20 | Conselhos
४ L o k i ४
Quanto mais os dias se passavam, mais eu me sentia confuso e fora da realidade. Ainda me sentia mal pelos meus atos e o dia inteiro, todos os dias, pensava em formas de me reaproximar dela e finalmente ser direto. Falar tudo o que estava preso na garganta. Me abrir como nunca fiz.
Queria contar a ela sobre meus demônios, sobre meu passado, sobre minhas tormentas. Queria a compreensão que só ela seria capaz de me dar. Mas o desespero por não saber o que fazer me fizeram tomar medidas drásticas. Medidas desesperadas, eu diria.
O fato é que eu precisava de conselhos. Não poderia ficar divagando com a minha própria mente pois não chegaria a lugar algum. Minha mãe não estava em Asgard para me ajudar. Nem mesmo Thor, e talvez ele não fosse útil agora – Como não era na maior parte do tempo. Então eu recorri para a única pessoa possível. Não imaginava a reação dele ao ouvir meu pedido, só esperava que me ajudasse.
— Loki. Bom vê-lo aqui. — Heimdall diz, ainda de costas.
— Olá, Heimdall. Imagino que já saiba o que me trouxe aqui.
— Sim. Eu vi. — Diz, como se não fosse óbvio. — Vejo também a confusão que está instaurada na sua mente.
— E é exatamente por isso que estou aqui. Preciso de ajuda.
— Isso é inédito. O que quer, exatamente?
— Conselhos. Mas sem rodeios. Preciso que seja direto, sincero. — Peço.
— Para isso, eu preciso que seja sincero com você mesmo. O que sente por ela?
— Como sabe que... Esquece. — Digo, vendo seu semblante sério se transformar em um sorriso. — Acho que esse é o problema. Eu não sei o que sinto.
— É confusão? Uma sensação de nervosismo quando a vê? É como se seu corpo não obedecesse aos seus comandos, e sim a ela?
— É. É como se, a partir do momento que eu a conheci, eu vivesse por ela. Eu nunca senti isso.
— É paixão. — Diz direto e eu o encaro. — Você encontrou mais um sentido para qual viver. Para qual tentar. Ela.
— Você já se sentiu assim? A-apaixonado?
— Já.
— E o que fez?
— Fui sincero. É tudo o que posso dizer.
— Deu certo?
— De certa forma, deu.
— Então... Como eu deveria me aproximar dela? Talissa ficou arisca à minha presença. Apenas me trata com acidez, com indiferença... Isso está me quebrando por completo.
— Dois passos fundamentais você já deu. Se arrepender e admitir que está errado, e procurar saber como consertar seu erro. Eu sugiro que tenha paciência. Ela provavelmente está magoada, mas é só isso que sabe. Você não faz ideia do que está se passando na cabeça dela, muito menos ela na sua. Aparências enganam, Loki. Ela pode parecer desinteressada, mas no fundo pode estar tão desesperada quanto você. Você pode parecer indiferente, mas está aqui, me pedindo conselhos. Entende o que quero dizer?
— Acho que sim.
— Ótimo. Então dê tempo ao tempo, demonstre interesse em consertar o que foi quebrado. Tente conversar, mas nada de forma agressiva. Seja sincero, diga que se arrepende e ponha as cartas sobre a mesa. Demonstre seu ponto de vista, e não tenha medo de demonstrar seus sentimentos. Quanto mais aberto estiver, mais ela vai te entender.
Absorvo seu conselho como um mantra, mentalizando cada palavra e já me sentindo nervoso pela possibilidade de consertar tudo. Mesmo que ela não quisesse mais minha amizade – e estaria em seu total direito de querer se afastar de mim – eu ficaria imensamente feliz em esclarecer tudo.
— Obrigado, Heimdall. De verdade.
— Não há de quê. É bom te ver assim.
— Assim?
— Dando a devida importância aos seus próprios sentimentos e aos sentimentos de terceiros também. Você evoluiu muito, menino. — Diz, levantando-se e caminhando lentamente ao meu lado.
Permaneço calado, apenas assentindo, enquanto observo o castelo de longe. Uma pergunta me surge a cabeça e eu volto a encarar o guardião.
— Quando você a resgatou, já sabia o que iria acontecer entre nós?
— Imaginei que iria. Sabia que você iria se dispor a ajudá-la, mas não sabia o quão forte seria a ligação de vocês dois.
— Entendi... Mais uma vez, agradeço pelos conselhos e pela sinceridade.
— Sempre que precisar. — Se dispõe e eu assinto.
Monto novamente em meu cavalo, retornando agora com mais pressa para o castelo. Desvio o caminho para o Jardim de Frigga, vendo o descuido que estava ali. Agora que minha mãe estava em Vanaheim, eu estava responsável por cuidar do local. Ao menos era uma oportunidade de manter a cabeça longe de ideias e pensamentos. Uma ótima distração.
𖤍 T a l i s s a 𖤍
Meus dias estavam passando arrastados. Todo o tempo eu me sentia exausta de tudo e qualquer coisa que tentasse fazer. Havia pedido um tempo dos treinos com Thor pois a exaustão física também havia me atingido. Eu já estava em um nível de poder alto o suficiente, não precisava me cobrar tanto quanto andava fazendo.
Também não lia ou estudava há um bom tempo. Não conseguia me concentrar. Ou eu pensava no Olimpo e começava a me preocupar por não saber como as coisas estavam na Terra, ou eu pensava em Asgard. Mais especificamente, nele. Era difícil não pensar. Ao mesmo tempo que eu queria perguntar como ele estava e deixar minha preocupação aflorar, eu queria o mandar para o raio que o parta. De preferência que fosse um raio meu.
Eu já havia aceitado e admitido para mim mesma que gostava dele. Pude perceber quando aquele guerreiro nojento e repulsivo me beijou, e tudo o que eu quis foi ele. Mas não sabia mais o que fazer. Tentava dar abertura para Loki falar comigo, mas eu já havia sido tão rude com ele, que ele sequer tentava mais. Eu estava arrependida e chateada numa mesma medida.
Também me sentia culpada. Eu não tinha nenhuma experiência com relacionamentos que não fossem familiares. Não sabia como manter interesse, como demonstrar sentimentos. Não sabia se havia feito algo de errado para ele, muito menos se estava certa em manter aquele tipo de interesse por Loki.
Minha dúvida me fez recorrer à única pessoa que poderia me aconselhar agora. O único que poderia me guiar nesse mar de incertezas. Ele parecia já saber que eu estava chegando, pois me recepcionou calorosamente na entrada/saída de Asgard, em seu pequeno observatório do imenso universo.
— Lady Talissa, que curiosa surpresa! — Diz, misterioso, e eu sorrio.
— Já faz um bom tempo que não apareço aqui. — Digo, adentrando o local junto a ele.
— E imagino que tenha vindo fazer algumas perguntas.
— Exato. Primeiramente, pode me dizer como estão as coisas no Olimpo?
— Andei os observando hoje. Eles, assim como nós, começaram a se preparar para a convergência.
— O evento apresenta algum risco para eles?
— Parcialmente. Durante os minutos em que os planetas se alinharão, as forças de Zeus serão enviadas para o tártaro, a fim de conter um possível despertar dos titãs.
— Acha que isso pode mesmo acontecer?
— É difícil. Seu avô está bem preparado. E, até então, Hades não tem planos de libertar os grandes seres.
— Hades teme eles tanto quanto qualquer outro deus. — Comento e ele assente. — E minha mãe? Como ela está?
Ele parece pensar, e dá um leve sorriso ao fazer isso. Percebo seus olhos brilharem num tom amarelo forte, assim como os meus as vezes fazem, e ele logo me encara.
— Ela está na cidade de Atenas, com seus outros irmãos e sua tia, Ártemis. Ela está segura. — Ele garante.
— Ela conseguiu falar com você? Mandar algum recado...?
— Não. Os eventos da convergência estão afetando minha acessibilidade aos outros reinos. Não é diferente com Midgard. — Ele diz, me deixando um pouco frustrada. — Mas se serve de consolo, ela tentou enviar-te uma mensagem de Íris, mas a deusa não conseguiu acessar sua localização por ser de outra parte do universo.
— Tudo bem... Assim que possível, tentarei falar com ela. — Afirmo e ele assente.
— Posso lhe ser útil em mais algo?
— Na verdade, sim. É difícil para mim explicar meus motivos, mas eu preciso de conselhos.
— Imaginei. Sobre o quê?
— Sentimentos. — Sou sincera, soltando um suspiro.
— Prossiga.
— Eu... Bom... Eu não tenho experiência alguma em relacionamentos, muito menos sei o que sinto. Mas reconheço que nunca me senti assim por outra pessoa. É uma forma diferente de gostar, de querer.
— Certo.
— Eu me sinto ainda mais confusa pois brigamos recentemente. Acabei ouvindo o que não queria e isso me deixou magoada. Mas eu tenho certeza de que ele sabe que me magoou, só não parece se importar.
— Tem certeza?
— Sim. Bom, ele não pediu desculpas.
— E isso quer dizer que ele não se importa? — Heimdall pergunta e eu uno os lábios, maneando a cabeça em negativa. — Me permita ser sincero, milady. Acho que é imatura quanto a isso.
— Mesmo?
— Sim. Bom, você mesma disse que nunca se sentiu assim e que não tem experiência em relacionamentos. — Dá de ombros e eu assinto. — Não pedir desculpas não significa, de forma alguma, que ele não se sinta mal pelo que disse. Muitas vezes queremos argumentar em uma briga, mas ficamos sem palavras. Ou queremos agir em determinada situação, mas nossas pernas simplesmente não se movem. Não estou defendendo-o e nem o que ele disse, mas tente pensar pelo outro lado da moeda, minha querida.
— Como?
— Se ponha no lugar dele. Se você, que é bem resolvida com seus próprios sentimentos, está confusa, imagine ele? Loki não demonstra nada além de amor por Frigga e repugnância por qualquer outro ser existente. Mas, de repente, chega uma mulher que domina seus pensamentos como outra jamais fez. Que começa a ocupar lugar em seu coração, onde antes não existia nada. Não estou dizendo que ele se sinta assim, é apenas uma possibilidade, mas pense. Como se sentiria no lugar dele?
Sua pergunta me faz viajar por essa e tantas outras possibilidades. Me fazendo ter ainda mais certeza do quão boba eu fui por querer forçar Loki a me pedir desculpas. Finalmente reconhecia isso, e começava a entender melhor aquela mescla de sentimentos que agora morava dentro de mim.
— Imagino que se sinta mal, minha querida, mas não pode querer forçar ele a pedir desculpas se ele não quiser pedir. Não pode forçá-lo a conversar, se ele não quiser conversar. Cada um tem seu tempo. Mas ele se importa, a sua maneira, só basta você perceber.
— Eu entendo. É confuso, mas eu entendo.
— Pouco a pouco você entenderá melhor. Precisa de muitas experiências de vida em relação a sentimentos. Você é muito madura para lutas, poderes e sobrevivência, pois teve que lidar com isso desde cedo, mas nunca lidou com um namoro. Com um amor fora do sentido parental. É inexperiente ainda, mas vai melhorar.
— Espero que sim... E você, como se tornou tão experiente?
— Muitos anos de vida, muitos momentos, muitas paixões, guerras, muitos conselhos dados e recebidos. — Ele dá de ombros.
— O que o fez ajudar minha mãe antes de realmente se conhecerem?
— Os deuses antigos foram ensinados a proteger os midgardianos, pois estes não tinham poder como nós para defender a si mesmos. Mesmo sabendo que sua mãe era uma deusa, não pude ignorar o perigo iminente em que estava e honrei os meus ensinamentos. A protegi e guiei para um lugar seguro. — Ele explica. Assinto, entendendo a pequena história de amizade dos dois e sorrio.
— Muito obrigada pelos conselhos, Heimdall.
— Estou quase sempre à disposição, milady.
— Agradeço. Tenha uma boa noite.
— O mesmo para a senhorita.
Me afasto dele, indo para a saída do local, montando novamente no meu cavalo emprestado. Voltei para o palácio, vendo o céu escurecer acima de mim. Deixei Storm no estábulo e voltei para dentro do palácio, caminhando devagar, repensando os conselhos que havia recebido. Sinto uma presença próxima a mim e me viro, vendo Loki caminhar distraído, com alguns ramos de plantas em mãos.
— Boa noite. — Desejo, lhe dando um meio sorriso e ele me encara, recobrando a postura segundos depois.
— Boa noite, milady.
— Alguma notícia de Thor e os outros?
— Estarão de volta em dois dias. — Diz e eu assinto, retornando a caminhar para o meu quarto. — O jantar já vai ser servido. — Ele avisa.
— Certo. Verei se desço. — Digo e ele assente, caminhando na direção da sala de cura.
Volto para o quarto sentindo o coração apertado em nervosismo e felicidade. Me achando uma boba, ignoro meus pensamentos e tiro as minhas vestes, indo para a banheira, relaxando os músculos, o corpo e a mente. Tudo o que eu precisava agora.
◦◦◦◦ ◎ ◦◦◦◦
Oie!
Como estão minhas deusas? Espero que bem.
Eu fiquei ansiosa pra postar esse capítulo desde que eu escrevi e revisei. É muito importante pra a história – e para as teorias que eu ando lendo haushsush.
Espero que tenham gostado, tentei dar mais visibilidade ao Heimdall, e nada melhor que um dos mais sábios de Asgard pra orientar esses dois cabeça oca.
Nos vemos no próximo, onde finalmente começa a verdadeira reconciliação de Loki e Lis.
Até lá. Beijão 💚
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