HYPOCRISY ⸺͏͏ four
— Não! LOKI! — Alyssa gritou vendo Loki dar as costas e sair. — Volta aqui! — Ele não poderia simplesmente dar as costas e ir embora.
Ou poderia, ele ainda era Loki e acabara de receber uma ajuda para se livrar de alguém que estava em seu caminho, ele nem tinha motivos para recusar.
O líder do grupo se esticou para pegar no ar o objeto mágico, que explodiu em milhares de pedacinhos de vidro, como uma pinhata. O vidro ficou preso em todo o rosto, pescoço e braços do homem, que gritou de dor.
Alyssa Belle ergueu os olhos assustada, pegando uma faca de cozinha, que poderia der usada para defesa em último caso, pronta para dar seu melhor em sair dali cautelosamente e depois se vingar de Loki por ter a entregado.
Os outros pagões largaram o ouro e foram checar se o líder estava bem, porém caíram antes mesmo de chegar até ele.
Um homem que sobrou, barbudo e gordo que pouco havia se pronunciado até então, gritou com raiva indo em direção a Alyssa;
— O ouro estava envenenado, maldita!
Alyssa agiu rápido cravando a faca no pescoço desse no momento em que ele foi para cima dela por puro reflexo.
O homem desfaleceu seu corpo sobre o dela, que chocada demorou alguns segundos até reagir e empurrar o mesmo para o chão. O som foi alto e incômodo, ela levou as mãos à cabeça em um ato espontâneo de preocupação.
Estavam todos mortos.
Um grupo de pagãos mortos no chão do salão no primeiro dia que Asgard esteve sob sua responsabilidade, mais um pouco e ela sentiria suas pernas bambearem e cairiam no chão.
O pior de tudo era olhar para o homem com a faca no pescoço, ela havia feito aquilo e era tão horrível que sentia vontade de vomitar.
Saiu correndo, dando literalmente de cara com Loki, tanto que esbarrou no mesmo, tendo seu rosto no peito do homem, ela se afastou e olhou para cima, estava segurando o choro e ele sabia disso.
— Não podia ter usado um plano menos violento? Com menos mortes? — Ela falou depois de mais ou menos dois minutos parada o encarando e segurando os braços dele. Loki manteve todo o tempo o rosto sem nenhuma expressão facial que pudesse ser interpretada.
— Eu não tenho culpa se eles eram tão burros.
— Tem um homem com uma faca no pescoço no chão do nosso salão, e eu fiz isso! Eu... Eu não deveria... Você... — ela estava sem palavras, em choque talvez.
Loki se segurou para não usar seus poderes psíquicos e acalmá-la, já tinha feito caridade de mais para um dia só, ainda assim, no final, acabou usando sua magia para esse fim, embora Alyssa nem tenha notado.
— Você pode me agradecer depois, agora vou mandar limpar isso. — Ele disse simplesmente.
— Como você pode ser tão frio? Você ia mesmo me entregar para aqueles pagãos? E se o plano tivesse falhado?
— Eu não entendo a razão de você ainda ficar chocada Alyssa, o mundo é cruel. Não fui eu que matei oitenta pessoas em dois dias? Acha mesmo que esses homens fazem alguma diferença? Nós fizemos um favor para Asgard.
Alyssa olhou fixamente no esverdeado dos olhos de Loki, até então ela havia esquecido ou escolhido esquecer quem ele realmente era? Ele mesmo admitia seus crimes, se auto-nomeando assassino e não demonstrando qualquer resquício de arrependimento. E fora nele que ela confiará sua vida na situação que as coisas ficaram difíceis.
Que hipocrisia.
Ela soltou os braços do homem que nem havia notado que estava segurando. Não sabia o que seria agora, se ele voltaria para masmorra ou se ainda tentaria a matar, o que na cabeça de Alyssa Belle não parecia um plano absurdo.
Ele poderia facilmente matar Alyssa e dizer que foram os pagãos e por isso matou os mesmos, ele se livraria dela, levaria os créditos e seu caminho para o trono estaria livre. Dane-se a profecia de Asgard, ninguém além de Odin parecia se preocupar com ela, e ela era aparentemente o único motivo de Alyssa estar viva.
Ela foi até seu quarto, tentando dar passos firmes e fazer tudo o mais rápido o possível. Quando colocou a cabeça no travesseiro e fechou os olhos sentiu o cansaço lhe atingir como uma pedra na cabeça.
Então um milhão de coisas lhe veio a mente, seu dia como rainha; diálogos que teve na masmorra com Loki; ele aceitando ajuda-la; o jeito que adentraram o salão juntos de mãos dadas demonstrando confiança; o jeito que ela se sentiu quando acreditou que ele realmente tivesse a traído e a entregado; a forma que matou um homem com tamanha facilidade; a imagem desse mesmo com a faca no pescoço caído chão; todo o desdém que Loki demonstrava.
Como ele poderia ser indiferente diante disso? Ela se perguntava. Sem imaginar que na verdade ele era apenas um bom ator, tinha sim ficado preocupado e até com um pouco de medo, mas não demonstraria por orgulho e por simplesmente achar que era o melhor a se fazer, a postura de indiferença combinava com ele e por isso ele não pensava em abrir mão dela por nada, nem pela empatia de Alyssa. Afinal era isso que o mantinha seguro.
Alyssa Belle não conseguiu dormir, ficou deitada observando o céu clarear pela fresta aberta de uma de suas janelas. Toda vez que fechava os olhos as cenas horríveis daquele maldito jantar lhe vinham a mente de forma nitidamente real.
A porta de seu quarto abriu, e ela se sentou na cama em um susto, pegando um cabide que estava jogado na mesa de cabeceira como aquilo fosse ajuda-la a se defender.
Loki riu enquanto entrava no quarto e caminhava em direção a Alyssa, notando o medo e o cansaço.
— Não precisa disso, só vim conversar e não te matar. — Apontou para o cabide apontado para seu peito. Alyssa o abaixou lentamente, mas sem solta-lo enquanto Loki sentava na sua cama, sem convite. — A propósito, você esta péssima.
— O que? — Ela perguntou incrédula com o desdobrar da situação.
— A noite você estava maravilhosamente gloriosa, mas depois de matar uma pessoa e passar a noite em claro, eu sinto que não posso dizer o mesmo.
— Ok, você invade o meu quarto de madrugada para dizer que eu estou feia? Loki, pelo amor de Odin! O que você quer? Aliás, como entrou aqui? — Ela ia dar um tapa nele, mas ele segurou o braço dela e riu.
— Os guardas acidentalmente caíram no sono, então vim ver como você estava. — Ele assumiu que tinha os enfeitiçado sem precisar usar as palavras, Alyssa captou rapidamente a mensagem. — É sério, só vim ver se você estava bem. Mas já que esta acordada quero propor que Odin não fique sabendo dos acontecimentos de hoje.
— Por qual razão? — Ela perguntou. Se ele estava tão ansioso para lhe pedir isso que não aguentou esperar o dia seguinte era de se imaginar que tivesse um grande motivo para isso.
— Nenhuma em especial, mas pode acabar com a nossa reputação.
— O que eu ganharia por mentir para o meu rei? — Perguntou com expressão de descaso embora o olhar sonolento e as olheiras marcadas embaixo de suas pupilas dilatadas.
— Além da minha gratidão? O prazer da minha companhia? — Disse imitando a frase que ouviu dela mesma na masmorra mais cedo. — Eu ajudei a salvar sua vida, nem estou pedindo os créditos.
Ele tinha um pouco de razão, mas embora sonolenta, Alyssa era sóbria o suficiente para ter consciência de que não podia tomar decisões sem pensar, assustada e caindo de sono.
— Quem disse que sua companhia é um prazer? Você é tão sem criatividade a ponto de ter que copiar minhas frases?
— Você não deixa nada passar querida, faz de tudo um debate. — Ele revirou os olhos.
— Pare de me chamar assim! Não somos íntimos! E eu juro que da próxima vez que entrar no meu quarto no meio da noite, eu te mato.
— Só se for de prazer. — Ele disse e ela corou imediatamente, morrendo de vergonha.
Guardou o bendito cabide e soltou seu braço da mão dele, nem havia percebido que ele ainda a segurava. Tudo parecia meticulosamente calculado para que ele ficasse sem graça. Ela nem sabia como ainda estava aceitando aquilo, devia usar o resto de poder que lhe sobrava para mandar ele para masmorra por invadir o seu quarto, ou simplesmente por lá ser o lugar que ele nem deveria ter saído.
Ignorou o comentário e continuou:
— Eu vou pensar no seu caso. — Travou ao pensar na margem de possibilidade dele interpretar aquilo errado, então se justificou. — Sobre contar ou não para Odin... E não sobre te matar de prazer. Te responderei quando estiver de fato acordada, agora você pode se retirar... Ou me ajudar a dormir.
— Como espera que eu faça isso?
— Use seus poderes, você não é tipo uma bruxa? E faça eu ter bons sonhos, tipo com um lindo príncipe, alto, forte e sexy que me leve para bem longe de Asgard.
— Eu não vou fazer isso, pode tirar seu cavalinho da chuva. — Ele rebateu. Olhou em volta, em cima da mesinha de madeira, ao lado do cabide, havia um livro lido pela metade, uma fita de cetim vermelha marcava a última pagina lida. — Posso ler para você. É o máximo que eu faria e apenas por que o livro me parece bom.
Ela não respondeu, apenas balançou a cabeça positivamente com os olhos fechados e os cabelos escuros espalhados pelo travesseiro. Loki respirou fundo e pegou o livro, abriu na pagina marcada e começou a ler, sem saber bem a razão de estar fazendo aquilo.
Mas era agradável, ele dividia o olhar entre as folhas amareladas do livro antigo e o rosto da garota, que demorou longos minutos para conseguir relaxar e finalmente pegar no sono aos poucos, com a bochecha amassada pelo travesseiro, cabelo no rosto e a mão no braço dele.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro