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𝐂𝐚𝐩. 𝟗 ♡ 𝐓𝐇𝐄 𝐋𝐀𝐒𝐓 𝐁𝐄𝐄𝐑

No vento da mudança,
caminhando pela rua.
Memórias distantes
estão enterradas no passado para sempre.

- WIND OF CHANGESCORPIONS

Terça-feira, 5 de outubro de 1997

O relógio marcava quatro horas da tarde. Mesmo que fosse hoje, não estava interessada em aproveitá-lo de maneira "memorável" para ser o menos indelicada possível.

Eu não sou sem graça ou coisa parecida, apenas não vejo esse momento como algo em que eu posso mudar o mundo em menos de vinte e quatro horas. Eu sei exatamente o que April diria: "deixe de ser tão azeda, e veja o lado bom nas coisas!".

Não existe um lado bom em morrer. Eu tenho consciência do que quero fazer, isso me assusta, mas é a única forma de deixar Julie longe do babaca do Eduard.

Eles foram casados por vinte anos; um casamento destrutivo como é de se imaginar vindo do cara que tem mais álcool em seu corpo do que sangue nas veias. Beber até cair, trazer mulheres para casa quando Julie estava fora e usar seus punhos em nós, era o que definia nossa vida ao lado de Eduard Rose. Eu nem sei como saí dessa.

O som alto e agudo da campainha reverberou, espreguiçando meu corpo na poltrona de Julie e levantando. Olhei pelo olho mágico, assustando-me com um par de olhos verdes me encarando. Scott literalmente grudou seu nariz na porta, tentando ver o impossível pelo olho mágico que só funciona de dentro para fora. Giro a maçaneta, abrindo somente uma pequena passagem.

- Lind e Chloe foram ao fliperama, mas acabaram me deixando para trás - deu de ombros, afagando seu cabelo despenteado. - Quer ir comigo? - liberei espaço para que entrasse. - Você primeiro. - sorriu de canto.

- Entra calado. - praguejei e seu sorriso murchou. - Por favor. - revirei os olhos, enquanto o garoto passava por mim e sentava no sofá de dois lugares. Emanava uma colônia com um cheiro diferente. Cítrico ou amadeirado... bem, isso não importa. É realmente bom.

- Por que está assistindo o noticiário? - franziu o cenho, fazendo-me soltar um risada nasalar.

- Eu estou entediada. Julie e Kate foram no supermercado, mas não quis ir junto. - dei de ombros. - E agora não sei o que fazer. - joguei meu corpo na poltrona.

- Você está sozinha em casa, e mesmo assim deixou que eu entrasse? - apontou para si mesmo, espantado. - Isso não é perigoso?

- Eu sou o perigo aqui, docinho. - suspirei, tomando o controle remoto.

- Docinho? - rolei os olhos, trocando os canais. Em plena terça-feira e absolutamente nada que me interessasse na televisão.

- Bank Tower é um apelido melhor na verdade. - sorri olhando para a tela. - Não há nada de bom aqui. - me referi a televisão.

- Isso é um sim para a minha proposta? - apoiou seu cotovelo no braço do sofá.

- Conheço um lugar ainda melhor. - desliguei a televisão de tubo, me esticando para pegar meu casaco azul-marinho da mesa de centro.

- Eu deveria confiar na garota que diz ser perigosa? - estampou um meio sorriso.

- Acho que você sabe se defender. - ele riu baixo, e cedi em analisar seus olhos apertados e o rubor em suas bochechas. Droga, Megan!

- Com certeza. - levantou-se. - Quando quiser, Figueroa. - sorri de canto, fazendo o mesmo que ele.

Julie voltaria para casa somente às sete horas da noite. Prometeu para Kate que a levaria para ver uma loja que abrira na galeria da cidade. E um pouco de diversão não faz mal a ninguém.

- Que merda é essa? - Scott resmungou, e eu empurrei seu corpo para o lado.

- Meu lugar favorito. - coloquei as mãos na cintura, orgulhosa da vista que tinha da fábrica abandonada da antiga sapataria Frank's.

Funcionava dia e noite, nunca parava. Sapatos não se fazem sozinhos, não é mesmo?

Certa noite, um incêndio misterioso invadiu boa parte da fábrica, restante apenas cinzas. Por sorte, ninguém se feriu, mas acabaram fechando. Sempre comentava com Steve sobre o quanto queria um esconderijo para esquecer dos problemas, e ele me apresentou a fábrica. Por isso que é o meu lugar preferido. Não me julgue, uma parte de mim ainda tem um carinho imenso por Steve.

- O que aconteceu aqui? - o loiro olhava ao redor, abismado.

- Um incêndio. Esse é o resultado cinco anos depois. - minha voz fraquejou. - Eu deveria odiar esse lugar, mas não foi bem como o planejado.

- Odiar? - fez uma careta.

- Meu tio trabalhava aqui. Depois do incidente, acabou sendo demitido. - engoli em seco, lembrando-me de quando ele chegou esparramando fúria pela casa e descontou sua raiva em Julie.

- Você está falando dele no passado - adentrou em uma sala. - Ele morreu.

Ah, se isso fosse verdade.

- Eles se divorciaram. - menti, me sentindo culpada por não dizer a verdade.

- Espero nunca precisar me divorciar. A separação da minha mãe com o pai de Dylan foi amigável, mas eu sei o quanto é difícil conviver sem a presença de um dos pais. - deu de ombros, sentando-se na mesa do antigo escritório.

- Eu não tive dificuldade. - fiquei frente a frente, percebendo algumas pintinhas que se espalhavam pelo seu pescoço. Não olhe, Megan! - Meu pai era um bom homem, mas minha mãe não gostava muito da vida familiar. - coloquei minhas mãos nos bolsos traseiros da minha calça jeans. - Então, eles decidiram que era melhor cada um ir para o seu lado. - menti outra vez. Estou me sentindo tão péssima por enganar o Scott.

- E por que você está morando com sua tia? - cruzou os braços, fixando seu olhar em mim. Senti meu corpo queimar.

- Minha mãe tem outra vida e meu pai morreu. - olhou para mim, surpreso. - Não precisa ter pena de mim, já estou acostumada a lidar com essa situação.

- Eu sinto muito. - abaixou seu olhar. - Meu pai me abandonou quando era ainda muito pequeno. E é incrível como não tenho nenhuma memória sólida dele. - levantou os ombros, suspirando. - Todas as manhãs, olho no espelho e me pergunto se as rugas e os cabelos brancos já apareceram no seu reflexo ou se ele sente a nossa falta. É um pensamento ingênuo já que nos abandonou e logicamente não sente saudades. - brincava com o feixe do seu casaco avermelhado, levantando de baixo para cima. - Nós somos quebrados.

- Nós somos fodidos.

- Eu acho tão culto os seus termos. - debochou.

- Obrigada. - sorri de canto, sentando ao seu lado da mesa.

Assim que sentei, as pernas da mesa cederam e nós caímos. Ainda permaneci sobre ela, mas Scott tombou para o lado, chocando seu rosto no chão.

- Ah, merda! - esfregou sua bochecha esquerda, ainda caído no chão. - Por que você está rindo? - minha risada alta poderia ser escutada do primeiro andar.

- É o hábito. - me ergui da mesa quebrada, prestando ajuda à Scott que pegou minha mão com firmeza. - Você está bem? - estando de pé, o garoto tateava o corpo em busca de algo.

- Sim, mas eu acabei caindo por cima disso. - retirou uma barra de cereal de dentro do bolso do casaco. - Ainda dá pra comer.

Fiz uma careta enquanto fitava o garoto rasgar a embalagem e morder a barrinha.

- Está muito boa, quer?

- Não obrigada, fica pra você. - bati em seu ombro, girando os tornozelos até a porta. - Já experimentou a raspadinha da brain ice?

- Eu pago.

- Fechado.

- Por que tem o nome de brain ice? - estávamos sentados na calçada em frente a sorveteria.

- Logo, você vai saber. - segurei o copo, levando minha boca até o canudo com listras vermelhas.

O garoto fez o mesmo que eu e no mesmo instante soltou um pigarreio, enquanto tocava na sua cabeça, o que me fez rir internamente.

- Acho que isso congelou o meu cérebro! - praguejou, fazendo uma careta.

- É por isso que se chama brain ice, certo? - lancei um meio sorriso e o loiro assentiu. - Que horas são? - levei meu olhar para o seu relógio de pulso com a pulseira de couro.

- São exatamente cinco horas e quinze minutos. - olhou para o pulso e depois para mim. - Você precisa fazer alguma coisa? Eu posso te deixar em casa se quiser.

- Sim, mas eu posso chegar mais tarde. - dei de ombros, e o garoto se levantou da calçada. - O que está fazendo?

- O sol vai se pôr. - suas órbitas verdes me guiaram para o céu. - E não há nada melhor que ver ele no lugar mais alto da cidade.

- Mas isso só vai acontecer às sete horas.

- E você não vai estar aqui comigo? - estendeu sua mão, e eu a agarrei para me erguer da calçada alaranjada.

- Eu preciso estar em casa antes disso.

- Você já visitou o Boiling blood?

- O bar do outro lado do bairro? - o Boiling blood é o bar mais conhecido da cidade. Todos conhecem o lugar mais propício a confusões e bebedeiras até o corpo não aguentar mais. - Você quer beber?

- Talvez. - deu de ombros. - Fiquei sabendo que eles precisam de gente lá. Eu sou ótimo quando se trata de trabalho.

- Tudo bem, podemos ir lá. - tirei o elástico preto do meu pulso, usando-o para amarrar meu cabelo. - O que estamos esperando?

- Boiling blood, lá vamos nós!

Motoqueiros em volta do grande balcão e o som de Rock you like a Hurricane dos Scorpions - que Scott dizia ser sua banda preferida - tocando no Jukebox. O cheiro de cerveja barata e de fritas eram tão fortes quanto o cheiro amadeirado que emanava dos caras de jaqueta de couro. O relógio prateado na parede de tijolos aparentes indicava seis horas e vinte minutos.

Esperando em uma das mesas que ficavam no canto do Boiling blood, a silhueta de Scott surgiu de fora da cozinha, sorrindo de forma petulante.

- Nós podemos começar daqui duas semanas. Precisamos apenas de alguns documentos. - o garoto sentou na minha frente. - A gente pega o terceiro turno.

- Você tá cheirando a fritas. - soltei uma risada nasalar. - Todo esse lugar tá cheirando a fritura!

- Quer tomar uma cerveja?

- Minha boca pede por isso.

Serpenteando por algumas pessoas que dançavam entre as mesas, nos acomodamos em frente ao grande balcão com tampo de madeira.

- Cerveja, certo? - assenti. - Duas cervejas, por favor! - ele aumentou o tom de voz, recebendo alguns olhares surpresos.

- Eu acho que é raro escutar um "por favor" por aqui. - arrastei meu banco para perto dele.

Duas canecas transparentes com cervejas deslizaram para o nosso lado do balcão.

- Um brinde? - agarrou a caneca, estendendo-a para mim.

- Pelo o que? - fiz o mesmo.

- Por permitir te conhecer um pouco melhor. - um meio sorriso sobressaiu de seus lábios rosados.

- Você não viu nem a metade do que eu sou. - bati nossas canecas de leve, logo levando até minha boca.

- Eu ainda vou descobrir. - sua cerveja desceu de um jeito estranho devido a sua cara de desaprovação. - Caramba, é muuuito amarga!

- Você nunca tinha bebido cerveja antes?

- Nunca. - virou a caneca, chacoalhando os ombros logo depois. Meus olhos e minha boca denotavam surpresa.

- Como assim? - virei minha caneca também. - Nunca havia beijado e bebido antes. Você é inocente demais para estar aqui comigo! - minha risada saiu alta, mas com a música do Jukebox seria impossível de incomodar alguém.

- Eu não sou nem um pouco inocente. - sussurrou no meu ouvido, e meu corpo esquentou no mesmo instante. Tombei a cabeça para o lado, confusa. - Eu sei que você gosta da minha companhia. - sua boca estava próxima da minha, guiando meus olhos para ela. - Confessa. - agarrei seu pescoço, dando um beijo demorado em seus lábios.

- Uau! - olhou surpreso para mim, sem fôlego.

- Preciso ir pra casa.

- Tudo bem, eu pago. - tateou a carteira do bolso de seu casaco.

- A gente divide. - o loiro concordou com a cabeça.

O táxi partiu, nos deixando em frente a minha casa. Restam vinte minutos.

- Obrigada por hoje, Scott.

- Obrigado por aquele beijo! - sorriu daquele jeito que aperta seus olhos.

- Aquilo foi o calor do momento. - mentira talvez?

- Boa noite, Meg. - chegou próximo ao meu rosto e beijou minha bochecha. Poderia ter me beijado de verdade, sabia?

- Boa noite, Scott. - acenei para o garoto que atravessava a rua.

- Não esqueça de assistir o pôr do sol! - girou a maçaneta e entrou dentro de sua casa.

Suspirei.

Eu odeio admitir, mas hoje foi memorável. Eu nunca tinha me sentido assim antes. Scott me fez esquecer do que precisava fazer.

Esquecer... não desistir.

Girei os tornozelos, seguindo para dentro de casa também. Liguei a luz da sala de estar, admirando as fitas cassetes dos filmes preferidos que Julie guardava na instante de canto marrom. Liguei a luz da cozinha também, e me lembrei de todas as vezes que Juliet veio ajudar minha tia com o banquete de ação de graças. Subi as escadas, relutando para seguir até o banheiro. Tive a vaga lembrança de quando cortei meus cabelos até os ombros para ir na minha formatura do ensino fundamental. Eduard me comparava com Kate por não ser tão feminina quanto ela e criticava a minha aparência. Quando chegamos da minha formatura, levei uma surra para aprender a ser como outras garotas e obedecer ele. Meus olhos ardem com as lágrimas que desciam pelo meu rosto.

A porta branca do banheiro é aberta, observando o meu reflexo e tendo que engolir todo o desgosto que sentia de mim mesma. Abri o pequeno armário amarelado que é pregado na parede, colocando alguns frascos de remédios aleatórios sobre a pia branca. Com um copo de água em mãos, coloquei dois comprimidos para dentro da boca, bebendo em seguida o líquido. O que foram apenas duas pílulas passaram-se a ser quatro, seis, oito e por aí vai de uma vez só. A bile alojada em minha garganta fazia-me ter náuseas. A minha respiração cortada e insuficiente, me fez sentar no chão; parece que todo o ar que eu puxo não chega em meus pulmões. As náuseas ficavam cada vez mais intensas, e a vontade de colocar tudo pra fora era sufocante.

Respira, Megan.

Um aperto no peito provocou um pigarreio dos meus lábios. Os batimentos aceleraram de tal maneira que até parece que eu corri uma maratona. Suava frio enquanto abraçava meu corpo encostada na parede de azulejos que não me ajudava muito.

Falta tão pouco.

Sentindo algo querer sair pela boca, meu corpo caiu e se contorcia no chão frio. Eu não tenho controle sobre isso, e é ainda pior quando acontece de verdade com você. Minha visão turva notou a porta se abrir e a voz abafada de Julie invadiu o banheiro. Em um piscar de olhos tudo ficara escuro, mas tive a sensação de ter meu corpo inclinado para o lado.

Eduard tem o que tanto quis. Tive dias contados, mas agora já não é mais preciso.

Porque eu já devo estar morta agora.

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