48 | Reencontro
Me diga, quem vai me salvar de mim mesmo?
Quando essa vida é tudo que eu conheço
Me diga, quem vai me salvar deste inferno?
Sem você, estou completamente sozinho
Quem vai orar por mim?
Levar minha dor embora por mim?
Salvar minha alma por mim?
Porque eu estou sozinho, você sabe
Se eu for morrer por você
Se eu for matar por você
Então eu derramarei este sangue por você
Caso minha fé falhe
Eu sigo minha própria lei
Eu sigo sozinho...
— Pray for Me; The Weeknd & Kendrick Lamar
⚠️ Capítulo de conteúdo sensível. Só isso msm, sem spoilers do que é pq já está no título. ⚠️
⎊ N a r r a d o r a ⎊
Após a longa conversa com Odin, Loki pareceu mais quieto, mas mais aberto a diálogos com o rei. Sim, ele havia o perdoado, mas estava fazendo aquilo por ele. Tinha que deixar o passado para trás, mas isso não significava ser amável e adorável com Odin. Isso ele sabia que não seria nunca. Suas intenções hoje eram outras.
Combinaram devidamente o acordo de que ele retornaria para a cela, e Loki então foi temporariamente liberto. Os dois desceram juntos as escadas de volta para a área de circulação do palácio, e foram em direção a cozinha, encontrando com Frigga no local.
A deusa sorriu abertamente ao ver o filho solto, com uma aparência melhor do que a que ela vira no dia anterior. Os dois se abraçaram calorosamente, e Frigga afagou o cabelo do filho, lhe passando ainda mais calma. Era o que ele precisava. Assim que se separaram, Odin contou do acordo, fazendo Frigga entender a situação e o que aconteceria depois, e para não falar demais próxima de Talissa.
— Já viu Lis hoje? — O deus questionou, e a mãe negou com um manejo de cabeça.
— Ainda está dormindo, mas suponho que não descerá para o almoço. Seu café quem levou foi Thor.
— Eu levarei o almoço para ela. Aproveito para conversar.
— Tudo bem... Venha, eu lhe ajudo...
Frigga se dispôs, e montou uma bandeja para o filho e a nora, deixando que Loki subisse sozinho depois, permanecendo na cozinha com Odin. O coração do deus batia calmo, mas a adrenalina do reencontro já começava a querer invadir suas veias.
— Por favor, seja gentil. Ela está muito sensível.
— Eu sei, minha mãe. Nos vemos mais tarde.
— Boa sorte.
Ele subiu pacientemente até o corredor dos quartos, e parou em frente ao seu. Sabia que Lis permanecia lá. Loki bateu duas vezes na porta e a abriu. A vista do quarto organizado se fez presente, e ele logo viu a deusa sentada no parapeito da enorme janela. As asas abertas, esvoaçantes em conjunto com o cabelo, contra o vento. Parecia séria e triste, e isso partia seu coração.
Ela o encarou, achando que era mais uma das serventes que viria perguntar sobre sua fome, e não pode reprimir a surpresa em sua face. Enquanto ela parecia chocada, Loki abria um imenso sorriso. Os dois corações agora batiam rapidamente, em sincronia mesmo longe um do outro.
Talissa desceu da janela, caminhando lentamente na direção de Loki. O deus por sua vez deixou a bandeja em cima da mesa que havia em seu quarto, também caminhando em direção a deusa. A centímetros de diferença, Lis ergueu sua destra, tocando o rosto dele, sentindo-o e tendo certeza de que não era uma ilusão. Então o abraçou.
O abraço foi suficiente para instalar nos dois um sentimento bom, finalmente, após todas as coisas ruins que aconteceram. A chama da esperança, do amor e da saudade ainda estava acesa entre eles, e agora ficava ainda maior, ardendo por dentro e aquecendo seus corações.
Lis repetia mentalmente para si mesma que agora estava tudo bem. Que ele estava ali, então ela estava segura. E Loki acariciava o corpo de sua amada, lhe acalmando. Ele sabia a confusão que estava sua mente. Sabia bem que precisava ao menos parecer estável para dar apoio a Lis. Mesmo que ambos estivessem quebrados. Eram o suporte um do outro agora. Era difícil ter apenas dois corações onde agora deveria ser três, mas eles estavam prontos para passar por isso juntos.
— Loki... Como fez isso? — A deusa questiona, sentando-se na ponta da cama, encarando o deus em seus olhos claros.
— Consegui convencer Odin de me deixar vir ver você. Eu senti tanto a sua falta. — Ele admite.
— E eu a sua. — Ela diz, sorrindo fraco. — Então... Ele lhe contou sobre...
— Sim. Ele me explicou como tudo aconteceu. Sinto muito, Lis. Muito mesmo.
— Loki, eu... Eu queria ter descoberto antes. Queria ter feito diferente...
— Não fale isso, Lis. Nenhum de nós poderia prever o futuro. Afinal nós tomamos todos os cuidados para que você não engravidasse e ainda assim aconteceu. Ninguém pode mudar o destino. — Ele diz, tentando confortar a deusa, sabendo que ela ainda se culpava pelo ocorrido.
— Como se sentiu quando soube do que aconteceu? Sei que não quer filhos e esse nos pegou de surpresa.
— Sendo sincero, eu me senti confuso. Minha mãe me disse que tinha suspeitas sobre você estar carregando um filho meu, mas ainda não havia confirmado. Isso fora ontem, quando ela foi me ver. Então de ontem para hoje me peguei pensando em possibilidades. Se você vivesse em Midgard e criasse a criança longe de mim, se você vivesse aqui, ou se o deixasse aqui e voltasse para casa... Foi muito estranho quando Odin me contou hoje.
— Sentiu alívio?
— O quê? Claro que não! Não querer um filho não quer dizer que eu ficaria feliz com essa situação, Talissa. Só... Pense. Eu estaria preso toda a vida, não poderia ver você ou ele. Eu não acompanharia nada de sua vida, do desenvolvimento. Não seria presente. Seria um fardo dado somente à você.
— Não um fardo, um filho jamais seria isso. Procure palavras melhores. — A deusa rebate, mas Loki não lhe responde.
Os dois se encaram por alguns segundos. O olhar claro, ora azul oceano, ora verde, travando uma guerra contra o olhar âmbar, laranja como fogo puro. Os dois conversavam em silêncio ali, podiam entender e compreender os sentimentos confusos que se instalavam no quarto.
— Me perdoe. Eu... Entenda, eu não sabia quando iria sair daquela cela definitivamente, Lis. Não me foi um alívio que você perdesse nosso bebê. Eu fiquei sim muito mal, nem de longe pense o contrário. Só... Se for para ter um filho com você, que seja para acompanhar tudo. Quero lhe dar o suporte que você vai precisar. Quero ser presente. Não viver preso e não poder ver você ou ele. Foi apenas nisso que fiquei pensando. — Ele diz, deitando a deusa em seu peito, sentindo seus batimentos e fazendo-a sentir os dele.
— Você quer? — Talissa questiona, após ouvir bem cada palavra. Loki sorri, ainda desacreditado.
— Quero. Mas no momento certo. Quando eu for mesmo livre. E no futuro, também. Não quero nada agora. Preciso pensar bem nessa ideia, amadurecê-la na mente. — Responde, encarando a deusa, que não sorria, mas ele podia sentir que ela estava minimamente feliz em saber. — Não vamos mais falar sobre nada disso. Já está desgastante e sufocante demais, ainda mais para você.
— Então fale você. — Lis pede, sentando-se na cama de frente para ele. Era o momento de um assunto ainda mais sério. — Quando começou à pensar em todo aquele plano?
— Lis, eu...
— Por favor, Loki. Eu não estou com raiva de você, nem sei o motivo para não estar, só não quero ir embora com essa dúvida. Não quero ir embora sabendo que tenho assuntos inacabados com você. Vamos resolver tudo. Hoje. Por que pode ser que não consigamos ser depois.
O coração de Loki se apertou. Ela estava sendo sincera mesmo com toda a nuvem de sentimentos que a cercava. Ela não se sentia mal com ele por tudo o que fizera. Era tão inocente à ponto de perdoar o deus ainda sem saber que tudo era mentira.
Ele queria contar para ela que nada daquele plano realmente existiu, que ele nunca lhe quis mal ou jamais pensou em lhe usar, que nunca soube sobre sua paternidade e lhe escondeu, e que, na verdade, suas apostas para quem seria o pai dela eram em outro deus. Queria contar que fora tudo para salvar sua vida, para abrir o olho de Odin para o que o Pai de Todos estava fazendo, e a injustiça que estava cometendo.
Mas não podia.
Haviam grandes riscos de Talissa desistir de sua volta por isso. De retornar apenas após a convergência. Ou pior, de querer confrontar Odin para que soltasse Loki. E isso colocaria todo o acordo que Loki havia feito com Odin em risco, e isso não poderia acontecer agora que Odin confiava cegamente em Loki. Então ele tinha que fazer o que sabia de melhor.
Ele tinha que mentir. De novo.
Sabia que teria outra chance de reencontrar Talissa, e então a explicaria toda a verdade, desde o início. Ela iria compreender ele. Bom, era o que ele esperava. Apenas precisava se precaver com suas palavras, não ser rude ou arrogante. Talissa já estava mal o suficiente.
— Eu só... Eu fiquei tentado. Você é muito poderosa e com certeza poderia me ajudar. Ainda mais sendo filha de quem é. Eu quis descontar minha raiva em Odin, quis destruir Asgard, quis pôr fogo por todo esse lugar. Fazê-lo queimar e ser completamente destruído. — Ele conta.
Essa parte era mesmo verdade. Ele quis destruir toda Asgard, mas não usando ela.
— As lendas do ragnarok sempre se voltaram a mim como um percursor, e eu achei que era o momento certo de fazer as histórias se tornarem realidade, mas estava errado. Me perdoe Lis. Eu nunca quis te fazer mal, nunca. Queria que liderasse um reino comigo, que fosse minha rainha. Nunca menti sobre os meus sentimentos por você, sobre como eu estava apaixonado por você. E ainda estou. Espero que entenda que foi real o que vivemos.
Talissa digeria cada palavra com uma extrema calma. Ela sentia verdade nas palavras de Loki, bom, em algumas. Sempre conseguia saber quando ele estava a enrolando, tentando mentir para ela, e sentia que isso estava acontecendo agora. Assim como sentia que aconteceu no dia em que Loki foi preso. Era quase um poder que ela tinha sobre ele. Não iria intervir, deixaria que ele levasse a conversa para frente. Queria saber onde aquilo iria chegar e o motivo de estar tentado mentir. Mas estranhamente sentia que devia confiar nele.
— Eu entendo e admiro, não se preocupe com isso. Você teve muita coragem em planejar tudo, em enfrentar seu pai. Eu sei que não me quis mal, consigo sentir isso, e entendo. Eu só queria que fosse mentira, Loki. Queria mesmo. Mas... Perdoo você. — Responde, compreensiva e falando a verdade, e Loki sorri.
— Acha que, se algum dia eu sair daquela prisão, poderíamos tentar de novo? Sem mentiras, sem omissões. — Ele questiona, e Lis percebe que realmente havia algo omisso ali.
— Talvez. Eu sei o que sinto por você, sei o que você sente por mim, não quero perder isso. Ainda estou com certa mágoa sobre o que fez, sobre tudo o que aconteceu, mas... Não sei... É tão estranho.
— O quê?
— Eu sinto que devo confiar no que diz. Algo em mim sente que você é verdadeiro, e eu não consigo te odiar. Não importa o quanto eu pense nessa situação, não consigo me imaginar te deixando de lado. Nesse circo inteiro de Asgard, você foi quem mais sofreu. — Ela responde, e Loki desvia o olhar mas logo volta à encarar sua deusa.
— Sua compreensão é uma de suas melhores qualidades. E eu não digo isso porque está sendo boa para mim, eu digo porque é verdade. Você tem um coração de ouro, Lis. — O deus diz. — Mesmo com tudo o que nos aconteceu, mesmo com todo o mal que causei, você ainda me abraça dessa forma, ainda acredita em mim... Meu bem, há tanto que eu queria te contar... — Loki diz, com as mãos trêmulas e os olhos enchendo de lágrimas. Lis sorriu.
— Eu sempre vou acreditar em você, Loki. Não importa sobre o que. Seja lá o que tiver para me contar, eu espero o seu tempo. Acredito que irá sair da cela mais cedo do que esperamos. Poderemos conversar e esclarecer tudo. Sei disso. — Ela responde, tocando seu rosto levemente. Ele assente e ela o abraça.
Três palavras passam por sua mente e brincam na ponta de sua língua. Ele sente vontade de dizê-las, mas sente receio do que aquilo poderia causar em Talissa.
Ela, por sua vez, beija seu rosto e aperta o abraço, esquentando seu corpo. Lis acaricia os cabelos de Loki, enquanto sente as batidas calmas do seu coração, lhe acalmando.
Ela não sabia, mas estava mesmo certa sobre seus sentimentos em relação à ele. Sentia que devia confiar, sentia que havia alguma grande mentira envolvida na sua prisão e na história que ele contou, algo ali não fazia sentido. Ela iria esperar o seu tempo para dizer, e iria compreender pacientemente cada palavra que ele dissesse, pois se estava lhe omitindo fatos sobre algo tão sério, deveria ser por algum motivo grande.
O que passava pela mente de Loki, também passava pela de Lis. A súbita vontade de dizer aquilo se fazia mais e mais presente, talvez ainda mais agora por toda a bomba de sentimentos que os cercava. Mas ao contrário dele, ela não tinha receio.
— Loki... Estamos juntos há quatro meses, e já fazem cinco, quase seis, que nos conhecemos. Você salvou minha vida, me ensinou muitas coisas. Eu te ensinei também, fui sua companhia e você a minha... Mesmo com tantas idas e vindas nessa história, eu tenho que dizer, e estou certa de cada palavra que vem. Eu o amo, Loki. — Ela diz, encarando os olhos do deus, que se arregalam lentamente. Seu coração paralisa e acelera e um sorriso brinca em seus lábios. — Eu sei que ainda sou muito imatura quanto à sentimentos e relacionamentos, mas estar com você me mudou para melhor. Não tenho medo de dizer pois sei que é verdade. Não quero enrolar para dizer, não quero me arrepender de não ter dito antes. Quando eu voltar para Midgard e você estiver naquela cela, lembre-se que eu amo você.
Loki sentia como se seu cérebro estivesse totalmente paralisado. O coração bombeava lentamente, em tensão e felicidade. Lágrimas já começavam à afogar seus olhos, e ele não conseguia mais parar de sorrir. Ouvir aquelas palavras lhe trazia mais conforto do que ele jamais imaginou.
Loki quis muito ser amado, por todos os anos que viveu. Sabia o que era amor por senti-lo apenas por sua mãe. Mas ser amado por Talissa era diferente. Era um amor tão puro, tão doce e gentil. Ela, para ele, era como um fogo puro em todos os seus sentimentos, e no amor não era diferente. Ele podia sentir a intensidade. Era quase físico. E era bom. Era tudo o que ele sempre quis sentir – e ouvir – com a pessoa mais importante para ele agora.
Talissa também podia sentir o que causava no deus. Sabia a confusão que possivelmente estava instalada em sua mente agora, e sabia que provavelmente não ouviria as palavras em resposta, mas não esperava isso. Ela havia dito de forma genuína. Entendia Loki o suficiente para saber de seus sentimentos, e sabia que ele sentia o mesmo, mas para ele, falar era difícil. E ela não iria pressionar.
Mas ele queria dizer. À sua maneira.
— Quero ser o rei da sua história,
Eu quero saber quem você é,
Eu quero que seu coração bata por mim, oh eu...
Quero que você cante para mim suavemente,
Porque então eu estarei ultrapassando o escuro,
Isso é tudo que o amor já me ensinou...
Lembra do lago ao luar?
Lembra que você estremeceu e brilhou?
Eu nunca esquecerei como você estava naquela noite.
Você tem esse poder sobre mim,
Tudo o que eu amo reside nesses olhos,
Você tem esse poder sobre mim,
A única que eu conheço, a única em mente,
Você tem esse poder sobre mim...
Talissa estava começando a entender. Cantar era a linguagem de amor e sensibilidade de Loki. Era como ele demonstrava o que sentia sem dizer frases ou palavras já esperadas. E era bonito. Era uma forma diferenciada e única, e ela gostava disso.
— Adoro as músicas que canta para mim. — Ela diz, e Loki sorri, a puxando se volta para a mesa.
— Eu nunca canto para ninguém senão você. — Loki admite, fazendo a deusa sorrir mais. — Venha, vamos comer. Você precisa disso.
— Você também.
◦◦◦◦ ◎ ◦◦◦◦
Oizinho!
Como vocês estão, bebês? Por aqui só passando raiva viu.
O quê acharam do capítulo? Conversas sinceras, maduras. Lis e seu sexto sentido com o Loki. E um momento surpresa que vocês sequer esperavam.
Espero que tenham gostado viu? Foi muito bonzinho de escrever. O reencontro, a reconciliação, tudoo.
Só um adendo aqui:
Estou pintando um quadro de Wandavision, quando terminar a pintura, ponho a foto no final do próximo capítulo. Fiquem ligadas, quero meu biscoito 🍪🍪
Outro adendo pois sou meio esquecida às vezes:
A música que o Loki cantou é Power Over Me, Dermot Kennedy.
É isso, beijosss! Até amanhã para quem lê Ocean (e talvez com possíveis novidades no meu perfil..... Hehee)
Um xeeero 💚💚
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