16 | Segundo Duelo
𖤍 T a l i s s a 𖤍
Eu nunca havia me decepcionado com uma amizade antes. Na verdade, nenhuma das decepções que tive jamais fora tão grande quanto essa. Nem mesmo quando criei expectativas sobre mim e meus poderes e na verdade eu ainda era completamente inútil. Eu gostava de Loki como gostava dos meus companheiros de batalha, talvez mais. Eu já o considerava como um verdadeiro amigo e sentia liberdade para contar sobre minhas dores e meu passado à ele, mas a forma como me tratou ontem me quebrou totalmemte por dentro.
Pude perceber desde o início que ele estava mentindo, que estava esquivo, e queria saber o motivo disso. Se eu o havia pressionado, era só dizer que não se sentia confortável! O que tem de mais nisso? Por quê ele tem que ser tão complicado?! Tudo o que eu queria era a sua sinceridade e o que recebi foi dor. Do pior tipo.
Não queria, mas havia chorado por grande parte da noite. Pra falar a verdade, assim que saí daquele terraço, as lágrimas já caíam por todo o meu rosto. E topar com Frigga e Eira pelo corredor enquanto retornava para o quarto não ajudou nem um pouco. É óbvio que elas perceberam meu estado, mas para a minha sorte, Frigga não foi invasiva ou fez perguntas, apenas me desejou uma boa noite e seguiu sua caminhada com sua ajudante.
Eu dormi e acordei na mesma posição. Abraçada com um travesseiro que absorvia todas as minhas lágrimas. À essa altura já estava seco, mas eu não sentia vontade alguma de largá-lo. Não sentia vontade nem mesmo de levantar. Queria dormir. Hibernar por anos até esquecer de tudo o que ouvi. Mas sabia que era impossível, infelizmente, e eu teria que levantar.
Ao menos algo me movia hoje. Iria batalhar contra Volstagg e dar tudo de mim pra derrotar o guerreiro o mais rápido possível, assim começaria meu treino com Thor e tentaria esquecer das palavras do moreno. Tinha plena certeza que não conseguiria, mas valia a tentativa. Não valia?
Tomei meu banho como faço em todas as manhãs, decidindo ignorar a preguiça que me mandava constantemente voltar para a cama e pensar por várias e várias horas seguidas sobre a nossa discussão de ontem. Sabia que aquilo não me faria bem, então saí o mais rápido que pude do quarto, finalmente tomando coragem para ir comer algo. Não gostava da ideia de batalhar de barriga vazia. Ao chegar na grande mesa, percebi o silêncio incomum que estava no local e me aproximei devagar, fazendo pouco barulho com minhas botas.
— Um bom dia, Frigga. — Desejo, sorrindo docemente para a deusa, que devolve o sorriso.
— Bom dia minha querida. Está melhor? — Pergunta baixo, com um olhar avaliador. Sabia que se referia à noite anterior.
— Melhorando. — Admito.
Tomo o meu café sem mais conversas e aos poucos os ânimos no castelo parecem mudar. Thor ainda estava calado, me fazendo estranhar bastante seu comportamento, e o seu irmão sequer apareceu, assim como ontem. Mas diferente de ontem, hoje eu não estava mais tão preocupada com ele.
Terminei a refeição e caminhei com Thor, Sif e Hogun até o campo de treino. Lá, encontramos Volstagg e Fandral. Odin logo chegou. Gostava de sempre me ver lutar, talvez para avaliar se eu era mesmo tão boa quanto diziam. Bom, eu sou sim.
—nEstá pronta, princesa? Falei pra o grandão não pegar leve. — Fandral diz, me fazendo, mais uma vez, rolar os olhos. Por sorte eu estava de costas para ele.
— Espero mesmo que não pegue, porque eu não vou. — Rebato, me virando, já vestida com minha armadura de cobre.
Atraio a atenção deles quando exponho minhas asas. O tom amarelo e alegre delas é coberto por raios negros, assim como estava ontem quando Loki tentou se aproximar. A cor era nova até mesmo pra mim, e me dava um tom sombrio, exatamente o que eu precisava para destrair Volstagg.
— Talissa, tem certeza que está bem? — Ouvi a voz preocupada de Thor um pouco baixa. Talvez não quisesse atrair a atenção dos outros.
— Estou. Por quê?
— Ahm.. Só.. Te achei um pouco quieta ontem.
— Está tudo bem. Se importa?
— Não. Boa sorte.
— Obrigada, Odinson!
Adentro o círculo do campo de batalha e giro a espada de um lado para o outro, cortando o vento. Abro uma pose de defesa quando Volstagg ergue a espada e o machado e ataca. Defendo, desviando para os lados e desferindo um golpe contra a sua bota, desestabilizando o grandão. Ouço o sorriso de Hogun e percebo que outros soldados se juntam para assistir, como sempre fazem.
Volstagg ataca, vendo meus segundos de distração, e por sorte consigo dar um salto e usar o impulso das minhas asas para sobrevoar o corpo dele. Caio em pé, correndo para aproveitar sua brecha e tento atacá-lo. O ruivo recebe meu ataque, defendendo com sua espada e me jogando com força contra a parede. Sinto o ar sumir do meu corpo e demoro alguns segundos até recobrar a respiração.
Dou um salto, sacudindo as asas e tirando a poeira delas. Percebo Volstagg virar pra trás, um pouco surpreso e entendo o momento como a brecha perfeita para assustá-lo. Eu não estava dando o meu melhor, e tinha medo de usar minha raiva nessa luta, mas quanto mais eu me segurava, mais rápido eu perdia. Eu tinha que me soltar. Deixar a força fluir e, finalmente, ganhar.
Mudo a feição, percebendo meu sorriso se esvair lentamente e abro as asas, numa total pose de ataque. A defesa não estava me levando à lugar nenhum. Eu precisava atacar, e precisava ser de perto. Muito perto.
Usei o medo de Volstagg ao meu favor e fui para cima. Como eu já esperava, ele tentou defender com o machado. Desviei de seu corpo e o golpeei com um chute nas costas. Não estávamos autorizados à ferir um ao outro com as nossas armas, caso contrário, ele com certeza teria perdido um braço agora.
Aproveitando que seu corpo foi jogado para a frente, ataco agora as suas pernas, o derrubando no chão, fazendo um grande estrondo ecoar pelo local. Tento atacar por cima, mas o ruivo me joga para o alto, enquanto tenta levantar. Eu caio ao seu lado, batendo com a lateral da minha espada contra o seu pescoço, e um raio cai próximo de nós, fazendo um trovão soar forte pelo local.
A vitória não havia sido tão linda quanto à contra Hogun, mas o que importava era derrotar o homem, e isso eu fiz com maestria. Assim que comecei à lutar de verdade, claro. Guardo a espada e ajudo o ruivo à levantar, usando um pouco mais de força.
— Venceu mais um! — Ele diz, bagunçando meu cabelo.
— Você foi bem, grandão. Quase me venceu também.
— Percebi que estava cansada hoje. Acho que aproveitei o momento, mas você é forte demais. — Ele admite.
— Obrigada por reconhecer meu esforço. — Brinco.
— O que irão fazer agora? — Sif pergunta, atraindo nossa atenção.
—;Eu vou treinar. Sou o próximo na fila da princesinha.
— Tali e eu temos treino também. — Thor diz e eu vejo a noiva do loiro erguer as sobrancelhas pra ele, quase desacreditada do que disse.
— Estão treinando juntos é? — Fandral pergunta, estranhamente interessado.
— Temos poderes semelhantes. Estou ajudando dela.
— E faz muito bem, meu filho. — Odin diz. — Talissa, minha querida, você foi muito bem hoje.
— Muito obrigada. — Sou sincera, soltando um meio sorriso. — Vamos começar? — Chamo Thor e vejo o loiro assentir.
Nós caminhamos para um campo mais aberto e alto, um pouco para fora do palácio. Não queria distrair os outros e sabia que eles também precisavam ter suas práticas.
— Como conjurou aquele raio? Quando venceu Volstagg?
— Não sei, eu só... Sendo sincera, eu não estava no total controle das minhas emoções, talvez tenha sido isso.
— Acha que consegue fazer novamente?
— Posso tentar.
Concentrei meu sentidos e foquei nas energias ao meu redor, mas não sentia nada, então comecei à vagar em pensamentos. Não conseguia, por querer, pensar em algo que me deixasse triste ou irritada. Por um momento, pensei em Loki, mas nada veio senão uma grande decepção, de novo.
Momentos com o deus passavam pela minha mente e foquei em um especial. Quando ele me ajudou à descobrir sobre meu pai. E quando Heimdall me confirmou que eu realmente sou uma fênix... Aquilo me deixou feliz. Era um sentimento bom, saudável, então canalizei toda a energia e puxei o raio, fazendo-o passar por todo o meu corpo e ser direcionado para o chão.
— Deu certo! No que pensou?
— Algo pessoal. — Digo, vendo o príncipe sorrir. — Mas fico feliz que funcionou.
— Também fico. Talvez agora eu possa intensificar mais os treinos. Quero saber tudo o que consegue fazer. Mas vamos nos concentrar em energia por agora.
Concordei com Thor e continuamos a tarde de treinos. Eu havia tido bastante avanço com os raios. Conseguia emanar com mais força e estava com um pouco mais de facilidade para focar e canalizar as energias. Estávamos tão focados nos nossos exercícios que esquecemos inclusive de almoçar e comer o lanche da tarde. O que fez com que Frigga viesse nos procurar para saber se estava tudo bem.
— Precisa comer, minha querida. Batalhou o dia inteiro. — Diz a rainha, me acompanhando direto para a cozinha.
— Acabei esquecendo.
— Ao menos teve algum progresso?
— Vários. Thor ensina bem. É um bom parceiro de treinos.
— Tem sorte que Sif já deve estar longe de Asgard agora, se ela ouvisse isso... — Ela diz, dando um meio sorriso. — Gosto daquela menina, mas é muito insegura.
— Concordo. Já deixei claro diversas vezes que não tinha interesse em Thor, mas parece nunca ser suficiente.
— Ela tem um medo muito grande de perdê-lo. Alguns acontecimentos passados fizeram-na assim.
— Espero que um dia possa entender que quero o seu Thor apenas como amigo.
— Ela irá, só precisa de tempo... E você tem algum interesse em outro guerreiro asgardiano? Fandral talvez? Percebo que trocam olhares.
— Não diga isso nem de brincadeira. Fandral, para mim, serve apenas como um futuro oponente. — Respondo sincera, pondo algumas frutas no prato que montava. — Talvez ele queira algo comigo, mas não será recíproco.
— Nem mesmo amizade?
— O mais próximo de amigo que tenho atualmente é Thor.
— E Loki? Estavam tão unidos nos últimos dias.
Sendo sincera, não sei o que dizer. Não posso simplesmente dizer para a própria mãe de Loki que ele me decepcionou, que me magoou. Prefiro apenas soltar o ar que estava preso e manear a cabeça em negação. Ela vai ligar os pontos e entender, sei que vai.
— O que acha de conversarmos um pouco? — Sugere e eu assinto.
Assim que nos viramos para sair da cozinha, vejo a figura de Loki de pé pouco distante de nós. Sinto meu coração acelerar rapidamente e um rubor sobe ao rosto. O príncipe faz uma pequena reverência à mãe e ela lhe dá um beijo no topo da cabeça, como um aparente costume. Ele não me olha, não fala comigo, nem passa perto de mim. Apenas desvia o caminho e passa direto da mesa, pegando apenas uma maçã e indo embora pelo outro lado.
Frigga e eu seguimos o nosso caminho em direção à uma das varandas do palácio, onde tinha uma bela vista de todo o local e era tudo bem arejado. Sabia que ela não me trouxe aqui para falar somente de coisas boas, e já me preparava mentalmente para as suas possíveis perguntas. Mas eu precisava disso, de uma boa conversa. Me faria bem...
◦◦◦◦ ◎ ◦◦◦◦
Oie!
A sumida voltou. E agora sem mais procrastinação - eu espero!
Desanimei um pouco de postar, mas andei relendo e revisando os próximos capítulos e isso acabou me dando um boost de ideias para poder finalizar o livro.
Já fica aí o aviso de que vem muita coisa boa, e muita batalha pela frente. O livro vai acabar ficando maior do que imaginei, mas vai ser um projeto legal.
Espero que estejam gostando! Acho que o próximo capítulo vem no sábado, farei o possível pra não atrasar.
Um beijão, se cuidem! 💚
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro