⠀ ⠀ ⠀ ⠀ ⠀ ⠀⩩⦙ 𝒗. 𝒑𝒆𝒍𝒂 𝒆𝒔𝒕𝒓𝒂𝒅𝒂 𝒂 𝒇𝒐𝒓𝒂
A dor é um sentimento "engraçado" e ao mesmo tempo totalmente desprezível. Quero chamar a atenção de todos aqueles que costumam dizer que "Depois que a morte o alcança, o espírito descansa e o que resta é a bonança". Com todo respeito, desejo que vocês se fodam. Essa frase desgraçada não passa de lenda urbana. Quero que todos que costumam dizer isso nos funerais convoquem meu espírito através de jogos do copo, tabuleiros ouija, tanto faz, para batermos um papinho. Sinceramente? Só vim conhecer o verdadeiro significado da palavra "dor" após a viagem com a comitiva de Thorin. Não apenas emocional, mas também física. Vocês não imaginam o quão torturante é cavalgar durante longas horas do dia sem fazer uma pausa descente para descansar ou urinar. A quantidade de infecção urinária que adquiri no decorrer dessa aventura pitoresca não é cabível nos livros. Mas não me atentarei isso, não vale a pena.
Desde o momento que deixamos Bree para trás, nosso QUERIDO líder de companhia, Thorin Oakenshield, se recusou a fazer qualquer tipo de parada durante o trajeto. E não foi por falta de pedir, em vários momentos IMPLOREI para que ele parasse por pelo menos cinco minutos para que pudesse esticar minhas pernas. Mas ele sempre soltava a seguinte frase: "Temos de aproveitar o dia, Elphaba. Aguente mais um pouco, pararemos assim que encontrarmos um local com boas condições para montar o acampamento".
Juro! Em todos os momentos que ele falou isso durante minhas súplicas, o total de quatro vezes, pensamentos homicidas invadiram cada espaço de minha mente, me forçando a imaginá-lo morto de inúmeras maneiras diferentes. Desde as mais clichês, como queda de pônei, até das menos prováveis, como tiro de flecha perdida. Qualquer minuto a mais passado sobre o cavalo duravam uma eternidade, fazendo com que os pequenos detalhes que eram prazerosos no começo da jornada se tornassem obsoletos. No final do dia a bela paisagem era incapaz de prender minha atenção e a cantoria dos anões serviam como fogo na palha, aumentando minha fúria. A única coisa que desejava era esticar as pernas e aliviar a pressão de minha bexiga.
A esperança voltou a tomar conta do meu ser quando conseguimos um local propício para acamparmos no final do dia. Localizada próximo a um riacho de águas cristalinas, a clareira no centro do bosque era perfeita, sendo tão bela quanto qualquer clareira descrita nos livros de fantasia que costumava ler durante a infância. Mantendo a promessa feita desde o primeiro pedido de parada, Thorin ordenou que todos descessem dos seus animais e armassem acampamento. O rei exilado foi o primeiro a desmontar do pônei, com expressões carrancudas ele caminhou até a montaria que compartilhava com Fili e, com sutileza, auxiliou minha descida.
― Sou um homem de palavra. ― Disse o rei anão olhando profundamente em meus olhos quando me colocou no chão.
Naquele momento em que os nossos olhos se encontraram, fui tomada por um arrepio que percorreu toda a extensão do meu corpo, começando na nuca e descendo para as pernas. Os olhos de Thorin continham o mais belo e puro tom de azul, a verdadeira cor do ciano, o tipo de azul que é impossível encontrar em meu mundo e as telas são incapazes de reproduzir. Seu olhar intenso e profundo, davam a impressão de devorar minha alma, como se fosse capaz de escavar os segredos mais profundos do meu âmago e todas as palavras não ditas. Por breves segundos esqueci como se respirava, me perdendo no oceano profundo de seus olhos.
― Ah! Minha bunda agradece... ― Comentei brincalhona quebrando o silêncio e dando dois passos para trás, uma tentativa falha de me recompor daquele olhar. O líder riu baixo e voltou-se para companhia, ditando ordens aos membros.
"Minha bunda agradece?" Pensei embaraçada enquanto acariciava meus braços, fazendo com que os pelos voltassem a posição normal. Até hoje não consigo acreditar que de tantas coisas que poderia ter dito ao rei anão escolhi "Minha bunda agradece".
Enquanto os membros da companhia reabasteciam os cantis com água frescas, juntavam lenha para a fogueira... Enfim, faziam todas as tarefas ordenadas por Thorin Escudo-de-Carvalho. Minha preocupação principal era recompor minha imagem abalada e alongar as pernas que formigavam, parte pelo olhar recebido, mas a grande maioria pelas LONGAS horas em cima do pônei. A dor era intensa, não apenas na parte de baixo do meu corpo, mas dele por completo, dando a impressão de ter feito exercícios brutos e distendido todos os músculos do corpo, doendo em lugares que jamais pensei que era capaz de doer.
― Está bem, Elph? ― Perguntou Bilbo olhando preocupado para minhas expressões faciais, as quais eram de dor e sofrimento.
―Não! Nem um pouco bem. Tem parte do meu corpo que nunca senti dor quando estava no meu mundo e agora arde feito brasa ― Reclamei erguendo os braços e curvando o corpo para trás ― Argh! Preciso de um banho. Escute, vou aproveitar que está todo mundo ocupado e vou procurar um canto tranquilo para fazer o que tenho de fazer.
― Devo avisá-los? ― Perguntou Bilbo ainda mais preocupado.
― Só se eu não voltar em uma hora. Caso contrário quero segredo absoluto, não estou afim de anões me assistindo cagar no mato, literalmente. ― Sussurrei as últimas palavras para que somente ele pudesse ouvir, fazendo-o rir e balançar a cabeça negativamente. ― Privacidade é tudo.
Sorrindo para o pequeno Hobbit, o deixei com os outros enquanto afastei sorrateiramente do acampamento. Necessitava daqueles minutos de privacidade mais do que qualquer coisa na vida, fiquei contente quando consegui ir para longe do acampamento e todos os anões distraídos. Caminhando pela orla do riacho, vez ou outra lançava olhares para trás afim de não me perder, pois o caminho de volta nunca parece ser o mesmo durante um passeio na floresta, algo que aprendi durante os acampamentos de verão que era obrigada a frequentar com as minhas amigas no meu mundo, hoje sou grata por eles. Porém se perder era o que menos me preocupava, pois os anões falavam muito alto para que fosse impossível desconhecer o caminho de volta.
Não tardei em encontrar o local perfeito para meus minutos de privacidade. Escondido entre duas árvores frondosas, havia uma trilha estreita encoberta por algumas folhas e mato que guiavam até a beira do lago. Desci até a costa do riacho, retirando minhas roupas e pendurando de forma segura nos galhos mais baixos da árvore. Enquanto ingressava no riacho, soltei meus cabelos das presilhas, atirando a mesma na encosta onde a água não levaria embora.
Suspirei ao sentir o corpo relaxar com o toque fresco e puro da água quando mergulhei até os ombros dentro do rio, aproveitei o momento para encobrir minha cabeça, me entregando de vez a sensação refrescante. A temperatura estava quase a mesma da piscina no dia de minha morte, ativando as memórias do último dia de meu mundo e fazendo meu coração bater acelerado. Recordei da nossa conversa, sendo capaz de ouvir suas risadas sobre o futuro que planejávamos. Desesperadamente emergi das águas, torcendo para que tudo não passasse de um sonho realista. Entretanto, ao abrir os olhos depois de ter retirado o excesso de água da face as minhas esperanças foram desfeitas. Permanecia na floresta, dentro de um mundo que considerava estranho e fantasioso.
A ideia de permanecer na Terra-média me assustava mais do que qualquer coisa, pois significava que não voltaria a ver minhas amigas e nem a minha família, que apesar de estar cercada de criaturas lendárias, eu me encontrava sozinha. Tentando afastar os pensamentos negativos comecei a olhar ao meu redor, admirando todas as pequenas coisas maravilhosas que me cercavam. As águas cristalinas do riacho, sendo possível admirar os peixes nadando entre as pedras redondas no fundo, as borboletas brancas que sobrevoavam as flores coloridas próximas a margem. Fechei os olhos novamente, dessa vez para poder prestar atenção nos sons ao meu redor, sendo capaz de captar o coaxar dos sapos, o canto dos pássaros e o cricrilar dos grilos, além do canto distante dos anões. Aos poucos o sol foi se pondo, mudando a cor do céu para os tons de azul escuro, rosa e laranja. A brisa tornou-se levemente mais fria, tocando minha pele como beijos delicados. Naquele instante uma velha canção de meu mundo invadiu meus pensamentos, uma música que combinava perfeitamente com o momento. Por estar sozinha, comecei a cantarolar enquanto me banhava.
"Porque existem tantas músicas sobre o arco-íris e o que há do outro lado?
Arco-íris são visões, mas só ilusões e arco-íris não têm nada para esconder
Foi o que nos disseram e alguns escolheram acreditar
Sei que estão errados, espere e veja
Algum dia vamos encontrar a conexão do arco-íris
Os amantes, os sonhadores e eu"
Estava prestes a deixar o lago quando terminei a canção "Rainbow Connection", uma canção que minha mãe cantava com frequência para mim quando era criança e fazia o mesmo com meus irmãos gêmeos. Entretanto, ao olhar em direção a margem, não esperava me deparar com o olhar admirado de Bofur, não sabia dizer a quanto tempo ele estava observando e nem, naquele momento, o seu olhar de admiração era por conta da minha música ou por ser uma mulher nua no meio do rio.
―SAI DAQUI, ANÃO! ― Gritei cobrindo minhas partes intimas com as mãos, ficando extremamente constrangida.
Ao ouvir meu grito desesperado, ele despertou de seu transe estando tão envergonhado quanto eu e ficou de costas resmungando em Khuzdul.
― Está louco, cretino? ― Perguntei afundando meu corpo no lago e mantendo as partes cobertas.
― Desculpe, Elphaba! Eu não estava bisbilhotando a senhorita. Bem, mais ou menos... ― O anão começou a se explicar, retirando o chapéu engraçado que utilizava e cobrindo a face ― Vim encher o cantil, você estava cantando tão bem e com todo coração... Desculpe.
― Vocês anões desconhecem a palavra privacidade pelo que vejo ― Retruquei irritada. ― Qual o problema de vocês?
― Se te serve de consolo, eu não a admirava com desejo e não tive nenhum tipo de pensamento promíscuo relacionado a senhorita ― Explicou Bofur permanecendo virado de costas ― A senhora lembra uma elfa, desde o nome ao corpo, não me agrada para ser minha esposa.
― Muito obrigada, ajuda muito com a minha autoestima ― Ironizei aproximando sorrateiramente de onde minhas roupas estavam.
― De nada, senhorita ― Disse Bofur assentindo com a cabeça ― Me avise quando estiver com suas vestes.
― Eu só queria uns minutos de paz ― Choraminguei vestindo minha roupa o mais rápido que conseguia. ― Porque vocês nunca me deixam sozinha? De coração, Bofur, me responda.
― A senhorita é uma dama viajando com uma comitiva cheia de homens, apesar de sermos respeitosos, existem pessoas que não pensam o mesmo. Além de que a senhorita não pertence a esse mundo, desconhecendo os perigos...
― Okay, já entendi! ― Falei descontente e terminei de me vestir ― Tudo bem, pode olhar agora.
― O que houve com suas costas? ― Perguntou Bofur voltando a olhar em minha direção.
― Deve ser do tombo do cavalo ― Movi os ombros com desdém ― Aposto que deve estar com vários hematomas.
― Não é isso. Sei que não deve perguntar cicatrizes, mas as suas parecem contar uma história de guerra interessante ― Falou o anão levemente nervoso pela pergunta.
― Não são de guerra ― Respondi compreendendo sobre o que ele estava perguntando, aquelas cicatrizes eram as marcas que causaram minha morte. No dia que deixei o Condado não havia notado suas existência, prestando atenção somente na segunda vez que troquei de roupa. Elas eram as memórias que vinha evitando falar ou deixar aparente, agradecendo todos os dias pelas roupas compridas desse mundo ― São da ferragem, onde fui atingida antes de vir para cá. Podemos não comentar sobre isso?
― Claro! ― Assentiu o anão dando um sorriso sutil por baixo da barba espessa.
― Viu! Você reparou no meu corpo ― Zombei o empurrando com os ombros enquanto caminhava ao seu lado de volta para o acampamento.
― Não é algo que deixe passar, Elphaba ― Comentou Bofur me empurrando de novo ― Mas foi a única coisa que notei, juro pela minha barba.
― Acredito em você, principalmente por ter jurado por sua barba. ― Sorri ficando menos envergonhada do evento embaraçoso.
Ao regressarmos para junto dos outros membros da companhia, resolvi me acomodar entre as raízes de uma árvore levemente afastada da fogueira. Estando visível para os outros anões, mas não tão próxima para ser capaz de interagir. Precisava daqueles minutos de paz, para poder pensar sobre o turbilhão de coisas que passavam na minha mente e aconteciam ao meu redor, precisava aceitar a ideia de que jamais regressaria para casa e que estaria vivendo no meu "sonho" lúcido até o fim dos meus dias.
Abraçando um dos meus joelhos, fiquei apenas observando os anões cantarem ao redor da fogueira enquanto Bombur cozinhava a janta em um grande caldeirão. Suspirei fundo e encarei o céu límpido que estava carregado de estrelas, muitas delas desconhecidas e que jamais havia visto em meu mundo, talvez até estivessem no céu e a poluição me impedia de dar a devida atenção. Cogitei se meu signo astrológico continuava sendo o mesmo naquele estranho mundo. Não que eu compreendesse algo de astrologia, muito pelo contrário. Aceitar a ideia de que as posições dos astros interferiam na personalidade de alguém era algo exagerado em minha concepção, totalmente sem noção, sendo comprovado cientificamente que não passa de lenda urbana e efeito placebo, assim como homeopatia e que beijos de mãe curam todas as feridas quando somos criança.
Descansei o queixo sobre os joelhos e comecei a brincar com a grama no chão, puxando os tufos para cima, mas sem arrancá-los. Sentia falta dos meus pais, dos meus irmãos, dos meus tios e até daquelas pessoas que conheci e já haviam partido daquela vida. Pensei se eles estavam perdidos da mesma forma que eu nesse mundo novo, ou se estavam em seus próprios universos mágicos. Talvez tivessem seu próprio céu, como acontecia na série "Supernatural".
― Você nos despreza tanto a ponto de não querer nossa companhia na beira da fogueira? ― A voz de Fili me retirou do transe, fazendo com que voltasse a realidade que me encontrava e olhar em sua direção.
―Não é isso, apenas estou pensando sobre a vida e também na morte. ― Falei dando espaço para que ele sentasse ao meu lado enquanto sorria gentilmente. ― O quando isso tudo é loucura, acho que nunca vou me acostumar.
― Às vezes você só precisa ver a vida por outro ângulo, era o que minha mãe sempre me dizia. ― Disse Fili sentando no local vago, ele não parava de olhar para mim. ― Minha mãe também sempre dizia que ficamos cegos com a tristeza e com a raiva. Sei que tem seus motivos, mas não se deixe levar por esse caminho. Saiba que estamos aqui para te ajudar, você tem a companhia e você tem a mim.
― Obrigada, Fili. Foram palavras adoráveis. ― O abracei sem ao menos hesitar. Pude perceber que o mesmo estava desacostumado com aquela forma de afeto, mas mesmo assim não se afastou, o que fez com que me sentisse segura.
― A comida está pronta, podem vir comer. ― Falou Bombur orgulhoso de ter preparado o jantar.
― Ah! Obrigada, estamos indo. ― Me separei do abraço e caminhei a frente do Fili, deixando o loiro alguns metros para trás.
O prato continha poucos ingredientes, era um ensopado grosso de batatas com peixe. Não vou mentir, meus amigos. Nunca havia provado um ensopado tão gostoso quanto aquele, por ter sido feito a lenha e com ingredientes orgânicos e frescos, ele era mais saboroso que qualquer comida feita no meu mundo.
Saboreamos a comida em silêncio, fiquei admirada ao perceber o quanto estava faminta quando levei o alimento até a boca. Pensava que minhas necessidades fisiológicas não funcionavam, pois posso dizer que estou em outro plano. Mas nunca estive tão errada na minha vida, bem, não entrarei em minhas necessidades pessoais por enquanto.
Devolvi o prato vazio para Bombur assim que o lavei as margens do rio, não sabia ao certo onde o anão guardaria a louça de barro. Em seguida voltei a me afastar dos membros da companhia, dessa vez sentando sobre uma rocha para admirar a beleza da lua refletida na água. Não tardou para que outro anão se aproximasse, mas dessa vez fiquei surpresa. Não era um simples membro da companhia, era Thorin Oakenshield.
― Você parece apreciar a solidão, esta acanhada pelo que houve no rio? ― Ele perguntou enquanto se acomodava ao meu lado.
― Eu não estava, pelo menos não até você me lembrar. ― Franzi o cenho irritada ao ser recordada sobre o assunto, durante o jantar, Bofur contou o ocorrido para os outros anões e sobre minha música encantadora. ― O que quer, Thorin?
― Conversar, te conhecer melhor. Afinal, se vamos fazer parte da mesma companhia é necessário que saibamos o básico uns sobre os outros. ― Falou o líder abraçando um dos joelhos.
― Então porque não vai conversar com o Hobbit? Ele é tão desconhecido quanto eu. ― Retruquei tentando voltar a ficar sozinha.
― Terei mais oportunidades para falar com nosso ladrão, no momento é com você que estou preocupado. ― Thorin suspirou e eu o olhei confusa.
― Não deveria, não sou sua responsabilidade. Eu nem sei o que estou fazendo aqui, me recuso a acreditar que esse é o meu paraíso. ― Bufei e atirei um pedregulho no lago.
― Você fala bastante do seu mundo. Se não for pedir muito, gostaria que dividisse um pouco dele comigo. ― Falou o líder sorrindo sem mostrar os dentes por baixo das suas babas espessas.
― Thorin Oakenshield está interessado em saber minha história? É sério isso? ―Perguntei arqueando a sobrancelha direita e sem acreditar no que ouvia. ― O primo do mago Dumbledore que te fez vir aqui?
― Primo de quem? ― Thorin fez uma careta confusa.
―Esquece! Você não entende as referências. ―Revirei os olhos, ficando levemente irritada.
― Então...
― Então o que?
― Não vai me contar sobre seu mundo? ― Ele acendeu o cachimbo com a famosa erva dos hobbits dentro.
― O que dele você quer saber exatamente? ― Perguntei semicerrando os olhos.
― Sobre os dragões do seu mundo. Você estava por dentro do assunto e até citou uma mentora. Todo conhecimento que tiver e puder passar sobre esses animais, serão bem vindos. ― Ele me olhava com excitação e esperança.
Fiquei sem reação com tal pedido e lastimei por ter feito o comentário sobre a "Mãe dos dragões". Aqueles olhos cheios de esperança me deixaram ainda mais pesarosa com toda a situação, Thorin estava determinado a se vingar e retomar o que era seu por direito. Seu pedido inusitado de história, foi o que me fez começar a pensar nas coisas que dizia aos anões e o quanto eles levavam a certo o que anteriormente eu considerava como fantasia.
― Thorin, sobre aquilo... ― Estava prestes a dizer que tudo era mentira, que não passava da invenção de um senhor de idade que adora matar seus personagens fictícios. Mas decidi me conter e segurar a verdade por mais um tempo, esperança era tudo o que aquele pequeno grupo de treze anões precisavam no momento. ― Posso contar outra hora? Estou cansada, meu corpo está todo dolorido e quero poder admirar as estrelas antes de dormir.
― Claro! Afinal, temos alguns dias até alcançarmos Erebor. ― Ele assentiu, mas pude notar o pesar de não ter as respostas que queria.
― Prometo que respondo todas as suas perguntas amanhã, rei anão. ― Fiquei em pé, estando pronta para escolher o local mais próximo da fogueira. Como não possuía cobertores, teria de me acolher ainda mais próxima ao fogo, pelo menos possuía a capa de Bombur que servia como uma manta quentinha. ― Agora, se me der licença, preciso descansar. Graças a você e sua impaciência para fazer pequenas pausas, minha bunda está dolorida e meu humor não está dos melhores.
― Já pensou que o seu mau humor pode estar relacionado aos hormônios? ― Ele arqueou as sobrancelhas, sorrindo de forma marota.
― Sorte a sua que estou demasiada cansada para te ofender. Boa noite seu... ― Pausei tentando pensar em uma ofensa que coubesse no momento e não fosse tão desrespeitosa. ― Viu, não consigo nem pensar em como te xingar, babaca.
Trocamos sorrisos divertidos antes de me acomodar ao chão. No fundo Thorin não era um cara mal, por mais que suas expressões faciais e jeito mandão demostrassem isso. Claro que naquele momento havia um interesse bem grande em saber sobre os dragões do meu mundo, os quais infelizmente são inexistentes, assim como meu próprio universo desde que vim para Terra-média.
Olhei para o céu estrelado, naquele instante desejava possuir uma máquina fotográfica para registrar o momento tão belo e guardá-lo para sempre. Mas, infelizmente, esse tipo de tecnologia não é possível e não perderei tempo de entrar em detalhes sobre ela, pelo menos não agora. Talvez, no final dessa autobiografia, eu faça um glossário explicando o que é cada um dos termos que utilizei no decorrer da narração como por exemplo: Máquina fotográfica, banheiro público, metrô, carro, celular e internet.
Enfim, voltando ao assunto antes que divague outra vez. Às vezes fecho os olhos e volto a recordar aquela noite, daquele céu, da primeira de muitas vezes que dormi admirando as estrelas. É tão estranho saber que aquela noite ocorreu a muitos anos atrás. Que hoje, mesmo possuindo uma visão diferente da que eu tinha quando cheguei, ainda penso naquela noite antes de dormir e sinto como se estivesse lá. A primeira vez que dormi sobre as estrelas, a primeira vez que dormi no mundo que aprendi a considerar como o meu Paraíso.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro