xvi. the things we do when we're together
CAPÍTULO DEZESSEIS
the things we do when we're together
O BECO, ANTES VAZIO, FOI OCUPADO POR DOIS BRUXOS QUE SURGIRAM DEVIDO A UMA APARATAÇÃO NO LOCAL. Daphne passou uma mão pelos cabelos e examinou os dois lados, assim como Regulus também o fez. Dificilmente eles encontrariam algum outro aluno de Hogwarts na Travessa do Tranco, mas era bom evitar qualquer constrangimento, principalmente quando não sabiam o que exatamente faziam ali.
A Travessa do Tranco era uma pequena passagem que ficava atrás do Beco Diagonal, próxima ao Banco Gringotes. O lugar sempre foi escuro e sombrio e ali se encontravam as Lojas que se dedicavam às Artes das Trevas. Uma das principais e mais conhecida das lojas era a Borgin e Burkes, para onde os dois sonserinos estavam indo.
Quando um bruxo adulto surgiu no pequeno corredor e encarou os dois jovens enquanto passavam, Daphne segurou com força a pequena caixa que levava em mãos, e sentiu Regulus entrelaçar seus dedos da mão livre, encarando o bruxo desconhecido de volta.
Logo eles se viram próximos a Borgin e Burkes, a loja de antiguidades localizada no 13B. Já nas vitrines podiam se ver Máscaras Horripilantes, Poções Venenosas, Olhos de criaturas desconhecidas pelos jovens e frascos com Aranhas. Daphne gostaria de saber o que fez sua mãe manda-la até aquele lugar. Os proprietários da loja eram conhecidos por lidarem com artefatos bruxos incomuns e antigos, devido às intenções sinistras de muitos de seus clientes desonestos, bem como a natureza gananciosa des seus fundadores.
Mas a menina não acreditava que seus pais fossem desonestos... bem, não sempre.
Na fachada da loja, Regulus soltou a mão de Daphne ao perceber que haviam ficado bastante tempo de mãos dadas.
─ Nós dois entramos? ─ a menina perguntou, deixando o constrangimento para outro momento.
─ Nós dois ─ respondeu Regulus.
Havia um rapaz, talvez uns três anos mais velho que Daphne e Regulus, observando alguma coisa nas prateleiras, hora ou outra ele voltava para o Baralhos de Cartas Amaldiçoadas e para a Mão da Glória. Regulus foi diretamente para a recepção, Daphne só o seguiu quando percebeu que olhava demais para o rapaz reconhecido e ele a encarou por isso.
─ Daphne Armstrong, sim? ─ um bruxo mais velho surgiu de uma sala escondida. Ele abriu uma cortina. ─ Venham, venham para cá. Seus pais avisaram que viriam logo. Kurt, cuide da loja por enquanto.
Borgin tomou as duas caixas, uma das mãos de Daphne e a outra de Regulus, quando eles entraram na salinha.
─ Por que estamos aqui? ─ perguntou Daphne, observando o mais velho colocar as duas caixas numa mesa de madeira e abri-las com o toque suave de uma varinha.
O bruxo não a respondeu. Uma das caixas foi aberta e os três puderam ver um livro de capa dura e velha. Regulus fez menção de toca-lo, mas acabou levando um tapa na mão.
─ O que acha que está fazendo garoto? ─ disse Borgin ─ Quer cometer suicídio?
Regulus recolheu a mão e revirou os olhos. Borgin fez um leve gesto com a varinha e o livro abriu-se, mostrando diversas folhas em branco.
─ Se tocar qualquer parte de seu corpo nisso, você morre ─ Borgin olhou para os dois adolescentes, ─ em algumas horas.
─ E eu tinha isso na minha casa? Simples assim? ─ Daphne perguntou, de cenho franzido.
─ Simples assim ─ o dono da loja respondeu, fechando o livro e a caixa, em seguida pegou a segunda caixa. ─ A senhora Armstrong enviou dois? Bem, vejamos então.
No momento em que a próxima caixa foi aberta, Daphne sentiu o clima esfriar assustadoramente. Regulus provavelmente também sentiu, pois abraçou o próprio corpo. E os dois observaram.
─ Ah, esse!
Borgin levitou a pulseira fina, prateada e com pedrinhas roxas. Daphne teve a impressão de ter visto uma fumaça escura ao redor da pulseira, mas ao piscar, ela desapareceu, e Borgin a colocou dentro de uma caixa baú pequena em outra mesa. Então a sensação de iminente perigo evaporou no instante em que o baú foi lacrado.
─ Por que isso estava na minha casa?
Borgin franziu a testa com a frase da única garota da sala, mas falou.
─ O Ministério fará uma inspeção na sua casa. Acha mesmo que o Sr. Armstrong já está distante da mente de Bartô Crouch Sr? Crouch deve dormir sonhando com o dia em que prenderá seu pai e que manterá ele preso.
─ E o que você sabe sobre isso? ─ mais uma vez, Daphne perguntou.
─ O mesmo que você. Nada. Agora avise sua mãe que o preço será um pouco mais alto que o combinado, afinal, ela disse que me enviaria apenas um.
Daphne assentiu e puxou Regulus para fora da loja, de volta para a Travessa do Tranco.
๑
Daphne olhou para o relógio na sala de estar, onde estava sozinha. Passava de meia-noite e seus pais provavelmente já estavam dormindo depois de um dia excecionalmente longo depois da ordem de inspeção exercida por Bartolomeu Crouch Sr; o que fez Felicity ficar bastante entediada enquanto recebia tantos funcionários do Ministério da Magia em sua própria casa.
A garota Armstrong mais jovem se levantou e foi até a porta do escritório de seu pai, Richard. Ela olhou em volta e silenciosamente abriu a porta. O que foi apresentado foi um lugar comum, com uma mesa com gavetas, uma cadeira e prateleiras cheias de livros grossos e finos.
Desde que se tornou uma comensal da morte, Daphne havia pensado e repensado diversas e diversas vezes sobre uma coisa: Sua própria mente. E naquele local devia existir um livro que a ajudasse na defesa da mente, que a ajudasse em Oclumência. Havia dois lados e ela não queria que nenhum deles invadisse sua cabeça.
Além do mais, Voldemort era um excelente legimente e Daphne não imaginava o que podia acontecer no futuro, mas ela sabia que não queria aquele bruxo lendo sua mente. E, se alguém em Hogwarts descobrisse o que ela agora era, também não seria agradável ter Dumbledore a lendo.
"A defesa mágica da mente contra penetração externa. Um ramo obscuro da magia, mas extremamente útil." Ela leu em um dos livros, ao abri-lo na primeira página.
Daphne fechou o livro e o levou para fora do escritório. Ao chegar em seu quarto, trancou a porta e ascendeu o abaju, apoiando as costas na cabeceira da cama.
A forma mais básica de oclumência, a julgar pelas informações do livro que lia, envolvia manter a mente limpa, "esvazia-la", evitar que os legilimentes percebessem as emoções e pensamentos.
A oclumência mais avançada envolvia a supressão apenas dos pensamentos, emoções e lembranças que contradizessem o que quer que fosse um Oclumente que os legimentes acreditassem. Requeria muita força de vontade, como resistir à Maldição Imperius, assim como um excelente e alto grau de disciplina mental e emocional.
─ Disciplina mental e emocional ─ Daphne zombou de si própria. ─ Vai ser mais difícil do que eu pensei.
Uma das informações e lições mais interessantes para Daphne, foi que a Oclumência também era um método de resistir à influência da poção Veritaserum.
As cinco da manhã, depois de fechar aquele enorme livro em seu colo, Daphne fez duas escolhas. Ela precisava e iria atrás de um Legimentes confiável; o único problema era que não confiava em ninguém que não fosse Nikolai ou Regulus, e nenhum dos dois era legimentes.
Sua outra escolha, após os raios de sol invadirem sua janela, era dormir. Em algumas horas, ela e Regulus iriam sair para ver a casa que provavelmente seria sua no futuro.
๑
Daphne sentia que aquilo era a coisa mais estranha que fazia em toda a sua vida.
Era uma bela casa, espaçosa e com um enorme jardim repleto de flores diversas. A princípio, o portão de ferro forjado era alto e seguro, o esguio verde da grama criando um clima agradável para qualquer um que estivesse prestes a entrar pela porta da frente. O lote do terreno era enorme e a casa ficava no meio, rodeada de plantas verdes e coloridas e a fonte quase idêntica à da casa dos Armstrong. Isso tornava fácil entrar no quintal sem realmente entrar e passar pela casa.
─ Você também está achando isso tudo esquisito? ─ Regulus Black se aproximou de Daphne, que estava parada encarando o gramado.
─ Acho que devíamos ter um cachorro ─ disse ela, mais alto do que desejou.
Regulus a encarou, a confusão estampada no rosto, mas não teve chance de perguntar quando o portão principal foi aberto por Nikolai.
─ Essa casa é distante de qualquer coisa! ─ gritou Nikolai do portão ─ E eu ainda tenho que andar tudo isso até chegar até vocês? Tem certeza que vão morar aqui? Se Daph tentar te matar, Regulus, não vai conseguir ajuda tão fácil e ninguém vai ouvir seus gritos.
Regulus olhou de Nikolai para Daphne.
─ É o que eu estou planejando ─ ela abriu um sorriso zombeteiro para ele. ─ Vou te matar enquanto você dorme e ficar com toda a sua herança.
─ Talvez eu esteja com um leve medo ─ disse Regulus, gesticulando para Nikolai e Daphne acompanha-lo para dentro da casa.
Eles já haviam visto todos os cômodos daquele local, mas claramente Nikolai também gostaria de vê-los.
A sala possuía poucos móveis forrados por panos brancos, caso essa fosse a casa escolhida outros chegariam logo. E era provável que os dois jovens não trabalhassem mais a procura de outra moradia. Aquela parecia boa.
─ Cinco quartos, uma suíte, dois banheiros, uma sala de estar, a cozinha, uma sala para Daphne pintar, sala de jantar e um escritório ─ disse Regulus, parando no centro da sala principal. ─ Ah, além das duas áreas, claro. E uma piscina que nunca vamos usar ─ Daphne assentiu com a cabeça, pelo menos concordavam nisso.
─ Vocês estão tão humildes ─ Schenker ironizou, enquanto subiam as escadas para o próximo andar. ─ Que medo.
─ Aquele quarto à direita, após um dos banheiros, é o seu ─ Black apontou para uma porta no fim do corredor.
Daphne e Nikolai franziram o cenho ao olhar da porta para Regulus. Ela estava surpresa demais, eles não tinham conversado sobre isso.
─ Espera ─ Nikolai piscou algumas vezes, rápido demais. ─ Eu tenho um quarto aqui?
Regulus disfarçou, virando o rosto e caminhando na direção do quarto de Nikolai.
─ Você nunca vai nos deixar em paz, então por que não?
Armstrong e Schenker trocaram um olhar e um sorrisinho maroto. Nikolai correu até a porta do quarto, mas antes passou uma mão pelo ombro de Regulus.
─ Isso é legal, cunhado! Valeu, cara!
Regulus e Daphne se olharam rapidamente.
Nikolai era extremamente importante para ela, ele estava feliz e Regulus era o culpado disso. Ela queria abraça-los juntos, mas sabia que não teria reação alguma depois disso.
Nik abriu a porta. O quarto ainda estava vazio, assim como a maioria dos outros cômodos, mas ele imaginou e fez questão de dizer onde ficaria cada móvel que ele compraria no futuro.
─ É bom saber que não vou precisar dormir no sofá ou em um colchão quando vier visitar vocês.
O restante da tarde passou rápido demais. Nikolai os deixou algumas horas depois, havia combinado de sair com Emma para jantar.
Daphne e Regulus se sentaram nos bancos de madeira que haviam próximos a fonte enquanto o sol se punha.
─ Você questionou sua mãe sobre os objetos? ─ perguntou ele, enquanto brincava com alguns passarinhos convocados da varinha de Daphne.
─ Acha mesmo que ela ia me responder? ─ ela não respondeu chateada.
─ Se quiser posso te contar sobre a pulseira ─ disse Regulus, virando-se até encarar Daphne nos olhos. ─ Reconheci a peça e sei bem pouco sobre a origem ─ a garota assentiu, para que ele continuasse. ─ Era uma das bijuterias da Dama de Sangue. Não sei muito sobre a bruxa, mas sei que estava prestes a casar. Então seu noivo foi assinado pelo pai dela, que era contra o casamento pelo fato do noivo ser um nascido trouxa.
─ E o que tudo isso tem a ver com a pulseira? ─ Daphne perguntou, interessada.
─ Horas depois do velório, a mulher desenterrou o noivo e usou uma magia muito antiga e poderosa naquela pulseira. Uma pulseira que o noivo havia dado para ela quando vivo, e uma magia sombria que devia trazer ele de volta dos mortos ─ Regulus ergueu um braço quando um dos passarinhos pousou acima de sua mão. ─ Então ele voltou. Dois dias depois a matou e se suicidou, a levando com ele para o submundo.
Assim que Regulus concluiu sua história, os passarinhos que voavam ao redor dos dois e que pousavam por perto, desapareceram em uma famaça esverdeada. Daphne guardou a varinha no bolso do casaco, abraçando o proprio corpo.
─ Mas isso é só uma lenda ─ o garoto observou Daphne. ─ É impossível trazer alguém de volta dos mortos.
─ O que aconteceria se tocassemos na pulseira? Morreriamos?
─ A lenda diz que quando um bruxo que perdeu alguém toca nesse objeto com alguma parte do corpo, a mente embaralha de forma deformada por alguns minutos, insistindo no pensamento da perda. É quando ele enlouquece e tenta usar a pulseira para trazer a pessoa que perdeu de volta dos mortos. Só não entendo como é possível...
─ Eu não tenho uma perda drástica ─ Daphne pensou em voz alta. ─ Por que mamãe disse para não tocar?
─ Henry Armstrong ─ ele disse, Daphne imediatamente encarou Regulus. ─ Talvez ela pensou que, se tocasse, gostaria de trazer seu tio-avô de volta.
Daphne assentiu. Talvez ela também acreditasse nisso.
─ Eu o amava, mas aceito que ele morreu, não usaria a pulseira para trazê-lo de volta.
─ Bem, talvez seus pais pudessem se sentir tentados com a proposta e pensassem que você também.
─ Não ─ Daphne negou com a cabeça, ─ eu nunca traria alguém de volta, não com essas consequências.
─ É ─ Regulus concordou, observando o sol desaparecer lentamente. ─ Mas nada disso é verdade. Apenas lendas.
๑
Como Richard não estava em casa, Daphne passou a manhã inteira em seu escritório, procurando e lendo sobre feitiços que Hogwarts não ensinava seus alunos. E haviam muitos em livros encapados e antigos. Feitiços de desarmamento, curas, ataques, defesas... e maldições.
De início evitou ler sobre magia das trevas nível um, mas logo foi tentada. Ela se sentiria envergonhada se tivesse a companhia de alguém, mas ninguém precisava saber. Não era nada extremamente sombrio, eram mais como feitiços de torturas ou algo parecido com Imperius quando o bruxo gostaria que alguém o obedecesse. Livros semelhantes a esse estavam escondidos atrás de capas aparentemente comuns na estante de Richard.
Quando começou a se sentir estranha por ler aquele tipo de conteúdo, Daphne fechou os livros e colocou novamente entre os outros, mas os marcando na memória, caso quisesse reler algum parágrafo.
E ela não devia, mas sentou-se na cadeira de seu pai e começou a mexer no que havia nas gavetas. Era uma garota curiosa. Talvez existisse alguma pista sobre Oclumência, sobre o que Richard fazia quando estava fora, ou, quem sabe, Daphne pensou, sobre como derrotar o bruxo mais temido de todos.
Ela respirou fundo com os próprios pensamentos. Eu não sou ninguém, nunca conseguiria e nunca tentarei mesmo.
Ao ouvir alguém entrar na casa pela porta principal, Daphne levantou-se subitamente, fechando a gaveta da mesa do escritório, só teve tempo de ler a palavra "Merlin" em um dos livros. Devia ser algo relacionado ao bruxo poderosíssimo, mas não era agora que ela teria certeza.
─ Daphne? ─ Richard a observou de frente a estante do escritório. ─ O que está fazendo?
─ Passando o tempo? ─ ela abriu um sorrisinho, apontando para as prateleiras.
─ Anda ─ o mais velho concedeu espaço na porta do escritório. ─ Vamos almoçar.
๑
Duas semanas haviam passado desde que Daphne invadiu o escritório de seu pai sem permissão. Apesar de não ter recebido sermão algum, sabia que Richard agora estava observando um pouco mais sobre os livros que ela tirava de sua estante. Ela até percebeu que haviam três espaços vazios, ou seja, ele havia retirado alguns, entre eles, o de Oclumência.
Mas isso não importava. A memória de Daphne era excelente ── na maioria das vezes ── e ela recordava de muito do que leu. Precisava de um legimente, alguém em quem confiasse... ou alguém que pudesse temer suas ameaças; um dos dois funcionaria.
A menina tomou um susto no momento em que Linky bateu na porta do quarto. Ela permitiu que o elfo entrasse, trazendo alguns cobertores dobrados e flutuantes.
─ A Sra. Armstrong perguntou se a senhorita quer se juntar a ela e a Sra. Black para tomar um chá ─ Linky disse, após deixar os cobertores aos pés da cama como instruído por Daphne.
─ Walburga está aqui? ─ a garota perguntou, curiosa.
─ Isso mesmo, senhorita.
─ Diga que eu sai, por favor.
─ A senhorita Daphne vai sair?
─ Sim, mas quero que diga que eu já sai ─ Daphne levantou-se e tirou uma capa de seu guarda roupas, ─ e você não sabe para onde fui.
Linky assentiu e parou na porta quando ouviu a garota dizer seu nome.
─ Mais alguma coisa, senhorita?
─ Sim, deixe o chá de Walburga com um sabor bem ruim ─ respondeu Daphne, vestindo a capa.
Linky fez uma reverência e, sem questionar, se retirou.
๑
Monstro puxou a capa que Daphne vestia com muita força. Provavelmente não foi proposital, mas ela precisou se inclinar um pouco ao entrega-la.
─ O meu senhor e a minha senhora estão fora, mas o mestre Regulus está no quarto no momento ─ disse o elfo dos Black após pendurar a capa da recém chegada.
Daphne não teve tempo de agradecer, Monstro saiu rapidamente, a deixando sozinha naquele enorme corredor. Regulus havia dito uma vez que o elfo tinha permissão de deixa-la entrar na casa quando o próprio Regulus tivesse. Regras de Walburga, que não queria alguém que (ainda) não era da família invadindo a casa dos nobres Black.
Tentando ignorar aquele estranho costume de pendurar cabeças entalhadas de elfos nas paredes, Daphne subiu as escadas até finalmente chegar a porta de um quarto, onde havia escrito "Regulus Arcturus Black".
Como da última vez, estava entreaberta e ela conseguia vê-lo.
Regulus estava em pé, os cabelos um pouco maiores, espetados e mal comportados. Vestia uma calça que provavelmente era conjunto de um pijama, e uma camisa preta de manga longa e botões todos abertos. E, estranhamente, ele segurava um carrinho de brinquedo. Era a primeira vez que Daphne o via desarrumado, comum, sem roupas chiques ou sem parecer tão importante. E seu coração estava batendo forte demais em seu peito.
─ Oi ─ então ela abriu a porta.
Regulus ajustou a postura no mesmo instante e largou o objeto que segurava na cama.
─ Ah, Aurora ─ ele passou uma mão pelos cabelos, em seguida começou a abotoar a camisa. ─ Me desculpe, eu não sabia que viria.
─ Se eu soubesse, tinha avisado.
Regulus se virou na direção do espelho, buscando algum defeito em seu reflexo que pudesse concertar rapidamente. Daphne se encostou na porta, com um tropeço para trás, a fechou sem intenção. O garoto pareceu não perceber enquanto agora tirava diversos livros e papéis da cama.
─ Sente-se aqui, por favor.
Realmente a cama de Regulus era a única coisa desarrumada naquele local. Seu quarto era arrumado, limpo e tinha o cheiro amadeirado do perfume.
─ Obrigada ─ Daphne agradeceu ao sentar-se.
─ Achei que ficaria o restante das ferias sem vê-la ─ disse ele, sentando ao lado dela.
─ Não mesmo, acho que minha casa está repleta de objetos enfeitiçados com magia das trevas, eu realmente precisava sair.
Ele riu.
─ E mamãe está lá ─ Regulus completou. Daphne assentiu, mas ele não pareceu chateado. Não tinha como ficar, ela estava onde ele queria: perto dele. ─ Mas eu aviso de antemão que aqui é extremamente tedioso.
Daphne pegou o carrinho do outro lado da cama.
─ Você tem uma boa companhia ─ disse ela, colocando o carrinho na frente do rosto dele. ─ O senhor Carro.
─ Não zombe de mim ─ ele revirou os olhos, mas acabou rindo. ─ Ganhei isso quando criança, fazíamos ele voar como se fosse um avião.
"Fazíamos". Provavelmente Sirius e ele, mas Daphne achou melhor não alongar esse assunto.
─ Estou aqui para te tirar do tédio com conversas idiotas.
─ Então vamos conversar ─ Regulus tomou o carrinho da mão dela, caminhando até uma escrivaninha e o deixando lá, no lugarzinho dele.
─ Não sei ─ Daphne fez uma careta, ─ sobre o que você quer conversar?
─ Sobre nosso beijo.
Regulus estava sério quando voltou e olhou para ela. Daphne tentou pensar no que dizer.
─ O que tem nosso beijo?
Ele não conseguiu evitar um pequeno sorriso no rosto ao ouvi-la, então sentou-se outra vez e passou uma mão delicadamente por uma bochecha dela.
─ Sabe quando você quer tanto uma coisa, mas não tem coragem de assumir isso? Um desejo profundo do seu coração, você imploraria... Mas simplesmente não consegue.
─ E isso é sobre o que exatamente? ─ Daphne perguntou, tentando ao máximo não se aproximar.
─ Sobre a gente ─ Regulus disse, ─ sobre como você sente vontade de me beijar outra vez.
Alguns segundos de silêncio foram interrompidos pela risada de Daphne. Realmente não acreditava que ele havia dito isso.
─ Eu? Claro que sim ─ ela zombou, com uma voz irritante, apenas para rir dele. E se ajoelhou na cama, colocando uma mão no peito. ─ Eu morro de vontade de te beijar novamente, é só nisso que eu penso, oh, Regulus Black, se você soubesse como...
Sua ironia foi interrompida quando Regulus a pegou pela nuca e a silenciou com os lábios. Os olhos de Daphne se arregalaram quando isso aconteceu, mas foi rápido e fácil relaxar quando ele se aproximou um pouco mais sem parar de beijá-la.
O clima frio de sempre pareceu esquentar quando ela agarrou os cabelos de Regulus com força e permitiu que as mãos dele passeassem para baixo respeitosa e lentamente. Então, sem interromper o beijo e ligeiramente embriagado, Regulus indicou com toques e ajudou para que Daphne sentasse em seu colo.
A camisa de Regulus era macia e agradável quando ela tocou no peito dele sobre o tecido. Aquele era um dos momentos em que nenhum dos dois desejavam pensar sobre o que estava acontecendo. Afinal, Regulus só pensava em como Daphne era uma incrível companhia, em como ela era linda e inteligente. Em como ela fazia seu coração disparar com apenas um toque, com um beijo.
Então ele parou, afastando seus rostos, fixando os olhos nela.
─ O que foi? ─ ela sorriu sem graça, buscando passar uma mão pelos cabelos.
Regulus segurou a mão dela delicadamente.
─ Nada ─ disse ele. ─ É só que... estou feliz que esteja aqui.
Ela ainda estava sorrindo, dessa vez um pouco mais segura.
─ Eu também, Reggie.
─ Reggie?
─ É ─ ela respondeu. Ele fechou os olhos ao sentir a mão de Daphne alisar seus cabelos para trás. ─ Você gostou?
Ele assentiu duas vezes, ainda de olhos fechados. Ela havia arranjado um apelido para ele. Regulus não fazia ideia de como eles estavam conversando daquela maneira, mas era bom... tão bom. Enfim abriu os olhos, percebendo que Daphne ainda sorria, fazendo algum penteado bem estranho nos cabelos dele.
Ele se aproximou, depositando um selinho nos lábios dela.
─ Isso é bom, não é? ─ ele sussurrou, aproximando seus rostos lenta e novamente. Ela assentiu, mirando os olhos e a boca dele.
Regulus a beijou na bochecha, em seguida no queixo. Daphne se inclinou sobre o corpo dele quando sentiu os lábios em seu pescoço. Ele segurou em seu quadril. Era extremamente difícil descrever tantas coisas que sentiam. Corações acelerados, formigamentos. Regulus queria dizer para ela, queria dizer que...
─ Regulus ─ Daphne murmurou, tentando se afastar ao ver algo que não gostaria, ─ espera.
Ele a deixou, tirando as mãos dela. Ela se afastou, sentando na cama mais uma vez.
─ Tudo bem? ─ franzido a testa, ele perguntou.
─ Tudo bem ─ ela respondeu sem graça, tentando não se sentir idiota. ─ É só que...
Daphne desviou o olhar e Regulus o acompanhou até a escrivaninha, ou melhor, até a caixa entreaberta que ele possuía sobre ela.
─ Merda ─ ele sibilou, caminhando até lá. ─ Me desculpe.
Havia uma primeira página de um jornal do Profeta Diário, onde era bem visível as palavras: Comensais da Morte e Você-Sabe-Quem, seguidas de dezenas de assassinatos de trouxas por Londres. Regulus tirou o profeta diário e o amassou, jogando-o na lixeira do quarto.
De repente Daphne se levantou em um pulo.
─ Eu não devia ter vindo até aqui sem avisar, eu...
─ Não! ─ Regulus a interrompeu alto demais. Ele balançou a cabeça. ─ Você devia sim, sempre que quiser, será sempre bem vinda.
A garota levantou uma sobrancelha.
─ Contanto que seus pais não estejam.
Regulus riu. Mas sabia que não teria mais coragem de dizer a ela o que tanto queria.
De dizer que era apaixonado por Daphne.
Não sei se existe alguma lenda que tenha o nome Dama de Sangue. Tudo o que escrevi veio da minha própria cabeça. Então, caso vocês conheçam alguma lenda parecida, ou alguma fanfic que tenha usado algo parecido, foi tudo coincidência, mas me digam e darei o devido crédito.
Vocês gostaram do capítulo??? :)
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