★ 𝐏𝐑Ó𝐋𝐎𝐆𝐎 ★
ANO DE 1996
Os alunos da Riverview high School perambulavam pelo salão de baile; era o tão famigerado baile de primavera.
Usando o meu vestido azul-celeste, enquanto o mesmo tocava o piso frio do ginásio de basquete, encontrava-me sentada em uma das cadeiras de madeira maciça, ao redor dos amigos da minha meia-irmã Kate.
— Esse baile de primavera trouxe muitos problemas - o olhar de Allysson pousou sobre mim, logo depois, analisando seu vestido vermelho até os joelhos. — Mas nenhum deles tinha nome e uma cara de sonsa! - seus lábios avermelhados foram conduzidos até sua taça de ponche.
— Não começa, Allysson. - Zarah a repreendeu, pegando sua taça em cima da mesa.
— Somente digo verdades - Franziu o cenho, olhando para a loira. — Os incomodados que saiam daqui! - a morena sentou ao lado da amiga, olhando diretamente para mim.
Afastei a cadeira, levantando-me.
Talvez não fosse a atitude que Allysson esperava. E sendo bem sincera, eu não me importava com isso.
Agarrei meu vestido para que conseguisse andar com menos dificuldade, e segui entre as mesas com buquês baratos de camélias-de-plástico. Sair do ginásio da escola, me parecia tão convidativo quanto ouvir algo relacionado à aluna mais mal vestida da Spring ball¹.
Conforme meus sapatos batiam contra o carpete aveludado do corredor dos vestiários, passos abafados insistiam em permanecer atrás de mim.
Girei meus calcanhares, colidindo com o corpo de quem eu menos queria ver pela noite; Steve Parker estava frente a frente comigo, fazendo-me parte de mais uma das suas escapadas noturnas.
— Onde você vai, ruiva?! - tomou um pouco de fôlego, afagando seus cabelos castanhos para trás. — Eu pensei que estivesse gostando do baile.
— Eu tenho nome, Parker - cruzo os braços, bufando. — Não, eu não estou gostando desse baile idiota! Todos me odeiam, e eu não estou pronta para encarar isso completamente sozinha. - meu olhar desceu até seu smoking caramelo. Qualquer roupa que colocasse vestia perfeitamente bem em seu corpo.
— Eu vou estar aqui, princesa! - Sorri e se aproxima de mim, deixando alguns centímetros entre nós.
Nunca disse para ele, mas odiava que me chamasse de princesa.
— Eu não preciso da sua ajuda - vacilo alguns passos para trás. — É tudo culpa sua! - elevo um pouco o tom de voz.
— Você sabe o quanto é importante para mim, Megan - ele retorna para a pequena distância que existia entre nós, novamente. E eu tive a ingenuidade de permitir tal aproximação. Talvez eu até goste disso. — Você tem um espaço reservado em mim. - suas mãos grandes e evasivas tocam meus braços, arrepiando no mesmo instante.
— Um espaço que eu não faço questão de ocupar. - minha voz sai como um sussurro, ao perceber tamanha aproximação dos nossos rostos.
— Eu preciso de você - arrastou seus lábios sobre os meus, com cada centímetro do meu corpo parecer queimar. — Vem comigo. - pega minha mão, levando-me para fora do ginásio.
A noite silenciosa e as luzes que vinham das janelas da escola, eram o meu principal foco enquanto caminhava abraçada no corpo de Steve.
Quando entramos pelas portas duplas do extenso corredor com a luz batida, corremos até a porta da biblioteca.
— Está trancado, já era. - murmurei, estando em frente a porta de madeira envelhecida.
— Isso é o que você pensa, querida! - um sorriso de canto brotou em seus lábios, assim que o mesmo retirou as chaves metálicas de um dos bolsos da sua calça.
— Você até que é bem inteligente, Parker. - um riso nasalado de Steve reverberou, girando a maçaneta e dando espaço para que eu passasse.
A biblioteca era um dos meus lugares preferidos de toda a escola. Embora, festas fossem divertidas e sempre recheadas de boas lembranças — talvez nem tanto assim —, preferia mil vezes estar aqui e ler uma boa enciclopédia. Não que eu gostasse de ter um cascabulho no meu cérebro, porém é um hábito que eu sempre gostei de manter.
— Eu sabia que você iria gostar! - seu sorriso seguia de orelha a orelha, enquanto me observava rodopiar entre as estantes altas o bastante para que precisasse de uma escada, e pescando um livro que gostasse.
— Você me conhece tão bem - um meio sorriso surge em meu rosto. — Talvez devêssemos tentar novamente, mesmo. - meu coração pulsa de uma maneira quase impossível de controlar. O plano de parar de insistir no erro foi novamente deixado de lado.
— Eu concordo - ele entrelaça os dedos no meu cabelo solto, brincando com os fios. — Nós funcionamos melhor juntos.
Suas mãos pousaram até minha cintura, e eu conseguia sentir o clima que pairava sobre nós.
Nada poderia estragar esse momento.
— O casal do ano, otários! - uma voz rouca reverberou de trás de uma das prateleiras. — BEIJA ELA, STEVE! - a silhueta de Rick apareceu, enquanto segurava uma câmera VHS.
Mas a vida nos prega peças às vezes.
— Desliga essa porcaria, Richard! - Steve cobriu meu rosto com suas mãos.
— Eu preciso saber a reação da Kate! - o tom de sua voz era seguido por uma risada arrastada. — Eu estou vendo você, Meg! - cantarolou, formando um enorme nó na minha garganta e a vontade imensa de bater neles.
— Que merda é essa?! - A voz da minha meia-irmã saiu de trás de nós. Virei de costas, levando meus olhos até seu rosto entorpecido.
— Eu posso explicar - murmurei, sentindo meu coração ruir. Você é insignificante, Megan! — Eu posso explicar. - repeti, lançando as mãos para o ar. Estou enterrando um mastro² com a bandeira branca.
— Você não precisa e nem deve - esfregou os olhos com seu dorso, deixando exposta a cicatriz em seu braço. Seu rosto estava vermelho e seus olhos marejados. Kate não costumava chorar, mas eu podia jurar que ela estava perto de fazê-lo. — Aliás... - cruzou os braços, fungando. — Eu te desejo boa sorte. Ele vai acabar com a sua paz. - sorriu de canto, deixando que uma lágrima rolasse pelo seu rosto.
"Ele irá acabar com a sua paz"
Eu sabia disso.
Deu meia volta, abraçando o próprio corpo, diretamente para o campus. Estava frio e o vestido de seda de Katherine, poderia deixa-la resfriada.
E por mais que nunca fossemos capazes de viver em harmonia, eu nunca a deixaria mal. Mesmo que ela não pensasse da mesma forma quando se tratava de mim.
Steve lançou um olhar assassino para Rick quando o garoto assistia o vídeo repetidas vezes, rindo baixinho.
— Eu vou matar você! - avançou em direção ao garoto que era duas vezes mais alto que ele.
— Se a sua mão alcançar o meu rosto - Rick debochou do mais baixo, percebendo o rubor excessivo em suas bochechas. — Eu estou brincando, cara! - sorriu, tentando parecer mais simpático. O que obviamente, não deu certo. Ainda mais competindo com a sua reputação — nem tão — exemplar.
Senti meu estômago embrulhar; precisava fazer alguma coisa, e rápido!
— Eu vou atrás dela! - minha voz saiu firme, assim como meus passos indo para fora da biblioteca.
Steve e Rick ficaram em silêncio, e correram logo atrás de mim.
— Ela vai arrebentar você! - Rick gritou, já que estava bem longe. — Não vou gastar as fitas da minha câmera com a surra que você vai levar. - parou no meio do caminho, levantando a câmera prateada.
— Megan! - Steve gritava sem parar enquanto caminhava atrás de mim, já pisando na grama verde do campus. Talvez fosse pela falta de credibilidade em mim, mas ele estava convicto de que eu não iria mesmo atrás dela. — Eu não acho que seja uma boa idéia! - o ignorei na oportunidade em que vi Kate sentada na grama perto de uma árvore, abraçando seu próprio corpo.
Minhas mãos suavam, e meu coração parecia querer sair pela boca.
— Kate, me deixe...
— Sai daqui! - brandou, assustando-me. — É bem decepcionante e frustrante saber que minha própria irmã me traiu dessa maneira. - interrompeu-me.
— Não é dessa forma - aproximei-me de seu corpo magro. — Você e Steve romperam, e então, eu pensei que poderia tirar um tempo que você passou com ele. - agachei, sentando-me ao seu lado. Briga alguma valeria a pena se o motivo fosse o primogênito da família Parker.
— A verdade é que Steve é um lixo! - a olhei, sem reação alguma. - Ele vai manipular você até finalmente conseguir o que quer, e depois, irá te descartar.
O único jogo em que eu era péssima. Ainda mais quando se tratava dele.
— Você deveria odiar Steve Parker!
— Então, nós iremos fazer isso juntas. - sorri.
— O que? - fez uma careta. — Você só pode estar brincando comigo, não é?
— Se eu tivesse que escolher entre você e Steve... - desviei o olhar para os dois garotos que vinham em nossa direção. — Eu escolheria você.
— Você é uma péssima mentirosa! - uniu as sobrancelhas, fungando e enxugando as lágrimas teimosas que insistiam em permanecer em seu rosto.
— Eu posso estar mentindo, mas eu posso transformar essa mentira em algo real. - a decepção estampada no rosto de Steve, assim que me escutou, provocou um certo mal-estar em mim. — Eu não sei... ugh! - bufei, um pouco confusa e nervosa. — Talvez demore um pouco, mas eu posso fazer isso se você quiser.
— Eu não quero. - fungou mais uma vez. — Eu só preciso de um tempo pra assimilar tudo isso, e esquecer desse baile que saiu pelo cano³.
— Certo - olho para Steve, sem Rick ao seu lado. — Isso nunca aconteceu. - sorri para a garota prestes a desabar mais uma vez.
A verdade é que Steve Parker é um combustível que faz meu corpo entrar em colapso; mas também é um dos motivos que me fez nunca mais acreditar no amor.
⭑NOTAs & AFINS⭑
Primeiramente, eu gostaria de dizer que a volta das postagens desse livro estão realizando uma das minhas metas de 2019.
Segundo que, eu realmente espero superar as expectativas de alguns de vocês. RED TULIP é o tipo de livro que é extremamente difícil de desenvolver o enredo, devido a ordem cronológica de cada acontecimento. De toda forma, eu espero de coração que todos possam gostar dessa história assim como eu amo escrevê-la❤️
Spring ball = NOME DADO PARA O BAILE DE PRIMAVERA NOS EUA.
Mastro = POSTE GERALMENTE UTILIZADO PARA COLOCAR BANDEIRAS.
Sair pelo cano = EXPRESSÃO DOS ANOS 90, QUANDO ALGO DAVA ERRADO.
Brandou = GRITOU.
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