64 | Uma Forma Diferente
𖤍 T a l i s s a 𖤍
Nós dois voltamos para o palácio sem qualquer pressa. Deixamos Atticus e Love nas baias e caminhamos para dentro do local. Loki deixou a cesta com uma das serventes do palácio e nós seguimos para o terraço lateral, onde supostamente todos estavam.
A cantoria não enganava. A voz de Thor se sobressaía, grave e alta, cantando uma música antiga. Os outros o acompanhavam. Odin, Frey, Njord, todos cantavam animados. Nós nos aproximamos lentamente, sentando no canto da mesa, e Loki sentou-se entre Frigga e eu.
— Vão passar a noite aqui? Estive pensando em um jantar a céu aberto. — Frigga diz. Loki me olha, curioso por minha resposta, e eu dou de ombros, deixando a decisão para ele.
— Vamos. Retornamos amanhã, pela manhã. — Loki responde, e eu vejo Frigga sorrir. Sabia que ela sentia falta do filho tal qual ele sentia dela.
A atenção dos cantores foi roubada por Sif e Eira, que adentraram o terraço com Stela e Thrud. Stela já andava sozinha, e ao me ver, me reconheceu de imediato e veio na minha direção, abrindo os braços para mim. Eu a peguei, distribuindo curtos beijos por sua cabeça, ouvindo sua risada.
— Titia! — Ela diz, me fazendo sorrir.
— É a titia sim! Sua espertinha.
— Titi! — É a vez de Thrud tentar falar. Coisa que eu não sabia que ela já estava fazendo.
— Pois é. — Sif diz, como se lesse meus pensamentos. — Já fala mamãe, papai. Recentemente falou vovó. — Ela diz, e eu vejo o sorriso largo de Frigga.
— Titi! — Thrud chamou mais uma vez, erguendo os bracinhos gorduchos para Loki.
Ele sorriu de forma genuína para a sobrinha e a pegou, a ajustando no seu braço, para que ficasse de pé. Ela e Stela se entreolharam e sorriram uma para a outra. Thor se aproximou, com sua enorme caneca de cerveja, e serviu vinho em duas taças, uma para Loki e uma para mim.
— Quando é que vamos ver um mini Loki? Ou uma mini Talissa? — Hogun perguntou. Podia perceber que estava parcialmente bêbado, como quase todos ali.
— Algum dia, com certeza. — Loki responde, brincando com as mãos de Thrud, fazendo-a rir.
— Nem dê esperanças, nossa mãe contará os dias até isso acontecer. — Thor diz, apontando para Frigga, que ri e joga uma toalha de mão nele
— Mas é sério, precisamos ver um bebêzinho de vocês dois. — Freya diz. — Não tenham pressa, vamos esperar. — Completa.
— E vão mesmo.
— Só depois do casamento, é? — Thor pergunta, e Loki ri e assente.
— Já estamos estáveis em Midgard, mas queremos conhecer mais do mundo. — Ele diz, e eu assinto.
Finalmente o assunto deixa de ser nós, nosso relacionamento ou nosso futuro. Eu odiava falar sobre mim e sobre os meus planos, principalmente para tanta gente, ou para pessoas que eu não considerava tão próximas assim para dividir.
Nós dois continuamos brincando com Stela e Thrud, cansando as duas, fazendo-as dormir bem no horário que o jantar foi servido. Frigga havia pedido para tudo ser entregue no terraço, na enorme mesa, e nós jantamos juntos mais uma vez. Eu conversando com Thor sobre meus poderes de raios estarem muito melhorados, e Loki explicando a Frigga sobre como funcionavam os leilões de peças raras que sediávamos nas nossas galerias.
Tudo acabou bem tarde, mais uma vez envolto em bebedeira, vinho, cerveja, muita conversa trocada e histórias contadas. Nós dois saímos juntos, um pouco antes dos demais, pois eu já estava com frio por conta do vestido curto, e nós descemos para o salão, mas antes de tomar o corredor dos quartos, Loki me puxou pela cintura, me guiando para outro local. Um que eu ainda não havia visitado. A sala de tesouros de Odin.
— O que estamos fazendo aqui, Loki? — Perguntei, cruzando os braços e caminhando um pouco atrás dele, desconfiada.
— Só quero te mostrar uma coisa. Algo que já deveria ter visto. — Diz, tocando minhas mãos gentilmente, e me puxando para continuar lhe acompanhando.
A sala dos tesouros abrigava muitas coisas. E Loki me mostrou e explicou sobre cada uma delas. A Chama Eterna, a Tabuleta da Vida e do Tempo, o Tesseract — que tomou uma grande atenção de Loki —, uma Manopla do Infinito — que Loki disse ser falsa —, a Coroa de Surtur — que me fez pensar e lembrar de toda aquela situação estressante —, o Diapasão, o Olho do Bruxo, e o último, que possivelmente era o que ele estava me levando ali para ver, a Caixa dos Invernos Antigos.
— Você já sabe toda a minha história. Sabe que sou jotun, filho de Farbauti, e tudo isso, mas… Você não me viu como eu sou. Ou… Como deveria ser.
— Do que está falando?
— Da minha outra aparência.
Loki se aproximou da tal caixa e a pegou. Ele fechou os olhos, provavelmente se concentrando, e eu pude ver um brilho leve vindo da caixa. Não demorou até o que quer que Loki estivesse fazendo para surtir efeito. A transformação começou por suas mãos, passando por braços, torso, pernas e cabeça.
Seu corpo todo havia sido tomado por uma tonalidade azul intensa e fria. Os lábios e unhas estavam um pouco mais escuros que o restante do corpo, e eu podia sentir a sua temperatura. Extremamente congelante. Haviam marcas nas bochechas, testa, queixo e pescoço de Loki, e ele logo abriu os olhos, revelando íris em vermelho vivo.
Eu estava surpresa, sim. Não era isso que eu esperava. Não havia sequer chegado próximo do que eu imaginei. Era melhor. Era incrível e lindo, embora diferente demais. Loki franziu as sobrancelhas, talvez esperando algum comentário meu.
Me aproximei, e toquei sua bochecha, aquecendo sua pele com a palma da minha mão. Lhe dei um beijo, passando o conforto que eu sabia que ele precisava. Ele estava inseguro em me mostrar isso, eu podia sentir.
— Isso é o que eu deveria parecer. — Diz, não perdendo o contato visual por um segundo.
— Seria tão lindo quanto, meu amor. Sua transformação é magnífica. — Digo, e o ouço sorrir, surpreso.
— A caixa também intensifica um pouco dos meus poderes de gelo, que quase nunca uso. — Ele diz, erguendo a palma para cima, fazendo surgir uma pequena energia fria, pela manipulação do gelo.
Eu ergui a minha, deixando ao lado da sua, fazendo aparecer uma chama vermelha. Loki olhou para as nossas mãos e depois para mim, sorrindo.
— Somos o perfeito oposto um do outro.
— E ainda assim tão iguais. — Completa.
Ele devolveu a caixa para a pedra, fazendo apagar o brilho de dentro, e pouco a pouco voltou para a sua forma “humana”. Nós saímos da sala, enfim subindo para o nosso quarto. Loki parecia ainda mais tranquilo, e sorriu bobo ao beijar minha mão, vendo o anel. Ele estava tão feliz por isso.
Nós fomos juntos para o enorme banheiro do quarto, e eu tirei o vestido, deixando-o dobrado sobre a pia. Loki tirou sua roupa, entrando na banheira, e me ajudando a entrar. Apoiei minhas costas no peitoral dele e ele me abraçou, distribuindo curtos beijos molhados pelo meu ombro e nuca, depois prendendo meu cabelo em um enorme coque.
— Não há nada que vá me fazer mais feliz do que casar com você, sabia?! — Digo, olhando-o por cima do ombro, e sorrio vendo suas bochechas corarem.
— Só há uma coisa que vai, para mim, pelo menos. — Diz, ainda me encarando. Loki desde a destra até a minha barriga e a acaricia com as pontas dos dedos. — Te ver carregando um filho meu.
Seu olhar me faz perceber o quão sério ele estava falando. Loki sorria, mas era um sorriso esperançoso. Ele estava feliz com essa ideia, com essa futura possibilidade.
— Eu sei que não estou pronto agora, você percebeu mais cedo, nem sei quando estarei, mas já é uma grande certeza que quero isso. — Ele diz, e beija meu ombro suavemente. — Te ver vestida de noiva, poder dizer que você é minha esposa, e depois, que é mãe dos meus filhos… Preciso ver isso acontecer.
— Você vai, meu bem. Eu também quero esperar pelo momento certo, não sei se estou pronta para um bebê agora, mas… Quando eu vejo você com Thrud ou Stela, essa vontade só aumenta.
— Eu quero uma menininha igual a você. Já pensou? Com pequenas asas…
— Ah, que amor!
— É!
Loki me abraça e beija o topo da minha cabeça, em resposta, eu beijo sua mão, e ouço o seu sorriso atrás de mim. Terminamos o banho juntos, e ele me enrolou no robe branco, beijando a ponta do meu nariz, carinhoso. Trocamos favores, penteando os cabelos um do outro, e nos deitamos, deixando a janela aberta mas com persiana fechada.
Demoramos a dormir. Ficamos deitados, acariciando um ao outro, trocando beijos, fazendo curtos arrepios percorrerem nossos corpos como um só. Sentia falta desses momentos. Algumas vezes estávamos tão cansados do dia que apenas deitávamos para dormir, mas era bom.
Loki me provocava, é claro. Ele não perderia a oportunidade sabendo que eu estava com os meus hormônios pipocando. Ele puxava a minha perna, passava a mão na minha coxa e arranhava a minha pele, sorrindo quando me ouvia ofegar, mas eu não me deixei levar pelas provocações, ignorando-o, mesmo sentindo meu corpo quase colapsar.
Eu não sei quando dormi, não exatamente. Só sei o que sentia antes de apagar. O total conforto de estar nos braços de Loki, de me sentir segura e bem. De estar aquecida com ele. Era isso que eu sentia todas as noites, e que me fazia ter certeza que eu estava com a pessoa certa. Com o homem imperfeito mais perfeito do mundo. Perfeito para mim.
『••✎••』
Não sabia que horas eram. Não fazia ideia de nada, apenas sentia o bom cheiro que estava circulando por todo o quarto. Levantei a cabeça, acostumando meus olhos com a claridade do cômodo, e vi Loki de costas, organizando a mesa de café da manhã.
Puxei os lençóis, levantando e tirando o robe do gancho, me vestindo. Andei até Loki, o abraçando e fazendo curtas cócegas no seu abdômen até ele segurar minhas mãos. Ele se virou, revelando seu sorriso, e me deu um curto beijo na ponta do nariz.
— Bom dia, deusa. — Diz, tocando minha nuca e subindo para os cabelos, acariciando ali.
— Bom dia, amor. — Desejo, sorrindo. — O que está aprontando aí?
— Um café como você merece. Tecnicamente hoje é domingo, em Midgard, e não tem nada de café em casa.
— Precisamos fazer umas compras.
— Concordo. Enfim, vá fazer o que quiser fazer no banheiro. Lavar o rosto, escovar os dentes… Estou te esperando aqui enquanto termino de organizar tudo.
— Não vai me acompanhar?
— Não, já até tomei banho. Odin veio cedo me chamar para dar uma caminhada, conversar. Por isso trouxe logo o seu café.
— Oh… foi conversar? Está tudo bem?
— Está, ele só queria me dizer umas coisas e me dar umas coisas. Vai lá, quando você voltar eu explico.
Eu fiz o que ele pediu, tomando um banho rápido e escovando os dentes. Pus uma lingerie básica, rendada, e um vestido solto, de tecido de veludo vinho. Organizei o restante das coisas na mala, deixando pronta para quando fôssemos embora, e tornei ao quarto. Me sentei a mesa, me servindo de comida e bebida, e deixei que Loki começasse a falar quando se sentisse confortável, o que não demorou.
Ele contou que Odin veio cedo, o chamou para conversar e o esperou. Os dois foram para o lado norte, em um dos campos de treino mais altos e vazios. Durante todo o caminho Odin pediu para Loki contar como era realmente sua vida lá na Terra, comigo. Segundo Loki, ele sabia que Frigga estava sentindo saudades da companhia do filho, e quis garantir que se ele não estivesse se sentindo bem lá, era bem vindo aqui, ainda. E eu também.
Loki disse ter sido sincero, e ter contado sobre como estávamos bem e estáveis lá, vivendo a vida a nossa forma, aumentando o dinheiro que eu já tinha e que agora era compartilhado, nosso. Disse que já aprendeu a viver bem lá, a dirigir e até mesmo ser minimamente sociável — Essa parte eu sei que ele se referia a Mary e ao jardineiro, fora da nossa casa Loki ainda era carrancudo.
— Eu sei que, na verdade, ele só queria me certificar de que eu sabia o que ele queria dizer. Ele sente falta do palácio cheio também. Não quer dizer com todas as letras, por isso deixa pistas. Mas ele sabe que tenho que seguir, e já estou seguindo minha vida. E aparenta estar bem com isso.
— Entendi. — Respondi. — Estou feliz por ter lidado com isso com maturidade. — Digo, orgulhosa, e ele sorri.
— Obrigada, meu bem. Ah, e os presentes que me deu foram o meu cetro, que eu já não usava ou sequer via há um tempo, e a Caixa dos Invernos Antigos. Duas coisas que pertencem a mim, e ele guardava.
— O cetro era a sua arma, não era? Aquele de ouro…
— Isso. E a caixa como herança de jotunheim.
— E você vai levar?
— Só o cetro. A caixa está mais segura aqui. — Afirma, e eu assinto. — Terminou? Hora de voltar para casa.
— Vamos. Terminei. Hora de ver sua mãe chorar.
— Nem me fala. E o seu pai!
— Nem me fala!
◦◦◦◦ ◎ ◦◦◦◦
Oiee!
Capitulinho de sábado como prometido!
Foi bem simples, como quase todos estão sendo agora. Mas precisava fazer isso. Não podia acabar o livro sem o momento do Loki se mostrando jotun — queria mais cenas mas a Marvel não colabora.
Espero que tenham gostado, fico super triste que já estamos indo para o final, mas os próximos capítulos são muito bons.
Até o próximo! Se cuidem bebês, beijoss 💚💚
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