Alyssa Belle caminhou em passos ágeis até a adega e para sua sorte a mesma estava vazia. Ali havia cerveja e vinho, de todos os tipos. Ela pegou uma garrafa qualquer e se retirou pela porta dos fundos sem nem ao menos ler o rótulo da bebida. 

À porta dos fundos dava para um pequeno jardim, ou uma pequena área de serviço.  Ela se sentou em um punhado de pedras e assim que abriu a garrafa, acabou se assustando e quase tombou para trás ao ouvir a vóz  grossa falando próximo de mais de seu ouvido.

— Acha bonito uma dama pegar bebida escondido e encher a cara em plena luz do dia?  — Era Thor, obviamente. Ele sentou do lado de Alyssa Belle mesmo não havendo recebido um convite.

Ela ignrou, levou a garrafa de vinho até a boca e engoliu uma grande quantidade.

— Me magoa quando me ignora, eu havia até trazido as taças. — Thor falou em um falso tom de voz de quem havia se ofendido.  Apoiou a taça no muro de pedra qual a morena estava sentada e pegou a garrafa de sua mão, servindo duas taças.

— Porque trouxe taças?  Esta querendo brindar a prisão de seu irmão? — Perguntou e Thor fez que não com a cabeça, tendo no rosto uma expressão de decepção, ainda que neutra.

— Me sinto mal por ele. Corrompido pelo poder e de brinde nos odeia.

— Agora pouco ele falou coisas para mim...  Ao meu respeito e ao seu também, eu rebati à altura.  Mas agora, parando para pensar talvez ele apenas estivesse bravo por ir para masmorra. — Ela abaixou os olhos com um certo remorso no olhar, o que fez Thor rir.

— Alyssa Belle enchendo a cara por ter brigado com Loki?  Por essa eu realmente não esperava, na verdade eu adoraria ter visto a discussão...  Ou será que você está triste por saber que não o verá mais?

— Não!  Claro que não. — Ela negou convictamente. — Ele deve pagar pelo que fez!  O que eu disse não muda nada e não é tão anormal que eu beba.  Você adora fingir que sabe de tudo, não é mesmo Thor?

—  Sei que só bebe em jantares especiais e que fica bebada muito fácil.  Aliás, acho que não devo ser o único saber disso. — Era verdade mas tudo que ele falava era com o único intuito de encher a paciência dela. — Se sentir muita culpa, vá até a masmorra e desculpe-se com ele...

— Vamos fazer o brinde ou não? — A essa altura ambas as taças já estavam cheias com o vinho. Ela apenas ignorou tudo que Thor disse. 

— E qual é o motivo do brinde? — ele disse segurando também a própria taça de vinho.

— À minha coroa. — Ela sorrio gloriosa e Thor começou a desconfiar que o gole na garrafa já havia sido o suficiente para deixa-la bebada, uma vez que ela nunca proferiu em voz alta uma insinuação de que seria rainha.  Na verdade todas as vezes que citou o assunto foi para dizer que era uma péssima candidata ao cargo e que era fortemente contra a ideia embora gostasse de viver ali.

Eles brindaram sem protestos da parte de Thor, Alyssa Belle bebeu rapidamente o conteúdo de sua taça e a encheu novamente, enquanto Thor bebiba lenta e educadamente como um verdadeiro príncipe asgardiano.

— Por falar em sua coroa, ouvi falar que iremos nos casar. Não sei se eu sou o mais sortudo ou se é você. — Ele fez uma piada sem graça qual foi fortemente ignorada por Alyssa Belle bêbada.

Embora aquele assunto nunca fosse dito explicitamente, eles sempre souberam de que eram os planos de Odin, uma vez que ele queria que Alyssa fosse a rainha para impedir o ragnarok e não abriria mão de ter Thor no trono também.

Alyssa abriu os olhos e estava em sua cama.  Não sabia como havia acabado ali, mas sua cabeça doia e logo ela se lembrou de que havia bebido. Suspirou envergonhada e se levantou esticando os braços e as costas.

Olhou pela janela de seu quarto, o por do sol começava aparecer e era lindo. Ela ficou ali por alguns segundos até finalmente ir tomar um banho.

Vestiu outro vestido preto, era o segundo naquele dia. Mas esse agora era de mangas e de tecido fosco, com um colete dourado e preto.  Colocou as joias, brilhantes como sempre;  brincos longos, colares e enfeites de cabelo.  Anos atrás nunca imaginaria se vestir daquela forma, mesmo quando se mudou para o castelo não gostava muito daquilo. Mas anos depois havia se tornado prazeroso desfrutar de vestidos lindos, embora não fossem a maior razão de sua felicidade.

Quando pronta, descendo as escadas, lembrou-se do que Thor havia dito a respeito de Loki. Sobre ir visitá-lo na masmorra. Alyssa pensou duas vezes e resolveu que realmente iria. E foi.

Chegando na masmorra, passou pelos guardas sem dificuldades, ela nem sabia de onde vinha sua autonomia de ir e vir por aquele palácio. Não pediu instruções, apenas saiu andando as cegas pelos corredores da masmorra magica que era semelhante à um labirinto.

Muitos prisioneiros aparentemente mágicos estavam ali. Em celas bem perto umas das outras, as grades eram brilhantes e as paredes torturadoramente brancas. Virou corredores passando na frente de celas vazias até finalmente encontrar Loki.

Deu um passo para trás;  seu corpo estava no piloto automático e não havia planejado o que falar ou fazer. E agora já era tarde de mais para antecipações ou planejamento.

Loki logo notou sua presença se virando em um gesto cauteloso e a encarando de cima à baixo algumas vezes. 

— Não aguentou de saudades e veio me ver? Ou foi o peso da culpa?

— E desde quando isso é culpa minha? — Rebateu rapidamente.

— Então realmente era saudades. — Ele riu e quando parou esperou que ela se pronuncia-se dizendo alguma coisa, mas os discursos não vieram. — Como estão as coisas sem mim?

— Aparentemente nenhuma mudança. — Não entraria em detalhes mesmo se algo estivesse realmente mudado.

— E Thor?

— Está bem, como sempre. — Outra vez respondeu superficialmente com uma pitada de indiferença na voz.

— Ta aí algo que eu sou incapaz de imaginar;  você e Thor juntos, seria como misturar água e óleo.

—  Você está enganado. — Alyssa Belle discordou dando um passo a frente. — Hoje mesmo bebemos juntos e falamos sobre o assunto. — Ela tombou a cabeça para o lado, assistindo Loki caminhar até o limite das grades. Sim, ela involuntariamente queria ele irritado, mas mais que isso, queria o prazer de discordar do príncipe exilado.

Loki realmente podia sentir o vestígio da fragrância de vinho vindo do hálito de Alyssa e por um segundo sentiu seu corpo se arrepiar.

— É mais fácil você fugir desse castelo do que aceitar se casar com Thor. — Ele disse convicto demais para a opinião de Alyssa Belle. Certamente ela não queria casar-se com Thor, na verdade não queria se casar com ninguém, mas ele era bonito e educado e casando com ele se tornaria uma das pessoas mais importantes do reino, pensando assim, não era o fim do mundo.

— Você fala comigo como se me conhecesse como a palma da sua mão, quando na verdade, nunca fomos próximos. Se você me conhecesse de verdade, saberia que a vida toda eu fiz o que eu deveria ter feito, sendo da minha vontade ou não e é assim que pretendo continuar vivendo.

Loki ficou em silêncio. Era verdade, eles nunca foram próximos. Dançaram uma vez em um baile, se trombaram algumas vezes na biblioteca e nos corredores do castelo. Uma vez Alyssa Belle ficou bebada e deu um tapa na cara dele por não gostar de um comentário que ele fez, mas mal se lembrava disso, só sabia por terem lhe contando. E foi só isso, apenas. Nada mais.

O que não era nem de longe o suficiente para se odiarem ou se conhecerem de verdade. Mas Loki era um perfeito observador, de pessoas e de mentes. E mais ainda quando uma pessoa chamava sua atenção ou dispertava a sua curiosidade, e desde sempre Alyssa Belle fez as duas coisas simultaneamente e sem esforços.

— Você ficaria melhor sendo a minha rainha. — Loki disse e ela ficou paralisada por alguns segundos, como se tivesse sido pega de surpresa.

— Não me faça rir. — Alyssa riu e ajeitou seus cabelos os penteando com os dedos. Suspirou e deu um passo para trás. –—Vou indo, tenho muito o que fazer até me tornar rainha.  Não sua Rainha, ou rainha de Thor, mas rainha de Asgard.

Ela disse deu as costas. Suspirou e se concentrou em lembrar o caminho de volta até o corredor principal de fora da masmorra. Loki a observou com os olhos semirrados e por fim soltou uma risada nasal.

Não era difícil saber que Alyssa estava triste, muito menos quando se possuía os poderes dele. Ele riu sozinho, vendo ela tentando se convencer de seu próprio discurso, que na verdade era apenas uma tentativa de chegar até ele quando ela mesma achava suas palavras idiotas e sem valor.

— Thor não vai jantar? — Alyssa Belle perguntou discretamente para Frigga. Não costumava falar muito durante o jantar.

A mesa era grande desde sempre, e também sempre fora vazia, já agora estava mais ainda, tendo sentados em volta dela apenas Odin, Frigga e Alyssa.

— Thor ficara ausente alguns dias, está novamente em Midgard.

— Ele vai lá com certa frequência. — Soltou sua pequena observação, Thor parecia gostar da terra, já Loki sempre achou aquilo patético, o que era estranho o motivo dele ter escolhido logo o povo de lá para tentar liderar. 

Talvez por serem mais fáceis de serem manipulados, ou por pena, achando que se ele fosse seu rei as coisas finalmente andariam da maneira que deviam. As vezes Loki realmente tinha ideias distorcidas.

Já Alyssa Belle não possuia uma opinião, os dizeres destintos de Thor e Loki não eram o suficientes para que ela chegasse realmente a pensar algo sobre Midgard. Mas possuia certa curiosidade inegável.

— Ele está em missões com os heróis de lá e esquece de ser o herói do próprio reino.

Por um momento Alyssa Belle pensou que caso ela viesse a se casar com Thor, possivelmente enfrentaria tudo sozinha, uma vez que ele só dava as caras em Asgard quando bem entendia.

Pelo visto não era sua prioridade ser rei, e se era, estava tratando aquilo com desdém e dando uma certa razão para as vezes em que Loki o chamará de irresponsável. Loki sempre foi mais estudioso, interessado e dedicado que ele.

Ela desviou sua mente do assunto e deu um gole em sua taça com água.

— Talvez ele tenha alguém na terra. — Belle falou para mudar de assunto e também para tentar conseguir novas informações relevantes. Mas não obteve uma resposta que suprimisse sua curiosidade.

— Isso não vêm ao caso. — Odin rebateu, cortando o assunto. — O que tenho à dizer é que também temos uma missão para você.

— Claro majestade, estou a seu dispor. — Parou de comer imediatamente e abaixou significativa sua cabeça com gesto de reverencia.

— Eu e Frigga partiremos amanhã cedo para uma missão de diplomacia no reino Nidavellir, uma missão que embora sigilosa é de grande importância, um artefato muito importante para Asgard está em jogo. Thor ficaria responsável pelo castelo nos dias em que nos ausentarmos, mas ele, aparentemente esqueceu de sua obrigação quando saiu sem dizer quando voltaria e por isso, quero que fique no comando das coisas por aqui.

Alyssa Belle engoliu seco, aquilo era uma grande responsabilidade e ela não sabia se estava preparada. Na verdade, não estava.

A vida toda foi preparada apenas para  se casar com um rei e ser rainha por consequência. Assim estaria no trono e cumpriria a profecia, mesmo o responsável de fato pelo reino sendo outra pessoa.

Agora se ela fosse coroada, antes de casar-se ela seria a rainha, ela tomaria as decisões. E se pudesse escolher, faria assim. Pelo menos era isso que ela pensava quando parava para analisar as opções de rei para Asgard.

Mas não aconteceria, Loki e Thor foram a vida toda preparados para governar, e não só ter uma coroa na cabeça e se sentar em um trono a mando de uma profecia. E Alyssa Belle, bom, temia em fazer algo errado ao ficar responsável por Asgard por três dias e meio.

Mas talvez aquilo fosse um voto de confiança vindo da parte de Odin, o que não era de se esperar, mas que também não podia ser desperdiçado.

Ela faria aquilo da melhor maneira, não seria a rainha que queriam que fossem, seria melhor que isso, seria uma governante independente. Como repetiu para si própria milhares de vezes: faria seu destino acontecer sem tentar fugir dele.

E chegava a ser engraçado o modo de que aquele assunto podia fazer ela se sentir um poço de confiança e sorte, como as vezes podia fazer com que ela se vitimizasse e se auto amaldiçoasse.  Para sorte de todos, naquele dia, ela estava da primeira maneira citada.