👑 ONE 👑
O enorme jardim do castelo estava repleto de flores desabrochadas; tantas cores misturadas que era difícil nomear ou contá-las. Era fim de primavera em Aesther, o reino do Rei Alexandre III, O Guerreiro.
A movimentação no jardim real naquela manhã fresca era grande. Várias mulheres, com suas crianças ao encalço, colhiam as flores com esmero e montavam-nas em lindos arranjos e buquês. O solstício de verão se aproximava, e dali a dois dias haveria o desfile de comemoração na cidade, para onde todas aquelas flores seriam levadas.
O rei era um homem prudente e realista, que comandava seu reino a punhos de ferro e espada. Desde sua acensão, nove anos antes, seu reino nunca havia caído em miséria ao comanda-ló com sabedoria. O destaque entre o povo Astheriano, porém, era sua esposa, a amada e aclamada Rainha Tália. A mulher era sem dúvida a própria prosperidade em pessoa.
Naquela manhã as mulheres que transitavam pelos pátios e jardins podiam vê-lá caminhando com graciosidade pelo castelo e arredores, com a grande barriga de grávida e seu filho menor brincando nas dobras de seu vestido. A mulher de voz mansa e sorriso simpático não fazia distinção de ninguém e cumprimentava a todos com igual graciosidade. Fora ela quem havia colocado as mulheres como principais trabalhadoras na colheita das flores. Ela sabia como era se sentir importante perante a alguma tarefa, e por isso teve a ideia de colocá-las ali juntamente com seus filhos pequenos que corriam livres pelos canteiros. Colher flores não era um serviço pesado, e com todo aquele perfume era ainda mais agradável.
O filho da rainha, o primogênito com apenas oito anos, seguia todos os passos de sua mãe. Era gentil e atencioso com todos no castelo, um garoto de brilhante futuro, que seria um rei exemplar quando assumisse no lugar de seu pai. A rainha tinha orgulho de ter algo tão nobre e puro ao seu lado para chamar de filho e lhe amar incondicionalmente.
O garoto pulava e rodava aos seus pés enquanto ela avaliava o andamento da colheita nos jardins, sempre falando de algum novo inseto que viu pelas redondezas, ou contando como estava ficando bom no treino com as espadas; sempre tinha assunto e fôlego para contar a mãe suas aventuras e fase-lá sorrir.
Aquela manhã ele estava livre dos seus afazeres reais e pode passear com a mãe. Todos os anos ele repetiam aquele pequeno ritual de sair na manhã ensolarada e assistir a colheita no jardim maior do castelo. O garotinho adorava sentir o perfume das flores e ver o brilho no olhar de sua mãe enquanto ela parava e conversava com alguma das mulheres. Varias outras crianças corriam por ali, pulando e gritando em meio a alguma brincadeira, nenhuma delas porém lhe dava atenção. Ele já estava acostumado, era o príncipe herdeiro, e as pessoas insistiam em tratá-lo como uma divindade que não se podia ser tocada. Mas mesmo assim ele ficava feliz em ver outras crianças da idade dele se divertindo no jardim de sua casa.
Ele estava ansioso para o nascimento de seu irmão, que estava mais breve a cada dia. O garoto já sonhava em conhecer seu irmão, ou irmã, pois ele finalmente não seria mais sozinho naquele enorme castelo. Finalmente teria alguém para brincar com ele, para que ele pudesse ensinar a lutar com espadas de madeira, para que ele pudesse mostrar seu novo inseto que achou em algum lugar do palácio. A solidão não existiria mais.
Conforme mais andavam no jardim, mais crianças surgiam. Elas corriam por perto dos arbustos e jogavam-se no chão quando cansadas. Mas nenhuma delas chegava perto demais do jovem príncipe. E ele estava conformado que não teria amigos além de sua mãe e as camareiras do castelo.
— Muito em breve você terá seu irmãozinho, querido, não se preocupe. Vocês serão inseparáveis, eu prometo — sua mãe disse ao ver a tristeza mal escondida do pequeno. Ele apenas assentiu e segurou novamente o vestido dela.
Mais à frente uma mulher de pele alva se escondia debaixo de um chapel de palha grande demais para sua cabeça. Em seus braços, um tímido buquê frouxo e malfeito pendia de modo desleixado. A rainha notou algo de estranho na mulher, pois se aproximou com rapidez e pediu para que seu filho a esperasse um pouco afastado.
O garoto protestou em ser deixado sozinho, mas não desobedeceu á mãe e ficou para trás. Ao seu lado um canteiro de margaridas exalava perfume, então ele se pôs a andar ao redor à procura de algum inseto novo e interessante. Aparentemente sua mãe demoraria, já que puxou a mulher para sentarem em um dos muitos bancos espalhados pelos jardim. Ele podia voltar para dentro procurar outra coisa pra fazer; talvez convencer seu seu tio a treinar com ele, ou talvez pedir para o concelheiro lhe contar alguma história. Mas um movimento nos ramos das flores lhe chamou a atenção.
Os pensamentos de sair dali foram embora quando o príncipe percebeu que havia algo naqueles arbustos. Um coelho talvez, e choramingou pro não estar com seu arco e flecha para afugentar o animal. Em silêncio e com passos leves o garoto foi se aproximando dos galhos verdes afim de ver melhor, mas então um grito agudo foi emitido e o fez se assustar quando algo pulou do canteiro caindo diretamente em si. Foi rápido e quando deu por si já estava no chão com algo mais pesado que um coelho sobre ele, e seu braço dolorido em ponto específico.
Não era bicho nenhum o que pulou dos arbustos, era apenas um garoto que aparentava ter sua idade. O garoto era branco como neve e delicadas manchinhas pretas se espalhavam por seu rosto e braços, os olhos claros como mel estavam úmidos de choro e ele resmungava enquanto tentava desajeitadamente levantar de cima do outro pobre garoto ao qual lhe serviu de amortecedor.
— Mas o que você está fazendo? — o príncipe questionou irritado. Além de ter ficado sujo havia machucado o braço na queda.
— M-me desculpe — o outro garoto pediu com a voz trêmula — é que eu vi um bicho terrível ali em baixo. Ele queria me pegar.
— Bicho? Que bicho? — questionou o príncipe enquanto abanava a poeira da roupa e avaliava o machucado no braço, apenas um arranhão, nada que ele nunca teve em algum treino.
— Eu não sei! Era feio e preto e peludo. Varias pernas esquisitas — o garoto disse e o príncipe soube na hora o que era o tal bicho.
Com um revirar de olhos exagerado o filho do rei se aproximou do canteiro e com jeito adentrou em meio aos galhos em busca do tal bicho terrível, que na realidade se tratava de uma aranha. Com cuidado ao qual o concelheiro lhe ensinou, o garoto pegou o aracnídeo na mão e o retirou do mato, vendo o menino soltar outro grito exagerado e correr para longe. O príncipe o viu se aproximar de onde sua mãe estava e se jogar nos braços da outra mulher, que deveria ser a mãe dele. Ele caminhou lentamente até eles, com a grande aranha andando por seus dedos, vendo o outro menino se esconder atrás da mãe com medo do bichinho na mão do príncipe.
— Derek, querido, eu já lhe disse para não pegar esses bichos que não conhece — a rainha repreendeu seu filho, que murmurou um pedido de desculpas mas não soltou o bicho.
As mulheres engataram em uma conversa sobre seus filhos e como era difícil pará-los naquela idade. O pequeno Derek apenas ignorava o falatório da mãe e brincava com a aranha como se fosse a coisa mais interessante do mundo. O outro garoto não se aproximou, com medo do que aquela criatura poderia fazer, continuava escondido entre a roupa da mãe.
— Ela não faz mau — o príncipe diz ao outro garotinho — não se pega-lá do jeito certo.
O menino se viu curioso depois das palavras do príncipe, e se aproximou timidamente, ainda mantendo uma distância segura do animal desconhecido.
— Você quer pegar? Eu te ensino — sugeriu o filho da rainha.
— Eca, não! Deixa essa coisa longe de mim.
Derek fez menção a jogar o animal no menino, que se assustou e caiu de bunda no chão, reclamando de dor. O menino se apressou então a soltar a aranha em uma flor próxima e ajudou o menino a levantar.
— Derek! — sua mãe brigou consigo e as duas se aproximaram para ver se estava tudo bem — eu já lhe disse mil vezes para não assustar os outros com esses seus insetos. Não é todo mundo que gosta disso. Me desculpe Claudia, tenho certeza que não era a intenção dele machucar seu menino — a rainha pediu a outra mulher.
— Está tudo bem, meu filho que é medroso demais e se assusta fácil — a mulher disse, e o príncipe percebeu que ela não estava bem, sua voz era baixa e pouco suave. Talvez estivesse doente, e isso explicaria a palidez excessiva, mas ele perguntaria a mãe depois.
— Estamos quites agora — Derek diz e levanta o braço mostrando aos outros o arranhado no cotovelo que minava um pouco de sangue. O outro garoto sorriu.
— Vamos entrar agora — Tália informou — e você vem comigo, nem adianta protestar — ela diz para a outra mulher que sorri fraco e assente.
Os quatro então voltam a caminhar pelo jardim em direção ao castelo; as duas mulheres mais à frente e os dois garotinhos chutando pedrinhas atrás.
— Você é o príncipe, não é? — o menino perguntou depois de um tempo.
— Sim. Príncipe Derek — o menino esticou a mão em cumprimento, assim como via os adultos fazerem.
— Eu sou Stimalsk — o outro menino diz e o comprimenta com a mão direita — Não sou príncipe nem nada, sou só eu.
— Que nome mais estranho — o príncipe diz fazendo careta.
— É, minha mãe disse que foi meu pai que escolheu, e ele estava meio bêbado no dia — ele diz fazendo o príncipe rir divertido — Mas minha mãe me chama de Stiles. Você também pode me chamar assim se quiser.
Derek assentiu sorrindo. Era a primeira vez que ele interagia tanto com outro garoto de sua idade. Geralmente as únicas pessoas que se aproximam são trabalhadores do castelo. Seus treinos e aulas são feitos com seu tio Peter que é apenas alguns anos mais velho e com o concelheiro real Alan Deaton. As outras crianças mantinham distância e o olhavam de rabo de olho quando passava. Mas aquele garoto mesmo sabendo quem ele era não se importou de o tratar normalmente. E Derek gostou dele, sentia que poderiam ter uma amizade.
Dois meses depois chegaram os dias sombrios. O jardim real havia perdido uma de suas flores. A mulher de outrora, Claudia, mãe do menino Stiles, havia morrido depois de sofrer por uma doença desconhecida que ninguém pôde ajudar.
Depois daquele dia animado da colheita a rainha com sua benevolência infinita havia acolhido a mulher e seu pequeno filho no castelo; eram apenas eles dois, e a mulher caia mais doente a cada dia, e no castelo ela teria auxílio dos curandeiros e sábios da família real. Os pequenos garotos se beneficiaram com esse novo sistema; Derek mostrou com animação todos os cantos do palácio para seu novo amigo que sempre via tudo com extrema curiosidade, e desde então os dois brigavam e se divertiam na mesma intensidade. Até, claro, o dia triste da despedida da mulher.
O dia estava ensolarado e alegre com o canto dos pássaros, nem parecia calhar com o clima pesaroso que emanava do castelo, parecia ser um dia sombrio, principalmente para o pequeno garoto que havia ficado sozinho no mundo após a mãe que era a única parente viva.
Porém a tristeza que parecia ser infinita havia sido amenizada no dia seguinte, com a graça do nascimento de mais um herdeiro do Grande Rei. Contra as expectativas de Derek e Stiles, porém, era uma menina que havia chegado, ao qual ganhou o nome de Cora, que significava donzela, que era o que ela seria futuramente. Uma linda donzela que iluminaria os dias sombrios deles.
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Hello!
Primeiro capítulo de Royals liberado com sucesso..🌝
Digam o que acharam.. seu feedback é muito importante..
E até a próxima.. 😘
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