GUESTS OF DISHONOR ⸺͏͏ three
Seu dia como rainha estava quieto, claro que ela ainda não havia se dado ao privilégio de se sentar ao trono, por exemplo. Era uma audácia grande de mais até mesmo para ela.
Porém era prazeroso saber que o Odin havia deixado a ordem de que enquanto estivesse ausente ela tomaria as decisões. Era impressionante como a sensação de poder, cuja qual ela nunca fez questão derrepente começava a subir sua mente, fazendo com que ela chegasse acreditar que realmente havia nascido para aquilo, mesmo que na verdade, ainda não tivesse feito nada.
Contudo, se parasse para pensar de maneira mais racional, era uma responsabilidade que ela nunca havia sido preparada para assumir.
No fundo Alyssa era apenas uma garota nova de mais, privada de todo o mundo fora do palácio e com a vida pré-determinada por uma profecia que foi lida por um rei. Sempre foram as vontades de Odin e nunca as dela.
Nunca foi repreendida mas isso porque nunca fez escândalos, e o maior escândalo que poderia fazer era ser uma rainha, ao menos por um dia. Ser uma rainha mesmo quando todos esperassem que ela fosse apenas a esposa do rei.
Na biblioteca ela retirava os livros em busca de algum que chamasse sua atençao e que nunca houvesse lido antes, o que era bem raro, quando você é jovem, sem amigos e mora em um palácio que possuí uma biblioteca, seu destino acaba se tornando ler todos os livros ali contidos, desde livros sobre magia, feiticeiros asgardianos e profecias antigas até poesias que soavam mais como cartas de despedida à alguém que se ama intensamente.
— Com sua licença, my lady. — uma das servas do palácio asgardiano entrou na biblioteca. Teoricamente ela não poderia fazer isso mas Alyssa Belle não era uma ditadora, nem era uma rainha de verdade.
— Sim? — Alyssa Belle mostrou sua atenção com um pequeno sorriso simpático no canto dos lábios.
— Há visitas no palácio. — A serva parecia nervosa e ansiosa. Alyssa não conseguia entender.
— Os guardas permitiram que entrassem? Quem são?
— Os guardas estão... Feridos, alguns parecem que morreram. Eu não sei... — A moça se atrapalhava em suas palavras. — Eles exigem ver o representante de Odin, creio que vieram pois sabiam que a segurança estava reduzida uma vez que o rei está ausente... Mas como descobriram?
— Quem são? — Alyssa perguntou o mais firmemente que pode, ansiando que a explicação fosse clara.
— Eu não sei, minha senhora. Eles não parecem ser de nenhum dos nove reinos, mas disseram que estão aqui para recuperar algo precioso que lhes foi roubado.
— Irei até eles. — Disse simplesmente, ajeitando as mangas do vestido preto e vermelho de veludo que se destacava em sua pele pálida, o cabelo estava preso em um coque arrumado. Para sua sorte ela estava justamente vestida como uma rainha que esperava convidados. Agora só precisaria agir como uma. Mesmo estando sim com medo da situação.
Alyssa Belle entrou no salão atraindo o olhar de uns oito ou nove homens que possuiam o dobro do seu tamanho. Seus passos eram confiantes por mais que os olhares lhe medissem de cima a baixo.
— É a representante de Odin? Uma garotinha? — Um dos homens riu.
— É um prazer recebê-los aqui. — Ela sorriu falso. —E quem são vocês? — Ela perguntou e logo em seguida se arrependeu, aquilo era algo que provavelmente ela já deveria saber.
Outra risada de sátira surgiu no salão, o mais magro deles veio do fundo, passando no meio dos outros e finalmente parando frente a frente com Alyssa Belle.
— Não importa quem somos, importa o que viemos fazer e o quanto você irá colaborar ou não. Princesinha. — ele falava bem próximo de seu rosto, fazendo com que ela esticasse o pescoço para trás.
— Então diga, senhor. — preferiu em uma falsa educação ansiando por sair logo dali e se livrar daquela sensação de que estava tudo fora de controle.
— Odin possui um artefato mágico em algum lugar dessa castelo, o fato é, precisamos dele de volta.
— De volta?
— Sim, era nosso por direito. Ele roubou e agora viemos fazer a reivindicação. — Agora o homem passou a andar em círculos, por alguma razão.
— Perdão, mas como espera que eu ajude vocês? Vocês não se identificaram, não dão detalhes do que procuram e nem da razão. Nesse caso, sinto muito em dizer que não entregarei nenhum pertence asgardiano nas mãos de vocês. — Engoliu seco, mas seguiu sorrindo.
— Se tivessemos vindo para dar explicações teriamos comparecido quando o próprio Odin estivesse presente! É melhor nos ajudar, ou Asgard sofrerá as consequências.
— Como? — Ela estava odiando o tom que vinha de seus não convidados, mas mantia firmeza na voz embora nem tivesse autoridade para tal.
— Você não é o destino de Asgard? A futura rainha? O impedimento do Ragnarok? — O homem continuava debochando. —O que aconteceria se você fosse morta antes de chegar no trono? A queda dos deuses ocorreria? Pois eu acho isso muito vantajoso.
— É claro que vocês estão ansiosos. Faremos o seguinte. — Deu uma pequena pausa, agora havia conseguido reunir todo o autocontrole e confiança de dentro de si. — Aproveitem a tarde no palácio, de noite, faremos um banquete para o jantar e então, negociaremos.
— Por enquanto vou aceitar sua proposta, princesa. — Um dos homens sorriu debochado, Alyssa fez uma reverência forçada e deu as costas.
De volta às masmorras de Asgard, andando rápido de mais para não ter que parar para pensar. Só desacelerou quando parou na frente da cela dourada de Loki.
Loki estava deitado na cama lendo um livro, tão tranquilamente que nem parecia um prisioneiro. Ela pigarreou para chamar sua atenção e então ele a olhou como se ela fosse algum vendedor ambulante indesejável.
— Preciso de sua ajuda. — Ela quase que ordenou, ele fechou o livro, curioso, se levantou.
— E o que faz pensar que eu estou disposto a te ajudar?
— Não é um pedido, é uma ordem. Da sua rainha. — Ela falou em uma falsa arrogância, nem queria dizer aquilo, mas se forçava para quem sabe, convence-lo de alguma forma.
— Você s só será minha rainha, quando se casar comigo e enquanto esse dia não chega, vou ter que consultar minha agenda. — Ironizou.
— Loki, por favor. — Ela pediria por favor cem vezes se fosse preciso, mas sabia que não era o suficiente para Loki.
— E o que eu ganho em troca?
— Além da minha gratidão? O prazer da minha companhia! — ela estava nervosa, por mais que fingisse não estar, suas mãos e lábios trêmulos denunciavam isso, assim como sua risada nervosa e Loki, detalhista do jeito que era, provavelmente notaria mesmo que estivesse de olhos vendados.
— Vou querer um pouco mais que isso, querida. — Ele riu. — Se me lembro bem, pouco tempo atrás você era um poço de confiança e atitude, sentindo-se a própria rainha coroada. Mas agora vem pedir ajuda desse pobre deus enjaulado? O que aconteceu?
Alyssa Belle contou tudo o acontecimento, a forma cuja qual o palácio havia sido praticamente invadido. Admitiu sua derrota antecipadamente, por falta de conhecimento e forças, já com o pressentimento que Loki recusaria ajuda-la e ainda riria de sua cara.
Ele realmente riu, e não foi pouco. Mas aceitou ajuda-la.
Um pouco mais tarde, quando o sol já se punha e o jantar já era servido, os dois adentraram o salão. Seus trajes estavam combinando, em tons de preto e vermelho bordô, embora Loki ainda preferisse seu característico verde, ambos com acessórios dourados.
Alyssa Belle segurava o braço de Loki e sorria largamente como se houvesse acabado de ganhar na loteria. Loki tinha seus cabelos bagunçados, mas sua postura e roupas mostravam claramente que ele era um príncipe.
Ao entrarem no salão, os não convidados já estavam lá, desfrutando e muito bem da comida, todos olharam Loki e Alyssa de cima a baixo, sentindo exalar superioridade vinda dos dois.
Como se entre eles houvesse uma química nova. Talvez fosse única e exclusivamente o cenário da situação. Ou talvez realmente houvesse um potencial de baixo daquelas briguinhas infantis repletas de sarcasmo e disputas ambíguas.
— Príncipe Loki de Asgard, Lady Alyssa Belle de Asgard. — O guarda anunciou por mera formalidade.
— Como está o jantar? — Loki perguntou tateando a espada de ouro na sua cintura, usou sua mão destra para ir de encontro com a mão de Alyssa que estava agarrando seu braço.
Fez a mão dela percorrer seu braço até chegar à altura de sua outra mão e então entrelaçaram os dedos, os dois com um sorriso ladino que não dizia muita coisa mas atraiam olhares.
Sentaram-se, sentindo-se atores e sem desfazer o nó das mãos, para Alyssa era bom que Loki assumisse o controle, ele tinha mais preparo que ela.
Sem mencionar que ele era o maldito deus da mentira, atuação definitivamente era o lance dele.
— É bom, como quase tudo que vem de Asgard. — O líder deles falou.
— Eu sei quem vocês são. — Loki disse depois de um bom tempo em silêncio, quando boa parte da comida havia sido devorada, como se aquela mesa estivesse rodeada por bárbaros.
Alyssa Belle fora a única que não conseguiu levar sequer um pedaço de frango para boca. Aquele clima e aquela tensão acabavam com seu apetite.
— Então imagino que saiba o que queremos.
— Sim. — Loki concordou e Alyssa olhou curiosa, se perguntando mentalmente se ele não estava sendo muito audacioso. Mas logo ele desenvolveu sua tese. — Vocês são pagões. Querem ouro e querem o olho mágico.
— Muito bem, é certo o que dizem; que dentre os príncipes, embora não seja o preferido é o mais inteligente.
— Vou servir o ouro. — Loki ignorou os comentários, bateu palmas como sinal, e logo o ouro foi literalmente servido em bandeijas. Os pagões se levantaram rapidamente, indo ver mais de perto, sentindo o peso das moedas nas mãos. — Peguem isso como sinal de boa vontade.
— Agora só falta o olho mágico e...
— Vocês não têm poder para usar, mesmo que eu lhe entregue. — Loki interrompeu sem deixar o pagão terminar.
O líder deles, único que não se levantou por ter sido atraído por ouro, sorri.
O olho mágico era um artefato mágico de Asgard, uma espécie de espelho que quando usado sob uma determinada quantidade de poder mágico, revelava o futuro.
— É claro, não temos poder... E por isso precisamos de um sacrifico. Um sacrifício que custe muito, seja grande e poderoso. — Esse lançou um olhar para Alyssa que fez ela congelar por dentro, ele finalmente se levantou e caminhou até a garota, se inclinando sobre ela e acariciando seu rosto.
Loki apenas observava seus movimentos em silêncio.
Pagões não eram de nenhum dos nove reinos, vagavam por todos, oferecendo sacrifícios humanos para seus deuses imaginários em troca de riquezas materiais, força física e magia. E que sacrifício seria melhor do que a cumpridora da profecia de Asgard? Loki logo entendeu o recado, a mensagem nas entrelinhas.
— Melhor para você, não é mesmo príncipe Loki? Depois que se livrar dela, só terá que se livrar de seu irmão. — O homem riu. — Todos nós saímos ganhando. E quando você assumir Asgard, o serviremos, como prova da gratidão por nos entregar o ouro, o espelho e a garota. Faremos até rituais para que seu poder aumente.
Loki observava, respirando calmamente e de forma silenciosa, sem demonstrar um singelo sinal de indecisão ou nervosismo. Ou um singelo sinal de qualquer coisa.
Era uma proposta melhor do que ele imaginava.
Olhou para Alyssa, ela estava claramente apavorada, sentindo o rosto do homem cada vez mais perto do seu, respirando em seu rosto, fazendo ela fechar os olhos angustiada. Era óbvio que ele se aproveitaria dela antes de fazer dela um sacrifício sangrento.
— Me convenceram, espero que façam bom proveito e que não esqueçam da parte de vocês do acordo. — Com um feitiço simples, Loki tirou o Olho Mágico da manga e o deixou flutuando sob a mesa, antes de se levantar e dar as costas.
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