CAPÍTULO 39 - Verdades
Por um momento, o mundo ficou paralisado. Não houve ruído, nem mesmo o vento pode ser ouvido, ou sequer sentido. Intensos olhos azuis permaneceram fixos aos meus e nenhum deles piscavam. Por alguns instantes deixei de respirar, e creio que meu coração também interrompeu suas batidas, mas logo voltou a bater, pois eu estava viva; sempre estive viva!
— Por que não me disse que eu estava viva? Por que escondeu isso de mim? — questionei mentalmente. ainda não sabia os verdadeiros motivos que levaram Loki esconder aquele fato de todos, inclusive de mim.
— Porque não é seguro. Alguns te matariam se soubesse que há uma mortal vivendo entre os deuses. — explicou Loki sem fornecer muitos detalhes.
Explicações vagas não eram o suficiente. Eu estava viva, poderia estar em tantos lugares ao invés de presa em Asgard. Uma infinidade de mistérios que deveriam ser esclarecidos e não sossegaria até saber os mínimos detalhes por de trás da ocultação de minha vitalidade.
— Então quer dizer que escolheu não me matar, mas iria me fazer acreditar que estou morta até que não fosse mais possível esconder tal fato?! Iria me contar a verdade quando cabelos brancos começassem a surgir em minha cabeça? Ou assim que as primeiras rugas aparecessem em volta de meus olhos? Ou até que um dia eu me ferisse gravemente num combate? Quando iria me contar que estou viva? E não me venha falar que me contaria hoje, pois tenho certeza de que essa conversa jamais esteve em seus planos. — Encarei-o com tanta fúria, fazendo o possível para tentar não chamar atenção para nós dois e a discussão silenciosa que travávamos em nossas mentes. Embora, ao olhar de soslaio, notei que Odin nos observava.
— Eu pretendia te contar. Só não sabia como. — Loki segurou minhas mãos com firmeza. — Precisava te matar, Erieanna. Eu tinha que ter colocado um fim na sua vida, mas não consegui. Fiz com que todos acreditassem que estava morta, barganhei com Hela para que ela mantivesse segredo sobre tal fato e te trouxe para Asgard, porque estaria segura aqui. — Intensificou o aperto em minhas mãos. — Erieanna, escute-me, pediu desesperado — Você era meu sacrifício, pela regra teria de morrer e ir para Helheim, ou enfrentar os Testes dos Deuses para conquistar a imortalidade.
— Jamais enfrentaria os Testes dos Deuses. Jamais quis ser imortal, assim como nunca quis vir para Asgard e nunca esteve nos meus planos ser sacrificada. Essas foram suas escolhas, Loki, e não as minhas. – rebati consternada.
O deus desvencilhou suas mãos das minhas e as percorreu bruscamente por seus cabelos loiros que ficaram tão bagunçados quanto tudo que nos conectava. Aquele gesto, contudo, também evidenciou o nível espantoso de seu desespero.
— Preferia estar morta? É isso que está me dizendo? — Notei que ira começou a imergir das profundezas de seus olhos azuis.
— Eu preferia estar livre. — respondi, sabendo que não tinha como ser mais verdadeira.
Ele baixou seu olhar, assim como amansou a voz ao dizer:
— Pensei que estivesse livre, afinal se tornou uma Valquíria, conquistou respeito e até mesmo amizades. Acreditei que estivesse feliz.
Tudo que disse era verdade, porém ainda tinha a sensação de ser prisioneira. Eu havia conquistado muitas vitórias e até mesmo o direito de ir para qualquer um dos oito mundos. Mas, naquele momento, tive a sensação de que fui enganada, de que, embora eu parecesse livre, nunca poderia voltar para casa. Não poderia pisar em Midgard e nem vislumbrar as terras onde nasci. Poderia ter tudo menos aquilo e por isso soube que, infelizmente, eu não estava livre. E talvez jamais estivesse.
— Por qual motivo não posso retornar a Midgard? — questionei por fim.
Loki soltou um longo e quase interminável suspiro antes de responder:
— Um sacrifício não pode retornar, mortos não voltam a vida. Você não está morta, mas todos acreditam que está, por isso deve e vai ficar aqui.
Tal frase declarada de um jeito possessivo, fez minhas entranhas revirarem.
— O único fato que me impedia de ir embora de Asgard, era não ter a certeza sobre minha existência. Agora sei que estou viva, nada me impede de partir. — declarei, na intensão de deixar claro que em algum momento, deixaria Asgard para trás. Algo que aconteceria em breve.
Observei que Loki cravou os dedos no chão, tentando reprimir a raiva que começou a possuí-lo.
— Não pode partir se eu não permitir. Eu não te matei, entretanto, você continua sendo meu sacrifício. Ainda existe um laço nos unindo e ele te impede que me deixe. Em outras palavras: aonde eu estiver, estará comigo. — Um sorriso sarcástico tomou conta de seus lábios.
Uma fissura se abriu no bloco de gelo do meu coração. Aquela foi a primeira vez que ele se partiu, por conta de um deus.
Encarei, novamente, o par de olhos azuis de mais um egoísta. Só que, daquela vez, era um egoísta por quem eu tinha me apaixonado, por tal razão a dor foi terrivelmente mais cruel.
— Você detestava Ragad por tudo que ele me fez e no fim é exatamente como ele. Não passa de grande bastardo egoísta. Eu sempre estive certa quando disse que ama somente a si próprio. — Levantei-me abruptamente do chão no mesmo momento em que ergui meu escudo mental impedindo que Loki o penetrasse.
Aquela conversa definitivamente estava encerrada, assim como todos meus sentimentos deveriam estar. Mas ao contrário, eles permaneciam vivos dentro do meu coração; tão vivos quanto a mim.
Desesperada, comecei a abrir caminho por entre as pessoas direcionando-me rumo a saída da Arena. Meus olhos ardiam por conta das lágrimas que eu forçava para dentro de mim. Um caroço começou a se formar em minha garganta. A cada passo que efetuei, senti que meu coração se despedaçou um pouco mais. Eu me apaixonei por Loki que não sentia nada por mim. Não passava de uma prisioneira, assim como sempre fui. Pertencia a um novo dono e era aprisionada num novo lugar. Essas eram as consequências por ter me apaixonado pelo deus da mentira. O preço a pagar por ter sido fraca e deixar o amor me dominar.
— Erieanna! Espere! — Escutei Loki me chamar e o ignorei.
Acelerei minhas passadas e correria se fosse preciso. Faltava pouco para chegar ao castelo. Há alguns metros estaria em meu quarto. Estaria segura. Eu ficaria bem.
Uma grande mentira! Não havia como me sentir bem após ouvir tantas verdades amargas.
— Erieanna! Espere! Por favor! — Loki gritou atrás de mim.
Desejei não ouvir sua voz. Desejei que ele sumisse. Desejei que ele estivesse morto. Desejei, ironicamente, que eu estivesse morta.
Ao entrar no palácio, comecei a correr. Subi a escada o mais rápido que consegui. Corri como se estivesse sendo caçada. Corri até chegar em meu quarto e me trancar.
Recitei um feitiço às pressas, ninguém entraria ou sairia de meu aposento além de mim. Aquele seria meu refúgio: o único lugar em que a salvo de todos os asgardianos; o único lugar que parecia ser meu.
— Erieanna! — Não tardou até que Loki batesse na porta. — Deixe-me entrar, por favor. — pediu com urgência.
Ignorei seu pedido, tentando inutilmente ignorar sua voz.
— Erieanna! — Forçou a porta da maçaneta. — Por favor, fale comigo!
Nunca tinha o visto tão desesperado. Sua voz oscilou temorosa. Um grande caos nos cercava. E só então me dei conta que nada, jamais, voltaria a ser como antes. Talvez nunca tenha existido um antes. Nada parece ser real, quando tudo foi construído sobre alicerces de mentiras.
Cogitei a possibilidade de lançar um feitiço para impedir de ouvir os sons de fora do quarto, no entanto, aquilo impediria que eu ouvisse as trombetas que anunciariam o retorno de Acme. Portanto, enfiei minha cabeça entre os travesseiros e abafei a voz de Loki. Dadas as circunstâncias, aquela foi minha melhor opção.
Loki, incansavelmente, continuou a forçar a maçaneta e esmurrar a porta, implorando para que eu o deixasse entrar. Continuei com meu voto de silêncio, ele não merecia ter qualquer pedido atendido.
— Se não abrir essa porta, eu juro que vou arrombá-la. Não sairei daqui sem falar com você. Você precisa ouvir minha explicação, os motivos que me levaram a tomar todas as decisões.
Não acreditei em nenhuma palavra. Loki era bom em mentir, tão bom que me fez acreditar que realmente se importava comigo. Uma grande mentira! Mais uma grande mentira!
— Pode tentar arrombar essa porta. Eu coloquei um feitiço de proteção, ninguém entra ou sai desse quarto além de mim. Será um esforço inútil tentar entrar aqui. — Conhecia meu tom de voz frio, mas em determinada ocasião, até eu me espantei com a frieza em minha voz ao me dirigir ao Loki.
E naquele dia, descobri o quanto o deus da mentira era teimoso e obstinado. Ele tentou, usou de todas as artimanhas e esgotou todos seus recursos tentando passar por meu feitiço de proteção. Só parou quando suas energias falharam. Desistiu apenas quando percebeu que nada poderia fazer para adentrar em meu quarto. E ainda assim, não partiu.
— Se eu não posso entrar, então ficarei aqui e aguardarei que saia. Isso irá acontecer em algum momento. — A voz abafada revelou o seu cansaço.
Então finalmente ficou em silêncio, achei que tivesse partido. Contudo, quando me aproximei da porta com demasiada cautela, escutei o sim de sua respiração baixa.
— Não basta me prender em Asgard, agora pretende me fazer prisioneira em meu próprio quarto? — inquiri rancorosa.
Loki não respondeu de imediato. Aguardou um bom momento de silêncio antes de dizer:
— Ah, Coração de Gelo. Não estou te aprisionando em seu quarto. A escolha de deixá-lo ou não, é toda sua. Somente estou lhe informando que ficarei aqui até que decida sair. E se eu perceber que és orgulhosa de um jeito que pode colocar sua vida em risco ao ponto de se recusar a sair até para comer, então partirei, pois como já disse hoje: nunca serei capaz de matá-la ou lhe infringir qualquer mal. Entretanto, até que isso não aconteça, ficarei aqui e não partirei até que me ouça. Mantenha isso em mente. — Tornou a ficar em silêncio.
Sentei-me no chão e colei minhas costas na porta. Um pequeno pedaço de madeira era o que nos separava, no entanto parecia que havia um oceano entre nós.
Loki estava certo, em algum momento, brevemente, eu teria de deixar o meu refúgio. Porém, naquele momento, decidi sabiamente que precisava ficar sozinha. Eu queira chorar, mas nem isso consegui. Queria me afogar em minhas lágrimas, mas já havia me afogado de outras maneiras.
Amaldiçoados sejam todos os homens egoísta. Espero que se afoguem e se engasguem com todas as palavras venenosas, assim como eu me afoguei. Maldito seja o deus da mentira, por quem um dia, desgostosamente, eu me apaixonei.
(CAPÍTULO SEM REVISÃO)
Postei e sai correndo... Tô muito ocupada esse final de ano, estou fazendo o melhor que posso. Tenham um pouco de paciência :)
Bjus Tia Lua
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