
76 - Confusa
Basta dizer a palavra, vamos enfrentar o mundo
Basta dizer que você está ferido, vamos enfrentar o pior
[...] Olhe nos meus olhos, eu nunca vou te abandonar, e
Basta dizer a palavra, vamos enfrentar o mundo.
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Quando eu vivia nas gélidas terras escandinavas, firmei um propósito comigo de que nunca dormiria junto de qualquer homem. Porém, quebrei tal promessa ao dormir ao lado de Loki, quando embarcamos na missão de devolver o corpo de Acme aos seus pais. Por isso não me importei em passar a noite com Cernunnos, dadas as circunstâncias, conceder-lhe a minha companhia era o mínimo que eu poderia fazer por ele, depois de tudo que perdera por minha causa.
No outro dia, assim que eu despertei, Cernunnos já havia deixado os lençóis, mas não deixara o quarto. O deus permanecia, em pé, ao lado da minha cama, completamente imóvel, observando-me com seus vividos olhos verdes. Ele estava despido de sua camisa, e a luminosidade do Sol que tocava a sua pele levemente dourada, fazia com que sua beleza tornasse resplandecente.
— Olá. — ele disse, com a voz um tanto grave. Um sorriso levemente torto ocupou seus lábios.
— Oi. — cumprimentei fracamente, ainda constrangida com a intensidade da intimidade com que me observava.
Embora eu estivesse trajando uma fina veste branca que cobria todo o meu corpo, quando me sentei sobre a cama, levei os lençóis junto de mim, pois por mais que estivéssemos dormidos juntos, não sabia ao certo como se encontrava o nosso estranho relacionamento, após a sua longa ausência. Cernunnos se afastara por muito tempo; tempo suficiente para que muita coisa ocorresse, entre elas um beijo que não saia da minha cabeça. Ainda pensava em Cáel, mesmo após a chegada de Cer, eu não conseguia afastar o guerreiro dos meus pensamentos. Mas no fundo, eu sabia que era apenas uma questão de tempo, até que eu minha ligação com Cernunnos fosse reestabelecida. Eu devia muito ao deus cornífero, inclusive a ele eu devia a minha lealdade, a qual não deveria ser corrompida por sentimentos amenos que poderiam facilmente ser podados.
— Eu gostaria muito de apreciar a dependências de Mag Mell em sua companhia. Acredito que ambos estamos carecendo de um pouco de diversão. — ele disse, sorrindo preguiçosamente.
Torci os lábios claramente contrariada com sua sugestão. Eu detestava Mag Mell, tanto quanto detestava o seu soberano que outrora me ameaçara.
— Pela sua expressão, creio que não apreciou a minha sugestão.
O deus sentou-se ao meu lado e forçou um sorriso, porém seus olhos entregaram a sua decepção.
— Eu sinto muito, Cer. — Segurei a sua mão que repousava sobre a cama. — Eu tentei fazer parte desta ilha, mas o modo de vida dessas pessoas não me agradou. Não sei se consigo viver em um lugar onde deuses controlam a vida de todos. Não julgo aqueles que escolheram viver aqui, mas estaria mentindo se dissesse que gosto de Mag Mell, porque eu não gosto. Meu coração anseia em partir para encontrar o meu verdadeiro lar. — expliquei, na esperança de que ele me compreendesse.
Cernnunnos sorriu, e daquela vez foi verdadeiro.
— Depois de tudo que viveu junto aos deuses nórdicos, não me admira que tenha resistência em habitar o mesmo mundo de qualquer deus. Será que és capaz de dividir o seu mundo comigo? — Cernunnos perguntou, inseguro.
— Meu mundo sempre estará aberto para você, mesmo se algum dia você não mais deseje fazer parte dele.
O deu suspirou aliviado. De alguma forma, ele me fazia pensar no futuro. Fazia com que eu acreditasse que tudo acabaria bem para nós. Ele era a esperança em que eu me ancorava. Eu queria que existisse um futuro onde houvesse um nós.
— Tão logo essa guerra acabar, eu te levarei para onde seu coração ordenar. Você será livre para viver a sua vida e eu sempre estarei ao seu lado para vê-la feliz.
Retribui suas palavras repletas de esperança, com um largo sorriso que refletia os sentimentos que se agitaram dentro de mim.
Cernnunnos, sorrindo, levantou-se da cama e acariciou meu rosto com o dorso da sua mão.
— Não insistirei para que aprecie Mag Mell junto de mim. Saber que estará aqui quando eu retornar, já me basta. Entretanto, tenho apenas um pedido a lhe fazer... Daqui a uma Lua haverá um baile de máscaras em antecipação ao Imbolc, ficaria muito feliz se você me acompanhasse. No mais, se for o seu desejo retornar a torre, eu não a impedirei. És livre para tomar as próprias escolhas, minha pequena. — Seus olhos verdes me fitaram como se nunca mais fôssemos nos ver.
Eu não gostava de bailes, principalmente aqueles que envolviam máscaras, pois tal evento fazia com que eu me lembrasse de Acme, bem como de Loki e todos os sentimentos que eu ainda tentava enterrar sob a minha pele. Mas, embora eu não apreciasse tais festejos, eu acompanharia Cernunnos, não poderia negar o seu pedido quando ele fez muito por mim.
— Eu irei ao baile contigo. — Forcei um sorriso que escondia todos os meus temores.
Cernunnos sorriu aliviado. Por alguma razão, ele temia que eu negasse ao seu pedido. Talvez ele ainda não soubesse o quanto era grata por tudo que fizera por mim.
— Sendo assim, a deixarei livre para que possa aproveitar o dia segundo a sua vontade. — ele disse, já se afastando.
Observei Cernunnos partir em direção a porta, mas antes dele sair por ela, eu chamei:
— Espere! — O deus meneou a cabeça de modo a me olhar — Passarei este e todos os demais dias contigo. Acho que consigo suportar Mag Mell por algum tempo.
Cernunnos abriu um sorriso radiante que me motivou, ainda mais, a prosseguir com aquilo que eu acabara de lhe informar.
Assim que ele deixou os aposentos, eu me enfiei em um leve vestido verde, arrumei meu cabelo em uma trança simples e parti ao seu encontro.
Naquele dia, Cernunnos nos levou a uma vasta exploração por Mag Mell. Confesso que me senti mal pela manhã, o que me levou a acreditar que ainda havia traços do veneno correndo por meu sangue. Porém, conforme o dia se estendera, eu — assim como meu humor — apresentei sinais de melhora. Não tardou para que eu percebesse que Cernunnos era muito adorado por todos. Por onde o deus passava, uma multidão se estendia para admira-lo e presenteá-lo com diversos objetos valiosos. As mulheres suspiravam alto quando ele passava por elas. Sua presença era tão imponente, que eu me tornara invisível ao seu lado. Ninguém sequer me notara. Ali, no meu daquela gente, apenas Cernunnos me via, e aquilo já me bastava.
Os outros dias que transcorreram enquanto eu estive com o deus cornífero, foram uma sucessão dos demais. Nós apenas tínhamos evitado a dormir juntos novamente. Sem que eu nada lhe dissesse, ele percebeu por minhas ações, que eu ainda não estava pronta para avançar em nosso estranho — e conturbado — relacionamento. Dessa forma, ele arranjara um macio colchão de feno, e se instalara na pequena saleta do outro lado da porta de seus aposentos no castelo de Manannán.
Lá pelo sexto dia em que estávamos juntos, comecei a notar uma sútil melhora nos incômodos matutinos que me batiam. Percebi que o veneno começará a se dissipar do meu corpo, as poções de ervas desintoxicantes finalmente começaram a fazer efeito. Estava feliz com aquela novidade, porém, aquela sensação de euforia se logo se desfez quando a voz abafada de Morrighan atravessou a porta fechada do quarto, chegando aos meus ouvidos.
— Você precisa contar a ela, Cer. Não poderá esconder esse segredo por muito mais tempo. O Beltane logo se aproxima e com ele tudo virá à tona. É melhor que ela saiba tudo pela sua boca e não por de outra pessoa. — a deusa advertiu, em tom de acusação.
Levantei-me da cama e a passos leve, e caminhei até a porta. Encostei minha orelha junto a madeira da porta tentando ouvir a conversa com mais clareza.
— Eu sei que preciso revelar esse segredo, Mor. Eu farei isso em breve. Não sei o que ela vai pensar de mim quando tudo vier à tona. Talvez ela jamais compreenda. — Soltou um pesado suspiro — Só queria que as coisas fossem diferentes. Mas infelizmente eu sou uma bagunça, não é? Nunca pensei que as escolhas tomadas há muito tempo, voltariam contra a mim.
— Cer... Tudo o que fazermos, seja algo bom ou ruim, volta três para nós. É a lei do retorno, é a lei da tríplice. Colhemos o que plantamos, e infelizmente, meu caro, você não tem semeado boas ações. — Ambos se calaram por algum tempo, então Morrighan completou: — Conte a ela, antes que seja tarde.
O mudo do silêncio tomou conta do ambiente e eu só conseguia pensar no que Cernunnos escondia de mim. Cogitei a possibilidade de escancarar aquela porta e confrontá-lo, porém, decidi lhe dar um voto de confiança. Afinal, ao que parecia, muito em breve todo aquele mistério chegaria ao fim.
Não muito tempo depois, eu ouvi ambos os deuses retomarem seus afazeres e prosseguir com conversas amenas. Eu já estava devidamente trajada com meu vestido em tão azul quanto o céu, quando adentrei o cômodo, capturando a atenção de Morrighan, que lançou seus peculiares olhos de tonalidade adversas em minha direção e exibiu um largo sorriso.
— Erieanna! — ela exclamou animada — É muito bom te ver.
Aproximei-me de ambos e encarei Cernunnos, tentando extrair da sua face qualquer indício de seus segredos. Todavia, eu nada encontrei nada, a não ser seus olhos verdes que brilharam ao me ver.
O deus caminhou até a mim, plantou um beijo suave em minha testa e logo anunciou:
— Tenho assuntos a resolver com Manannán. Deixarei você na companhia de Morrighan.
Analisei a expressão em seu rosto. Cernunnos era bom em esconder segredos, jamais saberia que ele mantinha informações ocultas de mim, se eu não tivesse ouvido aquela conversa.
— Tudo bem. — declarei com indiferença.
Tão logo o deus desvaneceu, deixando-me a sós com Morrighan que me estudava com demasiada cautela.
— Ótimo! — a deusa expressou satisfeita — Agora que ele se foi, posso prosseguir com os planos que tenho para você.
Morrighan, obstinada, caminhou até a pequena mesa que havia naquele cômodo, abriu um pergaminho que havia conjurado e o depositou sobre o móvel.
— Preciso das suas habilidades de guerreira. Você conhece os asgardianos melhor que qualquer pessoa. — ela declarou, com firmeza.
— Pensei que o plano era o de não me envolver nessa guerra. — rebati, sustentando um leve sorriso.
— Planos de outros, não os meus. Acho um desperdício te manter trancafiada nessa ilha, quando todos sabemos que você tem habilidade suficiente para lutar.
Morrighan me ganhou naquele momento. Nem todos os deuses eram detestáveis afinal.
Sentindo a euforia tomar conta de mim, caminhei até a deusa e fixei o meu olhar no mapa sobre a mesa.
— Em que posso ser útil?
A deusa da guerra abriu um amplo sorriso e começou a me interrogar:
— Diga-me sobre as Valquírias, como podemos derrotá-las?
Aquela era uma pergunta bem difícil. Conhecendo tais guerreiras como eu conhecia, sabia que os Celtas teriam muita dificuldade de enfrentar as guerreiras que eram comandadas por Freya.
— São guerreiras implacáveis, porém não são imortais. Terá de reunir um bom exército para enfrentá-las. Elas não usam magia, apenas espadas, machados e escudos. Nenhum guerreiro mortal pode derrotá-las. Deuses, talvez. A melhor forma de vencê-las é usando magia. Se os druidas soubessem lutar, eles seriam implacáveis contra elas.
Morrighan arqueou a sua sobrancelha negra ao indagar:
— Druidas guerreiros? Por que tens tanta certeza disso?
— Porque uma parte de mim é druida e a outra é guerreira. Saber usar espada, bem como a magia, são habilidades únicas que me fizeram ser uma combatente ímpar. Druidas guerreiros seriam um trunfo no seu exército.
A deusa analisou meu argumento, lançou um olhar para o mapa a sua frente, depois disse:
— Posso providenciar isso. Ordenarei que todos os druidas sejam instruídos na arte da guerra. Temos pouco tempo para treiná-los, mas qualquer vantagem conta. — Ela soltou um pesado suspiro. Soube naquele momento, que a guerra não ia bem para o nosso lado.
— Sei que existe um equilíbrio a ser respeitado, porém é preciso tomar cuidado com os corvos. Odin tem dois deles como espiões. Isole toda a área, não deixe que nenhum desses pássaros chegue perto demais. Qualquer um deles pode ser o espião de Odin. — adverti, pois sabia que o deus supremo de Asgard estava nos vigiando com seus malditos animais.
— Estou ciente disso. A primeira vez que me deparei com Odin, eu estava transformada em um corvo. O deus sequer desconfiou que havia uma deusa o espionando através dos olhos amarelos de uma ave. Quando finalmente descobriu que eu não era um de seus pássaros, já era tarde, eu já tinha todos os seus segredos. — Morrighan exibiu um sorriso de satisfação.
Eu não imaginava que ela conhecia Odin, mas tinha certeza que havia muito mais naquela história, além do relato bem resumido que ela me contará. Ambos eram deuses da guerra, ambos eram espertos demais para deixar aquela trama sem uma conclusão.
— E o que aconteceu depois disso? Creio que Odin não permitiu que saísse impune. Não depois que você lhe extraiu os seus segredos. — indaguei, curiosa.
Morrighan gargalhou alto.
— Essa é uma longa história, Eri. Digamos que eu e Odin temos algumas pendências a acertar. — Seu olhar se tornou vago. Um brilho desconhecido tomou conta de seus peculiares olhos, quando eles se fixaram em mim. — Às vezes nossos erros voltam para nos assombrar. Nenhum passado pode ser enterrado. Odin e eu temos uma história que ainda não foi findada. Acredito que essa guerra seja o nosso fim. — proferiu, tristemente.
Morrighan era uma deusa destemida, mas antes de ser uma deusa, ela era uma mulher que certamente amou quem não deveria amar.
Fiquei em silêncio, pois não sabia o que dizer. Minha história não era tão diferente da dela, também amei um asgardianos que não merecia o meu coração. Aquela era um fardo que ambas carregávamos. Algumas histórias apenas não tinham um bom final.
— Enfim — Ela suspiro recobrando a compostura — Também temos que lidar com Loki, aquele maldito deus trapaceiro! Meus contatos informaram que ele rompeu um noivado com a Freya e desapareceu como fumaça ao vento. Ninguém tem notícias dele em nenhum dos nove reinos da Yggdrasil, tampouco não sabemos se tal deus está infiltrado entre nós. Maldito mestre dos disfarces. — praguejou, espalmando as mãos na mesa, fazendo o chão estremecer.
Por um momento, o mundo parou. Loki não havia se casado com Freya. Eu não sabia o que aquilo significava, fazia um bom tempo que eu não tinha notícias dele. Estava tentando esquecê-lo, porém aquela informação trouxe à tona uma avalanche de emoções e sentimentos que tentaram me soterrar.
Senti minhas pernas fraquejarem e com as mãos trêmulas, puxei a cadeira e sentei-me, tentando respirar. Tentando organizar meus pensamentos; tentando impedir que meus sentimentos conturbados me sufocassem,
— Erieanna, você está bem? — Mor, indagou preocupada.
As lágrimas vieram com toda a força. Senti um caroço subir em minha garganta e quase me engasgar. Com muito esforço, engoli o choro e controlei minhas emoções. Eu não choraria por Loki, já havia derramado lágrimas demais por tal deus.
Respirei fundo e cravei meu olhar em Morrighan quando declarei:
— Eu não sei onde Loki pode estar, mas tenho certeza que ele está morto para mim. — Trinquei o maxilar com força. Eu odiava o deus da mentira que continuava a me perseguir.
Morrighan segurou minhas mãos nas suas.
— Imagino que Cernunnos não sabe do seu passado com Loki, não é? — questionou, em um misto de preocupação e pena.
— Ele não é o único a esconder segredos. Embora eu ache que exista segredos demais entre nós. — respondi, olhando fixamente para um canto qualquer daquele cômodo.
— Segredos são os monstros que criamos para nos engolir. Quanto mais os escondemos, mais eles crescem. Quanto mais crescem, mais difíceis se torna escondê-los. Cedo ou tarde você tem que decidir: vai acabar com o monstro ou vai continuar o alimentando? A decisão só cabe a você. — proferiu, ela, e eu não soube dizer se estava falando para mim ou para si própria.
— Talvez Cernunnos decida por mim. — disparei, sugerido que eu havia ouvido a conversa.
Morrighan suspirou e ocupou a cadeirinha a minha frente.
— Então você ouviu a conversa?
— Sim. — confidenciei, sem peso na consciência.
— Não cabe a mim revelar segredos que não me pertencem. Mas logo eles virão à tona. Disso eu tenho certeza. — assegurou, fixando seu olhar em mim.
— Não importa o que seja. Estou presa aqui. Terei de lidar com isso, não importe o quanto possa me machucar. — rebati com frieza.
Morrighan me lançou um olhar cheio de tristeza.
— Ao menos, minha querida, eu posso lhe garantir que Loki não está aqui e nunca estará. Mag Mell é o lugar mais seguro dos nossos reinos, nenhum deus de qualquer outro panteão sabe a localização. Acho que essa é uma boa notícia.
Exibi um fraco sorriso. Aquilo era um mero conforto afinal.
— Com certeza é. — afirmei, dissipando aquele mau agouro que me abateu.
Morrighan levantou-se e arrumou as vestes negras em seu corpo tonificado.
— Tenho que ir. Há outros assuntos que devo tratar nessa ilha. — Ela enrolou o mapa de Asgard que estava sobre a mesa. — Seguirei os seus conselhos, Erieanna. Muito em breve virei atrás de mais.
— Estou ao seu dispor.
Morrighan acenou com a cabeça e em seguida desvaneceu, deixando-me sozinha naquele quarto, com todos os segredos que haviam em suas paredes.
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Aquele dia foi um tanto tumultuado. Eles haviam começado com os segredos de Cernunnos, seguiram com as revelações de Morrighan e no final, recebi uma visita inesperada.
Era final do dia, pela janela podia se ver o crepúsculo alaranjado do céu diurno cedendo o seu posto para a noite. Eu estava deitava em minha cama, olhando fixamente para o teto sobre a minha cabeça, remoendo toda a conversa que tive com a deusa da guerra, quando escutei suaves batidas em minha porta.
Pensei em ignorar, até fiquei em silêncio. Todavia, uma voz conhecida soou do outro lado do corredor.
— Erieanna, você está aí?
Era Cáel quem estava a minha procura. Fazia um tempo que não nos víamos. Meu coração disparou em meu peito. Naquele momento percebi que eu sentia a sua falta.
Levantei-me em um sobressalto e corri até a porta. Quando meus olhos encontraram os seus, senti uma estranha sensação de alívio tomar conta de mim.
— O que você está fazendo aqui? — perguntei, puxando o guerreiro para dentro do quarto e fechando a porta logo em seguida.
— Eu precisava te ver. Não tive notícias suas. Queria me assegurar que está bem. — Seu olhar me analisou com muita atenção, a procura de qualquer indicação de algo errado.
— Eu estou bem. — assegurei.
Cáel lançou um olhar para o teto e depois começou a andar de um lado para outro daquele cômodo. Ele estava com seus velhos trajes de combate. Sua espada estava presa na bainha da sua cintura. Ela não parecia bem, havia sinais de cansaço em sua face.
— As coisas estão estranhas, Erieanna. Tem algo esquisito no ar. Os deuses estão tramando algo e deixaram todos os guerreiros, bem como os mortais de fora. Estou tentando descobrir o que é, mas ainda não obtive resposta. — Cáel estava preocupado. Havia olheiras ao redor dos seus olhos.
— E as meninas, estão bem? Estão seguras?
— Sim, estão. Geróid prossegue com os treinamentos. Acho que em breve elas terão de deixar Mag Mell.
Suspirei aliviada.
Um silencio incomodo abateu sobre nós. Tínhamos tanto a dizer uma para o outro, mas estranhamente, as palavras não nos encontram. Então ficamos lá, parados no meio daquele quarto, nos encarando sem saber ao certo como agir.
— Você irá ao Baile de Máscara? — questionou, depois de algum tempo.
— Sim. — respondi um tanto reticente.
— Suponho que vai com Cernunnos. — disparou, trincando o maxilar, nitidamente contrariado.
— E com quem mais eu iria? — meu tom de voz saiu mais ríspido do que eu desejava.
— Não com um guarda, certamente. — murmurou, baixando o olhar para o chão.
Aquilo era ciúmes. Cáel estava com ciúmes do Cernunnos, era uma indicação de que ele nutria sentimentos por mim, o que não era nada bom. Não quando havia em poderoso deus entre nós. Um deus com o qual eu tinha uma dívida inestimável. Um deus que também habitava meus pensamentos, assim como o guerreiro a minha frente, vez ou outra me tirava do eixo.
— Você está abatida. — Cáel pontuou, um tanto preocupado. — Tem certeza que está bem?
Respirei fundo, antes de lançar meus ombros para frente, completamente resignada.
— Acho que alguém está me envenenado. Há dias que não me sinto muito bem. Não parece ser letal. Ainda assim, está consumindo todas as minhas energias. — confidenciei, sem saber a razão que me levaram a confiar naquele guerreiro.
Cáel arregalou seus olhos cor de terra e, inesperadamente, levou-me junto de seus braços. Senti a fragrância familiar de seu corpo quente invadir as minhas narinas, trazendo de volta lembranças de um beijo que eu jamais consegui esquecer. Seu coração batia forte sob o seu peito. Eu gostava de estar ali, envolvida em seus braços.
— Se o que me diz é verdade, vou descobrir quem é o responsável. Prometo a você, Erieanna. Não deixarei que ninguém lhe faça mal. Enfrentarei quem quer que seja por você. Te dou a minha palavra. — declarou, com determinação, ainda me mantendo em seu abraço apertado.
— Você está se arriscando demais por uma simples mortal. — adverti, tentando pôr um pouco de juízo na sua cabeça.
Cáel soltou um riso alto. Ele se afastou sutilmente para me encarar.
— Uma simples mortal que fez dois panteões dos deuses iniciarem uma guerra. Acho que ambos concordamos que de simples você não tem nada. — Havia um sorriso provocativo desenhado em seus lábios.
— Você tem razão. Eu não sou uma simples mortal. Talvez eu seja o caos em pessoa. Só levo desordem por onde passo. — resmunguei, impaciente. Cáel não deveria agir daquela forma, ele estava me deixando confusa.
— Eu posso lidar com a sua bagunça, posso lidar com seus medos. Maldição, também posso entrar e guerra por você. — Seu olhar intenso se prendeu no meu.
Aquilo tinha ido longe demais. O guarda realmente havia me deixado sem palavras.
Por sorte escutamos movimentações do outro lado do corredor.
Com uma curta reverência, Cáel segurou minha mão e a beijou.
— Nos vemos no baile, Erieanna. — proferiu como uma promessa.
Tão logo ele se foi. Deixando para trás um mar de dúvidas em minha cabeça.
Maldição! Aquilo não acabaria bem.
(CAPÍTULO SEM REVISÃO)
Olá gente, quanto tempo!
Mas voltei!!!
Primeiramente, Feliz Aniversário para mim!!! Isso mesmo. Em 21.08.1991, nascia essa autora e todos os seus sonhos.
29 primaveras, quem diria?
É o seguinte: final de semestre, correria, último ano da faculdade, não estou tendo tempo nem para comer.
Vou pedir mais uma vez... por favor, tenham paciência comigo. Esse semestre será o mais importante da minha vida nafa
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