esse mundo, sobre o castelo dos Aersir, suas magias, as passagens secretas e até suas falhas. Levou anos para que eu conseguisse encontrar uma brecha no poder místico que protege os arredores do castelo asgardiano, e quando estava quase desistindo de encontrar tal fenda, descobri essa montanha construída bem acima de uma das poucas e quase inexistentes entradas para Nifelheim. Um local cuja a magia que originou os nove mundos ainda se faz presente; um ponto isolado e desconhecido na qual a magia de Asgard é anulada pela magia mais antiga de todos os deuses. É essa razão pelo qual se torna é possível desvanecer para esse lugar. Aqui, ao contrário de tudo em Asgard, não faz parte desse mundo, e também não pertence há mundo algum, assim como não pertence a mim. A magia que aqui predomina, é guiada por ela mesma, meus feitiços de proteção só funcionam há metros de distância da montanha. Ela me aceitou em seu seio, assim como aceitou você e isso faz daqui... — Abriu amplamente os braços. — O lugar mais seguro de todos os mundos, pelo menos para nós. — explicou num tom que transbordava seriedade.
Era muita informação a ser assimilada; mais informação do que eu era capaz de filtrar por completo.
— Talvez seja o dono daqui, já que foi o primeiro a descobri-lo. Talvez a montanha só me tenha deixado entrar, porque eu estava contigo. — Tentei encontrar explicações para algo que jamais teria certeza de como funcionava.
— Talvez nunca desvendemos esse mistério, dessa forma é melhor eu continuar com as demais explicações. — Fez uma breve pausa. — Erieanna, embora eu seja o deus da mentira, nunca quis mentir ou esconder algo de ti, se não te contei que estava viva, foi somente para te proteger. Se os deuses soubessem que não concluí a sua morte, eles te matariam e eu nada poderia fazer para impedir que tirassem a sua vida. Esconder verdade foi a única saída que encontrei para te manter viva e segura. — Franziu o cenho numa expressão de desolação.
Minha mente se agitou com todas as palavras ditas. Mas não era aquilo que me afligia.
— Não foi isso que me magoou, Loki. Não foram suas mentiras e sim a dura verdade que saiu de sua boca ao assumir que jamais quebrará o laço do sacrifício que nos uni, pois prefere me fazer prisioneira do que me conceder a liberdade. Essa é a única razão por tudo entre estar ruindo. — Estava abalada demais para prosseguir com determinada conversa.
Loki deu um passo à frente tentando se aproximar de mim, porém eu recuei dois passos para trás, fugindo de seu alcance. Uma clara expressão de dor tomou conta de sua face ao perceber que fora rejeitado.
— Diga-me, Erieanna... O que faria se eu te liberasse do laço do sacrifício? O que faria se não pertencesse a mim e fosse livre para ir aonde desejar?
Levei apenas um momento para refletir sobre sua indagação. Sempre estive com a resposta em meu coração.
— Eu iria para casa, ou para onde acho que seja meu lar. — respondi, embora não soubesse se ainda tinha uma casa para voltar.
— Então retornaria para Midgard? — Arqueou uma das sobrancelhas loiras.
— Sim. — afirmei confusa, pois a minha resposta anterior havia sido bastante concisa.
— Não pode retornar a Midgard, se voltar morrerá! — proferiu com voracidade.
Arregalei os olhos, ficando sutilmente abalada por aquela revelação. Loki então prosseguiu:
— Você não morreu, Erieanna. Portanto, o feitiço de Ragad ainda prevalece. Retornar para qualquer lugar de Midgard, significa que as terras, independentemente de onde estiver, irão te engolir e te sufocar até que morra.
O que Loki disse, fazia sentido. Se eu de fato não tinha morrido, o feitiço ainda prevalecia. Ironicamente, após tudo que eu passei, ainda pertencia a Ragad. Se eu retornasse a Midgard, mesmo que fosse para Irlanda, a terra me esmagaria. Minha terra me mataria. Achei que não fosse capaz de odiar Ragad ainda mais, porém estava absolutamente enganada. Eu o odiei infinitamente por ter me prendido ao feitiço horroroso que jogava minhas próprias terras contra mim.
— Creio que a solução seja simples... se não posso voltar para Midgard enquanto Ragad viver, então ele deve morrer. Somente assim eu serei livre. — Expus minha nítida intenção em finalmente pôr um fim na vida do viking que me fez mais mal do que bem.
Loki mordeu os lábios. Eu conhecia aquele gesto, ele estava nervoso.
— Não posso fazer o que está sugerindo. — disse, baixando o olhar para os pés.
— Como assim não pode matá-lo? — berrei consternada.
— Não posso matá-lo, Erieanna, pois firmamos um acordo de que eu o protegeria da morte até que se tornasse rei! — Suspirou profundamente — E ele ainda não se tornou.
Comecei a andar de um lado para o outro com a fúria emanando por cada fibra do meu corpo. Tinha raiva por perceber que tudo na minha vida se tratava de acordos feitos por outros. Tinha a sensação de que todos exerciam controle sobre mim, menos, é claro, eu.
— Ouça-me, Erieanna... Sei que está furiosa e tens motivos para isso. Saiba que seria o meu maior prazer pôr um fim na vida de Ragad, entretanto não posso fazer isso por conta do pacto que firmamos. Soará repetitivo o que lhe falarei, mas um pacto se trata de magia antiga que carrega consigo um alto custo caso não haja o cumprimento de ambas as partes. Ragad cumpriu com a parte dele ao te entregar a mim, portanto eu devo cumprir com minha parte em mantê-lo vivo, caso contrário, quem morre, sou eu. — finalizou em tom dramático.
Eu estava magoada e com raiva, no entanto, ainda não desejava que Loki morresse. Ainda estava apaixonada por ele, mesmo que não desejasse que tal sentimento existisse em meu coração.
— A fiandeira te disse que além delas, só um deus pode controlar a vida de um mortal. Eu sou seu sacrifício, pertenço a ti. Devo estar certa ao afirmar que não pertenço mais a Ragad, já que, infelizmente, possuo um novo dono. — falei com certo rancor. — Ou talvez nem exista um laço de Sacrifício, já que de fato não me matou. — Lancei tais palavras entre nós, ao me dar conta da possibilidade de Loki ter mentido sobre o suposto laço de Sacrifício.
— Você realmente morreu, Erieanna. Por um momento, a vida deixou de existir dentro de ti. Quando te resgatei da água, estava morta. Apenas esperei o tempo necessário para que o laço do sacrifício fosse estabelecido entre nós, e quando senti o fio antigo e poderoso nos unindo, fiz tudo que estava ao meu alcance para te trazer a vida. Foi um longo tempo tentando te reanimar, até que cuspiu a água de seus pulmões e voltou a respirar. Você já estava em Asgard quando voltou a vida. Estava segura e eu fiz de tudo para que não soubesse que havia sobrevivido ao sacrifício, pois era o único modo de enganar os deuses e o feitiço de Ragad que, infelizmente, não foi quebrado. A solução que encontrei se trata apenas de uma brecha, você está ligada a mim pelo laço do sacrifício, mas também está ligada a Ragad pelo feitiço que ele te lançou. Eu lamento por isso, Coração de Gelo. — Senti a profundidade de suas palavras e aquilo foi o suficiente para me fazer acreditar na fatídica informação que me transmitiu.
Virei-me de costas para o deus. Naquele momento não era capaz de fitar seu rosto desolado sem lembrar do caos que nos envolvia. Um silêncio perturbador tomou conta das paredes rochosas que pareceu nos observar com cautela. Então me dei conta, um pouco tarde demais, de que não estaria segura em nenhum lugar. Não havia segurança ao lado de Loki. Ali, naquela montanha, voltamos a ser inimigos.
Virei meu corpo na direção do deus e diminui a distância que nos separava.
— Agora que sei todas essas informações, desejo que me liberte do laço do Sacrifício que me prende a você.
Não era um pedido, tratava-se de uma exigência e Loki entendeu perfeitamente o que lhe foi solicitado.
— Não posso fazer isso sem ter a certeza de que não vais caminhar de encontro com a morte. — Trincou o maxilar ao declarar sua decisão.
— Então nega meu pedido de liberdade? — Escondi, com todo esforço, a dor que rugiu dentro de mim.
— Ao contrário, ofereço-te a liberdade em meus termos. Podes ser livre para ir aos oito mundos, apenas a impedirei de pisar em Midgard. — respondeu ele, evidenciando que não voltaria atrás em sua decisão.
Chamas começaram a dançar nas pontas dos meus dedos, enquanto eu me esforcei ao máximo para não lançar imensas rajadas de fogo contra o maldito deus a minha frente.
— Isso não parece liberdade! — grunhi completamente irritada. — Sou quem deveria escolher aquilo que é melhor para mim. Liberdade seria se tivesse escolha de optar pelo caminho que devo seguir. Se me libertasse, eu poderia ficar ao seu lado e viver, ou poderia decidir voltar para casa e morrer. Não importa quais seriam minhas escolhas. O que importa é que eu estaria livre para escolhê-las e ser livre... — Respirei fundo, tentando controlar as emoções que ameaçaram transbordar para fora de mim. — É tudo que eu sempre desejei. —E pela segunda vez naquele dia, senti meu coração se partir.
Loki ameaçou a levar a mão ao meu rosto para acariciá-lo, mas desistiu logo em seguida. Ficamos nos encarando sem dizer uma única palavra. Ele sabia o que eu queria ouvir, entretanto não foi capaz de me conceder tais palavras, apenas baixou a cabeça e posteriormente me deu às costas.
— Leve-me de volta. Essa conversa chegou ao fim. — pedi rispidamente.
O deus não ousou a olhar em minha face quando passou as mãos em torno da minha cintura. Por um instante, ficamos tão próximos, porém nunca estivemos tão distantes. Havia um universo inteiro nos separando.
Senti o vento da magia tocar minha pele, em seguida, desvanecemos de volta para Asgard.
Aterrissamos um pouco antes do portão da Arena. Nenhum de nós proferiu qualquer palavra. Somente caminhamos separadamente a destinos opostos um do outro. Não havia mais nada a ser dito, todas as mentiras tinham sido reveladas, todas as verdades foram postas à mesa, e o mais importante desejo, infelizmente, não fora concedido. E naquele dia eu soube: uma flecha cravada no fundo do meu coração, doeria menos que o pedido de liberdade negado.
Precisei de um pouco mais de tempo para notar que todos já haviam retornado à Arena e meu coração quase parou quando vi que no palco estava apenas Odin, sua esposa, seu filho Thor, e, por fim, a Vidente. Procurei por Acme em cada canto, tentei ao menos ver seu corpo estirado no chão, mas nada; não encontrei nenhum sinal de minha amiga.
Cerrei os punhos e marchei furiosa em direção ao palco. Eu com certeza tinha o desejo de dilacerar algum deus. Minha fúria aumentou a medida em que a distância entre eu e o palco se encurtou. Entretanto, antes que eu alcançasse o meu destino, uma mão feminina enlaçou meu braço.
— Fique tranquila, Erieanna. Acme está bem. — A esplendorosa deusa ruiva que todos conheciam como Sig, impediu minhas ações impulsivas.
— Onde ela está? Por que não está naquele palco? — indaguei, respirando ofega nte por conta do sangue fervendo em minhas veias.
— Foi levada para os curandeiros. Ela perdeu muito sangue durante a missão, porém voltou com vida e ficará bem. Logo menos estará de volta ao palco para prosseguir com a segunda parte do desafio.
Suspirei aliviada, não apenas por saber que Acme estava bem, mas por ela não poder presenciar que eu não estava presente quando retornou de Nifelheim. E então a culpa me atingiu. Soube, naquela ocasião, que uma boa parte de mim também era egoísta. Talvez todos tivessem sua parcela de egoísmo afinal.
Fixei meus olhos na vidente acima do palco que olhava a todos e para ninguém em específico. Senti as garras de alguém tentar penetrar meu escudo mental e o reforcei ainda mais. Somente duas pessoas poderiam tentar invadir minha mente: a Vidente ou Loki. E ao procurar pelo deus da mentira na multidão, soube que era ele quem tentava falar comigo. Ignorei-o. Nunca permiti de bom grado que algum inimigo estivesse em minha cabeça, ele não seria o primeiro.
Não tardou até que Acme retornasse para completar a segunda parte do teste. Minha amiga estava destruída quando caminhou cambaleante pela multidão que abriu o espaço para que alcançasse o destino. Quando subiu ao palco, nossos olhares se encontraram e um fraco sorriso surgiu em seus lábios. Acme havia retornado com vida de Nifelheim e eu estava feliz por aquilo.
O Sol já havia cedido o lugar para noite quando Odin que aparentemente estava tenso, voltou a prosseguir com a última parte do teste. Percebi que o público também se encontrava visivelmente abalado, deduzi, portanto, que era a Vidente responsável por deixar todos acuados. Sua presença maligna podia ser sentida por qualquer um, até os deuses a temiam.
— Em nome dos deuses Aersir e de todos os presentes, desejo que seja bem-vinda à Asgard, Vidente. — disse Odin num timbre seguro.
A vidente apenas assentiu levemente com a cabeça, passoi que Odin continuou:
— Prosseguiremos com a segunda parte do Teste dos Deuses e pretendemos concluir o quanto antes para que todos possam descansar. Hoje foi um longo dia. — Tive a impressão de que Odin queria se livrar da Vidente o mais rápido possível. Uma atitude sabia parte dele. — Você é uma das criadoras dos testes, por isso lhe foi concedido a honra de aplicar o primeiro dos desafios. Assim, transmito-lhe a palavra.
A Vidente deu um passo à frente, encarando a plateia que ficou espantosamente imóvel. Observei que os guardas seguravam às armas com mais força e Frigga apertou o joelho do esposo em um gesto de nervosismo. Somente eu a encarei de volta, e quando seus negros olhos sem vida se fixaram nos meus, um sorriso zombeteiro surgiu nos finos lábios da Vidente.
— Acme, se aproxime querida. — Estendeu uma das mãos para minha amiga que receosa a segurou.
A vidente nem ao menos cumprimentou o público, talvez nem esperasse estar ali.
— Essa é a segunda parte do teste, ouça com atenção, pois irei falar apenas uma vez. Desvende esse mistério e o primeiro dos testes será concluído. — Estalou os dedos e uma taça surgiu em suas mãos. — Aqui está um veneno que demorará três dias para fazer efeito, o mesmo prazo que terá para desvendar o enigma que irei narrar. Se falhar, morrerá. Mas se obter o êxito e encontrar a resposta, procure Odin e ele me chamará para que volte e ouça o que vais me dizer e declare, portanto, encerrado o primeiro desafio. — Ficou em silêncio por algum instante. — Está preparada?
Acme segurou a taça com as mãos trêmulas, e em meio a um gaguejo, respondeu:
— Sim. — a voz não passou de um sussurro.
— Então beba, criança. — A vidente auxiliou a jovem levar o líquido aos lábios.
Todos ficamos paralisados observando o desenrolar daquela lamentável cena. Minha amiga bebeu o líquido de uma só vez, exibiu uma careta ao entregar a taça para Vidente e depois limpou a boca com o dorso da mão.
— Perfeito! — exclamou a Vidente, que exibiu um enorme sorriso maldoso.
E ali, novamente, deu-se início a sentença de morte de minha única amiga.
— Ouça bem, ouça com atenção todas as palavras que direi... — começou a Vidente. — Dizem que nasci com os nove mundos, embora eu tenha a sensação de que exista bem antes da criação de qualquer um deles. Alguns afirmam que eu surgi do nada, que de repente eu estava ali, controlando tudo e todos. Quando o primeiro ser surgiu no mundo, eu estava lá. Eu o vi nascer, crescer e ainda não o vi morrer, mas estarei lá quando se for e continuarei a existir após ele, pois sou o único eterno e imortal. Registrei em minhas memórias deuses nascerem e morrem, guerras se iniciarem e chegarem ao fim. Vi a sede por sangue, por poder, por ouro. Vi amores florescerem e amores ruir. Parece que sou poderoso, mas não sou tanto assim. Embora seja o único eterno e imortal, nada posso fazer para alterar o passado, apenas existo aqui e agora e a única afirmação que sou capaz de prever do futuro, é que nele eu estarei. Eu estou com você, mas a ti não sou leal, sou parte da vida de todos. Alguns me desejam mais do que tudo, outros preferem me esquecer, embora somente através de mim são capazes de realizar tal proeza. Em algumas vezes eu sou muito, em outras pouco; para você, se descobrir quem eu sou, e claro se vencer os demais testes, serei praticamente infinito, mas estarei lá quando finalmente deixar de existir. Quem sou eu? Responda... ou morra sem saber.
O enigma pairou sob todos que assistiam. Talvez alguém já tivesse matado a charada, eu tinha uma vaga ideia do que poderia ser a resposta, mas não tinha certeza. Esperava, do fundo de meu coração, que Acme soubesse.
— Lembre-se querida, se alguém lhe disser a resposta para lhe ajudar, o efeito do veneno em sua corrente sanguínea será acelerado e então morrerá quase de imediato. Você tem três dias para descobrir a resposta correta. Apenas três dias e nada mais. — Ao finalizar o aviso, a Vidente desvaneceu.
Assim que todos começaram a voltar para suas casas, eu tentei falar com Acme, mas Thor impediu que me aproximasse dela. Aceitei de bom grado sua decisão, percebi pela aparência de minha amiga que ela precisava descansar. Haveria outros dias para confortá-la com um abraço amigo, Por ora, a deixaria sós para refletir sobre suas ações, bem como o misterioso enigma o qual deveria desvendar.
Todos, aos poucos, começaram a se retirar retirando e eu tomei minha deixa para voltar aos meus aposentos. E enquanto caminhava com os asgardianos, passou-me pela cabeça que Acme e Thor, assim com a Vidente haviam conseguido desvanecer para fora de Asgard, o que me levou a pensar que talvez Loki tivesse mentido a respeito da montanha que alegou estar fora do alcance da magia de Asgard. Talvez alguns deuses simplesmente poderiam desvanecer para onde quisessem, quando bem entendessem. Eu queria acreditar que Loki tivesse me enganado, assim teria motivos para odiá-lo ainda mais. No entanto, soube há alguns dias adiante, pela boca do próprio Heimdall, que o deus da mentira, por mais incrível que pareça, disse-me a verdade.
Como eu descobri tal informação? Essa é uma história que contarei em um outro momento. Por ora, o foco dessa narrativa deve permanecer em Acme e em como a ajudei a desvendar o enigma, pois descobri que para tudo, exatamente tudo, existe uma brecha. Nada é completamente à prova de falhas. Até mesmo a imortalidade, não passa de uma mera ilusão.
(CAPITULO SEM REVISÃO)
Olá tudo bom?
Bem... sei que demorei para atualizar esse capítulo, contudo digo que fiquei super ocupada com as festas de final de ano, mas agora estou colocando minha vida em ordem novamente. Sei que prometi que atualizaria com mais frequência nesse mês, no entanto, surgiu um imprevisto chamado "estudar para concurso" que está demandando um pouco mais do meu tempo. A prova que irei realizar será no dia 20 de Janeiro e só então poderei me dedicar 100% a essa obra. Mais uma vez peço que tenham paciência, e por enquanto tudo que posso prometer é atualizar todos domingos!
Por fim, alguém tem ideia de qual seja a resposta do enigma? Deixem a respostas nos comentário, estou curiosa para saber! :D
NÃO SE ESQUEÇAM DE VOTAR" ;)
Bjus, Tia Lua
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