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𝐂𝐚𝐩. 𝟑 ♡ 𝐒𝐔𝐂𝐇 𝐀 𝐋𝐎𝐕𝐄𝐋𝐘 𝐅𝐀𝐂𝐄

"Lá estava ela na porta;
Ouvi o sino da missão
E eu estava pensando comigo mesmo
Isso pode ser o paraíso ou o inferno"

— HOTEL CALIFÓRNIAEAGLES

      
                      ❥ MEGAN ♡

— Aquele garoto com quem você conversava... é o seu novo vizinho? - estávamos sentados em uma das colinas da praia de Marin Headlands.

— A família dele veio de Los Angeles - dei de ombros. — Fala poucas palavras e se atrapalha em todas elas! - ri e Steve me acompanhou, enquanto se aproximava ainda mais do meu ombro nu.

Por volta de seis horas da tarde, as cores vibrantes e quentes do pôr-do-sol, me avisavam de que era hora de voltar para casa. Eu não queria obviamente — já que não deveria ter fugido do meu compromisso, e ter fugido com Steve —, mas eu sabia o que mais alguns minutos poderiam me levar. E todas essas especulações me levavam ao beijo que Steve queria de mim.

Embora ainda fosse verão, a brisa fresca que soprava nas árvores, já anunciavam a chegada do outono. E isso não era de todo mal, porém eu não estava tão animada assim para o meu ano letivo.
O ensino médio pode parecer o filme mais clichê e doce possível, mas na verdade, ele é imprevisível e amargamente cruel com nossos boletins. Um verdadeiro filme de terror!

— Eu pensei e... - o moreno retirou-me de meus devaneios. — Você pode conseguir aquele carro que tanto queria, lembra? - suas íris carameladas me fitaram. — Não que isso seja da minha conta, mas eu me importo com seus sonhos! - entornou o nariz, fazendo uma careta.

— Eu não sou como você, Parker! - bufei, franzindo a testa. — Eu não tenho dinheiro e muito menos um pai para bancar todos os meus sonhos de consumo. - apoiei minha mão na areia camuflada dentre as gramíneas, levantando e limpando meus vestido. — E acredite... esse carro é o que menos me importa por agora. - pontuei, ríspidas.

— Não foi isso que eu quis dizer. - Steve repetiu meus movimentos, ficando frente a frente comigo. — Eu sei mais do que qualquer um sobre isso. Eu quero dizer que agora você pode fazer o que quer sem preocupações. - sorriu, dando mais um passo. — Porque você é incrível, Megan. E está livre daquele merda. - soltei um riso nasalado — E eu quero fazer parte dos seus planos também - passou uma mexa do meu cabelo para trás da orelha. —  Eu sempre vou precisar de você. - sussurrou perto da minha boca.

Fechei meus olhos ao sentir o toque macio do rosto de Steve junto ao meu. Seus lábios mais uma maldita vez encontravam os meus. E mesmo que eu tentasse impedir, era como se eu jogasse um boomerang; uma hora ou outra... sempre volta.

Sete horas em ponto, e a festa do comitê de boas-vindas da tia Julie ainda estava de pé — agora, é claro, com menos gente.
As irmãs Cox já haviam ido embora - e eu não me envergonharia de estar feliz com isso. Juliet e o senhor Jacobson estavam sentados em uma das mesas de jardim. As luminárias do quintal e os postes da calçada, caíam como uma luva naquela noite.
Esgueirei meu corpo magro no muro para ouvir o que tanto conversavam naquela hora.

— Estive pensando muito no ano de 55. Quando nos conhecemos nessa mesma escola. - Jacobson iniciou com a voz falha. Com as mãos trêmulas provavelmente.

— Nem me lembre, Frederick! - um riso debochado foi escutado de Juliet. — Bons tempos em que nossas costas não nos incomodavam. - a risada harmônica dos dois me fazia desejar querer aquilo para mim também. Mas aí eu lembro do Steve, e coloco esse desejo na primeira lata de lixo que ver pela frente.

Eu sempre soube que Sr. Jacobson -ou Frederick, como preferir - e Juliet tinham sido um casal em um passado muito muito distante. Ainda creio que continuem sendo.
Uma vez Juliet me contou que devido a contradições com sua família e a de Frederick, ela precisou deixar seu verdadeiro amor para casar com alguém que ela odiava com unhas e dentes. E não retirava sua razão, já que ele deixou uma neta exatamente podre como ele; Alysson Wilson!

O toque quente no meu ombro nu - devido ao vestido de tirantes -, assustou-me, fazendo meu corpo arrepiar.

— O que você faz aqui fora? - uma voz rouca perguntou-me.

Com o corpo trêmulo, me permiti virar. Meu coração se acalmou, quando a silhueta do garoto loiro e alto estava em minha frente.

— Fica quieto, Scott! - sussurrei, e o garoto abaixou seu pescoço até mim. O topo de sua cabeça alcançava acima do muro de cerca viva da minha casa. De uma coisa você poderia ter certeza: Scott é extremamente alto.

— O que estamos fazen...

— Shiu! - pousei o dedo indicador sobre meus lábios.

O garoto enrubesceu e concordou com a cabeça.

Ao espiar Juliet e Jacobson, eles não estavam mais lá. E algo palpitava no meu peito de que eles estavam mais perto do que eu imaginava.

— Megan. - o sussurro de Scott sobressaiu retraído.

— Eu estou tentando encontrá-los. Fica quieto! - meus olhos buscavam por eles.

— Por isso mesmo! - cutucou meu ombro com força, fazendo-me pender para seu lado.

Cowabunga!

Juliet e Frederick estavam de braços cruzados nos observando como se fossemos desordeiros.

— O que faz aqui? - a voz doce de vovó reverberou.

— E sozinhos... - Jacobson juntou as sobrancelhas.

— Não é nada do que o senhor está pensando! - os olhos esverdeados de Scott arregalaram, enquanto suas mãos balançavam em desespero. — Eu nem conheço ela! - franzi o cenho, olhando para o garoto e ainda sem entender o motivo para tal mentira.

— Eu sei disso, garoto. - a mulher me fitava. — Estou perguntando para ela! - sua resposta soou como uma flecha no meu peito.

— Aliás, sua mãe deve estar te procurando. - o garoto assentiu ao comentário do mais velho, e seguiu para o interior da casa. — E boca calada!

Sem olhar para trás, Scott me deixava sozinha naquela situação. Ele estragou tudo.

ELE VAI ME PAGAR!!

— Onde estava com a cabeça quando decidiu fugir com o panaca do Steve? Sua mãe ficou preocupada! - Juliet chacoalhou meus ombros.

— ELA NÃO É MINHA MÃE! - senti a bile em minha garganta.

— ELA TE CRIOU! Querendo ou não, ela é sua mãe sim! - Juliet agarrou meu braço com força. — Nunca mais diga isso, entendeu? Você não sabe o que é perder tudo por alguém que ama de verdade.

— Você está falando do Frederick, não é? - sussurrei, estampando um meio sorriso.

— Não interessa. - soltou meu braço, desviando o olhar. — Julie está conversando com alguns convidados. É melhor entrar pela porta dos fundos.

Obrigada. - SORRI, fazendo-a sorrir de volta.

Caminhei pela calçada de concreto e abri o portão de madeira dos fundos do quintal, andando até a porta branca.
A voz de Julie era a mais alta de toda a conversa. Aquela festa não é importante para mim, mas é para ela.
Cruzei o curto caminho da cozinha até o corrimão da escada, até que a voz de Julie invadiu meus ouvidos.

— Hey! - dei meia volta, com o corpo completamente tenso, vendo a mulher de cabelos grisalhos sorrir. — Scott me contou que você precisou sair às pressas para ajudar uma amiga. - revirou os olhos, com a taça de (champanhe?) em mãos. — Devo confessar de que eu não sabia que você tinha amigas. - riu, levando outros em sua volta a fazer o mesmo.

Meu olhar recai até o garoto loiro e de suéter preto. Desviou seu olhar ao perceber que fitava-o.

— Ah, é claro! - sorri amarelo para Julie e os demais convidados.

— Você é tão adorável, Megan! - senhorita Maxwell mostrou-me um sorriso acolhedor. — Bom, está tarde - levantou-se da namoradeira com estampa floral. — Precisamos ir, Julie. Eu amei a festa e espero que sejamos grandes amigas pela frente. - puxou minha tia para um abraço apertado.

— Mal posso esperar! - franzi o cenho, confusa. Ela a respondeu com tanta sinceridade que eu até poderia acreditar nessa possibilidade.

Enquanto andava ao encalço de senhorita Maxwell e seus quatro filhos, o vento gélido teimava em jogar os fios desgrenhados para o meu rosto.
Os sapatos brancos da mulher mais velha estacionaram no concreto em frente a sua casa, puxando a alça da bolsa rosé e pegando o molho de chaves de cobre.

— Gostaria de entrar, Megan? - girou a chave pequena na fechadura e abriu a larga porta creme.

— Já está tarde, senhorita Maxwell. - sorri amarelo, pondo os braços atrás do corpo.

— Você tem escola, amanhã - murmurou mais para si mesma do que para mim — Eu entendo. Aliás, me chame de Rebecca! - sorriu de ponta-a-ponta para mim e para o caçula da família que estava do meu lado.

— Tudo bem, Rebecca. - ri, acenando para as gêmeas e o garotinho que corria até a entrada da casa tomada pela luz amarelada.

— Boa noite, querida. Esperarei por você, Scott. - Rebecca olhou de relance para seu filho e cruzou o assoalho de sua casa.

O rosto do rapaz pendeu para o meu lado, mostrando um sorriso de lado e o olhar travesso.

— Obrigada, Scott. - revirei os olhos, não contendo o sorriso. — Obrigada por não me ferrar! - minhas sobrancelhas pararam quase no topo da cabeça.

— Eu sei que sou bom nisso. - desviou o olhar, alargando seu sorriso.

— Hey! - arqueei as sobrancelhas, cruzando os braços. — Vai a mer...

— Scott! - o chamado de Rebecca me interrompeu.

— Salvo pelo gongo! - subiu as mãos, rendendo-se. — Boa noite, Meg. - acenou, vacilando alguns passos para trás.

— É MEGAN! - resmunguei.

— Aham, EU SEI! - elevou o tom de voz quando seu pé colidiu com o degrau da faxada, fazendo uma careta.

Segurei o riso, balançando a cabeça e recapitulando diversas vezes a cena em que Scott quase tivera uma colisão drástica — porém hilária —, e sobre o quanto ele parecia incomodado com isso.

— Droga... - sussurrou mais algumas palavras, mas é incapaz de compreender. — Você nunca me viu por aqui! - apontou o dedo indicador para mim, trincando o maxilar.

— Tuuudo bem! - levantei as mãos, concordando.

Girei os calcanhares após ver o garoto deslizar para dentro de sua casa.

É, talvez esse tal de Scott não seja tão otário quanto pensei.

Atravessando o assoalho do hall de entrada, o misto de risadas tomava conta da pequena sala de estar.

Sentada na poltrona floral, Katherine esbanjava seu sorriso soberbo. Sua mãe sentada sobre a bancada de ladrilhos vermelhos, carregava em uma de suas mãos a garrafa de uma bebida que conhecia muito bem; tequila.

A festa acabara em tão poucos minutos, e ela já estava bêbada.

— E então...- Julie levantando a garrafa, a voz embargada, atropelava palavras que não são capazes de entender.

— Você não pode beber, esqueceu? - iniciei, serpenteando pelo cômodo bagunçado e emanando o cheiro de álcool.

— Cala a boca, Megan! - Kate resmungou, colocando-se de pé. — Você não cansa de ser chata?

— Você não cansa de ser tão idiota?- desviei meu olhar para a mulher que ria baixinho.

— Essa noite acabou para mim. - seguiu até o corrimão amadeirado e subiu as escadas.

— Vai tarde! - gritei, recebendo de volta um pigarreio totalmente obsceno.

Ao fitar novamente a mulher de cabelos castanhos com alguns brancos, não podia evitar de sentir pena perante o seu estado.

— Vem cá - peguei seu braço, a erguendo para que saísse de cima da bancada. - Essa noite acabou pra você também.

—  Você não é minha mãe! - resmungou, desequilibrando e fazendo-me tropeçar em uma tábua de madeira solta do piso acastanhado.

— Eu não sou mesmo, mas te devo essa. - soltei uma lufada de ar, a puxando para mim. — Você não faz idéia de que isso ainda vai te matar, não é? - joguei seu braço em volta do meu pescoço, abraçando sua cintura.

— Você não precisa me ajudar em nada. Nunca fez questão de fazer isso por mim. - seu desabafo saia como uma corda em volta do meu pescoço.

— Você está delirando, Julie. - sua mão agora vazia, tocava o corrimão. — Amanhã tudo não passará de um flashback idiota! - arrisquei subir alguns degraus com ela.

— Para! - se desprendeu do meu corpo. — Para de agir como se eu não conseguisse andar com as minhas próprias pernas - juntou as sobrancelhas, amparando-se ao lado do mainel. — Você não entende o quão difícil é lidar com duas adolescentes chatas e conciliar com toda essa merda que é a minha vida! - os olhos marejados, maneava as mãos de forma rápida. Nunca ouvira Julie falar daquela maneira.

Apertei meus olhos, não deixando que a bile tomasse conta da minha garganta e os olhos enchessem d'água. Odeio sempre precisar ser forte, quando a única coisa que eu preciso é chorar.

Chorar para deixar escorrer cada ferida que eu guardei dentro de mim, e nunca consegui jogar pra fora.

— Tudo bem - abri os olhos novamente, sentido meu rosto queimar. — Se a bebida te faz bem, então vá lá e faça o que te der na telha - apontei para a garrafa de tequila em cima da bancada. — Isso só irá te matar mais rápido, caso seja o que você almeja!

Seus lábios entreabertos denotavam surpresa.

— Aproveite a sua noite enquanto seu fígado ainda permanece intacto.

NOTA

Marin Headlands = PRAIA LOCALIZADA EM SAN FRANCISCO.

Cowabunga = EXPRESSÃO GERALMENTE USADA PARA EXCLAMAÇÕES.

Mainel = PARAPEITO OU MURETA NAS ESCADAS OU MURETAS.

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