⠀ ⠀ ⠀ ⠀ ⠀ ⠀⩩⦙ 𝒊𝒊. 𝑨𝒏𝒐̃𝒆𝒔 𝒑𝒐𝒓 𝒕𝒐𝒅𝒂 𝒑𝒂𝒓𝒕𝒆
Durante muitos anos me considerei uma pessoa metódica, sempre gostei de estar á frente de qualquer tipo de situação, surpresas faziam parte dos meus piores pesadelos e detestava quando as coisas não estavam sobre meu controle. Moldei planos de como seria minha vida, possuindo o alfabeto inteiro programado caso o propósito principal falhasse miseravelmente. E a partir do momento que temos um propósito de vida perfeita preparado cometemos o erro de criar expectativas. Expectativas que os caminhos serão iluminados, que as pessoas vão cooperar, que faremos a diferença e deixaremos uma marca no mundo. Grandes expectativas sobre onde iremos e o que seremos.
O problema com os planos é que eles não nos preparam para o inesperado. E quando a vida nos passa uma rasteira, temos o sentimento de que fomos roubados, de que as coisas serão incapazes de serem resolvidas e tudo será ladeira a baixo. Acontece que, as vezes, o inesperado é melhor do que qualquer programação prévia, fazendo com que a vida planejada pareça desinteressante e sem cor. Faz com que você se questione sobre os motivos de apego as expectativas. No fim o inesperado consegue ser mais firme e empolgante. Com isso tirei a seguinte lição: O esperado é somente o começo, enquanto o inesperado é o que realmente molda quem realmente nos tornamos, é ele que molda as nossas vidas.
Bem, meu querido amigo leitor, é exatamente nesse momento que a minha aventura começa. Após um incidente totalmente inesperado.
Como se tivesse misturado todas as bebidas existentes na adega do meu pai em uma única noite, acordei com a sensação de que minha cabeça fosse explodir a qualquer momento e meus miolos seriam espalhados pelo quarto mal iluminado que me encontrava. As lembranças do momento do acidente e de minha vida passada estavam confusas, como se estivesse acordando de um sonho confuso onde a realidade e a fantasia se encontram e não podemos destingui-las.
Sentei com dificuldades sobre a cama macia, encostando as costas na cabeceira de madeira e pisquei os olhos algumas vezes com certa força, demorando para me acostumar com a pouca claridade do ambiente. Do outro lado da porta fechada, podia ser ouvido vozes masculinas animadas, como se estivessem numa grande festa.
― Esse não é o meu quarto ― Resmunguei admirando o recinto.
O quarto era rústico, bem organizado e cheio de móveis de madeira com adornos delicados, as costinas brancas enfeitavam a janela e movimentavam sutilmente com a brisa delicada que entrava pela janela.
Puxei as coberta para o lado enquanto levantava da cama e olhei minhas vestes, estava utilizando uma camisola branca com caimento até os joelhos e mangas compridas, no busto haviam alguns fios trançados que foram amarrados de mal jeito, como se a pessoa que me vestiu tivesse feito tudo às pressas.
Sentindo-me um pouco tonta, caminhei até a porta perfeitamente redonda e a abri vagarosamente, no fundo temia com o que poderia encontrar do outro lado. Me deparei com um corredor comprido e cheio de portas redondas idênticas do quarto. "Onde raios estou?" perguntei mentalmente enquanto seguia a direção dos ruídos.
As coisas ficaram ainda mais confusas com a cena surpreendente que me deparei no final do corredor. Vários homens barbudos, "baixinhos" e troncudos caminhavam pelo corredor, entrando e saindo de algumas alas da casa. O recinto lembrava uma casa de bonecas, como se tivesse sido feita por encomenda para alguém do meu tamanho. Um homenzinho de pés peludos e bem vestido ditava ordens para os homens parrudos, os quais o ignoravam por completo. Próximo a eles, assistindo a cena com um sorriso divertido na face, estava outro homem, este maior que os outros, trajado com roupas cinzentas e uma gigantesca barba branca. Lembrava um certo feiticeiro fantasioso de meu mundo, o que me fez rir fraco com a cena curiosa.
―Elphaba! Não sabe o quanto estou feliz por te ver acordada. ― Falou a menor das criaturas com um sorriso genuino de alívio estampado na face.
― Como sabe o meu nome? ― Perguntei surpresa, afinal não conhecia ninguém naquela casa e lugar.
― Ora, Elph! Você não se recorda? ― O pequeno parecia desapontado.
― Desculpe, mas não sei quem é você. ― Andei alguns passos para trás, batendo com as costas no senhor barbudo. ― Desculpa
― Elphaba, como está se sentindo? ― Ele perguntou abrindo um largo sorriso.
― Confusa, perdida. ― Comentei sem esconder o tom sarcástico de minha voz. ― Onde eu estou e quem são eles, diretor Dumbledore?
― Você está no Bolsão, uma toca de Hobbit localizada no Condado. ― Explicou o homem com serenidade. ― E já te expliquei que eu sou Gandalf, o mago Cinzento. E Gandalf significa, eu.
― Hum... O que é um Hobbit? ― Perguntei franzindo o cenho e levemente decepcionada por aquele mago não ser uma figura conhecida do meu imaginário.
― Eu sou um Hobbit, Elphaba. ― Disse Bilbo como se aquela fosse a pergunta mais idiota que já fiz em minha vida. ― Não, não, não... Devolva isso.
― E o que são eles? ― Perguntei ao mago enquanto apontava os homens barbudos de maneira discreta.
― São anões, membros da companhia de Thorin Escudo de Carvalho. ―Respondeu o mago olhando por cima da cabeça de cada um deles.
― Como eu cheguei aqui? ― Olhei confusa ao meu redor, nenhum daqueles rosto eram conhecidos e as respostas só faziam com que ficasse ainda mais perdida.
― Essa é uma longa história. Creio que o Bilbo conte melhor o que aconteceu. ― Olhei do mago para o Hobbit, o qual estava muito ocupado impedindo os anões de arruinarem sua casa. Voltei a encarar Gandalf, como se implorasse por uma explicação. ― Tudo bem, direi a você. Bilbo a encontrou as margens da floresta no dia que eu o visitei, suas roupas estavam sujas de sangue e você dizia coisas sobre um acidente de carro, ou carroça. Estava muito ferida, sabendo apenas o seu nome.
― Acidente de carro... Isso significa que eu... Que eu... ― Um nó foi formado em minha garganta, aquele definitivamente não era o céu que havia programado durante toda minha educação religiosa. ― Impossível, não... Isso é... Não...
― Está se lembrando? ― Perguntou o mago cheio de esperança.
― Não posso ter morrido. ― Gritei revoltada, atraindo a atenção de alguns anões que olharam curiosos em minha direção. ― Aposto que é um sonho, isso tudo não passa de um sonho. Estão me dando drogas muito fortes no hospital.
― Elphaba...
― Dor, isso... A dor vai me acordar, sempre acordo dos meus sonhos assim. ― Ignorei o chamado do Gandalf.
O mago que conhecia em meu mundo disse uma vez que para uma mente bem estruturada a morte é apenas uma passagem. Porém a última coisa que aceitava crer era que estava morta, pelo menos em meu mundo, e que aquela era a minha passagem, que a vida que conhecia havia acabado para sempre.
Corri até a mesa de jantar onde alguns anões estavam ceiando e tomei o garfo da mão do anão mais próximo. Apoiei a minha mão sobre a mesa de maneira e, sem hesitar, a perfurei com o garfo, deixando todos que assistiam a cena boquiabertos. Entretando não estava preparada com as sensações que vieram a seguir. Senti o sangue quente escorrer por minha mão através dos furos do talhes, assim como senti a dor lascinante que fez meu estômago embrulhar. Aos prantos soltei um grito estridente, os anões que estavam a mesa levantaram para me socorrer enquanto os outros aproximaram curiosos, me encarando como se fosse uma lunática.
― Garota, o que deu em você? ― Perguntou o anão de barbas azuis, ele retirou o garfo que estava cravado em minha mão, o puxando sem dó para cima.
― Deixe-me ajuda-la. ― Disse outro anão, esse possuía barbas brancas e utilizava um tipo de corneta para ouvir melhor o que os outros diziam. Ele retirou uma pomada malcheirosa e um lenço branco do seu alforje. ― Vai arder um pouco, mas é necessário.
Urrei quando ele passou a pomada amarela sobre meus ferimentos, aquela era a pior dor que havia sentido em toda minha vida, nem a dor do acidente foi a mesma que a do garfo perfurando minha mão sendo seguido do ardume da pomada. Após passar o unguento, ele amarrou firmemente um lenço branco que rapidamente ficou manchado de pomada e sangue.
― Não, não, não... Eu não posso ter morrido. ― Minhas pernas amoleceram e cai de joelhos no chão, chorando com mais força e dessespero.
― Você está...
― Não encosta em mim. ― Empurrei a mão de um dos anões antes que ele pudesse tocar em meu ombro e levantei do chão. ― Eu preciso de um pouco de ar...
Corri alguns metros até encontrar a saída. Quando abri a porta me deparei com o líder do grupo dos anões, ele possuía cabelos e barbas negras e me encarava confuso. Ignorando seus títulos ou posição, o empurrei com grosseria para lado para que pudesse passar e sentei no banco de madeira próximo ao portão.
― Quem é a garota, e o que deu nela? ― Perguntou o anão aos companheiros.
― Ela só precisa de um tempo para pensar. ― Gandalf respondeu fechando a porta da casa, me deixando do lado de fora.
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