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⠀ ⠀ ⠀ ⠀ ⠀ ⠀⩩⦙ 𝒊𝒊𝒊. 𝑷𝒓𝒊𝒎𝒆𝒊𝒓𝒂𝒔 𝒊𝒎𝒑𝒓𝒆𝒔𝒔𝒐̃𝒆𝒔


Nunca me preocupei muito em pensar sobre a vida após a morte. Minhas preocupações sempre foram relacionadas a vida que eu levava, como seguia e onde deixaria as minhas marcas. Queria ser uma pioneira naquela terra, queria deixar um legado, queria que a minha vida, meu cérebro e minha existência significassem algo. Mas o que nunca passou em minha cabeça, era descobrir o que realmente acontecia quando morremos.

Fechei meus olhos e senti a brisa fria da madrugada soprar meu rosto, mantive minhas mãos apoiadas sobre os joelhos despidos enquanto ponderava sobre o assunto. Sabia com exatidão o que acontecia fisiologicamente com o corpo quando morremos, mas não o que realmente acontece após a morte. E se existe outra coisa que não gosto, são as perguntas sem respostas. Naquele momento minha cabeça estava ocupada com muitas delas, de algum modo algumas das respostas estavam explicitas em minha frente, porém me recusava a acreditar nelas.

Quando tinha dezesseis anos de idade, tive o pior porre da minha vida. Me perdi das minhas amigas na festa e não me recordo com exatidão as coisas que aconteceram naquela noite. Exceto que em um minuto estava virando o meu quinto shot de tequila com minhas garotas, e no outro elas havia sumido. Não lembro como as encontrei, não lembro como cheguei em casa. Só me recordo do que aconteceu depois. Elas me disseram para não se preocupar, que minha mãe não saberia de nada, que tudo ficaria bem e que eu deveria tomar canja de galinha e Gatorade para melhorar a ressaca. É engraçado como as nossa memória funciona, as coisas que você nunca se lembra e as coisas das quais você nunca esquece. Naquele momento, estava com a mesma sensação da festa da tequila.

― Elphaba. ― um dos anões apareceu na frente da casa, ele caminhava em minha direção trazendo uma xícara de chá. Sorria por baixo da barba loira e espessa, seus olhos azuis refletiam o brilho do luar. ― Está mais calma? Gandalf está explicando ao Thorin sobre você.

― Estou me sentindo perdida, confusa, no estado de negação. ― Respondi com honestidade e virei-me a ele. ― Você é...

― Sou Fili, aos seus serviços. ― O rapaz fez uma reverência, tomando cuidado para não derrubar a xícara de chá que carregava.

― Elphaba Pouts, aos seus. ―Fiz uma breve reverência após aceitar o chá de suas mãos.

― Boa noite. ― Ele comentou admirando o céu e se acomodando ao meu lado.

― Você está me desejando boa noite, ou dizendo que a noite é boa não importa o que eu queira ou não, ou quer dizer que você se sente bem nessa noite, ou que é uma noite para se estar bem? ― Perguntei confusa por cima da xícara de chá.

― Creio que tudo isso de uma única vez. ― Fili demorou alguns segundos para responder, mas ao fazer isso esbanjou um sorriso divertido.

Retribui o sorriso encantador do anão com um sem vida, sentia que nada me traria alegria outra vez, por mais que tentasse. Voltei a encarar a paisagem, observando as lamparinas acesas de algumas casas do Condado, pequenas luzes afastando a escuridão do que lembrava buracos de tatus bem arrumados.

― Nada disso pode ser real. ― Comentei soltando um longo suspiro e abaixando a cabeça, permitindo que algumas lágrimas escorregassem dos meus olhos e morressem em meus lábios.

― Não, não chore. Por favor. ― Pediu Fili desmanchando o sorriso da face e envolvendo o braço ao redor do meu pescoço. Seu dedo indicador enxugou com carinho minhas lágrimas. ― Tudo ficará bem, você vai ver.

Não digo uma palavra a ele, porém aceito o seu gesto de amizade. Aninhando a cabeça em seu pescoço, ele afasta com as mãos um pouco do seu cabelo comprido para trás, deixando de uma maneira que ele não me incomodasse. Envolvi um dos braços ao redor de sua cintura, o abraçando fraternamente, sentindo-me segura.

― Esse pode não ser o céu que imaginei, mas acredito que você seja um dos meus anjos da guarda. ― Comentei ao me acalmar, Fili apenas sorriu e me apertou ainda mais em seus braços.

― Estou apenas cumprindo o meu dever, seguindo ordens. ― Ele suspirou e baixou o tom de voz ao falar.

― Sabe uma coisa divertida? ― Ergui a cabeça e o encarei com os olhos inchados. ― Descobri que sou menor que um anão.

― Se te serve de consolo, há criaturas menores que você na Terra-Média, como o nosso ladrão por exemplo. ― Fili riu baixo.

― Pois é, o que ele é mesmo? Um Robert? ― Franzo o cenho tentando recordar como haviam chamado a criatura.

― Hobbit, um Hobbit. Não um Robert. ― Outro anão havia aparecido na porta, ele abriu um sorriso encantador para nós, mas pude perceber rugas de malícia em seu olhar. ― Vejo que estão bem.

― Elphaba, esse é Kili. Meu irmão. ― Disse Fili ficando com a coluna ereta e apontando para o irmão.

― Encantador, sou Elphaba. ― Arrumei a postura e fiz uma pequena reverência.

― Encantadora. ― Ele fez uma reverência polida e aproximou. O sorriso malicioso que estava em seus lábios se desfez assim que observou minha cara de choro ― Você está bem?

― Ela vai ficar. ― Fili sorriu sem mostrar os dentes, respondendo à pergunta antes de mim. Agradeci mentalmente por aquilo, a última coisa que queria era as pessoas me perguntando se eu estava bem. Afinal, como você estaria se soubesse que morreu?

― Que tal entrarmos? Estou com um pouco de frio. ― Comentei ficando em pé e abraçando meu próprio corpo. ― E talvez ainda tenha algo par comer.

― Claro. ― Ambos assentiram.

Tomei a frente dos irmãos e ignorei os sussurros trocados entre eles, Kili com certeza havia imaginado que Fili e eu estávamos trocando beijos e caricias, principalmente pelo irmão mais velho ter demorado em seu regresso para dentro do Bolsão. Balançei a cabeça negativamente, afastando qualquer pensamento sobre me envolver com algum dos anões, definitivamente isso não entrava nos meus planos.

― O que devo fazer com o meu prato? ― Ori perguntava ao Bilbo no momento que entramos na casa, eles estavam parados no centro do corredor e a expressão do Hobbit era de poucos amigos. Parecia tão confuso quanto eu com toda aquela bagunça.

― Deixa isso comigo. ― disse Fili tomando a xícara de chá vazia das minhas mãos e caminhando até o Ori. Ele retirou o prato das mãos do rapaz e lançou em direção ao Kili, tive de me abaixar rapidamente para não ser atingida pelo objeto.

Os doze anões levantaram-se da mesa e começaram a montar grandes pilhas de prato com garrafas vazias sobre cada uma delas. Eles não esperaram por qualquer tipo de bandeja e carregavam tudo com as mãos, algumas vezes jogavam os pratos sobre as cabeças, sendo sempre pegados com maestria e destreza por outro anão. Aquela limpeza estava se saindo melhor do que qualquer show circense que já assisti em minha vida. Thorin e Gandalf permaneceram sentados, e assim como eu, apenas assistiam a performance dos companheiros de viagem. O pobre Hobbit corria desesperado atrás deles, implorava por cuidados e para que não se incomodassem com a limpeza, a preocupação com as louças era visível em sua face. Os anões ignoraram os pedidos do Hobbit e deram início a uma cantoria alegre.

"Copos trincados e pratos partidos!

Facas cegas, colheres dobradas!

É isso que em Bilbo causa gemidos (...)"

As batidas de palmas guiavam o ritmo da canção enquanto os anões se divertiam jogando os pratos, eles andavam de um lado para o outro organizando a cozinha. Acabei sendo contagiada pela alegria da festa e quando percebi estava batendo palmas no ritmo da canção entoada a plenos pulmões por eles.

"Garras em caco e rolhas queimadas!

Pise na gordura e corte a toalha!

Sobre os tapetes jogue os ossinhos!

O leite entoado no chão se coalha! (...)"

Solto uma gostosa gargalhada quando um dos pratos passa voando sobre minha cabeça, aproveitando para correr até um canto seguro da casa, me afastando dos pratos e copos voadores, conseguindo assistir com segurança tudo o que acontecia de onde estava.

"Em cada porta há manchas de vinho!

Jogue essa louça em água fervente,

Soque bastante com esse bastão,

Se nada quebrar, por mais que tente

Faça rolar, rolar pelo chão

É isso que o Bilbo Bolseiro detesta,

Cuidado, Cuidado com os pratos da festa"

Carregando um sorriso alegre no rosto, bati palmas animadas quando a canção foi terminada. Para o alívio do Bilbo, os anões não haviam feito nada das coisas horrendas que foram citadas na canção. Nenhuma louça foi quebrada e tudo ficou brilhando e limpinho, minha mãe com certeza aceitaria ter um desses anões como empregados domésticos.

Ao recordar da minha mãe, o sentimento de aperto no coração regressou junto com a tristeza. Até hoje me sinto assim quando começo a lembrar das pessoas que estiveram presentes em minha antiga vida, de todos os momento que tivemos juntos. Por mais que os anos tenham passado, é difícil aceitar por completo aquilo que se perdeu, a saudade sempre fará parte das minhas lembranças e talvez um dia, nós nos encontremos outra vez.

― Como você chegou até aqui, garota? ― A voz grossa do líder da companhia me trouxe de volta a realidade.

― Honestamente, nem eu sei. ― Dei com os ombros e mordi o canto do lábio.

― Ela apareceu na floresta, suas roupas estavam ensanguentadas e ela só dizia o próprio nome, o repetia como se tivesse a intenção de não esquece-lo. ― Comentou Bilbo olhando nervoso para mim. ― Cuidei dela no tempo que esteve desacordada, nem mesmo ela sabe como chegou até aqui.

― Agradeço por isso, senhor Bolseiro. ― Sorriu ao pequeno e faço uma mesura.

― Gandalf nos disse que você está morta, mas não consigo acreditar. ― Comentou Nori me avaliando dos pés à cabeça.

― Não é o único, meu amigo. Acredite. ― Arqueei as sobrancelhas e dei com os ombros. ― Pra mim, vocês não passam de um sonho maluco no qual estou presa.

― Você teria de ser um pouco maluca para sonhar conosco. ― Brincou Bofur mantendo a esportiva.

― Pois é, nunca fui a garota normal. Talvez seja por isso que estou aqui. ― Dei com os ombros e puxei uma cadeira, sentando-me ao lado do Bombur. ― Mas vamos mudar de assunto, não quero falar sobre mim agora, apenas quero deixar esse sonho rolar. Não tem outras canções?

― Música é uma boa pedida. ― Thorin assentiu ― Tragam os instrumentos.

― Legal, adoro música. ― Bati palmas comemorando enquanto alguns dos anões saiam para pegar seus instrumentos musicais.

Os irmãos Fili e Kili haviam trazido rabecas, Dori, Nori e Ori tiraram flautas de algum bolso dos seus casacos, Bombur foi até o corredor e regressou com o seu tambor, Bofur e Bifur regressaram com clarinetas que haviam deixado entre as bengalas.

― Com licença, deixei a minha na varanda! ― Disseram os irmãos Dwalin e Balin ao mesmo tempo.

― Tragam a minha também! ― Pediu Thorin assim que eles se levantaram.

Os dois saíram e não tardaram a regressar, traziam duas violas enormes, talvez até mesmo maiores que eles e a harpa de Thorin. Nunca havia visto uma harpa tão bonita quanto aquela, era dourada como se tivesse sido forjada em ouro. Thorin puxou a melodia, dedilhando uma canção já conhecida pelos outros anões, ela era repentina e doce, me fazendo viajar em meio aos pensamentos.

Olhei para o fogo e guiei meu pensamento até minha família, queria poder ter me despedido deles, dito um último adeus. Todos os planos friamente calculados não seriam projetados, não veria os gêmeos crescerem e nem os ensinaria música, não conheceria nenhum britânico bonitão, não conversaria até altas horas da madrugada com as minhas amigas, não comeria a comida da minha mãe e nem reclamaria do jogo dos Lakers com meu pai, deixaria de conhecer os novos hits de sucesso e não conheceria meus ídolos.

A escuridão foi tomando conta da sala, a luz do fogo tremia e tive a impressão de ver formas se movendo nas labaredas até elas se extinguirem. Mesmo com a escuridão tomando todo o recinto, os anões continuaram tocando. E, de repente, primeiro um e depois o outro, começaram a cantar, era o canto grave dos anões, o canto das profundezas do seu antigo lar.

Aquela música arrepiou todos os pelos do meu corpo, agitando algo dentro de mim. Não conseguia prestar atenção na letra da canção, pois memórias começaram a invadir minha mente. Primeiro o barulho de água e risadas, o que direciona a noite divertida na piscina, de repente ouço o barulho de freios e algo batendo. Sinto a dor do impacto novamente e a quentura do sangue que escorre por minha perna e abdômen.

― Sua missão está prestes a começar. ― Uma voz desconhecia soou pelo quarto escuro e alguém tocou meu ombro, com um sobressalto me levantei tentando olhar quem se tratava.

― Aonde vocês vão? ― Perguntou Thorin olhando do Bilbo para mim. Toda aquela sensação esquisita se esvaiu, deixando-me apenas com dúvidas.

― Eu, é que... Hum... ― Abro a boca algumas vezes tentando explicar o que estava sentindo naquele momento. Não havia notado que estava em pé e suando.

― Que tal um pouco de luz? ― Perguntou Bilbo como quem pedisse desculpas.

― Nós gostamos do escuro. ― Disseram os anões.

― Escuro para negócios escusos! Ainda há muitas horas antes da alvorada. ― Comentou Thorin com desdém. Mordi o canto do lábio enquanto respirava de maneira pesada.

― Você está bem? ― Perguntou Bombur olhando preocupado pra minha cara.

― Estou, eu acho, não sei. ― Comento apoiando ambas as mãos em meus joelhos e hiperventilado.

— Silêncio! – Disse Gandalf olhando em nossa direção – Deixem Thorin falar!

— Gandalf, anões, Elphaba e Sr. Bolseiro! Estamos reunidos na residência do nosso amigo e companheiro de conspiração, este excelente e audacioso Hobbit. Que os pelos dos seus pés jamais caiam! Todos os elogios ao seu vinho e a sua cerveja! – Parou para tomar fôlego – Estamos reunidos para discutir nossos planos, caminhos, meios, políticas e estratégias. Deveremos, brevemente, antes do nascer do dia, iniciar uma longa viagem, uma viagem da qual alguns de nós, ou todos nós com exceção de nosso amigo e conselheiro, o engenhoso mago Gandalf, talvez nunca voltemos. – Dou um pequeno gemido e levo a mão na boca rapidamente, Thorin continua a falar – Este é um momento solene. Nosso objetivo é, pelo que entendo, bem conhecido por todos. Para o estimável Sr. Bolseiro, para a nossa queria amiga Elphaba e talvez para um ou dois anões mais jovens, acho que estou certo em citar Kili e Fili, por exemplo, a situação exata no momento parece exigir uma pequena e breve explicação...

O líder anão foi interrompido por Bilbo, o qual soltou um grito estridente. Todos os anões pularam derrubando a mesa, Bombur bateu em mim com seu braço e me fez cair com as costas no chão frio.

― Você está bem? ― Perguntou Ori me ajudando a levantar do chão e me recompor.

― Estou, obrigada. ― Abri um sorriso tímido enquanto batia a poeira da roupa. ― Pelo menos eu acho.

― É melhor a senhorita se sentar. ― Comentou Nori com preocupação no olhar.

― Elph, aqui tem um lugar vago. ― Kili apontou para a cadeira vazia entre ele e Fili.

― Ah! Claro, obrigada. ― Com auxílio dos anões que estavam no caminho, caminho até eles.

Porém na metade do caminho tropeço sobre o pobre Hobbit ajoelhado em cima do tapete da lareira, caindo esparramada ao seu lado no chão. Gandalf acendeu a luz azul da ponta do seu cajado assim que ouviu os gritos do Bilbo e o barulho do meu tombo.

― Atingido por um raio, atingido por um raio. ― Repetia o Hobbit tremendo como uma gelatina.

Fazendo uma careta devido a dor no queixo e nas mãos, caminho até o anfitrião da casa e o acaricio nos ombros, tentando acalma-lo de alguma forma.

― Bilbo, por favor, pare. ― Pedi com delicadeza enquanto afagava suas costas. ― Venha, meu amigo. ― O peguei no colo da mesma forma que fazia com meus irmãos quando adormeciam no sofá, o aninhando em meus braços. ― Tente respirar, aspire e inspire.

― Por favor, fique comigo. ― Ele pediu assim que o coloquei sobre a poltrona da sala.

― Não tenho para onde ir mesmo. ― Soltei um riso baixo enquanto me ajoelhava e segurei em sua mão. Bofur aproximou com duas xícaras cheias de chá e nos entregou. ― Obrigada.

― Não tem de quê. ― O anão sorriu e voltou a nos deixar sozinhos.

― Tome um pouco, vai te fazer bem. ― Sorriu com o canto dos lábios para o Hobbit e beberico alguns goles da minha bebida.

― Pessoas impressionáveis! ― Gandalf comentou sobre nós enquanto todos voltavam a se sentar. ― Bilbo tem uns acessos estranhos, mas é um dos melhores. Feroz como um dragão no aperto. Já a Elphaba só está confusa, afinal tudo o que ela conhecia foi deixado para trás, ela está dando início a uma nova história.

Uma nova história, repeti as palavras do mago algumas vezes em minha mente. Minha mãe dizia que sem história, nossas vidas se resumem ao nada. Constantemente ela me dizia que em algum momento da vida teríamos de decidir se regredimos ao conhecido, ou se damos um passo à frente em algo novo. Aquele era o meu momento de decisão, o momento de fazer uma escolha. É difícil recomeçar, principalmente quando está muito apegada ao passado. Pois o passado é que nos dá forma, é o que nos guia para o futuro. Mas ás vezes precisamos ignorar o que passou, e recordar que a história mais importante é aquela que fazemos hoje.

― Você está bem? ― Perguntou Bilbo após tomar sua bebida, ele me olhava preocupado devido ao pequeno devaneio que tive.

― Estou, obrigada Bilbo. ― Aperto sua mão com um pouco de força e sorriu sem mostrar os dentes. ― Acho melhor voltarmos.

― Tudo bem. ― Bilbo assentiu.

Levantei do chão e ajudei Bilbo a levantar da cadeira, com passos lentos regressamos para o local da reunião, chegando em tempo de ouvir um dos anões falando sobre nós para o resto da companhia.

― Hunf! Você acha que eles servem? Para Gandalf parece tudo bem ficar falando da ferocidade desses Hobbits e da sagacidade dessa garota, mas se ambos tiverem um acesso desses numa hora de agitação, seria o suficiente para acordar o dragão e todos os seus parentes, matando a todos nós. Se bem que pelo que entendi, a menina está acostumada a morrer, acho que foi esses acessos que a matou em seu mundo. ― Gloín revirou os olhos e bufou. ―Assim que bati os olhos nesses dois tive minhas dúvidas. O Hobbit parece mais um dono de armazém do que um ladrão. E a garota é um completo desastre, ela caiu sozinha duas vezes, não fala coisa com coisa e acredita estar num sonho, é fraca, mimada e prepotente, aposto que não consegue manusear armas ou lutar. Sinceramente, não sei qual deles é o pior.

― Vou mostrar pra você a garotinha que não sabe lutar... ― Resmunguei entre os dentes e corri na direção do anão, o pegando de surpresa com um soco no olho. Thorin me abraça por trás, impedindo que continuasse a socar Gloín. O qual estava mais surpreso do que com dor. ― ME SOLTA, VOU ACABAR COM ESSE ANÃO. ASSIM ELE APRENDE A NÃO FALAR DA MINHA VIDA.

― Não vai acabar com ninguém. ― Thorin responde me apertando um pouco mais em seus braços musculosos. ― Por Mahal, não irei te soltar até se acalmar.

― Desculpem. ― Bilbo ergueu a voz. ― Se, por acaso, ouvi o que vocês estavam dizendo. Não vou fingir que estou entendendo o que disseram, ou a referência que fizeram a ladrões, mas acho que estou certo em acreditar que acham que eu não sirvo e nem a Elphaba. Eu vou lhes mostrar. Não tenho sinais na minha porta, que foi pintada há uma semana, e tenho certeza de que vocês vieram bater na casa errada. Assim que vi suas caras esquisitas na porta, tive minhas dúvidas. Mas façam de conta que está é a casa certa. Digam-me o que querem que seja feito e vou tentar fazê-lo, mesmo que eu tenha de andar daqui até o leste do leste e lutar contra os Homens-dragões selvagens no último Deserto. Eu tive um tio-tetravô, Urratouro Túk, que..

—É, sim, mas isso foi há muito tempo – Gloín o interrompeu rudemente, a voz do anão fez meu sangue ferver e o desejo de enfiar a mão em sua cara ainda era enorme. Thorin me mantinha presa em seus braços, temendo que eu desse início a uma confusão. ― E eu estava falando de vocês. Garanto que existe um sinal em sua porta... O sinal comum que usamos nesse negócio, ou costumava ser assim. Ladrão procura por um bom emprego, com grandes emoções e uma boa recompensa, geralmente é assim que se anuncia. Você pode dizer Especialista em Caçadas de Tesouro em vez de ladrão, se quiser. Alguns preferem. Para nós é a mesma coisa. Gandalf nos disse que havia um homem do tipo nestas redondezas procurando um emprego urgente, e que ele tinha acertado um encontro aqui nesta quarta-feira, na hora do chá.

—É claro que há um sinal – Disse Gandalf— Eu mesmo o coloquei. Por razões muitos boas. Vocês me pediram para encontrar o décimo quarto homem para sua expedição, e eu escolhi o Sr. Bolseiro. E de bônus ganhamos a Elphaba, não se encontra pessoas como ela por ai. Se alguém disser que escolhi as pessoas erradas, ou a casa errada, podem ficar em treze e com todo o azar que quiserem, ou então vão voltar a extração de carvão.

Gandalf franziu o cenho para Gloín com raiva, fazendo o anão afundar na cadeira. Olhei na direção dele, sorrindo sarcástica. Gloín virou o rosto, franziu a testa e arqueou as grossas sobrancelhas. Sem hesitar levantei o dedo do meio para ele, mas Thorin me forçou a abaixa-lo. Revirei os olhos e resmunguei, tentando me soltar dos braços do líder da companhia.

—Assim está bem – Disse Gandalf – Não vamos mais discutir. Eu os escolhi e isto deve ser o suficiente para todos vocês. Se eu digo que ele é um ladrão e que a Elphaba será útil, é isso que eles são, ou serão quando chegar a hora. Existe muito mais neles do que vocês podem imaginar, e muito mais do que eles mesmo possam ter ideia. Vocês vão possivelmente viver para me agradecerem um dia. Agora, Bilbo, meu rapaz, traga a lamparina e vamos iluminar um pouco isto aqui.

Thorin relaxou os braços e me soltou, com passos pesados caminhei até o lugar vago entre Kili e Fili, o olhar do líder da companhia se manteve preso em mim, parecendo temer que atacasse os companheiros de equipe a qualquer momento. Bilbo regressou para a sala de jantar, colocando sobre a mesa a grande lamparina com quebra-luz vermelho. Gandalf desenrolou um pergaminho velho e empoeirado, no qual um mapa estava desenhado. Muitos anões e inclusive eu, começamos a perguntar o que era aquilo.

—Isso foi feito por Thror, seu avô, Thorin – disse Gandalf em resposta às perguntas excitadas sobre o pergaminho – É um mapa da Montanha.

— Acho que isso não vai ajudar muito – Falou Thorin desapontado depois de dar uma olhada – Eu me lembro muito bem da Montanha e das terras em volta dela. E eu sei onde fica a Floresta das Trevas, e também o Urzal Seco, onde os grandes dragões se reproduziam.

—Há um dragão marcado em vermelho na Montanha – Disse Balin – Mas vai ser fácil encontra-lo sem isso aí, se é que vamos conseguir chegar lá.

— Espera... — Inclinei o corpo para frente quase o deitando sobre a mesa e apontei para uma parte do mapa com o indicador, os anões me acompanham com olhares confusos. —Tem uma entrada secreta aqui. Essa mão com e essas escritas estranhas aponta para ela. Marca um tipo de passagem para algum salão esquisito.

—Pode ter sido secreta uma vez – Falou Thorin – Mas como podemos saber se ainda é secreta? O velho Smaug viveu lá tempo suficiente para descobrir qualquer coisa que se possa conhecer sobre essas cavernas.

— Pode ser, mas acho que ele não pode usá-la. Se o que sei sobre dragões estiver certo, eles são criaturas enormes, até mesmo maiores que essa porta. — Digo voltando a sentar direito na cadeira.

— Como assim? – Perguntou Thorin intrigado.

— A passagem é muito pequena para um dragão, é visível se comparar o tamanho do desenho do dragão com o tamanho do desenho da tal porta. E certamente, com todo o respeito, ele deve estar bem gordinho depois de ter comigo tantos anões rechonchudos. — Sorriu sarcástica.

— Para mim parece um buraco bem grande! — Exclamou Bilbo.

— Tudo pra você é grande, Bilbo. Você é poucos centímetros maior que meus irmãos gêmeos. E olha que no meu mundo, eu sou classificada como uma pessoa baixa estaturamente falando. — Soltei um riso baixo.

— Está bem, mas como poderia uma porta tão grande ser mantida em segredo para todas as pessoas de fora, com exceção do dragão? – Pergunta Bilbo.

— Gandalf, essa é com você. — Dou com os ombros e viro para o mago.

—De muitas maneiras – Respondeu Gandalf – Mas de qualquer maneira esta porta foi escondida nós não saberemos sem ir lá verificar. Pelo que diz o mapa, posso adivinhar que existe uma porta fechada, que foi feita de modo a se parecer exatamente com a encosta da Montanha. Esse é geralmente o método dos anões... Acho que é isso, não é?

—Certo – Assentiu Thorin

—E também – Continuou Gandalf – Esqueci de mencionar que com o mapa havia uma chave, uma chave pequena e curiosa. Aqui está ela! – Entregou a Thorin uma chave de haste longa, dentes intricados, e feita de prata – Guarde-a em local seguro!

—Vou fazer isso – Falou Thorin colocando a chave numa corrente fina que pendia do seu pescoço sob o casaco – Agora as chances parecem maiores. Essa notícia melhora muito as coisas. Até agora não tínhamos uma ideia clara do que fazer. Estávamos pensando em ir para o leste, com o maior cuidado e silêncio possível, até o Lago Comprido. Depois disso o problema iria começar...

—Muito antes disso, se é que sei alguma coisa sobre as estradas que levam para o leste – interrompeu Gandalf.

—Nós poderíamos sair daqui, subindo ao longo do Rio Corrente – Continuou Thorin sem prestar atenção no que o mago havia dito – E assim até as ruínas de Vaíle, a velha cidade naquele vale, sob a sombra da Montanha. Mas nenhum de nós gostou da ideia do Portão Dianteiro. O rio vem exatamente de dentro dele através do penhasco ao sul da Montanha, e por ali também sai o dragão, muito frequentemente, a não ser que tenha mudado seus hábitos.

—Isso não adiantaria em nada— Disse o mago – Não sem um guerreiro valente, até um Herói. Eu tentei achar um, mas os guerreiros estão ocupados lutando uns contra os outros em terras distantes, e por estes lados os heróis são raros ou simplesmente impossíveis de encontrar. As espadas nestas partes estão em suas maiorias cegas, os machados são usados para árvores, e os escudos como berços ou tampas de pratos, e os dragões estão confortavelmente distantes e por isso são lendários. É por isso que optei pelo roubo, especialmente quando me lembrei da existência de uma porta lateral. E aqui está o nosso pequeno Bilbo Bolseiro, o ladrão, o escolhido e eleito ladrão. Então vamos continuar e fazer alguns planos.

—Então, muito bem – Disse Thorin virando-se para o Hobbit dando um sorriso forçado – Se o ladrão perito nos der algumas ideias e sugestões.

— Primeiramente eu queria saber um pouco mais a respeito das coisas. – Disse Bilbo parecendo confuso e um pouco amedrontado – Quero dizer, sobre o ouro e o dragão, e tudo o mais, e como ele chegou até lá, e a quem ele pertence, e todo o resto.

—Por minhas barbas! – disse Thorin – Você não viu o mapa? E não ouviu nossa música? E não estamos falando de tudo isso há horas?

—Mesmo assim, gostaria de tudo bem explicadinho, e aposto que a Elphaba também. – Bilbo estava fazendo de tudo para parecer sábio e prudente, à altura das recomendações de Gandalf.

— Eu não prestei atenção na letra da música, ela me fez vagar para o meu mundo. Desculpa. — Forcei um sorriso e dei com os ombros.

— Muito bem – Começou Thorin – Há muito tempo, na época do meu avô Thror, nossa família foi expulsa do extremo norte, e voltou com toda sua riqueza e ferramentas para a Montanha deste mapa. Ela fora descoberta pelo meu ancestral distante, Thrain, o Velho, mas na época de Thror eles exploraram minas e fizeram salões maiores e oficinas maiores também, e, além disso, acho que encontraram uma grande quantidade de ouro, além de muitas jóias. De qualquer modo, ficaram imensamente ricos e famosos, e meu avô tornou-se Rei sob a Montanha novamente, e era tratado com grande reverência pelos homens mortais, que viviam no sul, e estavam se espalhando gradualmente ao longo do Rio Corrente até o vale que fica à sombra da Montanha. Naqueles dias, eles construíram a alegre cidade de Vaíle. Reis costumavam mandar buscar nossos artífices, e recompensavam muito bem até os menos habilidosos. Pais nos imploravam para aceitar seus filhos como aprendizes, e nos pagavam regiamente, sobretudo com suprimentos de comida, que nunca nos preocupávamos em procurar ou cultivar para nosso uso. Esses foram dias felizes, e os mais pobres de nós tinham dinheiro para gastar e emprestar, e tempo para fazer coisas bonitas por puro prazer, sem falar dos brinquedos mais mágicos e maravilhosos, do tipo que não se encontra em lugar algum no mundo hoje em dia. Desse modo, os salões de meu avô ficaram cheios de armaduras e joias, de esculturas e taças, e o mercado de brinquedos de Vaíle era a maravilha do norte.

— Ah! Ouro atrai dragões... Aprendi certo. — Comentei em voz alta assim que Thorin se calou para tomar fôlego. Todos olhavam incrédulos em minha direção. — Isso é narrado em todos os contos pra dormir, dragões roubam joias e ouro, vocês sabem, dos homens, dos anões, dos elfos. Onde eles encontrarem ouro e os guardam por toda sua vida, o que é praticamente a eternidade, a não ser que sejam mortos. Esse tipo de trabalho seria bom pra Khaleesi.

— Khaleesi? — Perguntou Dwalin arqueando a sobrancelha direita.

— Daenerys Targaryen, nascida da tormenta, a não queimada, mãe dos dragões, rainha dos dragões, rainha de prata, Mhysa, quebradora de correntes, filha da morte, matadora de mentiras, noiva do fogo... — Sorriu ao recordar da minha personagem favorita da série de televisão e dos livros, os quais infelizmente não saberei o final. — Aprendi tudo o que sei sobre dragões com ela.

— E onde a encontramos? — Perguntou Thorin, os anões trocaram sorrisos animados e cheios de esperança.

— Na última vez que vi ela estava no deserto. Ela é uma especialista em dragões, tem três de estimação. — Comentei me segurando para não rir, agora percebo o quanto fui babaca em rir de um assunto tão sério quanto aquele. — Mas infelizmente ela também não é daqui.

— Mas pelo que percebo, você aprendeu sobre os dragões. — Falou Kili admirado.

— É, até que sim. — Dei com os ombros. — Thorin, pode prosseguir por favor?

— Com prazer. — Ele assentiu e continuou. — Havia muitos dragões no norte naquela época, e o ouro estava provavelmente se tornando raro por lá, com os anões indo para o sul ou sendo mortos, e com todo o tipo de ermo e destruição geral que os dragões provocam, indo de mal a pior. Havia um dragão especialmente ganancioso, forte e mau, chamado Smaug. Um dia ele alçou vôo e veio para o sul. O primeiro sinal dele que ouvimos foi um barulho como um furacão vindo do norte, e os pinheiros das montanhas chiando e estalando com o vento. Alguns dos anões por acaso estavam do lado de fora, por sorte eu era um deles um bom rapaz aventureiro, naqueles dias, sempre andando por ai, e isso salvou minha vida naquele dia, quando, de uma boa distância, vimos o dragão pousar na montanha num jato de fogo. Então ele desceu as encostas e, quando atingiu a floresta ela se incendiou inteira. Naquele momento todos os sinos estavam repicando em Vaíle e os guerreiros estavam se armando. Os anões correram para fora pelo seu grande portão, mas lá estava o dragão à espera deles. Nenhum escapou por ali. O rio se ergueu em vapor e um nevoeiro cobriu Vaíle, e no nevoeiro o dragão avançou sobre eles e destruiu a maioria dos guerreiros, a triste história de sempre, isso era muito comum naquela época. Depois voltou e se arrastou através do Portão Dianteiro e saqueou todos os salões e alamedas, e túneis, becos, adegas, mansões e corredores. Depois disso, não restaram anões vivos no lado de dentro, e ele pegou toda a riqueza deles para si. Provavelmente, pois esse é o jeito dos dragões, empilhou tudo num grande monte bem no interior da montanha, e dorme sobre ela como se fosse uma cama. Depois, passou a se arrastar para fora do portão grande e vir à noite até Vaíle, e levar embora pessoas, principalmente donzelas, para devorar, até que Vaíle ficou arruinada, e todas as pessoas partiram ou morreram. O que acontece lá agora não o sei com certeza, mas não acho que hoje em dia alguém viva em algum lugar mais próximo da Montanha do que a extremidade do Lago Comprido. Os poucos de nós que estavam do lado de fora e bem afastados sentaram-se e choraram escondidos, e amaldiçoaram Smaug e ali juntaram-se a nós inesperadamente meu pai e meu avô, com as barbas chamuscadas. Eles pareciam muito soturnos, mas não disseram quase nada. Quando perguntei como tinham conseguido sair, disseram-me para fechar a boca e que no momento certo eu saberia. Depois disso fomos embora, e tivemos de aprender a ganhar nossas vidas da melhor maneira por esse mundo afora, muitas vezes tendo de nos rebaixar e fazer o trabalho de ferreiros e até de mineiros de carvão. Mas nunca nos esquecemos de nosso tesouro roubado. E, mesmo agora, quando admito que temos algumas reservas e não estamos tão pobres — nesse momento Thorin passou a mão sobre a corrente de ouro em seu pescoço — nós ainda queremos o tesouro de volta, e fazer com que nossas maldições caiam sobre Smaug, se pudermos. Eu sempre me perguntei sobre a fuga de meu pai e meu avô. Vejo agora que deviam ter uma porta lateral particular que apenas eles conheciam. Mas, ao que parece, fizeram um mapa, e eu gostaria de saber como Gandalf se apoderou dele, e por que não chegou às minhas mãos, às mãos do herdeiro por direito.

— Eu não "me apoderei dele", o mapa me foi dado – disse Gandalf sério – Seu avô Thror foi morto, você se lembra, mas minas de Mona por Azog, o Orc.

— Orc? Rasgadores de garganta? Devoradores de carne? — Arregalei os olhos, era como se tivesse caído dentro do pior conto de fadas do mundo.

—Sim, maldito seja esse nome – Disse Thorin.

— E seu pai Thrain foi-se embora no dia 21 de abril, fez cem anos na última quinta-feira, e nunca mais foi visto desde então. — Falou Gandalf.

— Santa Lady Gaga, provavelmente ele deve ter morrido. — Entorto o lábio duvidando que um anão fosse capaz de passar dos cem anos, ou de qualquer outra pessoa.

—É verdade, é verdade – Disse Thorin irritado com a última parte do que eu disse e pelo meu desdém.

—Bem, o seu pai me entregou isto para que desse a você, e seu eu escolhi minha própria hora e meu próprio jeito de entrega-lo, você não pode me culpar, considerando a dificuldade que tive em encontra-lo. Seu pai não conseguia se lembrar do próprio nome quando me deu o papel, e nunca me disse o seu, então, afinal, acho que devem me elogiar e agradecer! Aqui está – Gandalf entrega o mapa a Thorin.

—Não entendo – Disse Thorin pegando o mapa das mãos do mago.

— Seu avô — Disse o mago austera e lentamente — Deu o mapa a seu filho por segurança antes de partir para as minas de Moria. Seu pai foi embora para tentar a sorte com o mapa depois que seu avô foi morto, e teve muitas aventuras da pior espécie, mas nunca conseguiu se aproximar da Montanha. Como ele chegou até lá eu não sei, mas encontrei-o aprisionado nas masmorras do Necromante.

— O que é um necromante? — Perguntei olhando para os anões próximos, Fili e Kili deram com os ombros e mantiveram o olhar em Thorin.

— O que você estava fazendo lá? – Perguntou Thorin arrepiado ao Gandalf, e todos os anões que sabiam a resposta da minha pergunta tremeram.

— Isso não o importa para você. Eu estava descobrindo coisas, como sempre, e era um negócio perigoso e desagradável. Mesmo eu, Gandalf, escapei por pouco. Tentei salvar o seu pai, mas era tarde demais. Ele estava fora de si e tinha se esquecido de quase tudo, a não ser do mapa e da chave.

— Nós nos vingamos há muito tempo dos orcs de Moria — disse Thorin. — Agora devemos pensar no Necromante.

—Não seja maluco! – gritou Gandalf com a burrice de Thorin — Ele é um inimigo acima dos poderes de todos os anões juntos, se eles pudessem ser reunidos de novo dos quatro cantos do mundo. A única coisa que seu pai queria é que o filho dele lesse o mapa e usasse a chave. O dragão e a Montanha são tarefas mais que grandes para você.

— O que é um Necromante? — Perguntei um pouco mais alto, porém fui ignorada mais uma vez.

— Escutem! Escutem! – Falou Bilbo antes de Thorin me responder de forma grosseira.

—Escutar o que? – Todos os anões disseram em uníssono de repente para ele, fazendo com que Bilbo ficasse nervoso e atrapalhado.

— Escutem o que eu tenho a dizer! Bem, gostaria de dizer que vocês devem ir para o leste e dar uma olhada no lugar. Afinal de contas, existe uma Porta Lateral, e os dragões devem dormir de vez em quando, creio eu. Se vocês ficarem sentados à porta tempo suficiente, acho que vão pensar em alguma coisa. E, bem, eu não sei, acho que conversamos muito para uma só noite, se vocês entendem o que quero dizer. Que tal dormir, e acordar cedo, e tudo o mais? Vou lhes oferecer um bom desjejum antes de partirem.

—Antes de partimos, é o que você quer dizer, se não me engano — Disse Thorin. — Você não é o ladrão? E sentar-se à porta não é o seu serviço, sem falar em entrar pela porta? Mas concordo sobre a cama e o desjejum. Eu gosto de seis ovos com presunto, quando vou começar uma viagem: fritos, não cozidos na água, e espero que você não rompa as gemas.

Cada anão fez um pedido sem ao menos agradecer ou pedir com gentileza, o que deixou tanto Bilbo quanto eu irritados com a falta de educação. Após o último anão fazer o pedido, me levantei da mesa.

— Elphaba, não quer nada para o desjejum? — Perguntou Bilbo sorrindo, virei em sua direção.

— O que tiver está bom, obrigada. — Sorriu agradecida. — Bem, irei me deitar. Está tarde e preciso acordar cedo. Espero que por favor, alguém me acorde amanhã antes do desjejum.

— Elphaba, se não se importa. Dormirei com você essa noite. — Comentou Bilbo naturalmente, arregalei os olhos ao ouvir aquilo. — Por favor, não leve a mal o que digo, é que não tenho cama o suficiente para todos... — Bilbo aproximou e sussurrou as últimas palavras no meu ouvido. — É melhor dormir comigo do que com algum desses anões, não acha? Posso ficar no colchonete se assim faz você se sentir mais segura.

— Tudo bem, você cuidou de mim e estou inteira, confio em você pequeno. — Sorriu para ele.

— Vou acomoda-la primeiro, depois regresso para acomodar os outros convidados. — Bilbo sorriu sereno.

Me despeço dos anões com um aceno de mão e deixo o recinto, seguindo Bilbo até o seu quarto. O Hobbit caminha até a cômoda, retirando um embrulho em papel pardo com barbante branco de dentro da gaveta e me entregou. Sorri agradecida sem saber sobre o que se tratava.

— Espero que sirvam. — Ele se acomoda no banquinho de madeira e me olha sorrindo.

— Obrigada. — Agradeço sorrindo e desembrulho o pacote, dentro dele havia algumas mudas de roupas, mais precisamente três vestidos longos e belos, o primeiro era azul marinho com detalhes dourados na seda, o segundo era vermelho com adornos brancos e fitas no busto de coração, o terceiro era branco com tons de preto e vermelho nas mangas e barras. Todos simples e belos. — Muito obrigada, de coração.

—De nada, fico feliz que tenha gostado, agora deixarei você descansar. Terá um longo dia pela frente. — Ele levantou do banquinho e caminhou até a porta. — Boa noite, Elph.

— Boa noite, Bilbo. — Deitei na cama e me cobri. Foi naquele momento que caiu a ficha, estive com a camisola de estopa o tempo todo durante a reunião com os anões. Minhas bochechas ruborizam e sinto vontade de morrer outra vez.

Após perceber que eu estava devidamente acomodada, Bilbo veja a porta do quarto deixando uma pequena fresta, virei para o lado da janela e fechei os olhos. Tentando entender todas as coisas que estavam acontecendo e torcendo para que esse momento não tivesse passado de um sonho. A última coisa que pretendia era viver algo parecido com o filme "A Origem" com o Leonardo Di Caprio, minha dúvida, será que um dia ele ganhará um Oscar? Jamais saberei. Enfim, tentei não me movimentar muito na cama enquanto esperava pelo sono, a ansiedade me tomava, assim como o medo de nunca mais poder voltar para casa, um medo com o qual tive que aprender a conviver.

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