21 | Uma Estranha Reconciliação (1/2)
𖤍 T a l i s s a 𖤍
Dois meses. Dois exatos meses haviam se passado e a minha interação com Loki ainda era mínima. Não éramos mais aquela dupla inseparável que um dia fomos quando cheguei aqui, mas já estávamos bem mais próximos desde a briga. Mas agora eu ficava mais na companhia de Thor, Sif e os outros três. Lia algo no quarto durante as manhãs, treinava pela tarde com Thor, e pela noite eu conversava com Odin, Frigga, ou ia visitar Heimdall para tentar saber notícias do meu mundo, mas a maldita convergência ainda o impedia de conversar com minha mãe.
Raramente visitava o Jardim de Frigga, e não era por falta de vontade. Mas Loki sempre estava lá, com sua cara de carrancudo, bata verde e um livro de magia na mão. Só ia até o local quando sabia que ele não estava pelo castelo, seja indo fazer sabe lá Zeus o quê, ou indo para alguma missão com Odin. Não é que eu ainda o odiasse, mas... Digamos que nós dois estávamos esquivos um do outro na mesma intensidade em que queríamos estar perto. Então eu me afastava, para evitar uma possível futura briga.
— Lissa! Meu pai está te chamando. – Thor diz, com um sorriso largo, animado.
— Para quê? Estou lendo!
— Não sei ‘pra quê. Venha logo!
Fechei o livro, rolando os olhos, e o deixei no balcão da biblioteca. Andei atrás de Thor, sendo guiada pelos grandes corredores do palácio até uma sala reservada de armaduras. Odin estava lá, com um traje tradicional, somente havia trocado o tapa-olho. O deus mais velho sorriu para mim, me chamando para perto, e pegou uma roupa branca e dourada que estava ao seu lado.
— Thor me contou que sua armadura de cobre ficou gasta por conta dos raios...
— Ficou. Acabei exagerando um pouco no último treino e arrebentou uma parte.
— Vai lutar contra Sif hoje. Precisa vestir algo decente. Por isso, mandei prepararem isso aqui. É o mesmo material usado para o uniforme das Valquirias, mas revestido em fios de cobre e bem reforçado, vai aguentar seus raios, o fogo, as asas... Fiz especialmente para você. Como uma comemoração. No dia de hoje completam-se quatro meses de sua chegada em Asgard. É pouco, mas quis celebrar.
— Está perfeito, Odin! Não poderia pedir algo melhor! Muito obrigada.
— Não há de quê, filha. Espero que lhe sirva bem. – Ele diz, passando o manto dobrado para mim. – A capa é removível, se preferir. Talvez atrapalhe um pouco.
— Oh.. Tudo bem.
— Gostou mesmo?
— Sim, muito! Será de grande ajuda hoje.
— Espero que sim. Agora vá, termine sua leitura. Vejo-a no campo de treinamento daqui uma hora.
— Até lá!
Levei a roupa até o meu quarto, deixando-a em cima da cama, e voltando para a biblioteca. Continuei mais dois capítulos do livro, até sentir os raios de sol pegarem no meu olho, pela fresta da janela, denunciando que já estávamos por volta das duas da tarde.
Hora da batalha.
Levei o livro comigo e, de volta ao quarto, troquei de roupa. A nova roupa serviu perfeitamente, e o revestimento interno era confortável. Ela também não era nada pesada, e me permitia movimentar bem. Abri as asas, vendo se iria me prejudicar, mas parece ter sido extremamente bem pensada. Calcei o par de botas, completando a roupa e prendi o cabelo para trás, pronta para mais uma batalha.
Lá vamos nós...
『••✎••』
Sentia a adrenalina correr rente ao meu sangue e pulsar como nunca. Sentia cada músculo do meu corpo trabalhar com extrema atenção. Cada nervo respondia à apenas um estímulo do meu cérebro. Batalhar.
Eu estava ganhando, e era isso que importava para mim. No geral, não me preocuparia com perder ou ganhar, mas essa luta era importante. Eu já havia derrotado Hogun e Volstagg sem fazer esforços. Fandral exigiu um pouco mais de mim, suas habilidades com a espada me surpreenderam, mas também foi batido, mesmo deixando aquele corte em mim. Mas Sif estava sendo uma pedra no sapato.
Eu não podia lhe causar ferimentos pelo seu fator de cura extremamente diferente dos outros três. Não podia lhe cansar. Eu tinha que vencer. Mas eu tinha um ponto ao meu favor. Estratégia. Foi por isso que minha mãe e meus tios me treinaram. Provar meu valor. E foi o que fiz. Essa era a última de quatro batalhas propostas por Odin, só mais essa e eu não teria que provar mais nada para ninguém.
Sif já estava sem uma de suas espadas e a capa rasgada pela metade. Hoje estávamos um pouco mais violentas. Ela não gostava nada dos meus treinos com o noivo e acabou descontando isso em mim. Eu tive mais sorte que ela e consegui chegar mais perto de lhe ferir.
Seu foco estava em Thor quando a derrubei no chão com uma rasteira, girei o corpo, impedindo seu contra-ataque em se levantar rapidamente e empunhei minha espada diretamente para o seu pescoço, fazendo soar um grande trovão no céu. Ouvi as vozes excitadas ao nosso redor, e devolvi Luar para a bainha, estendendo a mão para a morena em seguida, que pegou ainda que parecesse relutante.
— Meus parabéns. Derrotou os quatro guerreiros mais fortes de Asgard. — Thor me cumprimentou com um sorriso bipolar, puxando Sif para si.
— Sempre um prazer. — O respondi, virando as costas para o casal, vendo Odin vir na minha direção.
— Tenho que admitir, se saiu muito melhor do que imaginei.
— Fiz o que pude. — Digo e ele ri. — Brincadeiras à parte, foi bom testar meus poderes com eles.
— Ao menos agora eu sei que o seu nível de poder está igualado aos meus filhos. Mas não se preocupe, não pedirei que duele com eles.
— Nem se pedisse. Eu teria que recusar. — Falo, agora mais baixo, enquanto retornamos ao palácio.
— Ainda não se falam, é? – Ele pergunta, se referindo a Loki.
— Não é isso... Certo, não é só isso. Agora que eu sei o nível dos meus poderes, eu não quero machucá-lo. Embora ainda não tenhamos voltado a ser o que éramos, me importo com sua saúde e bem estar.
— Isso que é a verdadeira paixão... Bom, espero te ver no jantar. Frigga e eu receberemos hoje alguns outros deuses amigos que não visitam Asgard há um tempo, quero apresentá-la a eles.
— Sem problemas, eu irei.
— Ótimo. Descanse por agora. Até mais tarde.
— Até.
Subi para o meu quarto, pensando num vestido para usar pela noite, e entrei no cômodo, guardando minha espada e escudo num gancheiro na parede, uma espécie de expositor. Tirei as botas, tocando o chão frio e me sentei na cama, relaxando o corpo, sentindo as poucas dores musculares me invadirem.
De relance, percebi uma movimentação na janela, e Muninn pousou no enorme parapeito, e ficou me observando. Aquele corvo ficava mais estranho a cada dia que se passava, volta e meia eu o via com Odin e parecia mais forte, mas as vezes parecia mais novo e esverdeado.
E foi aí que meu cérebro deu um estalo. Não é Muninn. Nunca foi.
Saquei a adaga da minha cintura e joguei na direção do bicho, vendo-o rapidamente ser envolto por uma luz verde e se transformar em humano. Loki, como eu havia imaginado. O deus me olhava com uma feição de medo e surpresa, enquanto segurava minha adaga, e eu apenas rolei os olhos e puxei meu livro, sem coragem de mandar o moreno ir embora. Ou sem vontade.
— O que quer aqui?
— Vim te ver. Prestigiar a melhor guerreira que conheço. — Diz, e eu solto um simples murmúrio desinteressado. — Soube que ganhou de Sif.
— A notícia já correu tão rápido assim?
— Os guardas do castelo e suas bocas grandes, você sabe.
— Sei.
— Ela está furiosa.
— Por?
— Odeia perder. Ainda mais para você.
— Claro, claro. Ela ainda não entendeu que eu não quero nada com Thor.
— E com Fandral? - Diz sugestivo, me fazendo lembrar da noite do infeliz dia. Eu também havia visto Muninn lá. Bem, o que deveria ser ele.
— Também era você?
— Eu estava pronto para voltar à minha forma e pedir desculpas, aí ele chegou.
— Claro que estava. Mas sempre tem que ter alguém no caminho do pobre Loki. — Digo, mais rápido do que meus neurônios processam e me arrependo.
— Não sabia que era sarcástica assim. Até diria que aprendeu comigo se não tivéssemos passado dois meses um tanto distantes um do outro. — Ele provoca.
— Não teríamos passado se você não tivesse jogado todas aquelas palavras em cima de mim sem algum motivo!
— Eu não estava no meu melhor momento, Talissa! Eu tinha crises quase todos os dias, me sentia impotente, um inútil. — Ele diz, sincero. — A única coisa que fazia sentido para mim era estar com você. Mas eu estraguei tudo. — Diz, fechando os olhos, me deixando atônita com sua fácil confissão.
— Loki... Eu... Eu não sabia.
— Como saberia? Você nem olha mais na minha cara! — Dispara com raiva e eu o olho incrédula de suas palavras. Respiro fundo, tentando não falar tudo o que estava preso na minha garganta, mas falho.
— Sim, eu olho, Loki. Olho como sempre olhei. Sempre esperando receber o mesmo olhar de volta. Sempre esperando que perceba que eu estou ali por você! Olho quando está lendo tão distraído no jardim que mal nota minha presença. Olho quando passa pela biblioteca, quando deixa o grande salão, e eu sei que você também faz o mesmo. Nós estamos sempre olhando um ao outro, mas nunca vendo a verdade. — Digo, cortando todo e qualquer argumento que ele me daria. — Se você ao menos fosse sincero comigo. Se ao menos não fosse você e falasse, uma vez na vida, a verdade... Ah Loki, tudo seria tão diferente!
— Eu falaria a verdade se ao menos tivéssemos tempo de conversar, Talissa! Passamos tanto tempo nessa briga de orgulho ferido que nos levou a nada! Você agora anda com eles. Está há tanto tempo tentando se encaixar que fala como eles. Age como eles. Eu nem sei mais quem você é!
— Então isso é sobre eles? Eu sei que vocês não se dão bem, Loki, mas isso não é culpa minha. Eles me tratam bem, e eu preciso de amigos aqui! Fiz o que pude quando você virou as costas e me deixou.
— Na verdade, você quem saiu e me deixou. — Me corrige, fazendo o sangue ferver.
— Não ficaria onde eu sei que não era bem vinda. Você quis um saco de pancadas naquele momento, alguém para descontar a raiva que você tinha, de sabe-se lá Zeus quê! Alguém que aguentasse calado tudo o que você tinha para falar, mas você mirou na pessoa errada.
— Não era isso. Nunca foi isso. Eu só estava estressado. Acabei de dizer que não estava no meu melhor momento. Nem estou! Eu precisava me acalmar, mas você ficava fazendo perguntas e mais perguntas, me tirando do sério!
— Porque eu me preocupava com você, seu burro! Eu percebi que esteve estranho e me preocupei, pensei que estivesse te incomodando, pensei uma infinidade de coisas. Mas você só estava sendo ridículo! Escroto! Babaca! – Digo, extasiada de raiva, distribuindo tapas por seu peitoral.
Loki segura meus pulsos de forma a me fazer parar. Logo depois, me fez apoiar as mãos em sua cintura e segurou meu rosto. Seu olhar atencioso, azul como um tempestuoso oceano, me atingiu em cheio.
— Veja minhas memórias. É a única forma de saber que estou falando a verdade. – Peço, calma, e ele suspira, fechando os olhos.
Loki toca minha testa sem mais nem menos. E então eu sinto uma explosão me tirar de onde estou e me jogar para as minhas memórias do dia a dia em Asgard. Tudo o que eu falei era verdade. Todos os olhares que eu dava à Loki e ele não correspondia era verdade.
Mas ele viu mais.
Viu minha conversa com Frigga, minhas conversas com Thor sobre meus sentimentos confusos pelo irmão, meus treinos, meus momentos solitários, minhas conversas com a Lua, e para piorar, as cores do fundo demonstravam meus sentimentos sobre como eu estava a cada acontecimento daqueles, e sempre que era algo relacionado à Loki, estava azul ou rosa.
Tudo o que eu senti, vi, fiz e falei estava passando para Loki como um belíssimo entretenimento, até ele soltar sua mão de mim. Seu olhar veio de encontro ao meu. Ele em pé, descrente do que tinha visto, e eu afastada, ainda respirando cansada e absorvendo, ou tentando, as informações do que acabara de acontecer.
— Não deveria ter visto metade daquilo. – Advirto, o encarando.
— Me desculpe, eu... Você me permitiu, então eu...
— Achou que tinha direito de fazer das minhas memórias um entretenimento?
— Lis, para. Eu não vi nada demais. Nada além da verdade. Nada além do que sente.
— Não sinto mais nada daquilo, Loki. São só memórias.
— Como não sente?
— Não sentindo, Loki. Quer ver? Veja. Eu estou certa. Sei dos meus sentimentos, sei do que estou falando!
Toquei seu braço, fazendo-o segurar em mim e rever minhas memórias desde momento. O fundo estava turbulento, negro como a total penumbra da noite, cercado por raios violentos e azuis como os olhos dele. Mas mudou tão rápido que eu mal pude perceber. As cenas continuavam se repetindo, mas o fundo ficara vermelho, e depois rosado. Ouvi o sorriso de Loki e ele logo me soltou, me encarando com um olhar transbordado de cinismo.
— Sabe dos seus sentimentos, não é? – Pergunta cínico e ri.
— Se em algum momento senti algo à mais por você, foi há muito tempo.
— Tem certeza? — Questiona, se aproximando e guardando a adaga.
— Mais um passo e eu juro que quebro essa sua preciosa carinha. — Ameaço e vejo seu sorriso se alargar ainda mais.
— Coisinha cruel e violenta. — Ele diz, dando mais um passo. — Essa eu pago ‘pra ver.
◦◦◦◦ ◎ ◦◦◦◦
OIEE!
Seis dias sumida, tentando pôr minha cabeça no lugar e ajustar meus pensamentos. Disse no outro livro o quão difícil estava sendo pra mim ultimamente, mas as coisas estão começando a se ajustar aqui, e espero poder continuar postando com animação pra vocês.
Espero que tenham gostado do capítulo e do retorno. O próximo vai ser loucura atrás de loucura, então fiquem ligadas. Vou tentar atualizar rápido dessa vez!
Se cuidem, amores. Beijão 💚
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