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"Por ser daqui, conheço as frases e as pausas
Entendo todas as piadas
Sei distinguir um pôr do Sol de uma alvorada
Dia de chuva sei prever"

INTERIOR  
- 5 a seco


Era indescritível o prazer que Caroline estava sentindo por regressar à pequena vila de pescadores onde havia morado durante grande parte da sua vida ao lado dos avós maternos. Composto majoritariamente por rostos conhecidos que a viram crescer, o ambiente singelo de cultura rica, culinária marcante e natureza formidável aquecia o coração da jovem mulher, lhe passando sentimentos de segurança e aconchego.

Muitas pessoas, incluindo a própria mãe de Caroline, chamaram seu ato de retrocesso. Que ela deveria abrir mão da casa herdada dos avós, permitir a venda do terreno para a grande corporação e aplicar o dinheiro em algo que desse futuro. Que sua vida já era medíocre o suficiente sem ter voltado às raízes caiçaras graças a sua escolha de faculdade, não precisava afunda-la mais ainda. Entretanto, para a jovem, regressar a vila Toré possuía um significado gigantesco.

Diferente do que as pessoas inconvenientes diziam, Caroline não enxergava o seu retorno para o lugar de infância como um retrocesso, mas como um recomeço. Ela não estava simplesmente voltando às suas raízes, ela estava regressando para casa, para o local onde pertencia verdadeiramente e que jamais deveria ter saído.

A viagem de ônibus de sua cidade interiorana do estado de São Paulo até o Rio de Janeiro havia demorado um pouco mais de sete horas. A escolha do transporte terreno ao invés do aéreo e suas comodidades dava-se pelo preço alto da passagem, ao colocar na ponta do lápis as despesas, pegar um avião acabaria saindo quase o triplo do preço do transporte público interestadual. Como seguia desempregada, todo pequeno tostão que pudesse economizar era bem-vindo.

Quando o ônibus estacionou no terminal rodoviário, Caroline foi uma das primeiras passageiras a deixar o transporte. Mesmo estando extremamente cansada devido às longas horas na estrada, ela possuía o brilho no olhar e um sorriso aliviado estampado na face.

— Menininha! — Caroline alargou o sorriso quando ouviu a voz conhecida de seu padrinho no meio do mar de gente que passava por ali. Fazia muito tempo que não escutava alguém chamá-la de menininha, desde que ela, de fato, fora uma menininha.

— Seu Ciço! — Comemorou a jovem mulher enquanto arrastava a mala de rodinhas com o que havia sobrado de suas roupas. A maior parte de sua mudança foi trazida para o Rio por um conhecido da comunidade que possuía caminhão baú e fretava o mesmo para esses fins, deixando para trás apenas algumas mudas de roupas e a própria "nova inquilina" da comunidade. — Eu disse que não precisava se preocupar comigo. — Utilizando da mão livre, ela o abraçou com força — Pegaria um uber.

— Ele insistiu que queria ser o primeiro a te dar boas-vindas — Falou João, o único filho de seu padrinho e a última pessoa que Caroline desejava ver na sua frente. O homem era um dos motivos que a traziam de volta para o Rio de Janeiro, ele vinha movimentando os membros da comunidade caiçara numa tentativa de abrir mão de suas terras e aceitar a proposta de venda. Mesmo irritada com o homem, ela o cumprimentou com um abraço rápido e dois beijos na bochecha. — Como foi a viagem?

— Muito cansativa, não vejo a hora de chegar em casa, tomar um bom banho e dormir — Disse Caroline seguindo os homens para o local onde estacionaram o carro — Estou quase vinte e quatro horas acordada.

— Tudo isso era preocupação, menininha? — Perguntou seu Ciço sorrindo gentilmente para a afilhada.

— Nada, padrinho! — Ela gesticulou para ele ignorar suas teorias sobre estar preocupada — Ansiedade mesmo. Estava contando as horas para retornar, é como se a vila Toré chamasse por mim. Quase vim a pé de São Paulo até aqui.

— Só você e meu pai para se apegarem aquele fim de mundo — Disse João quase num sussurro e fazendo caretas.

— João! — Caroline o chamou de modo sério, estando visivelmente descontente com o comentário — Acabei de chegar, não vamos discutir novamente.

— Só comentei — Rebateu o rapaz.

— E ninguém pediu sua opinião — Disse Caroline arqueando as sobrancelhas e curvando os lábios.

— Não vamos discutir! — Ordenou seu Ciço de modo sereno, lançando um olhar sério para o filho e alargando o sorriso ao virar na direção da afilhada — Hoje é um dia feliz, a menininha voltou para nossas vidas. — Gentilmente ele apertou o antebraço de Caroline — Temos que comemorar.

— E dessa vez pretendo ficar por muito tempo — Disse Caroline sorrindo sem mostrar os dentes. Ao ouvir o comentário, João balançou a cabeça negativamente e revirou os olhos desgostoso. — Já enviei alguns currículos online e assim que abrir o período de inscrições do estado vou tentar pegar algumas substituições.

— Desde quando você gosta de dar aula? — Perguntou João surpreso com os planos de Caroline. Mesmo estando brigado com ela, já haviam conversado muitas vezes em épocas passadas e que pareciam distantes agora, conhecia o desgosto de Caroline pelas salas de aula e suas inseguranças sobre não conseguir manter a ordem dentro do ambiente escolar.

— Eu não gosto. Mas não posso ficar parada para sempre — Disse Caroline movendo os ombros com desdém — Mas isso vai ser em último caso, ainda tenho minhas economias. Enfim, não pretendo pensar nisso agora.

— As coisas vão se ajeitar, menininha. Você vai ver — As palavras de Seu Ciço serviram de esperança para Caroline, passando a segurança que precisava para essa nova etapa. Pelo menos no Rio de Janeiro ela teria pessoas com quem poderia contar verdadeiramente.

Quase três anos haviam passado desde a última visita de Caroline para a vila Toré, no fundo sentia-se levemente envergonhada por todos os anos distantes contando somente com ligações esporádicas ao padrinho e mensagens instantâneas trocadas com a melhor amiga de infância quando ambas estavam online ao mesmo tempo.

Era doloroso para Caroline visitar a Vila sem a presença dos seus avós dentro da casa onde cresceu. Recordava dos dias de glória, de que qualquer evento bom que acontecia na semana era motivo dos avós prepararem uma festa. Eles chamavam todos os moradores do lugar para qual fosse a comemoração, sua avó preparava os famosos bolinhos de peixe, os quais eram segredo de família, enquanto seu avô tocava viola com os amigos de longa data após terem passado o dia pescando. Voltar para a Vila Toré sem a alegria de ambos dentro do lar é aceitar que eles foram para sempre e que jamais irão regressar.

Entretanto, o mesmo motivo que a afastou da Vila durante esses três anos que esteve de luto, era o mesmo que a obrigava a voltar. Ela não podia abrir mão de todas as coisas que seus avós lutaram para construir, eles eram apegados aquelas terras e, principalmente, aquela casa, a qual estava na família a gerações. Seus avós jamais iriam permitir a venda sem uma boa luta e ela, como única neta deles, era responsável por manter viva o patrimônio e realizar o único desejo que possuíam. Agora ela era a responsável por proteger aquelas terras e suas memórias.

— Está quieta. — Comentou João quando o silêncio caiu dentro do automóvel depois do pai ter narrado sobre todos os moradores da Vila, contando quais estavam mortos, aqueles que foram obrigados a se mudar por problemas de saúde e os que levavam a mesma vida desde que Caroline se entende por gente. — Está bem, Carol?

— Só cansada — Disse Caroline sorrindo sem mostrar os dentes.

— Já estamos chegando, vai poder descansar — Disse seu Ciço olhando para a mulher no banco de trás.

— Isso se a Fabiana deixar — Disse João sorrindo animado ao citar a noiva e única amiga que Caroline possuía — Ela tem falado bastante da sua volta.

— Conversamos bastante nos últimos dias. Ela que avisou sobre minha chegada, não foi? — Falou Caroline sorrindo doce — Aliás, parabéns pelo noivado!

— Obrigado — Agradeceu João alargando o sorriso. — Foi, ela disse que conversaram na última parada. Meu pai ficou olhando no relógio depois que ela avisou que já estava no estado.

— E chegamos bem a tempo — Disse seu Ciço orgulhoso — Junto com a Carolzinha..

— Nem sei como agradecer, de verdade! — Caroline levou a mão no coração e sorriu grata para os conhecidos no banco dianteiro — A última coisa que queria era dar trabalho para vocês.

— Imagine, Carol! — João franziu o cenho e balançou a cabeça negativamente. — Não é trabalho nenhum. Além de que é perigoso você andar sozinha por aí, toda pititica.

— Uau! Nem parece que quase nos matamos por telefone — Zombou Caroline esticando as pernas no banco — Mas, falando sério, obrigada!

— Acho que é assim que consiste amizade entre irmãos — Rebateu João risonho.

Um nó se formou dentro da garganta de Caroline ao ser surpreendida pela palavra "irmãos", aquela era a primeira vez que João falava em voz alta o nível de consideração que possuía por ela, demonstrando que o sentimento não era uma via de mão única. Mesmo que tenham discutido terrivelmente por telefone devido às visões distintas que possuem relacionadas ao futuro da Vila Toré, ela sentia amor fraternal pelo filho do padrinho graças à criação unida que tiveram.

Os dois cresceram lado a lado dentro da comunidade ribeirinha. João costumava protegê-la dos perigos, o que incluía afastar alguns pretendentes dizendo que Carol era muito nova para namorar e brigando com os amigos que ousavam fazer algum comentário maldoso relacionado a menina, ele também possuía o péssimo costume de entregar a menina para os avós ou para o próprio pai, principalmente quando ela insistia em tentar entrar na floresta que cerca a comunidade com o plano de comprovar a existência das entidades folclóricas citadas por seu Ciço.

Engolindo em seco, ela virou a cabeça na direção da janela lateral e cobriu a boca com a palma da mão enquanto apoiava o cotovelo no puxador da porta. Notando que as lágrimas estavam prestes a escapar como cachoeira por seus olhos castanhos, tratou de pensar em outra coisa enquanto apertava a mão contra o rosto. Não queria que os anfitriões percebessem que continuava uma pessoa sensível e coracional, traços de personalidade que sua mãe repudiava e vivia criticando.

Um sorriso aliviado voltou a marcar presença sobre a face doce de Caroline de acordo com o afastamento da região metropolitana e aproximação da Vila Toré. Apesar dos anos que passou distante e do crescimento urbano, a paisagem estava quase intocável e suas poucas mudanças não interferem de modo abrupto nas memórias que a jovem mulher possuía.

— Meu Deus, isso aqui não mudou nada! — Comentou Caroline quando João estacionou o carro na frente da casa dos seus avós.

— Carol! — Gritou Fabiana correndo na direção de Caroline e a puxando em um abraço longo e demorado, impedindo que a melhor amiga conseguisse vislumbrar os detalhes da Vila. — Como estou feliz por você ter voltado.

— Também estou — Assentiu Caroline retribuindo o abraço com a mesma intensidade — Senti muita falta daqui, de vocês.

— Venha! Tomei a liberdade de arrumar algumas coisinhas, espero que não fique incomodada — Disse Fabiana puxando Caroline pela mão enquanto a levava para dentro da casa que um dia havia pertencido aos seus avós.

— A minha mala... — Carol começou a falar, mas foi interrompida pela amiga empolgada.

— O João trás! — Gritou Fabiana ao noivo, o qual revirou os olhos e riu fraco enquanto descia a única bolsa de viagem que Caroline havia trazido do porta-malas. Ele estava achando divertido a empolgação da noiva com o regresso da garota.

Quando passou com Fabiana pelo portão, a primeira coisa que Caroline notou ao redor da casa foi o matagal. O que antes era o jardim mais belo e bem cuidado que a mulher havia visto em vida, agora estava ocupado com mato grosso na altura de sua cintura e que, com toda certeza, deve ter sufocado as roseiras e outras flores que sua avó cuidava com esmero. A primeira coisa que ela colocou em sua lista mental de afazeres foi "cuidar do jardim", honraria a memória de sua avó voltando a dar vida para aquela parte do quintal e aproveitaria para montar uma hortinha particular, assim teria vegetais e temperos frescos sempre que ela ou os vizinhos quisessem.

Após a curta caminhada pela única parte carpinada do jardim, elas chegaram na entrada da casa. Como ocorreu com o mato do jardim, a unha-de-gato também havia crescido mais do que necessário, atravessando o meio muro da fachada e ocupando toda parede que um dia fora branca da sacada. O chão de caquinhos laranja ainda estava úmido por conta da limpeza feita para recepção da melhor amiga.

Foi impossível para Caroline conter as lágrimas quando ingressou com o pé direito na casa onde cresceu, soltando uma exclamação chorosa em seguida. Apesar do cheiro adocicado dos produtos de limpeza e do tom mais escuro de verde do carpete da sala de estar por estar ainda molhado, as coisas permaneciam no exato lugar que ela recordava. Todos os móveis rústicos de madeira, os bibelôs em cima das estantes, os paninhos de tricô espalhados em todos os cantos, a cortina de bolinhas entre a sala e o corredor curto que separava o banheiro do quarto principal.

— Não acredito que isso não foi devorado por cupins — Disse Caroline sorrindo ao tocar o vidro do enorme relógio de pêndulo que adornava a sala, ficando ainda mais surpresa ao saber que continuava funcionando — E funciona...

— Seu Ciço deu corda — Falou Fabiana sentando no sofá marrom de couro encoberto com uma proteção para esconder os remendos coloridos — Ele disse que é para se acostumar.

— Eu morria de medo disso. Velha casa, velhos traumas — Zombou Caroline afastando do móvel e caminhando para a cozinha, estando interessada em ver cada detalhe da casa — Mas pelo menos vai me dar um ar familiar.

— Oh, Carol! — Chamou Fabiana enquanto levantava do sofá e seguia a menina para o cômodo vizinho — Desempacotei suas coisas, se tiver algo errado ou fora do lugar...

— Está tudo perfeito, Fabi! — Caroline correu até a amiga e a abraçou com força — Nem sei como agradecer. Obrigada, de verdade!

— Parando de fugir já é uma ótima forma de agradecimento — Disse Fabiana afastando da Carol, porém mantendo o abraço.

— Como eu disse para o João no carro, eu não vou mais embora — Caroline afastou da Fabiana e abriu a geladeira duplex azul celeste, descrente de que o eletrodoméstico mais velho que ela ainda funcionava e nada surpresa por estar vazio — Estou em casa agora.

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