07 | A Deusa de Midgard
𖤍 T a l i s s a 𖤍
Sentia meu corpo doer como se tivesse travado uma batalha contra cem minotauros. Tudo ardia e parecia estar quebrado ou machucado. Como se centauros tivessem arrastado meu corpo por milhares de quilômetros. Eu me sentia péssima. Meu estômago ainda queimava por dentro. Tanto dos ferimentos quanto de fome. Não fazia ideia de quanto tempo eu estava apagada e isso me preocupava bastante.
Vozes ao meu redor me fizeram entrar em estado de alerta, não ousei abrir os olhos, apenas focando na minha audição. Pude ouvir passos largos ficarem cada vez mais altos, e logo um som estridente como o de uma grande e pesada porta sendo aberta.
— ...de onde ela é, mas é realmente linda! — Disse uma voz grave, bonita e alegre.
— Sei de uma bela donzela asgardiana que ficaria muito contente em saber de seus elogios para com esta dama. — Dessa vez foi uma voz feminina e calma. Lembrava muito a de Gaia, mas com certeza não era ela.
— Sif sequer saberá disso. Mas pode concordar comigo, minha mãe, esta moça é muito mais bonita que minha dama.
— Deveria honrar a mulher que deita ao seu lado, Thor. — Ouvi uma voz grossa e rude, velha. — Sif é uma linda guerreira, deveria ter orgulho dela e se envergonhar de desejar outra moça. Mentir e esconder também.
— Desculpe, meu pai.
Todos ficaram em extremo silêncio. Pude sentir um peso à mais na cama e uma mão tocando minha testa. Um toque suave, como o de uma mãe preocupada com o machucado do filho. Me fez sentir saudade de casa.
— A febre baixou. É provável que acorde à qualquer momento. — Disse a mulher, me trazendo conforto com sua voz.
Abri os olhos lentamente, me acostumando com a claridade e o mármore branco que envolvia grande parte do quarto. Sentada próxima à mim estava uma senhora muito bonita, vestida em trajes alaranjados floridos. Tinha um sorriso calmo como o de minha mãe.
— Me desculpe dizer, mas já estou acordada. — A respondi, com a voz um pouco fraca.
— Fico feliz. Como se sente?
— Ainda mal. Onde estou?
— Em Asgard. — Disse, e eu me lembrei de pequenos flashes de, talvez, dias atrás. — Como veio para cá? Sabemos que não é natural do nosso reino.
— Sou da Terra, do Olimpo. Não sei bem como vim parar aqui, mas tive ajuda de Heimdall. Onde ele está? — Questionei, olhando ao redor, vendo outros dois homens.
Um deles era velho, o provável dono da voz rude que ouvi escondida. Parecia bastante com Zeus, com seus cabelos grisalhos que chegavam à passar dos ombros, e sua barba trançada. Usava um tapa olho dourado no olho direito, uma armadura dourada e prateada e carregava consigo um cajado pontudo, similar à uma lança.
O outro era jovem, loiro, também de cabelos grandes, mas a barba bem menor que a do pai. Trajava vestes prateadas e de couro negro, lhe dando um aspecto corpulento. Usava um capa vermelha como sangue até os calcanhares e tinha próximo de si um martelo mediano, cabeado em couro.
Pude ouvir batidas na porta, que chamaram a atenção de nós quatro, e logo a mesma foi aberta, revelando o tal Heimdall. Ele parecia feliz em me ver, mas ficou bastante sério ao olhar o senhor grisalho, e se curvou perante ele, me fazendo lembrar do que minha mãe tinha me ensinado.
— Pai de Todos. Minha rainha. — Os cumprimentou e se virou para o loiro próximo à janela. — Meu príncipe.
— Heimdall, você demorou!
— Me desculpem, tive uns problemas para resolver no povoado, acabei não recebendo a mensagem do soldado à tempo.
— Não tem problema. Apenas queremos que explique como essa dama chegou ao nosso mundo. De onde ela é?
— Lady Talissa é de Midgard, senhor. Sua mãe é Atena, a deusa da estratégia de batalha e tantas outras coisas... Ela é neta do poderoso Zeus, que comanda o mundo em que os deuses de lá vivem. — Explica. Me fazendo apenas assentir e concordar. — Estava correndo perigo, e sua mãe clamou por ajuda. Não pude deixá-la morrer. Tenho o dever de proteger também os midgardianos, assim como meus ancestrais fizeram com Ask e Embla.
— Fez bem, meu querido. Obrigado por sanar nossa dúvida. Agora pode ir, e deixe Loki entrar.
— Me desculpe a confusão, senhor. Príncipe Loki não tem nenhuma culpa. Eu a mandei para receber cuidados enquanto tentava salvar a vida de sua mãe.
— E salvou?
— Não foi necessário. — Disse o homem, com um sorriso leve. Fiquei muito mais tranquila em ouvir isto e suspirei aliviada. — Trouxe o seu escudo e espada, milady.
— Muito obrigada, meu senhor. — Agradeço, com um sorriso gentil.
Heimdall pôs meus artefatos junto à meu traje de batalha, em cima de um estofado próximo à janela. Após isso, se curva perante nós e deixa o cômodo. A porta permanece aberta e o próximo à entrar é o homem de cabelos negros que me lembro de ver antes de ficar inconsciente. O mesmo me olha com curiosidade e de forma avaliadora. Seus olhos azuis percorrem todo o meu corpo de forma rígida e nada sutil, me fazendo enrubrecer.
— Deixe nos apresentar, Lady Talissa. Sou Odin, Pai de Todos, rei de Asgard. Esta é minha esposa, Rainha Frigga. Estes são nossos filhos, Thor e Loki.
— É um prazer conhecê-los. — Digo, sentando com postura na cama. — Sou Talissa, filha de Atena. No meu mundo me conhecem como deusa da bravura, astúcia e prosperidade. — Me apresento, vendo os olhares curiosos.
— Você é uma guerreira também? Sua espada parece bem feita.
— Sou. Minha mãe é a melhor guerreira que o Olimpo já viu, me treinou ara lhe suceder.
— Seu pai?
— Nunca me falaram dele, tudo o que sei é que é um deus poderoso. Não sei de onde é e nem o que faz.
— Entendo... Me diga, Talissa, que outros poderes você tem? — Perguntou. Parecia estar escondendo algo, o que me fez unir as sobrancelhas em desconfiança. — Me desculpe, é que minha esposa e suas ajudantes passaram por alguns problemas para curar seus ferimentos.
— Estava quase morta quando Loki lhe trouxe. Seu corpo emanava raios, pequenos, menores que um dedo, mas que machucaram muito quando tentei lhe curar.
— Me desculpe por isso. Ahm... Pode me dizer mais o que houve?
— De fora do normal? Apenas os raios. Imaginei que tivesse algum poder similar ao de Thor.
— Não.. Talvez seja algo que tenha herdado do meu avô. Ele é deus dos raios, tempestades e tudo isso... — Explico. Eles pareciam realmente encantados em saber. — Posso explicar melhor, se tiverem um tempo.
— Bom, teremos bastante tempo para conversar. Coma algo por agora, está apagada há quase dois dias, precisa repor suas energias. Mais tarde eu venho trocar seus curativos. — Frigga diz gentil.
— Ahm.. Temo que não seja necessário. Minha regeneração é acelerada.
— Eu sei. Mas todo cuidado é pouco com lâminas de fogo. — Explica por alto, deixando a cama. — Vou deixar que você e Loki conversem agora. Ele foi bastante heróico em trazer você rapidamente para os meus cuidados.
Frigga sai do quarto, sendo acompanhada por Odin e Thor, que tem uma breve troca de olhares comigo e o irmão antes de realmente sair. A porta é fechada e logo vejo o tal Loki se aproximar com uma bandeja farta. Sinto meu estômago doer ainda mais e me sento numa posição melhor.
— Não se esforce. — Pelo tom de voz, Loki ordena, ao ver que eu iria levantar o braço para pegar a bandeja. Ele mesmo a põe do meu lado, e ergue um morango até os meus lábios, me surpeendendo. — Não é bom que coma muito. Nem coisas pesadas. Esteve apagada por um dia e meio. — Explica, ainda sério, encarando meus olhos.
— Ao menos estou a salvo. Graças à você. Muito obrigada, Loki. De verdade. Ajudar uma estranha como eu...
— Não há de que... — Responde rápido, tornando à me encarar por curtos segundos. — Confesso que não é comum aparecer moças esfaqueadas num cavalo por aqui, mas eu dei meu melhor. — Diz, com um certo tom de brincadeira e eu sorrio. Ele tinha um bom humor, apesar da feição brava.
— Meu herói. — Digo, vendo-o trazer mais uma fruta em direção à minha boca. — O que estava fazendo quando me resgatou? Não acredito que apenas estava no lugar certo na hora certa.
— Estava procurando umas ervas para minha mãe. Lugar errado, hora certa. — Diz, me corrigindo.
— Ervas?
— É... Aqui em Asgard temos algo que chamamos de Jardim de Frigga. É uma das coisas mais lindas que já vi. Ela cuida com muito carinho de tudo, mas volta e meia precisa de ervas para afastar insetos já que não gosta de usar magia em suas plantas. — Ele explica. Posso perceber uma certa afeição por sua fala. Talvez fosse um lugar a qual ele gostasse muito.
— Pode me levar nesse jardim depois? — Arrisco pedir, e ele me encara avaliativo.
— Claro! Mas.. Fico tentado à dizer que meu irmão também tem interesse em sua companhia. Não parou de falar o quanto milady é linda desde que a salvei. — Me responde, aparentemente pouco interessado.
— Pelo que ouvi, Thor já tem uma companheira. — Rebato, e ele assente.
— É. Lady Sif. Irá conhecê-la em algum momento. Ela e os outros três panacas. — Loki diz com desdém mas me faz rir pela forma como se expressa. — Coma mais. — Pede, levando agora pequenos pedaços de banana.
— Não aguento tudo isso. Porque não divide comigo?
— Minha mãe ficará furiosa se souber disso, milady. Fez a bandeja especialmente para você.
— Bom... Eu não vou contar. Você vai?
Ele pareceu pensar por um tempo. Os olhos avaliativos não desgrudavam dos meus, e um sorriso brincava em seus finos lábios. Sabia que estava pensando a respeito. Ele era bonito. Não tanto como alguns heróis que já tive o prazer de ver no Olimpo, mas era bonito. Tinha algo nele que me chamava atenção. Um mistério. O maxilar aparente, os olhos fundos, a pele quase pálida e o corpo esguio o tornavam quase único.
— Prometo que não conto. — Disse por fim, finalmente levando uma fruta até a boca.
Loki me fez companhia durante toda a refeição, mas não trocamos mais nenhuma palavra sequer. O silêncio acabou tornando-se confortável. Assim que terminei de comer o que Frigga havia mandado para mim, ele pôs a bandeja num futon ao lado da cama e voltou para perto, cruzando as mãos após testar minha febre. Pude ouvir batidas na porta e mandei que entrasse, vendo Frigga retornar, agora com utensílios para curativos e uma bacia de prata.
— Comeu?
— Sim. Muito obrigada.
— Por nada, querida. Agora tenho que trocar seus curativos. Receio que Loki precise sair. — Ela pede e ele apenas assente em silêncio, já se levantando e tomando o rumo da saída.
— Espere! — O chamo, vendo o olhar curioso da mãe pairar sobre nós. — Não esqueça de mostrar-me o jardim.
— Não se preocupe. Quando estiver curada nós iremos. — Disse, e eu assenti.
Loki saiu do cômodo, me deixando sozinha com a rainha. Me desfiz da parte superior do vestido e cobri apenas os seios. Frigga puxou o lenço de cima de uma ferida no meu estômago, revelando um corte ainda vermelho. Isso tudo tinha sido feito por Ares?
◦◦◦◦ ◎ ◦◦◦◦
Opaa, eai, como cês tão?
O que acharam desse pequeno entrosamento entre Tali e Loki? Esses dois vão se dar tão bem, vocês não tem nem ideia...
Espero que estejam gostando, qualquer dúvida, pergunta ou sugestão, sou toda olhos e ouvidos.
Nos vemos no próximo, com mais interação dessa duplinha! Um beijão 💚
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