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Eu posso dizer que há algo acontecendo
Horas parecem desaparecer
Todos estão partindo e eu ainda estou com você
QUANDO OS PRIMEIROS RAIOS DE SOL invadiram o ambiente através das frestas sutis da janela, Artémis foi despertada pelo número Cinco. O idoso preso em um corpo adolescente já estava vestido com o típico uniforme da Academia Umbrella, sendo essas as únicas vestes que possuía em larga escala dentro do armário. Ainda sonolenta, Artémis sentou na cama redobrando aos poucos a consciência e se situando sobre as desventuras passadas que a levaram até aquele local. Se havia algo que Artémis não conseguia fazer com perfeição, esse algo era raciocinar direito assim que desperta, principalmente após um dia conturbado e uma noite pior.
— Vista-se logo! — Ordenou Cinco colocando um uniforme idêntico ao dele sobre a cama e ignorando os olhares de desprezo feitos pela garota quando vislumbrou as peças em sua frente — Precisamos começar a agir se quisermos impedir o apocalipse.
— Bom dia para você também! — Falou Artémis em meio a um bocejo enquanto espreguiçava o corpo — Já disse que não vou usar isso.
— Não há muitas escolhas no momento — Disse Cinco revirando os olhos enquanto ajeitava a gravata.
— Quem disse? O armário da Andrômeda está cheio de opções — Artémis sorriu sem mostrar os dentes — Falando na sua irmã, não vai chamá-la?
— Falar com a Andie foi um erro — Resmungou Cinco voltando a olhar diretamente para a amiga — Ela é muito nova para entender.
— E você, pelo visto, é muito velho para explicar — A garota levantou da cama ignorando o uniforme e espreguiçando pela segunda vez — Disse para ter paciência com ela, mas você alguma vez me escutou?
— A última vez que te escutei voltei para a puberdade — Reclamou Cinco.
— De nada! Muitos sonham em rejuvenescer, sabia? — Artémis sorriu sem mostrar os dentes e começou a remexer na bolsa de maquiagem da Andrômeda que havia pego emprestado na noite passada.
— Não acredito que ainda vai fazer maquiagem — Disse Cinco frustrado teletransportando para próximo da Artémis — Não temos tempo para isso.
— Se o mundo acabar, não vou morrer feia — Ela revirou os olhos e foi até o espelho — Além do mais, preciso cobrir essa desgraça que você causou na minha cara.
— De nada! — Cinco falou sarcástico e sorriu de escárnio.
— Vai tomar no seu cu! — Ordenou Artémis olhando irritada para o rapaz. — Isso vai ter volta, Cinco.
— Estou ansioso por isso — Rebateu Cinco mantendo o sorriso irônico nos lábios. — Se apresse, caso contrário vou sem você.
— Não se apressa uma obra de arte — Disse a garota olhando para Cinco através do reflexo do espelho — Me espere no corredor que em vinte minutinhos estarei pronta.
— Cinco! — Contrapôs Cinco se teletransportando para fora do quarto.
— Quinze! — Rebateu Artémis cobrindo os hematomas com muita base. Ele murmurou incongruências, as quais foram ouvidas pela menina. Mesmo sem saber ao certo do que Cinco teria a chamado, ela sabia que eram ofensas. — Quanto mais você falar comigo, mais eu demoro aqui e eu sei que você não vai sozinho. E ao invés de ficar reclamando, faça algo útil e surrupie roupas da sua irmã para mim, sim?!
A adolescente estava terminando a maquiagem quando Cinco se teletransportou novamente para dentro do quarto, ele segurava em mãos uma saia preta com estampa xadrez azul e um cropped vermelho de mangas compridas com alguns detalhes brancos. De forma bruta ele colocou as roupas sobre o colo da amiga.
— Cinco minutos! — Ordenou o rapaz deixando o aposento novamente.
— Obrigada! — Agradeceu a menina avaliando as peças escolhidas com cuidado.
Para que o amigo não perdesse de vez a pouca paciência que restava, Artémis ficou pronta em menos tempo do que o programado. Mais do que depressa, os dois escaparam da mansão do velho Hargreeve através de uma das janelas, descendo no beco através das escadarias de incêndio.
— Para onde estamos indo? — Perguntou a jovem quebrando o silêncio ao ingressar dentro de um táxi com o rapaz.
— Descobrir quem é o dono disso aqui — Cinco retirou do bolso da calça o olho de vidro que carregava desde ela o conhecera. — Meu irmão morreu segurando esse olho, deve ser importante. Seja para quem for que ele pertence, essa pessoa está ligada ao apocalipse.
— Faz sentido! — Artémis balançou a cabeça afirmativamente e entortou o lábio — Estaríamos procurando um pirata? Hum!
— Não é hora para brincadeirinhas, Temi! — Repreendeu Cinco.
— Ahoy, marujo! — Zombou Artémis batendo continência.
— Pode agir como alguém da sua idade? — Perguntou o rapaz olhando irritado para a amiga.
— Mental, física ou espiritual? — Perguntou a menina com tom sarcástico.
— Foi um erro te trazer! — Ele reclamou balançando a cabeça e voltando a olhar para a paisagem através da janela fechada.
O percurso até a sede da indústria de próteses Meritech foi silencioso. Cada um dos adolescentes estavam voltados para uma das janelas, por estarem com as cabeças cheias de teorias sobre quem ou que poderia ter causado o apocalipse não conseguiam prestar atenção na paisagem daquela grande metrópole. O que era péssimo para Artémis, pois caso fosse solta pela cidade não conseguiria voltar sem ajuda até a mansão da academia Umbrella.
Quando desceram do automóvel e ingressaram no destino pretendido, ambos desmancharam as expressões de desgosto, colocando um leve sorriso simpático na face. Como de costume em todas as missões que era enviada, Artémis incorporou sua versão mais pura e meiga, mudando até mesmo a forma de andar e cumprimentando aqueles que cruzavam seu caminho com um bom dia cheio de sorrisos e educação, fazendo com que Cinco risse discretamente. Ele conhecia a menina tempo o suficiente para saber que aquela não era e nunca seria a verdadeira Artémis, sendo o único a saber quando a mesma estava mentindo.
— Bom dia! — Artémis aproximou do balcão de entrada, apoiando ambas as mãos sobre o mesmo e dando um sorriso cheio de dentes — Eu e meu amigo, nós estamos em busca de informações. Será que poderia nos ajudar?
— Hã... — Um doutor utilizando jaleco branco aproximou da secretaria ao notar as crianças e ouvir o pedido doce da adolescente — E com o que poderíamos te ajudar, senhorita?
— Bom dia, senhor! — Artémis afastou do balcão e virou na direção do médico — Meu amigo e eu encontramos uma prótese ocular....
— Precisamos saber a quem pertence isso — Cinco mostrou a prótese, interrompendo Artémis no meio de sua explicação. Discretamente ela revirou os olhos, se segurando ao máximo para não ofender o rapaz ao ser interrompida.
— Onde conseguiram? — Perguntou o médico olhando para cada um dos adolescentes.
— O que te importa? — Perguntou Cinco abruptamente.
— Achamos no parquinho — Respondeu Artémis mantendo o tom simpático, ela se aproximou do Cinco e lhe deu um beliscão forte nas costelas, fazendo o mesmo saltar com a pontada e resmungar — Deve ter apenas pulado de seu dono. — Cinco estalou a língua no céu da boca quando Artémis terminou a frase. — Queremos devolvê-lo ao seu legítimo dono.
— Ah! — Exclamou a secretária caindo nos encantos de Artémis, fazendo com que a mesma sorrisse doce para ela em resposta — Que crianças gentis...
— Procure o nome para nós, sim? — Ordenou Cinco forçando um sorriso.
— Desculpe, mas o registro de pacientes são confidenciais — Falou o médico após a ordem grosseira do rapaz. — Não posso dizer para vocês...
— Sim, sabemos o que significa — Artémis desmanchou o sorriso e trocou olhares irritados com Cinco.
— Mas digo para vocês o que posso fazer — Continuou o doutor ao perceber os olhares desgostosos dos adolescentes — Vou tirar o olho de sua mão e devolvê-lo ao dono. Sei que ele ou ela será muito grato. Então, se eu puder...
— Você não tocará nesse olho — Crispou Cinco quando o homem estendeu a mão para tomar posse do objeto.
— Escute aqui, mocinho... — O médico começou, mas foi impedido de continuar pelo adolescente.
— Não! Escute aqui você, idiota. — Cinco agarrou o homem pelo colarinho das vestes e o puxou para frente, quase encostando a ponta dos seus narizes — Vim de longe para isso, de uma merda que seu cérebro de ervilha não entenderia.
— Cinco! — Artémis deu um riso nervoso e colocou a mão no ombro do amigo.
— Então me de a informação que preciso. — Ordenou o menino ignorando a chamada da amiga. — E sairei feliz da vida!
— Cinco! Deixa! — Ordenou Artémis abaixando o braço do amigo ao notar que a secretária estava prestes a chamar pela segurança — Vamos!
— Escute sua namorada mo...
— Se me chamar de mocinho mais uma vez vou enfia sua cabeça naquela maldita parede — Urrou Cinco apertando com mais força a gola do médico.
— Cinco! — Artémis cravou as unhas em um local específico do braço do rapaz, fazendo que seus músculos automaticamente soltassem o homem em um espasmo. Antes que ele tivesse tempo de agarrar o doutor pela segunda vez, ela se enviou na frente, puxando Cinco num abraço forçado — Vamos!
— Merda! — Urrou o menino aceitando a contragosto ser puxado pela melhor amiga.
— Mais tarde voltamos! — Falou Artémis soltando o adolescente quando estavam longe do balcão de informações.
— Precisamos desse informação o quanto antes — Reclamou Cinco contrariado.
— Eu sei, por isso tenho um plano! — Artémis suspirou e segurou no antebraço do menino, assim ele não poderia saltar através do espaço sem a sua companhia — Mas primeiro precisamos voltar para sua casa, precisamos de um dos seus irmãos.
— Já disse que não quero a Andie envolvida nisso por enquanto.
— Não foi nela que pensei — Artémis sorriu sem mostrar os dentes e com a mão livre fez sinal para um táxi.
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