32 | A Possessão
𖤍 T a l i s s a 𖤍
Meu dia começara agitado. Era cedo quando uma das serventes do palácio bateu na porta, acordando Loki para se arrumar para a despedida de Odin. Tive que sair escondida, correr para o meu quarto e tomar um banho apressado e me vestir. Optei por um vestido cinza e branco, neutro. Cabelo solto e pouco perfume.
Saí do quarto, descendo para o grande salão, e quase dei graças a Zeus quando vi que a mesa ainda não estava completa. Eu não era a única atrasada, mas Loki já estava aqui. Isso era o que importava para mim.
Ele me encarou sem pudor algum e eu evitei seu olhar ao perceber que algumas pessoas da mesa nos observavam. Sentei, desejando bom dia a todos, e logo a mesa foi completa por Freya e Njord. Tomamos café envoltos em conversas muito dispersas. E assim que terminou, Odin e seus guerreiros levantaram-se, todos com suas armaduras, espadas e escudos perto de si.
Quem iria com Odin era apenas Mímir, Tyr, Hogun, Fandral, Volstagg, Njord, e alguns dos grandes soldados do exército de Asgard. Sif estava terminantemente proibida de batalhar, Freya, embora feiticeira, não era guerreira, e Frey também não, então ficariam no palácio.
— Meus filhos. Auxiliem as mulheres, sua mãe, sua mulher, sua amiga. — Ele diz, separadamente para Thor e Loki respectivamente. — Elas precisam de vocês. Sejam os homens que eu os criei para ser.
Odin toca os ombros dos dois, e dá um ligeiro abraço em ambos, demorando segundos a mais com Loki, que ao se separar do pai, dá um ligeiro sorriso e me olha rapidamente. Odin havia dito algo para ele.
— Minha rainha, deixo à você nosso reino, palácio, súditos, filhos e neto. Tome contra deles como toma de mim, ore por mim, e cuide de si.
— Eu irei, meu amor. Tome cuidado. Eu amo você.
— Amo você, minha querida. — Diz, dando um rápido beijo na esposa. — E a minhas duas queridíssimas guerreiras, as companheiras de minha esposa, e os visitantes de nosso lar, prometo que retornarei com boas histórias para contar e honraremos nossos ancestrais com uma boa caneca de hidromel e cerveja!
Após a despedida, Odin se vai junto com seus guerreiros, em direção à Bifrost. Em meio a poucas conversas, retornamos para o palácio e Loki e eu subimos para o quarto, indo trocar nossas vestes. Ele havia finalmente me convencido de batalhar com ele.
Vesti a armadura e tirei a capa, carregando meu escudo e espada comigo. Saí do quarto, encontrando Loki na porta do próprio quarto, me esperando. Caminhamos juntos até o campo lateral, distante da área de treinos. Loki queria algo mais privado. Queria uma luta séria e se possível ninguém nos observando.
— Quero uma boa luta, amor. Sem raios, de preferência.
— Farei o possível, lindinho.
Giro a espada em mãos e assim que ele da a primeira investida, desvio. Loki provavelmente esperava que eu virasse de costas, mas não é algo que eu faça. Defendo o seu golpe com meu antebraço esquerdo e lhe dou uma ajoelhada na sua cintura.
Loki se afasta, sorrindo satisfeito, mas logo volta à atacar. Defendo suas adagas com minha espada, tomando cuidado para não machucar ele. Assim que Loki se afasta, eu sinto meu coração bater de forma pesada. Minha cabeça dói e minha vista escurece.
As imagens estavam embaralhadas na minha mente. Em alguns momentos eu via Loki tentando se aproximar e perguntando se eu estava bem, em outros momentos eu via Hades em suas vestes negras e prateadas, me encarando como se eu fosse uma aberração. E de uma hora para outra, era ele quem estava ali. Eu não lembrava de como ele chegara a Asgard, mas na minha mente ele sempre esteve aqui. E havia agora uma brecha na minha memória, me impedindo de lembrar de algo ou alguém.
— Como chegou aqui?
— Ah, bobinha. Um mágico não revela seus segredos. — Meu tio avô responde, me encarando. — Interessante o lugar que está vivendo.
— O que você quer?
— Você, de volta no Olimpo. Quero te matar com minhas próprias mãos, garotinha. Quero te ver ruir, e toda a sua vida queimar perante seus olhos.
— Não ouse tentar nada. Eu estou avisando.
— Ou o quê? Vai me matar com a inteligência fajuta que herdou da sua mãe? Você não é nada, Talissa. Nunca será.
— Se veio aqui, e sabe lá Zeus sabe como você veio, para tentar me desestabilizar-
— Eu não preciso tentar desestabilizar você com ameaças, queridinha. Isso vai acontecer, pouco a pouco, de dentro para fora. Com você e com Zeus. E quando isso acontecer, vou destruir tanto o Olimpo como esse belíssimo lugar. E todos os que você ama aí. Incluindo esse deus fraco a quem você nutre sentimentos. Ele está sofrendo tanto com a minha possessão, Talissa. Pena que você não pode ouvir. Ou pode.
Assim que ele se cala, eu escuto um zunido alto e os gritos de Loki adentram meus ouvidos, assim como as lembranças dele e de nós. As súplicas para que eu pare de fazer algo que eu não tinha consciência do que era se fazem presentes. Mas eu não consigo nenhuma imagem daquilo, entendendo que não passava de tortura psicológica. Hades queria me fazer sentir mal, apenas isso.
Então eu revidei.
Um raio, forte, imenso, com um som ensurdecedor. Energizou meu corpo, da ponta do pé até as asas. Segurei seu pescoço com firmeza, repassando as cargas elétricas do meu corpo para o dele, e o ouvi agonizar. A imagem ficou turva, e sumiu da mesma forma que apareceu e tão rápido quanto, mas eu não conseguia abrir os olhos.
— Lis! Lis, amor, está me machucando. — Ouço a voz falhada de Loki novamente em minha cabeça, e a sinto doer mais uma vez, caindo no gramado e soltando seu corpo.
Não o vi caminhar até mim, mas senti seus braços envolvendo o meu corpo e suas mãos tocando meu rosto, tentando me manter ereta. Estava difícil até mesmo para mim. Eu não me sentia forte, e sentia dor por toda a minha cabeça e coluna. E não demorou muito até tudo apagar mais uma vez.
『••✎••』
Minhas têmporas pareciam estar sendo pressionadas, e doíam muito mais do que antes. Eu respirava com dificuldade, mas quanto mais me sentia despertar, mais sentia o ar entrar em meus pulmões com mais força. Movi a mão, e ouvi a conversa ao meu redor cessar completamente.
— Talissa? Está me ouvindo? — Escutei a voz de Eira me perguntar calmamente.
— Sim. — Respondi com a voz falhada e logo abri os olhos com certa dificuldade. — O que aconteceu?
— Loki a trouxe para cá, não conseguiu me explicar exatamente o que houve. Fulla, chame-o, por favor. — Eira pede, e a outra ajudante segue para a porta lateral.
Me sento na cama com a ajuda da mulher, e toco minha cabeça, sentindo as dores se esvaírem pouco a pouco. Observo meus sinais vitais e cada sinapse enviada pelo meu cérebro é mostrada ao meu lado, assim como o funcionamento de outros órgãos meus, que também estavam sendo monitorados.
Loki adentra a sala, exasperado, nervoso, e assim que me vê, caminha até mim e me abraça. Eu sorrio de forma involuntária ao perceber que ele está bem, e assim que nos separa, ele toca meu rosto, segurando entre as duas mãos, e me beija. Eu me assusto, claro. Não era o que eu esperava, muito menos na frente de Eira e Fulla, que poderiam suspeitar o quanto quisessem, mas não tinham confirmação alguma do relacionamento.
— Loki...
— Eu não ligo. Eu não dou a mínima. Você está bem, é tudo o que importa para mim agora. — Ele diz, sério. — Como foram os exames? — Questiona para Eira.
— Bem. Tudo o que acusou foi uma alteração cerebral. Por isso mandamos chamar por Frigga e Freya. Precisamos da magia delas.
— Mas ela está bem? Não afetou nada no corpo?
— Não, vossa alteza. Sua...
— Companheira.
— Ela está fisicamente bem. Mas é importante que descanse, independente do que Frigga e Freya disserem. Você passou duas horas completamente apagada. — Ela diz.
Não demora até ouvirmos passos firmes do lado de fora do corredor. Vozes femininas embaralhadas adentram nossos ouvidos assim que Fulla abre a porta, provavelmente esperando que seja Frigga. E é, mas conversava com alguém. Parecia dar uma bronca ou algo do tipo. Sua voz firme nos chamava bastante atenção.
— Escute, minha querida, eu não sei onde Loki se meteu, mas Eira me chamou e eu preciso atendê-la. Faça um favor para todas nós e volte para o salão principal até que eu esteja livre para lhe dar atenção. Freya, venha comigo.
A rainha passa apressada pela porta do local, e mal me vê, mas já caminha em minha direção, extremamente preocupada. Ela observa meus sinais, checando tudo detalhadamente, e depois se atenta a mim, sentada na maca, com as mãos entrelaçadas na de Loki.
— O que aconteceu?
— Ela desmaiou, foi tudo confuso e estranho. Eu não sabia o que fazer então a trouxe para cá.
— Fez muito bem meu filho, embora eu esteja com uma péssima notícia agora.
— Loki! Ah, amor, que saudade!
A voz doce, suave e alta demais de uma desconhecida se faz presente. Ela é loira, baixinha, pele alva e olhos claros. Tem a aparência de uma filha de Hermes, e é graciosa como Afrodite. Mas seu carinho excessivo com o meu Loki não me foi nem um pouco bem visto. Pude sentir os pequenos raios avermelhados percorrerem meu corpo. Eu poderia dar uma descarga elétrica nela em segundos, não poderia? Será que a mataria?
— Sigyn?
— Eu mesma. Sentiu minha falta? — Ela pergunta, querendo se aproximar, mas paralisa ao ver nossas mãos unidas. — Loki... Quem é ela?
— Ela é alguém que necessita de atenção, cuidado e silêncio agora. Por favor, Sigyn, faça o que eu lhe pedi. — Frigga pede, parecendo estar gastando toda a sua calmaria com a loira.
— Amor, você vem? — Ela pergunta, encarando ele.
Loki não a olhava, permanecia sério ao meu lado, mas vacilante. Em segundos, soltou minha mão e caminhou com a mulher para fora, que me deu um sorriso cínico e sumiu de minha vista. Frigga parecia extremamente chocada e surpresa com sua ação, e tudo o que eu senti foi uma pontada no coração. Tão forte que fez meus batimentos desacelerarem.
— Deite na maca, por favor. — Frigga pediu, me lançando um olhar de pena, e eu a obedeci. — Freya, consegue ver aquela falha na sinapse?
— Consigo. Isso é controle mágico, não é?
— É. Me diga, Tali, quem você viu no campo era Loki?
— Não. Loki sumiu de minha mente por um tempo. Eu vi meu tio em seu lugar. O ouvi. Só me lembrava dele. Loki não existia.
— Entendi... Qual o cheiro que sentiu no momento?
— Enxofre e pólvora. Ainda sinto, com um pouco de ferrugem. — Respondo e as duas se entreolham. — O que houve?
— Sua mente está sendo controlada. Suas memórias estão sob influência de outro ser, provavelmente o seu tio. Precisamos desligar essa conexão que ele tem com você, e fechar a brecha na sua mente. Assim ele não será capaz de entrar novamente. Nem ele, nem ninguém.
— Vai doer?
— Vai queimar. — Frigga é sincera. — Preciso que seja forte. Vai ficar tudo bem. — Diz, sorrindo leve e tocando meu braço com cuidado. — Podemos?
— Sim.
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Voltei!
Quase cinco dias sem capítulo, mas eu finalmente atualizei. Ontem não tinha condições nenhuma, e sexta foi ainda pior.
E então, o que acharam dessa possessão de Hades? E a aparição de Sigyn? Essa saída do Loki vai dar treta...
Para aqueles que não conhecem a mitologia, Sigyn foi a primeira esposa de Loki. O suposto primeiro amor dele. A história dos dois até que é bonita, mas como eu vou contar nesse livro vai ser um pouco diferente, e vai ser abordada e explicada no próximo capítulo, então não vou contar muitas coisas aqui.
PAY ATTENTTION HERE PLIS:
Para as minhas deusinhas que tem Spotify, eu fiz uma playlist baseada no Loki. São MUITAS músicas que combinam com a vibe dele, ou que ele possivelmente gostaria. Quem quiser, só deixar um comentário aqui que eu mando o link. Quem tem Deezer, calminha, ainda vou fazer a mesma playlist lá.
Espero que estejam gostando do livro. Os próximos capítulos terão bastante ação, e logo vocês vão entender o motivo.
Nos vemos no próximo (esperando que não demore tanto pra atualizar de novo). Beijão, se cuidem! 💚
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