OUTSIDE ⸺͏͏ nine
— Você parece para baixo, aconteceu alguma coisa? — Alyssa voltou para realidade quando Katiness parou a sua frente. Ela estava escorada em um banco do jardim fingindo que assistia o por do sol mas na verdade não prestava atenção em nada específico.
— Não. Não, nada de especial. — Forçou um sorrisinho e Katiness arqueou a sobrancelha como se não acreditasse em uma só palavra que Alyssa viria a dizer. — Só estou pensando. — ela disse enquanto se levantava e olhava em volta. — As vezes eu queria sair daqui, sabe? Respirar um pouco.
Admitiu, nem era isso que pensava mas era verdade também. Fazia tanto tempo que não via nada além do palácio asgardiano. Não conseguia parar de pensar no que Robbie havia falado, se fosse verdade ela poderia ir embora e viver sua vida, por mais que não soubesse nem por onde começar. Ela se perguntava se isso iria valer a pena.
— A quanto tempo você esta aqui? — Katiness perguntou. — Ouvi falar que chegou quando criança.
A verdade é que muito se ouvia falar sobre Alyssa. Muitas teorias vinham de dentro e de fora do palácio, muitos acreditavam que ela era uma salvadora ou uma santa, outros uma golpista, outros achavam que tudo não passava de um boato e que talvez ela nem existisse de verdade.
— É quase isso, deve fazer quase uma década. — Sair do castelo devia ser bom, Alyssa queria muito embora soubesse que se viesse fazer isso justamente agora seria fortemente tentada a nunca mais voltar.
Mas também sabia que se alguém podia lhe levar para fora dali esse alguém era Katiness. Ela tinha cara de que já havia passado por todos os reinos uma dezena de vezes e que sabia lidar com tudo que pudesse acontecer.
— Acho que devemos ir então. — Katiness sorriu apoiando os braços na cintura.
— Para onde?
— Sei lá, andar pela vila... Ir à algum festival... Poderíamos ver o solstício de inverno.
— Eu não posso sair daqui. — Ela não queria dizer em voz alta que por mais que a tratassem como uma futura rainha ela se sentia como uma prisioneira.
— Ninguém precisa saber, vamos e voltamos antes de qualquer um perceber.
— E se Odin solicitar minha presença?
— Vai desperdiçar a oportunidade? Você não teve infância? Depois é só inventar uma desculpa, qualquer coisa é só pedir para seu amante te ajudar, ele não é o deus da mentira? — insinuou.
— Ele não é meu amante! — Ela não queria se irritar pois não saberia disfarçar, mas sentiu suas bochechas ficarem vermelhas então rapidamente mudou de assunto. — Ok, eu aceito. Vamos.
— Te espero amanhã de manhã! E não pense muito para não desistir e para ninguém ler sua mente. — Piscou para Alyssa e deu as costas.
Alyssa Belle sabia que no momento que estivesse fora do castelo as palavras de Robbie dizendo que se ela fosse embora nada mudaria voltariam a se repetir e cada vez mais alto, no fundo ela queria fazer o teste. Por mais que não quisesse deixar Loki para trás, quer dizer, deixar tudo para trás, tinha medo da parte em que Robbie disse que ficar perto de Loki traria problemas e percas fosse verdade também.
Alyssa caminhava em direção ao seu quarto, pelo longo corredor. Era cedo para ir dormir, na verdade a hora provavelmente estavam se reunindo para jantar. Mas estava sem fome e sem vontade de aparecer só de pensar em encarar Odin após o ocorrido de mais cedo, de encarar Robbie, de encarar todos.
— Estamos se esbarrando de mais, não acha? Devo começar a me preocupar pensando em que está fugindo de mim ou me seguindo? — Loki apareceu de trás de uma das colunas fazendo Alyssa Belle dar um pulo com o susto.
— Acho que você esta me seguindo, isso sim. É a única explicação para estarmos no esbarrando tanto.
— Porque está indo para o quarto tão cedo? Não vai jantar?. — Alyssa apenas fez que não com a cabeça. —Quer companhia? — ela imitou o gesto de antes negando mais uma vez.
Loki se sentiu incomodado, parecia que ela realmente o estava evitando, então não insistiu, apenas acenou com a cabeça e seguiu com seu caminho deixando que ela fizesse o mesmo. Alyssa mentalmente agradeceu por isso, e ele obviamente percebeu mas não fez nada a respeito.
Alyssa acordou bem cedo na manhã seguinte, logo que o sol nasceu para ser mais exato. Ela vestiu o vestido mais simples que achou, sem muitos brilhos, bordados ou renda, não queria chamar atenção, deixou o cabelo solto e abriu mão de qualquer acessório.
Logo que saiu para fora sentiu um vento gelado, o inverno estava chegando, ou já havia chego, ela não sabia, já havia perdido a contagem das estações. Esperou por Katiness no lugar combinado, a mesma demorou um pouco, mas para sua felicidade apareceu usando uma capa e trazendo outra para Alyssa.
A morena também carregava uma bolsa de pano e estava acompanhada por uma figura ruiva saltitante que possuía a metade de seu tamanho, ambas vestiam capas.
— Fico feliz em te ver. — Katiness comentou e Alyssa se perguntou se ela havia duvidado de sua palavra.
As três saíram do castelo, Alyssa nem entendeu como, só seguiu Katiness que aproveitou que o portão estava aberto para a chegada de suprimentos e se esquivou sem chamar atenção, quando se deu conta já estavam do lado de fora e ali ninguém a conhecia, ali ela não passava de uma lenda.
O vento batia em seus cabelos e a sensação de estar livre era cinquenta por cento querer sair correndo e nunca mais voltar e cinquenta por cento querer dar meia volta e pedir desculpas a Odin. Mas Alyssa fingiu costume e seguiu Katiness, não queria demonstrar que estava tão impressionada.
Mérula parecia curiosa mas ainda menos que Alyssa, que se perguntava como Katiness havia conseguido trazer a garota se a mesma se recusava a falar. Provavelmente até a figura ruiva em seus poucos anos de vida tinha mais experiencias de como conviver em sociedade do que Alyssa. Katiness entrou em uma carruagem, após as identificar como servas do castelo e pagar algumas moedas ao cocheiro, Alyssa apenas a seguiu sem cogitar.
Alyssa estava se sentindo cansada, ou talvez fosse apenas o balançar da carruagem que a desse sono, porém a paisagem bonita de arvores verdes em meia a maioria de arvores recém secas era o suficiente para a manter acordada por longos minutos até que enfim chegaram a seu destino.
Quando pisou para fora da carruagem pensou em perguntar qual era o plano, ou se existia um plano mas antes que pudesse Katiness se pronunciou:
— Festival Yggdrasil, é hoje! — Katiness disse, Alyssa olhou em volta e não viu nada, nenhum motivo para a animação da amiga.
— E o que seria isso? — Ela perguntou, mentalmente se questionando se era muito antiquado não saber? — Yggdrasil?
— Yggdrasil é a árvore da vida, também chamada de árvore do mundo. Está localizada no centro do universo e é responsável por equilibrar os nove reinos, e hoje é seu aniversário!
— E o que se faz no aniversário de uma árvore?
— Como será rainha se não conhece as tradições? — Mérula se pronunciou pela primeira vez no dia, as duas mais velhas ficaram até sem palavras. — Não quis ofender. — Ela disse e voltou a ficar em silencio, na verdade Alyssa sentia mais curiosidade referente a garota do que as lendas asgardianas.
Visto que Mérula não continuaria o discurso, Katiness respondeu:
— Depende, tem gente que se prepara para caça aos vampiros, que acontece amanhã, isso sim é uma lenda, nunca vi nenhum vampiro e ainda assim tem gente que sai por ai buscando por eles e outra metade do pessoal se esconde em casa. Mas o comum é que no dia de hoje, as pessoas façam um festival, tem bastante comida e danças e também tem a lenda da espada, dizem que só quem é digno de ser um salvador conseguiria retirar a espada da rocha.
— Já ouvi isso em algum lugar. — Alyssa pensa e depois da ombros. — Deve ser o martelo do Thor. — Ri e continua seguindo Katiness que as leva para uma fila onde retiram coroas de flores que estavam sendo estregue por camponesas. A cada minuto que passava ao poucos ela se sentia mais a vontade com a ideia de continuar ali por muito tempo.
Conversavam animadamente quando Katiness informou que buscaria algo para beberem, Alyssa se deitou no chão em meio a grama que por mais úmida que estivesse ainda era confortável, dava uma visão privilegiada para todo céu azul, Mérula apenas a imitou e fez o mesmo, ambas ignorando todo o festival que aos poucos se formava a sua volta.
Quando Katiness retornou com alguns sucos de castanha até pensou em se juntar a elas porém foi pega de surpresa quando um homem tocou seu ombro, Alyssa quase entrou na defensiva mas ao ver o sorriso da garota percebeu que eles já se conheciam.
O homem era moreno e alto, seus olhos eram azuis como o céu, a barba parecia ter feito recentemente, ele vestia um casaco de couro marrom e tinha uma espada na cintura.
— Lady Katiness, é bom te ver de novo. — No fundo Katiness era uma garota espontânea de mais e por mais que Alyssa já soubesse disso, teve certeza quando viu a morena abraçar o homem sem evitar demonstrar o quão estava feliz em vê-lo e logo depois tentar disfarçar ficando sem jeito.
— É bom te ver também! — Disfarçou. — Essas são minhas novas companheiras, Alyssa e Mérula. — Tentou ser informal, não deveria falar que as duas eram do castelo. — E esse é Chade Thomas. — ela apresenta o homem. — Um... Amigo. Aliás, será que eu deveria me preocupar? As ultimas vezes que nos encontramos vieram logo antes de encrencas. — Virou para Thomas.
— Se sim, é melhor estar preparada. — Riu. — É um prazer conhecer vocês. — Falou, agora para Alyssa e Mérula. — Já atiraram? — Apontou para uma competição de arco e flecha que ainda estava sendo montada.
— Sim, claro. — Alyssa mentiu de forma descarada atraindo um olhar questionador da amiga.
— Então podemos fazer uma competição e quem perder paga a rodada de cervejas. — Piscou para Katiness. — Como nos velhos tempos,
Alyssa ficou curiosa de mais porém sabia que não era o momento de perguntar sobre o passado dos dois, também pensou que Thor gostaria de estar ali para ganhar bebidas e tentar tirar espadas de pedras, isso era a cara dele, por outro lado, Loki provavelmente estaria reclamando de tudo, ou em silêncio apenas julgando mentalmente a forma em que os plebeus se divertiam.
Alyssa já havia se metido então resolveu seguir em frente por mais que nunca tivesse atirado de verdade com um arco e flecha, no máximo utilizado um para brincar sem saber que se tratava de uma arma a muitos e muitos anos atrás quando era criança e usado um artesanal em um baile em forma de acessório.
Seguiu Katiness e Thomas, que deram as honras para Mérula, deixando a mesma iniciar a brincadeira. A ruiva pareceu se preparar bastante, ficando com a expressão facial completamente séria, fez um suspense e atirou, a flecha passou umas três linhas do alvo mas para o tamanho dela até que tinha ido bem, ainda mais se levasse em conta o peso e o tamanho do arco.
Os três adultos aplaudiram, a menor pareceu sem graça. Thomas se afastou indicando o ponto que deveriam ficar para atirar, pegou o arco e flecha e entregou para Katiness.
— Sem pensar muito. — Chade orientou. Ela obedeceu, pegando o arco e posicionando a flecha e atirando sem pensar duas vezes, Alyssa pode jurar ver a flecha girar em câmera lenta até chegar no alvo, quase, no meio. — Foi por pouco. — Thomas brincou pegando o equipamento de suas mãos.
— Sem pensar muito. — Ela cutucou visto que ele já estava alguns segundos a calcular seu alvo porém acabou se desconcentrando e atirando no susto, ainda assim foi bem, a flecha parando logo a baixo da de Katiness ainda no mesmo alvo. Ele pareceu frustrado ao entregar o equipamento para Alyssa.
Estou ferrada.
Alyssa pensou enquanto se preparava para atirar, se tivesse dito que nunca fez aquilo na vida talvez tivesse um desconto. Respirou fundo, olhou para flecha de Thomas, para flecha de Katiness e para de Mérula, por fim olhou para o centro do alvo, sua mão estava soando e trêmula, ela não viu quando soltou a flecha mas a mesma saiu voando descontroladamente até acertar uma maça na árvore. Katiness não segurou o riso, Thomas ficou sem reação.
— Foi o vento. — Alyssa brincou, havia sido um fracasso mas um fracasso engraçado. Agora ela precisava avisar que não tinha dinheiro nenhum para pagar bebida para ninguém.
Eles continuaram andando pelo festival, vendo as plantas, vendo a fila de pessoas que tentava tirar a espada da pedra, tinha muito para se ver na verdade, tanto que o tempo foi passando, até que o sol começou a se por, e por todos os deus a vista ali era linda, parecia uma pintura das galerias do castelo.
Quando ficou noite as estrelas brilharam e elas eram milhares, Alyssa sentiu o vento bagunçando drasticamente seus cabelos enquanto a música animada aumentava e ela pensava se alguém do castelo já se dera conta de sua ausência, se sim, se mandariam alguém a procurar ou se Robbie faria suas cabeças dizendo que estava tudo certo e eles acreditariam.
Se Loki havia dado sua falta e se faria algo a respeito, se faltava muito tempo para ela voltar e se realmente voltaria.
Quando volta para sua consciência Thomas esta tirando Katiness para dançar, ela vai na onda, segurando as mãos de Mérula que parece estar bem feliz e animada e parecia saber mais o que fazer do que Alyssa, que apenas se juntou a roda onde mulheres dançavam em seus vestidos coloridos e com flores na cabeça alguma dança que parecia ser conhecida por todas e ela apenas tentava acompanhar. Havia tantos giros em torno de si própria que acabava ficando tonta.
Ouviu um barulho bem alto, como se algo houvesse explodido. Quando se deu conta havia soltado a mão de Mérula e se afastado da roda para tentar ver o que estava acontecendo. E realmente algo havia explodido, ou estavam sendo bombardeados ou coisa do tipo. Alyssa não sabia ao certo, mas viu fogo e o céu ficar laranja enquanto as pessoas corriam e gritavam.
Ela levou alguns segundos para sair do transe e voltar totalmente a consciência, quando isso aconteceu o barulho ficou mais alto, no meio do caos o relógio badalava indicando meia noite, o que por algum motivo só tornava tudo mais assustador.
As pessoas aos poucos desapareciam, era um lugar aberto mas pareceu se fechar de tanta fumaça, Alyssa adentrou a fumaça procurando Mérula, maldita hora que soltou sua mão, se algo acontecesse se culparia para sempre. Sentiu algo em seu tornozelo e viu uma mão agarrar seu pé mas quando se deu conta já havia se soltado. O que diabos estava acontecendo?
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