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⠀ ⠀ ⠀ ⠀ ⠀ ⠀⩩⦙ 𝒙. 𝑨 𝒖́𝒍𝒕𝒊𝒎𝒂 𝒄𝒂𝒔𝒂 𝒂𝒎𝒊𝒈𝒂


A medicina élfica é algo extremamente maravilhoso e que pude vislumbrar com meus próprios olhos durante dois momentos de suma importância da minha jornada por esse "novo" mundo. A forma como os elfos trataram meus ferimentos foi magnífica e gratuita, algo completamente incomum na realidade anterior que habitava. Em poucos segundos os cortes estavam suturados, todas as feridas limpas e era notável que a curto prazo todas as cicatrizes ficariam quase imperceptíveis - O que ocorreu, pois atualmente mal tenho marcas no corpo dos danos causados em batalha. Nem mesmo os melhores hospitais do meu antigo mundo são capazes de oferecer tal serviço, talvez o Seattle Grace Mercy West, e se fossem capazes de conseguir parte do que a magia élfica proporciona tratar ferimentos como os meus custariam os olhos da cara. Tenho certeza que se os elfos fossem reais no meu mundo eles seriam capazes de extinguir todas as doenças incuráveis existentes e arruinar as indústrias farmacêuticas.

Depois de receber o tratamento médico acurado para recuperar todas minhas feridas, ossos fraturados e cortes profundos na sala de cura, fui escoltada por duas elfas até o meu segundo local favorito de Valfenda: Os salões de banho. Ao vislumbrar as gigantescas banheiras termais de águas cristalinas meu coração se aqueceu, batendo tão acelerado como se estivesse prestes a errar as batidas. O ambiente exalava cheiros florais adocicados mesclados com algumas ervas, passando a sensação adorável de bem-estar e conforto.

Não hesitei em retirar as túnicas hospitalares que foram cedidas depois de perder o único vestido que ainda possuía, ignorando completamente a presença das elfas que me acompanhavam, deixando de lado qualquer mísera presença de vergonha e me entregando aos prazeres de um banho quentinho. Caso fosse em outras épocas teria sentido vergonha do meu corpo, principalmente da minha nudez, mas passei tanto tempo na companhia da comitiva dos anões que despir-me perante as elfas presentes não era nada comparado com todos momentos vexatórios que deixei e deixarei de narrar propositalmente. Digamos que os anões me flagraram em situações delicadas e comprometedoras que deixarei a mercê de sua imaginação, pois para bom entendedor meia palavra basta.

Com auxílio das elfas soltei as presilhas de prata que prendiam as tranças dos meus longos cabelos antes de ingressar na água por completo. Aquela foi a primeira vez que pude reparar o quanto eles haviam crescido desde o dia que deixei o meu mundo, conseguindo alcançar a altura que almejei por anos quando viva, estando poucos centímetros acima das minhas nádegas. Infelizmente eles estavam ensebados em demasia e com sujeira acumulada de meses, para minha sorte e alívio encontrava-se livres de piolhos, lêndeas, carrapatos e demais parasitas sanguinários que habitam os pelos dos animais.

Lentamente desci as escadarias de pedra até imergir de vez nas águas termais da imensa banheira, a qual chamarei carinhosamente de piscina térmica. A quentura agradável fez com que meus músculos relaxassem e dessem a sensação de leveza, fazendo todas as minhas preocupações desaparecerem junto com a sujeira que deixava meu corpo. Sentira falta de um bom banho quente, mais do que de qualquer outro tipo de conforto que deixei para trás no instante que escolhi seguir jornada com o grupo mais excêntrico que poderia conhecer tanto em vida quanto em morte. Apesar de na época ter ficado frustrada com a falta de escolha na convocação da aventura, hoje agradeço imensamente por isso.

Enquanto uma das elfas deixava os salões de banho com as túnicas hospitalares, a outra me auxiliou no banho dando a impressão de estar em um delicioso Spa. A princípio estranhei o gesto, não vou negar que ambos os atos me pegaram desprevenida. Mas logo a estranheza deu espaço para o deleite, especialmente quando ela começou a esfregar meus cabelos enquanto cantarolava uma canção harmoniosa. Após cuidar dos meus cabelos com produtos que sou incapaz de descrever, ela esfregou minhas costas com uma esponja macia, tomando todo cuidado para não apertar os ferimentos e lesiona-los outra vez. Não conversei com nenhuma das elfas durante o banho, preferindo relaxar ao invés de conhece-las. Aquela foi a primeira vez, talvez única, que não cheguei a pensar sobre a missão, o dragão da montanha solitária, os orcs assassinos montados em lobos, Trolls babacas e, principalmente, sobre o mundo que deixei para trás.

Sou incapaz de contabilizar o tempo que demorei para me banhar nas águas termais. Mas toda leveza me acompanhou quando deixei a piscina. A sensação se igualava aquele momento sublime de quando você come seu prato favorito de comida, quando dá a primeira garfada cheia de esperança e descobre que o alimento está superando as expectativas.

— Aqui estão suas vestes, senhorita — Esticando ambos os braços, a elfa que havia sumido com as túnicas me mostrava um belo vestido de seda branco perolado.

— Meu Deus, tem certeza que posso usar isso? — Falei hesitante ao tocar no material do tecido. Leve e frágil, dava impressão de que um simples toque o rasgaria em mil pedações. — Sou desastrada, vou arruinar ele.

— Por favor, senhorita — Insistiu a elfa me forçando a colocá-lo de modo gracioso. Certamente ela seria capaz de roubar doces de crianças sem fazê-las chorar. — É um presente do próprio Lorde Elrond.

— Espero que quando eu sair ele esteja me esperando de smoking na frente de um altar — Brinquei tentando amenizar o fato de ter recebido um presente digno de princesa, mas ao invés de fazer as elfas rirem elas me olharam com estranheza. — É uma piada. — Expliquei constrangida — Mas não repitam para ele, só digam que eu agradeço.

Após me vestir por completo, caminhei alguns metros até parar de frente com um espelho gigantesco para admirar meu reflexo. Não pude conter o sorriso encantador que estampou minha face, aquele vestido seria algo que utilizaria facilmente no meu casamento. A roupa era longa e cobria os pés que permaneceram descalços, o tom de branco perolado era quebrado pelos adornos dourados de suas estampas laterais e no busto. As elfas chegaram a oferecer alpagartas tão brancas quanto o vestido, mas preferi mantes os pés livres de qualquer calçado depois de passar meses com eles enclausurados dentro de botas pesadas e desconfortáveis.

Porém por mais que a roupa fosse bela, a melhor parte foi o cuidado das elfas com meus cabelos. Elas me colocaram sentada em um banco almofadado de madeira e começaram a mexer em cada extensão dos fios. Naquele instante recordei de minha mãe, pois as elfas faziam o mesmo ritual que ela antes de eu dormir quando criança. Separaram mecha por mecha, desfazendo os nós com as pontas dos dedos antes de escová-los com uma escova de cerdas macias. Ao finalizarem o processo depois de vários minutos, elas deixaram os fios soltos e adornaram minha cabeça com uma coroa de flores vermelhas.

— Muito obrigada — Agradeci admirando encantada pela segunda vez meu reflexo no espelho — Estou parecendo uma princesa.

— Não há de que. Tudo para agradar nossa convidada especial — Respondeu a elfa me guiando para fora do salão de banho. — Nos acompanhe, por favor, seus amigos deves estar a esperando para o jantar.

Meus olhos brilhavam a cada passo que aprofundava pelos extensos corredores daquela magnífica cidade élfica, estava deveras impressionada com tamanha beleza existente em um único lugar. Fui incapaz de proferir qualquer palavra para as anfitriãs sobre o local que residiam durante todo percurso, estando boquiaberta com cada mínimo detalhe e buscando adjetivos que pudessem descrevê-la com a perfeição merecida. Nem dentro dos meus sonhos mais fantasiosos seria capaz de imaginar um lugar como aquele, a sensação de caminhar por Valfenda é indescritível e completamente mágica. Ainda assim, querido leitor, sinto que não sou capaz de encontrar palavras e mesmo que encontrasse faltariam folhas de papéis para narrar, sendo obrigada a deixar de lado minha aventura para contar as maravilhas da cidade élfica. São inúmeros detalhes, desde pequenos ornamentos até gigantescas colunas adornadas, havia arte enrustida por pisos, teto e, inclusive, na natureza que cerca o vale.

— Lady Elphaba! — Ao aproximarmos do portão de entrada do grande salão, um elfo de cabelos castanhos e túnicas roxo escuro me cumprimentou com uma referência formal, a qual retribui segurando a bainha do vestido. — Estamos todos em seu aguardo, seus amigos estão se segurando para não devorarem o jantar e muito preocupados com a senhorita.

— Então é melhor me apressar, acho que ninguém aqui vai querer ver a fúria de anões famintos — Brinquei soltando um riso fraco. — Se eles cansarem de esperar não terá comida para mim.

— Imagine, temos comida suficiente para todos — Disse o elfo estendendo o braço, no qual enganchei sem hesitar.

— Vocês sempre levam a sério comentários sarcásticos? — Perguntei arqueando as sobrancelhas. — Essa é a quarta vez que faço uma brincadeira e ninguém parece entender.

— Peço desculpas por isso. A cultura dos nossos povos são bem diferentes e não a conhecemos como seus amigos da comitiva para compreender as nuances do seu tom de voz — Explicou o elfo sorrindo gentilmente.

— Tudo bem, nem meus amigos me entendem de vez em quando. — Desdenhei com os ombros.

— Sarcasmo?

— Passe mais tempo comigo e vai descobrir — Pisquei com um dos olhos e sorri com o canto dos lábios, aproveitando a oportunidade para flertar.

— Será um prazer — Respondeu o elfo retribuindo o sorriso. Para a minha infelicidade momentânea ele só estava sendo educado.

Alarguei o sorriso quando vislumbrei todos os membros da comitiva acomodados em uma das largas mesas espalhadas pelo grande salão, dividindo o espaço com os elfos de Valfenda sem reclamações por serem quem são. É de conhecimento público que elfos e anões, independente do universo que se encontram, não costumam ser receptivos uns com os outros, sendo aquela uma cena rara de ver por ai — Como toda vida desde que "apareci" na terra-média.

— Olá — Cumprimentei levemente constrangida quando aproximei da aglomeração junto com o elfo.

Naquele momento todas as cabeças viraram em minha direção, senti as orelhas esquentarem assim que me tornei o novo centro das atenções. Os anões me admiravam sorrindo orgulhosos por baixo das barbas expressas, estando todos felizes por ter sobrevivido ao ataque dos orcs e surpresos por me verem arrumada pela primeira vez desde que iniciamos a viagem. Todos os que estavam na mesa menor soltaram elogios e não pouparam comentários cheios de gracejos, fazendo com que ficasse ainda mais envergonhada.

— Estão surpresos com tamanha beleza, lady Elphaba — Sussurrou o elfo sorrindo sem mostrar os dentes.

— O que um banho não faz, não é mesmo? — Zombei coçando a nuca, tentando disfarçar outra vez meu mal jeito com comentários engraçadinhos.

— Sarcasmo.

— Na verdade é ironia — Ri fraco.

— E tem diferença?

— Posso te explicar mais tarde, se quiser — Sorri passando a mão livre pela lateral dos cabelos.

— Senhorita Elphaba! — Chamou Lorde Elrond interrompendo minha tentativa de flerte, ele levantou do lugar que estava acomodado e apontou para uma cadeira vazia ao seu lado, está localizada entre ele e Thorin — Sente-se conosco. Como estão os ferimentos?

— Bem melhores, obrigada — Agradeci desenganchando do braço do elfo e sentando no lugar apontado pelo anfitrião. O elfo que havia me recepcionado ficou em pé atrás de nós, mais precisamente do lado direito do lorde Elrond como a "mão do rei". — As cicatrizes são quase invisíveis, a tala que colocaram na minha perna é muito confortável e nem preciso de ajuda para andar. Não sei como agradecer, se não tivesse me encontrado na floresta estaria morta, de novo. Obrigada, do fundo do meu coração.

— Isso não foi nada, apenas ajudamos aqueles que nos procuram — Lorde Elrond sorriu e mostrou os alimentos espalhados a mesa — Sirva-se. Fique à vontade.

— Obrigada — Agradeci. Sem hesitar comecei a me servir com as mais belas e frescas saladas.

— Eu te ajudo com isso! — Falou Thorin sem tirar os olhos de mim desde o momento que ingressei no recinto. Educadamente ele encheu com vinho a taça que estava prestes a pegar, sendo mais rápido ao me servir, assim que estendeu o objeto na minha direção os nossos dedos se tocaram — Você está linda, Elphaba. Parece uma verdadeira princesa.

— O-Obrigada. — Gaguejei com o coração batendo acelerado pelo elogio e borboletas dançarem no meu estômago. Aquela era a primeira vez que o rei anão me elogiava.

— Ficou constrangida com o meu elogio? — Perguntou Thorin sorrindo debochado ao me ouvir gaguejar.

— Não é isso... — Comentei ficando com as bochechas ainda mais rubras do que quando entrei no salão, fazendo Thorin alargar o sorriso debochado e Gandalf rir por trás da taça — É que não estou acostumada receber elogios, principalmente de vocês anões.

— Elphaba... — Thorin segurou com delicadeza meu maxilar com o dedo indicador e o ergueu, de modo que parasse de desviar o olhar e o encarasse — Você é linda por natureza, mas hoje está divina.

— O que um banho não faz, não é mesmo? — Ironizei mordendo o canto do lábio e arrancando um riso honesto do Thorin.

Nunca soube lidar com elogios, principalmente aqueles que me pegam desprevenida e vem de pessoas que jamais imaginaria receber. O que encaixa perfeitamente no caso do Thorin, pois até o dia que salvei a vida dos membros da companhia ele me chamava de peso morto — óbvio que não usava essas palavras, mas era como compreendia as entrelinhas. Com o canto dos olhos pude perceber que Gandalf e o Lorde Elrond trocavam olhares maliciosos enquanto riam baixo da situação, o que me fez retornar a realidade e me afastar da mão do rei anão. Baixei o olhar para a salada em meu prato, a qual fiquei admirando por longos segundos tentando adivinhar se o sabor dos legumes, verduras e vegetais seriam idênticos aos do meu mundo, já que a aparência eram bem mais apetitosas e frescas.

Aos poucos fui tomando coragem para erguer os olhos e admirar o redor, voltando tomar nota de cada detalhe do local que me encontrava. O salão era bem iluminado, tanto pelos últimos raios solares que aos poucos sumiam no horizonte, quanto pelas luzes da cidade élfica que se acendiam de acordo com a intensidade que a noite caia. Sobre as três meses estavam dispostas as mais belas comidas naturais em bandejas de ouro, sendo o jantar dos sonhos de qualquer vegano e vegetariano. O que não estava agradando os anões, pois eles deixavam visível em suas expressões e comentários altos que sentiam falta de proteína animal. Uma melodia harmoniosa tomava conta de todo o recinto, sendo essa tocada por elfos selecionados a dedo pelo próprio lode Elrond e seu fiel escudeiro Lindir para entreterem os convidados inesperados.

— Esse vinho é divino — Comentei mais para mim do que para qualquer outra pessoa quando experimentei a bebida. Apesar do toque seco, a uva era sutil e descia suava pela garganta, esquentando o copo inteiro e passando a sensação de leveza.

— Eles aquecem tanto a alma quanto o coração — Sussurrou Lorde Lindir ao escutar o comentário, fazendo com que me engasgasse com o conteúdo pela dúvida se ele estava sendo apenas educado ou respondendo os flertes que havia feito anteriormente.

— Desculpe, como disse? — Perguntei virando lentamente em sua direção de modo sensual enquanto segurava a taça entre os dedos, balançando o objeto como se fosse uma sommelier nata.

— Disse, senhorita, que eles aquecem tanto a alma quanto o coração — Repetiu o elfo sutilmente e sorrindo com graça.

— Concordo plenamente, Lorde Lindir — Assenti bebericando mais da taça e sorrindo sem mostrar os dentes.

O elfo fez uma mesura sutil, levando a mão direita ao peito enquanto curvava o corpo para frente. Aos poucos voltei para posição inicial, pousando a taça em cima da mesa e olhando para o prato de comida que agora estava quase vazio. Nos lábios esboçava a sombra de um riso divertido, afinal havia acabado de flertar com o belo elfo. Mas, antes que pense algo errôneo, isso não significa que meu intuito com o homem era formar uma família, muito pelo contrário. Apesar de estar em uma companhia formada majoritariamente por criaturas do sexo masculino, não havia utilizado do meu charme descaradamente com nenhum dos membros para não comprometer a missão, mesmo tento trocado olhares algumas vezes com Fili e quase beijado Thorin no calor do momento, não cometi nenhum ato libidinoso. Minhas tentativas de flerte com o elfo eram teste para saber se continuava me saindo bem na arte da sedução e, caso algo acontecesse, pelo menos estaria longe de Valfenda nos próximos meses. Para minha felicidade os resultados do teste soavam positivos.

— Com licença — Resmungou Thorin pondo-se em pé e deixando a mesa principal. Aquele ato fez com que minha atenção voltasse para a conversa entre o mago e Elrond, a qual não estava dando a mínima importância.

— O que houve com o Thorin? — Questionei confusa olhando do anfitrião para o mago.

— Ele só precisa de um pouco de espaço — Respondeu Gandalf sorrindo simpático — Você o conhece melhor do que qualquer pessoa, Elphaba. Sabe como o Thorin é.

— Na verdade eu não sei. Thorin é uma caixinha de surpresas desde que nos encontramos pela primeira vez. Achava que ele me odiava até ver ele desesperado quando fiquei para trás — Desdenhei com os ombros e enchi outra taça de vinho. — E não vamos esquecer o elogio, aquilo sim me pegou desprevenida.

— Nos reparamos, senhorita — Brincou lorde Elrond.

— Eu vou falar com ele, com licença. — Virei o conteúdo da taça de uma única vez e levantei da mesa, deixando o anfitrião e o mago sozinhos.

Atravessei o salão passando entre as duas mesas baixas onde meus companheiros de viagem estavam acomodados e continuavam reclamando sobre os costumes élficos. O líder anão estava parado em pé ao lado de um dos pilares, seu olhar passava sobre cada membro da companhia, porém seus pensamentos pareciam distantes. Ele esboçou um sorriso sutil e sem dentes quando aproximei, o qual retribui com o meu melhor.

— O que aconteceu? — Perguntei parando ao seu lado e o empurrando sutilmente com o cotovelo. — Infelizmente meu instinto de fofoqueira não me ajudou naquela hora, não estava prestando atenção na conversa. Mas vi que saiu bem chateado.

— Não é nada, Elphaba — Ele relaxou os ombros e balançou a cabeça negativamente.

— Sério? — Suspirei. Desejava que ele pudesse se abrir comigo, pois ele estava mentindo.

— Sério — Assentiu Thorin levando o polegar até meus lábios e limpando a mancha de vinho tinto que tinha formado no canto. — Estou bem, Elph.

Minhas entranhas gelaram quando o escutei me chamar pelo apelido, até o momento ele era o único da comitiva que não me chamava dessa forma.

— Só quero que saiba que pode contar comigo sempre. — Sorriu sutilmente.

— Obrigado — Ele levou a mão até meu braço, apertando o local com firmeza antes de voltar a posição inicial.

Suspirei profundamente e permaneci o encarando por mais tempo que o necessário, admirando cada um dos pequenos detalhes que compunham seu rosto enquanto tentava montar mentalmente a figura que poderia estar escondida por baixo daquelas espessas barbas e cabelos negros. Por mais másculo e viril que Thorin fosse, ele ainda possuía traços finos como boca e nariz, as rugas no canto dos olhos deixava explicito que ele já vira e passara por muita coisa nessa vida, mesmo assim tinha forças para seguir em frente e esperança de um futuro melhor. Outra coisa que não faltava nele era beleza, não mentirei quanto minhas impressões em relação a ele, Thorin tinha muita beleza para um anão.

— Alguma coisa errada com meu rosto? — Perguntou Thorin começando a se incomodar com a forma que o encarava.

— Sim, ele faz parte do seu corpo — Ironizei ficando com as bochechas rubras e virando para frente, arrancando outro riso fraco do líder da comitiva.

Para meu alívio, não fui a única pessoa a passar vexame na frente de terceiros naquela noite. Os anões haviam decidido mostrar parte dos seus costumes efusivos aos elfos, desmentindo todos os comentários positivos que Gandalf havia feito sobre o povo de Durin ao Lorde Elrond minutos atrás. As próximas cenas que descreverei é algo que jamais saíra de minhas memórias, todas as vezes que estou me sentindo o pior dos seres humanos recordo desse momento e começo a gargalhar.

Os membros da companhia estavam achando o jantar entediante, por isso Bofur resolveu dar o primeiro passo rumo ao caos. Revoltado com o tédio oferecido pelos elfos, ele levantou do lugar e subiu em cima de uma mesinha que mais parecia um pilar quebrado, puxando o ar pelo nariz e estufando o peito, começou a cantarolar a plenos pulmões uma música animada.

"Existe um lugar, um lugar

Alegre e antigo,

Ao pé da colina rara

Lá tem cerveja tão escura

Que o homem da lua veio a procura

Uma noite e encheu a cara"

De repente algum dos anões, o qual não me recordo quem foi o responsável, começou a atirar bolinhas de creme por todo lado, iniciando uma guerra de comida enquanto Bofur seguia cantando e dançando. O bolinho lançado por esse anão passou no meio do Gandalf e do Lorde Elrond, atrapalhando a conversa e fazendo com que o mago se encolhesse brevemente. O anfitrião olhou confuso so bolinho esmagado contra a parede para a direção da qual era atirado, suas expressões deixavam claro que não estava aprovando a balburdia. Gandalf, no entanto, entupiu sua boca de comida para não precisar dar explicações.

"Oh! O dono tem um gato alcoólatra

Que sabe tocar violino

O arco sobe

O arco desce

Em cima agudo

Embaixo grave

E no meio soa fino"

A guerra de comida estava animada na mesa e Bofur, sem ao menos parar de cantar, conseguia esquivar de todos bolinhos lançados em sua direção. Cobri minha boca com as mãos quando notei as expressões de desprezo e reprovação de todos os elfos, principalmente as do Lindir quando ele quase foi acertado em seu lugar de apoio.

"Então o gato no violino ataca

Num som de acordar finado

Acelera o ritmo enquanto pode

E o dono homem se sacode

"São mais de três"

Diz o coitado"

Os elfos estavam em completo silêncio reprovador enquanto os anões atiravam mais comida para os lados e cantarolavam o resto da música com Bofur. Foi impossível segurar a risada quando precisei me esquivar de um dos bolinhos voadores, o qual espatifou na estátua de mármore próxima.

— Está bem? — Perguntou Thorin rindo quando levantei.

— Estou. Sou uma ninja — Zombei gesticulando os braços como golpes de luta marcial.

Se há algo que aprendi nesse novo mundo é que os anões são as criaturas mais animadas que existem, pelo menos quando não estão em seus muitos momentos de mal humor. Estão sempre dispostos a fazer bagunça quando lhes convém. São um dos meus povos favoritos dentre todos os que conheci até o exato momento que escrevo minhas memórias. Eles perdem apenas para os Hobbits em seus lares confortáveis e suas festas de aniversários das quais os convidados que ganham presentes ao invés do aniversariante.

— Que tal se a Elphaba cantasse uma de suas músicas para nós? — Perguntou Gandalf me pregando desprevenida, sua intenção era apaziguar os ânimos dos anões, já que nenhum deles compreendia a maioria das letras das canções do meu mundo ou as achavam extremamente tediosas.

— Oi? — Perguntei virando assustadiça para o mago — Acho que os elfos não vão gostar das minhas músicas também, elas não fazem sentido nesse mundo.

— Nunca saberemos se você não cantar — Falou Lorde Elrond sorrindo educadamente enquanto se deliciava com o vinho.

— Hum... Tudo bem... — Concordei com um murmuro cabisbaixo, por mais que cantasse o tempo inteiro na viagem para me distrair não estava acostumada com grandes plateias. Precisava pensar em algo que pudesse agradar tantos os anões quanto os elfos, um meio termo para acalmar a bagunça e ao mesmo tempo entreter sem precisar explicar os termos usados futuramente.

— E voltamos ao tédio — Resmungou Gloín quando Bofur cedeu o seu "palco" para que pudesse performar.

— As letras da Elph raramente fazem sentido. — Reclamou Nori franzindo o cenho.

— Ah, claro. Um gato na lua é totalmente real — Rebati arqueando as sobrancelhas.

— Pelo menos é engraçada — Dwalin revirou os olhos e cruzou os braços.

— Mas a Elphaba canta bem — Elogiou Bofur notando o olhar irritadiço que lancei aos anões que concordavam com o que os membros haviam dito. — Só precisa cantar algo que pudéssemos compreender. Lembram da primeira música que ela cantou? Aquela foi a melhor.

— Só precisa cantar o que vem no coração — Disse Thorin sorrindo de canto.

— E animada. Nada que pareça que estamos em um enterro. — Falou Oín.

Irritada com os desaforos e com o coro de reclamações sobre as minhas músicas que apenas aumentava, subi com auxílio do Bofur no seu antigo posto. A princípio a minha intenção era cantar "The Drunk Scotsman", uma música do país de gales que meu avô costumava cantar nas festas de família junto com os seus amigos próximos e alguns tios quando o álcool entrava e a vergonha saia. Mas não havia bebido suficiente para tal ato e não queria desrespeitas os anfitriões tão educados com aquela música "escandalosa" para o costume polido do seu povo. Nem mesmo em meu mundo as matriarcas da família gostavam que suas crianças escutassem aquela canção ou participassem da cantoria.

Ainda assim precisava de uma música que agradasse anões e elfos, ou pelo menos me mantivesse limpa de qualquer resíduo de comida voadora que eles pudessem lançar pelo ar nos próximos minutos. Tentando evitar me tornar o próximo alvo, comecei com a minha teia de mentiras que perpetuam até os dias de hoje. Na hora parecia a coisa certa a ser feita e com o tempo peguei gosto, agora sei o quanto foi maldoso da minha parte e sei a quantidade de processos que renderiam no meu mundo. Enfim, vocês entenderão tudo nos próximos parágrafos.

— A próxima música que irei cantar de chama "Visão Estranha" e é uma criação minha. — Menti colocando os cabelos para trás. — Só que não queria cantar ela agora, estava esperando o momento certo.

— Você realmente criou uma música? — Perguntou Bilbo tão surpreso quanto os outros.

— Sim. Sempre estou criando músicas quando estou quieta, só canto as do meu mundo pois esses anões sempre reclamam da minha cantoria. — Segui mentindo como uma exímia atriz. Na verdade a primeira música que iniciou com a minha lista de falsas composições pertence a uma cantora ótima chamada KT Tunstall e faz parte de uma história infantil chamada "Tinker Bell e o monstro da Terra do Nunca". — Eu criei em uma noite de vigília nas terras solitárias.

A única coisa que não reparei a tempo quando recordei das músicas "infantis" e de histórias fantasiosas do meu mundo era que aquela canção em especifico parecia ter sido feita exclusivamente para um membro da companhia. Bem, colocarei a letra abaixo e pode tirar a própria conclusão sobre quem poderia estar falando levando em consideração tudo o que tenho descrito sobre a aventura até o momento.

"Visão estranha

Você fica na luz

Você está errado, mas você está certo

E o meu coração está batendo descontroladamente

Estranho como eu estou com medo, mas feliz

Com medo, mas animada também

Você tem um coração frio

Você é imprudente e distante

Mas vou ser persistente

Eu vou entender você

Estranho como eu estou atraída para o perigo

Eu estendo minha mão para você

Você quer ser deixado sozinho?

Separado com um coração feito de pedra?

Me deixe ajudar, vamos começar

Me deixe aprender

Você não vai me deixar entrar?

Toda a luz, se deixe mostrá-la

Você é uma visão estranha

Algum novo tipo de maravilha

Com um lado bom escondido

Tenho certeza de que isso é verdade

Estranho como sua escuridão não me perturbou

Não, eu não vou desistir de você

Você quer ser deixado sozinho?

Separado com um coração feito de pedra?

Me deixe ajudar, vamos começar

Me deixe aprender

Você não vai me deixar entrar?

Toda a luz, se deixe mostrá-la

Se você está preso nas sombras

E virado do avesso

Perdido na escuridão

Você será encontrado

Se você ouvir a minha voz

Siga o som

Porque eu estou aqui para te guiar para casa

Você quer ser deixado sozinho?

Separado com um coração feito de pedra?

Me deixe ajudar, vamos começar

Me deixe aprender

Você não vai me deixar entrar?

Toda a luz, se deixe mostrá-la

Você quer ser deixado sozinho?

Separado com um coração feito de pedra?

Há uma luz que brilha em você

Há um amor, eu vejo isso nos seus olhos

Toda a escuridão, deixe ela ir

Você não está sozinho."

Obviamente a letra não passou batido para nenhum membro da companhia como ocorreu comigo durante a escolha. Todos os anões trocavam olhares e sorrisos maliciosos ao "captarem" a mensagem subentendida na letra. Balín ria fraco atrás da taça de vinho quando percebeu que Thorin era o mais focado em prestar atenção na letra, estando com expressões sérias. Outro que não demonstrava "felicidade" com a música era Fili, o qual ficou muito rabugento durante resto do jantar.

Quando terminei a cantoria um silêncio incomodo instalou no ambiente por segundos que pareceram durar horas, os elfos sorriam discretos e Gandalf não disfarçou as expressões debochadas com malícia quando o encarei junto com Lorde Elrond, o qual também ria fraco.

— Uau! Isso foi uma bela declaração — Disse Bofur me auxiliando para descer da bancada.

— Declaração? — Questionei estupefata, desequilibrando e quase caindo quando ouvi o comentário. — Não, não é uma declaração. — Ergui o tom de voz e gesticulei aos demais — Não é uma declaração.

— Mas é para o Thorin — Insistiu Bofur querendo mais detalhes sobre a música.

— Bom, sim — Assenti, não via necessidade de negar — Mas farei canção para todos futuramente, gosto de compor.

— Porque não cantou nada original antes? — Perguntou Dwalin quando aproximei da mesa menor.

— Sei lá — Desdenhei com os ombros — Talvez eu cante mais, tenho várias. Não é como se vocês gostassem das minhas músicas.

— Dessa nos gostamos — Disse Ori sorridente — Tem outras prontas? Você sempre fica parada olhando para o nada.

— Quem sabe outro dia eu mostro. — Ao invés de regressar para a mesa principal dos líderes, me acomodei no lugar vago do lado do Bilbo, o qual olhava debochado na minha direção — O que foi?

— Não falei nada.

— Mas está pensando, o que é pior — Cruzei os braços e olhei emburrada para ele. — É só uma música.

— Para o Thorin — Falou Fili emburrado.

— E? — Perguntei dando com os ombros.

— Você está apaixonada pelo nosso tio — Zombou Kili rindo malicioso.

— É só uma música.

— Não é o que parece — Disse Fili raivoso.

— Não fode, Fili — Revirei os olhos e levantei pegando a pesada garrafa de vinho.

— Aonde vai? Não vai cantar outras composições? — Perguntou Bofur ainda em pé próximo da mesa que estava sendo usada de palco.

— Preciso compor mais antes de cantar qualquer coisa — Desdenhei com os ombros me afastando com a garrafa cheia de vinho e uma taça de ouro.

Deixar o salão daquela forma não foi nada elegante, principalmente ao deixar explícito minhas intenções de embriaguez enquanto desejava explorar a cidade. No fundo só queria um pouco de privacidade e solidão, algo impossível desde o começo da jornada. Precisava daquele tempo só com meus pensamentos, coloca-los no lugar antes de encarar todas as experiências que Valfenda tinha a oferecer para mim naquela aventura, experiências que narrarei nas próximas páginas e que mudaram completamente a forma de ver esse mundo. A quebra dos sonhos e o início de uma dura realidade.

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