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𝐁Ô𝐍𝐔𝐒 II

MEGAN, 1991⭑

— OLHA O QUE VOCÊ FEZ! - coloco a cabeça de April sobre meu colo.

— Foi sem querer! - ele caminhava de um lado para o outro com as mãos na cabeça, assimilando o que acabara de fazer.

— Acalme-se, querida. - tia Julie se agacha, tocando meu ombro.

— Me acalmar? April está desmaiada no meu colo e tem sangue escorrendo pela cabeça dela!

— Eu não posso, eu não posso! - ele saiu correndo para fora de casa.

— Monstro... - sussurro, sentindo as lágrimas rolarem pelas minhas bochechas. — Vai ficar tudo bem, eu prometo! - trago seu corpo o mais perto de mim, abraçando-o.

— Eu vou chamar uma ambulância! - Julie pega o telefone residencial de cima da mesa de centro.

Após ligar para que a ambulância viesse, tomei o telefone para mim, discando o número da casa de Steve.

Ele é vizinho da April, e poderia avisar os pais dela.

— Alô! - grito no telefone, ouvindo um alô de volta.

— Megan o que aconteceu? Já está tarde. - Steve questiona do outro lado da linha. O som é horrível, contendo muitos ruídos.

— É a April... ela caiu da árvore. - minto. — Ela está perdendo muito sangue, me ajuda! - respiro fundo, sentindo meu coração palpitar forte.

— Sim... sim, vou te ajudar. Fique aí! - desligou na minha cara, deixando-me irritada com toda a situação.

E lá estava April com um grande corte na cabeça. Sua pele estava tão pálida quanto a neve, e isso me preocupava.

E sabe o que é ainda mais doloroso? Ver que tudo isso é minha culpa. É incrível como as boas pessoas vão mais cedo do que aquelas que não valem nem o que comem.

Por que ela? Justo ela! Deveria ser eu, sempre deveria ser eu.

Minutos depois a ambulância chegou, levando seu corpo para dentro do furgão branco e Julie foi com ela. Eu insisti, mas os paramédicos me disseram que apenas adultos poderiam ir para os hospitais. Como se eu já não estivesse ido lá várias e várias noites. Maldita hora em que eu tenho doze anos!

— Não saia de casa. Mando o endereço do hospital para os pais dela. - Julie tentava me confortar, enquanto entrava na ambulância.

— Promete ficar bem, April? -  sussurro. Ela precisava ficar bem logo.

O automóvel se distanciava cada vez mais pela rodovia da minha casa. Senti que perderia minha melhor amiga, e também a mim mesma.

★★★

Me encostei nos armários de madeira, em posição de lótus. Já havia limpado o sangue, e todos os vasos quebrados pela casa. Uma casa organizada de modo superficial, mas que se fosse analisada com cuidado, provavelmente seria notada a sua bagunça. Deixei a porta aberta para quando Eduard decidisse voltar.

Deveria estar se desculpando em algum lugar inapropriado para crianças. Coisa que uma vez eu o vi dizer para um amigo enquanto bebia na sala de estar.

— Megan! - Steve apareceu na porta.

— Steve! - levantei meu olhar para o garoto de cabelos castanhos e pijama do Batman.

— Eu estou aqui agora. - correu até mim, me abraçando de um jeito desajeitado devido aos seus joelhos dobrados.

— Eu tenho certeza que vou perdê-la.

— Eu tô aqui - me abraçou ainda mais forte. — Vai ficar tudo bem, eu prometo.

— Não pode prometer algo que não depende de você. - afasto seus braços de mim.

— Eu sei disso. - ele olha para o carpete manchado. — Espere um pouco... - se aproximou da mancha vermelha. — Isso é sangue! - arregalou os olhos. — Por que tem sangue na sala se a árvore está lá fora? - juntou as sobrancelhas. — Cadê os vasos de flores da sua tia? - olhou ao redor.

— Steve...

— Eu sei o que  aconteceu... sei de todas as coisas que te acontecem. - se acomodou ao meu lado, colocando sua cabeça no meu ombro. — Eu já vi aqui.— toca na cicatriz do meu braço. — E aqui. - Aponta para a minha perna. — Ele vai pagar por tudo que faz!

— Me tira daqui! - seguro sua mão, entrelaçando nossos dedos finos.

— Eu vou te proteger, Megan. E isso é uma promessa.

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