𝟬𝟭. 𝗘𝗨 𝗖𝗢𝗠 𝗖𝗘𝗥𝗧𝗘𝗭𝗔 𝗡𝗔̃𝗢 𝗧𝗘𝗡𝗛𝗢 𝗦𝗢𝗥𝗧𝗘
ELEANOR HARTLEY
As gotas grossas de chuva deslizavam pela minha pele quente, a água presa nos meus cílios ofuscava minha visão e todo o meu ser tremia, mas não de frio, não sabia dizer exatamente o que me fazia tremer de tal maneira, tinha a sensação de que meus ossos eram como gelatina em uma imensidão de sangue e raiva.
Raiva, esse era sentimento responsável por corromper minha existência, por produzir as lágrimas quentes que insistiam em deixar meus olhos, por causar os tremores, as palavras embebidas em veneno despejadas sem cautela contra minha progenitora. Meu coração palpitava dolorosamente, tentando deixar minha caixa torácica, inundado com a culpa. Eu me sentia sozinha nesse momento, sozinha e amedrontada, sendo perseguida por aquele demônio que parecia convicto em me capturar e me possuir, eu ainda podia ouvir seu bater de asas enquanto sobrevoava minha cabeça, o céu de Nova York estava escuro e eu estava isolada.
Tudo bem que eu tinha ela, Abigail, minha mãe. Mas era diferente, ela não conseguia entender o turbilhão de emoções que preenchiam meu ser, a neblina de loucura que pairava sobre minha mente, as coisas que me perseguiam dia após dia, do meu desejo incontrolável por tudo aquilo que eu não poderia e nem deveria fazer. Não posso dizer também que ela era de todo ruim, não, com certeza não, minha mãe é uma boa pessoa, ela apenas não é uma boa mãe. As pessoas a minha volta eram como ela, não me entendiam e me rotulavam sempre como "inabordável", ou "difícil demais para se importar", mas eu não sou assim, não, sou apenas uma criança que não sabe como lidar com a loucura que me consome, com os desejos obscuros que nublam meus pensamentos e com os monstros que me atormentam e atormentam todos que se atrevam a passar mais de uma hora comigo.
Meus pés parecendo saber mais que meu cérebro, me levando em uma direção há muito conhecida e apreciada por mim. Por um momento a calmaria me atinge, ao pensar neles, em Percy e Sally Jackson, minhas bochechas se inflam com um sorriso caloroso ao refletir sobre eles, eu costumava me sentir mais em casa com eles do que na minha própria residência, sentia mais calor nos abraços daquela mulher do que nos que me geraram, me sentia mais confortável em divagar e deixar meus pensamentos fluirem na companhia das únicas pessoas em quem eu confiaria minha vida.
Me pego relembrando do dia em que nos conhecemos, do primeiro sorriso que ele me direcionou e de como no mesmo segundo nossas almas se conectaram em um amizade tão intensa que me deixava extasiada, um formigamento semelhante ao daqueles que consomem bebidas alcoólicas e se sentem mais leves. Muitas vezes me sentia assim, bêbada de alegria sem ingerir uma gota dessa droga.
Antes que eu pudesse ter controle sobre meu equilíbrio, meus joelhos vão de encontro com o cimento chapiscado das calçadas estreitas, minhas bochechas sendo arranhadas pelos fragmentos de sujeira e vidro espalhadas pelo chão, a dor começa a me atingir, até que sou pressionada novamente contra o solo encardido. Meu corpo se enrijece quando longas e curvas garras rasgam o tecido da minha camiseta, levando junto minha pele, o cheiro de podridão queima minhas narinas e sinto o vômito subindo pela minha garganta. A criatura se aproxima ainda mais de mim e sua língua bifurcada e quente desliza pela minha mandíbula até chegar em meu ouvido.
—— Eu tenho estado atrás de você por muito tempo, docinho. Mas confesso que não sei o motivo de meu senhor querer você, seu papai nem é tudo isso. Você é apenas mais uma de suas proles que acabará jogada e bêbada por algum beco. — A criatura diz enquanto ri e me empurra ainda mais para baixo, uma baba quente queimando meu rosto por onde ela passou lambendo.
—— Me diz logo o que você quer comigo, me levar para o inferno com você e virar escrava do diabo? — A resposta malcriada deixa meus lábios antes que eu possa pensar em um jeito melhor para responder, eu agora chorava com a dor das perfurações em minhas costas, não mais com a raiva.
—— Não é a primeira vez que chamam o senhor Hades de diabo, mas infelizmente tenho que te levar viva para ele. Uma pena, sua carne deve ter um gosto delicioso de vinho dos deuses. — A besta vira meu corpo com brutalidade, machucando ainda mais onde suas garras se fincaram. Nossos rostos agora estão a centímetros de distância, sinto o enjoo se tornar cada vez mais difícil de resistir.
Sinto o medo e o desejo de me defender travarem uma luta rápida dentro de mim, fecho os olhos com força, me recusando a deixar com que ela me intimide ainda mais, me forçando a fingir que não estou chorando de medo e de dor. De repente me lembro de onde estou, em um beco de uma bairro não muito seguro, estico meu braço o máximo que consigo, meus dedos se alongando e tateando em busca de uma garrafa de vidro quebrada ou qualquer coisa que pudesse perfurar a carne podre do ser em minha frente e que me desse uma brecha para correr até um policial ou um hospital.
Ela se aproxima ainda mais de mim, a baba venenosa pingando pelo meu queixo e escorrendo pelo pescoço, a carne fritando como bacon em óleo quente. A ponta do meu dedo indicador é espetada, abro meus olhos no mesmo instante, com a cabeça para o lado, agarro rapidamente uma garrafa de cerveja pela metade, meus dedos em um aperto firme em volta do gargalo.
—— Parece que você vai ter que voltar para o inferno sem mim, docinho. — Minhas palavras parecem a confundir, um sorriso provocador aparecendo em meus lábios trêmulos.
Antes que ela pudesse dizer algo, jogo meu braço com força contra a lateral do pescoço da coisa, o vidro estilhaçado adentrando nos nervos, retiro o objeto e o enfio mais um vez, com ainda mais força, ouvindo o grito esganiçado da coisa enquanto ela explodia em milhares de farelos fedendo a putrefação. Finalmente senti meus músculos relaxarem, a tensão e o peso sumindo lentamente enquanto eu me afundava mais no terreno.
Me permiti soltar o ar que estava preso em meus pulmões, inspirando tão profundamente que pensei ter ficado sem ar por mais de uma hora, me tensionei novamente quando senti um par de mãos quentes me sacudindo e uma voz comum a minha memória dizendo meu nome com tamanho prezar que me obriguei a abrir os olhos, encontrando as íris e os cachos castanhos que eu apreciava. Um sorriso caloroso se espalhou por meu rosto quando reconheci sua feição, me jogando sobre os braços abertos em um abraço reconfortante.
—— Grover, como é bom ver você. Não sabe o que acabou de acontecer comigo, juro que minha vida passou pelos meus olhos. — Digo com a voz mais tranquila agora, todos os sentimentos ruins me deixando e dando lugar a minha calmaria costumeira.
—— Eu sei Ellie, é exatamente por isso que vim aqui, para buscar você. Agora temos que correr para achar o Percy. — Senti suas mãos me puxando para cima e gemi de dor, as feridas ainda escorrendo uma fina camada de sangue, latejando. —— Você está legal?
—— Mais ou menos, um demônio enfiou suas unhas nas minhas costas, mas fora isso, estou legal sim.
Grover não parece satisfeito com minha explicação, meu tom de voz calmo não parece acalmar ele também. Ele me entregou seu casaco e eu o vesti, o cheiro comum de Grover coçando meu nariz, começamos a caminhar de maneira um pouco mais lenta, até que me lembrei de algo.
—— Como você sabia que eu não estava na escola? — Questiono com curiosidade, franzindo as sobrancelhas para ele.
—— Bem, você não foi com a gente para o museu porque estava em uma detenção, então o Percy fez uma coisa que ele não devia e eu fiz ele ser expulso. Pois bem, chegou a hora e nos três precisamos ir agora mesmo pro acampamento antes que mais fúrias venham atrás da gente. — Grover parecia apresado com um ciclo de respirações curtas e rápidas, os olhos vagueando para os lados e para trás.
—— O que o Percy fez? Foi com aquela água de salsicha, não foi? — Minha fala é cortada por minha risada em meio a suspiros pungentes e passos lentos.
—— Ele jogou ela em uma fonte, mas sem tocar nela. Você iria rir muito na hora, você sempre ri quando não deve. Você está com muita dor?
—— Pra falar a verdade, está doendo demais. Essa coisa foi a segunda que eu tive que matar, só hoje, Grover. — O obrigo a parar de andar por alguns segundos, me apoiando contra a parede, sentindo meus joelhos tremerem, não aguentando meu próprio peso.
—— Ellie, eu tenho que te contar muita coisa, para você e para o Percy, por isso eu preciso que você continue a andar, mesmo que seja doloroso. — Eu solto uma lufada de ar pela boca, indignada com tantas exigências sem nem menos uma palavra explicativa. —— Por favor, Ellie.
—— Que droga. — Me desencosto da parede, uma leve tontura me provocando a desistir de ir com meu melhor amigo. —— Onde o Jackson está?
—— Com a Sally, perto do Acampamento. — Ele agora parecia mais animado, com um sorriso alegre no rosto, mas então sua felicidade some por alguns segundos. —— Você tem dinheiro para pegar um táxi?
—— Eu devo ter uns trinta dólares, serve? — Disse com uma risada curta, mordendo os lábios, em uma tentativa frustrada se disfarçar o incômodo nas costas.
🍇
Eu estava começando a me arrepender de ter aceitado ouvir Grover e vir com ele para um lugar que eu nunca havia ouvido se quer uma alma viva pronunciar o nome, a tontura que sempre senti parecendo se intensificar a cada segundo que passávamos sentados no banco traseiro de um táxi, meus olhos estavam fixos no vidro fechado do carro, água batendo com violência pela superfície, levanto os olhos para o céu escuro da noite, cobertos por nuvens ainda mais escuras. O ar dentro do veículo estava frio, eu nunca gostei do frio. Sempre amei o calor, o sol, as tardes no parque, quando podíamos sair e passar o dia correndo, dançando ou em algum fliperama barato no Brooklyn.
Minha cabeça descansa sobre o ombro do meu companheiro de viagem, por mais que minhas ideias estivessem emboladas em um emaranhado de fios confusos com perguntas, sentia que esse não era o melhor momento. O que quase me fez rir, eu tinha o dom de dizer coisas e fazer perguntas nos momentos mais inapropriados possíveis, e eu raramente percebia, eu simplesmente não tinha medo de que as pessoas me ouvissem ou não gostassem do que eu tinha a dizer.
Nunca me importei realmente com a opinião alheia, pelo contrário, eu gostava da cara de supresa e desgosto quando me ouviam, isso me divertia, ou então quando me viam metida em algo que uma garota da minha idade não devia estar fazendo. Eu não podia evitar a atração que sentia pelo proibido, a vontade incontrolável de passar minhas noites fora de casa aproveitando tudo de melhor que a noite nova-iorquina pode oferecer para alguém disposto a explorar a tentação. E eu era esse alguém, tudo isso me atiçava, músicas altas, as luzes em tons de neon brilhante, os cheiros de perfumes caros se misturando, as roupas de festa. Eu mal podia esperar para finalmente ter minha maioridade, ir embora de casa e poder fazer o que quisesse.
Fecho os olhos lentamente e uma memória agridoce enche meus sentidos, a primeira vez em que eu assisti a uma corrida de carros em alta velocidade, ainda me lembro do sol quente de verão acima da minha cabeça, o doce aroma do mar italiano misturado com o odor dos pneus se arrastando contra o asfalto me deixando extasiada, os carros passando como jatos de foguetes em nossa frente, balançando os cabelos e provocando gritos e aplausos das milhares de pessoas ali presentes. Essa foi minha primeira grande viagem, junto de minha mãe, sinto falta dessa época, quando éramos verdadeiras amigas, não duas mulheres disputando sabe se lá o que, como agora.
Outra lembrança me consome, desta vez é amarga e me faz franzir o nariz. Nossa primeira grande briga, já era tarde da noite quando ela apareceu na porta da frente, com os cachos bagunçados, a maquiagem borrada, cheirando a cigarros e com um pé dos sapatos na mão. Eu nada disse, permaneci como uma estatueta, sentada sobre o parapeito da janela, com uma perna dentro de casa e a outra fora. Ficamos nos encarando por talvez cinco minutos, quando ela pareceu entender o que eu estava fazendo. Ela veio até mim com passos largos e me puxou para dentro, me desequilibrei e cai em cima da mesa de centro, as pequenas imagens de deuses gregos se quebrando, cacos de mármore voando pelo carpete e acertando a pele interna da minha coxa e se alojando ali, a fissura ardendo e sangue pingando na cobertura branca.
Nossos olhos se juntaram e ela me levanta, pequenas lágrimas picam minhas íris enquanto ouço ela gritar comigo por tentar sair de casa escondida. As palavras tão duras eram com bofetadas nas minhas bochechas, como facas me dilacerando. Tudo me doía tanto, não era minha culpa querer ficar fora de casa, não era. A culpa era dela, completamente dela. Eu nunca tive culpa por ela ter engravidado muito cedo, de um cara que nunca mais a procurou, que nunca me quis. O golpe fatal foi quando aquelas dez palavras saíram de seus lábios, "Eu te detesto porque você é igual ao seu pai.".
Aquela noite eu dormi chorando, o ar faltando, meus pulmões ardendo e pulsando, o machucado recente manchando o curativo com o líquido avermelhado. Eram em momentos como esses que eu desejava conhecer meu pai, seria ele realmente tão ruim como ela afirmava? Talvez, nem seu nome eu sabia, mas eu ainda sim sentia falta de uma presença paterna. É claro que sentia, eu sou uma criança, é normal que eu queira chorar por ausência paterna de vez em quando.
—— Ellie, você está chorando? O que aconteceu? — Acordo do transe com a voz dele, sua mão segurando a minha e me conduzindo para fora do táxi, estamos agora parados em frente o chalé onde os Jackson passavam alguns dias todos os anos.
—— Eu só estou com dor. Não é nada de mais, relaxa. — Ficamos nos olhando, até que ele tocou uma pequena campainha.
Quando a porta se abriu, Sally não parecia muito contente em nos ver, mas sorriu para mim e me abraçou, retribui timidamente, cerrando os olhos quando suas mãos deslizaram pela minha pele lesionada, não querendo a deixar ainda mais descontente.
—— É bom ver você, Ellie. — Ela me disse enquanto deslizava a ponta dos dedos pelas minhas bochechas e pelos fios cacheados que insistiam em cair sobre meus olhos, me dando um beijo na testa.
—— Eu estava com saudade, tia Sally. — Respondo, aproveitando o máximo de conforto que aquele gesto singelo me proporcionava.
—— Sally, nós precisamos ir agora. Elas já estão atrás da Ellie desde a manhã, e não demoraram entender para onde estamos indo. Você contou tudo para o Percy? — As palavras de Grover me fizeram franzir o cenho, ele e Sally sabiam de algo que eu não sabia.
—— Você chegou antes da hora que combinamos, não é minha culpa. — Ela se justificou, cruzando os braços e olhando para trás.
Lá estava ele, Percy, meu melhor amigo, olhando para nós com confusão estampada em seu semblante, parecendo compartilhar comigo a necessidade pelas respostas, a curiosidade maçante pelo desconhecido. Sorri para ele, mesmo estando afastados por algumas horas, eu sentia falta dele, sussurrei um "oi" sem voz, acenando rapidamente com a mão.
—— Percy, pegue suas coisas. No caminho eu continuo a te explicar. — Sally falou enquanto procurava pela chave do carro.
🍇
—— Espera, deixa eu ver se eu entendi direito. Você e a minha mãe se apaixonaram por deuses gregos, então eu e o Percy somos semideuses e por isso monstros ficam querendo capturar a gente e nos matar? — Acho que não pareci tão chocada como eu deveria, um sorriso de descrença nos lábios, dando uma risada baixa.
—— Sim, por isso precisamos chegar até o Acampamento Meio-Sangue, que é o lugar seguro para os semideuses viverem. — Grover me respondeu, olhando para os lados preocupado.
—— E a gente fica lá, tipo, a vida toda? — Talvez não fosse de todo ruim, eu já tinha ido para um acampamento de verão uma vez.
—— Nem sempre, existem pessoas que ficam. Mas não é uma regra. — Ele virou a cabeça para o trás, dando um grito assustado, fazendo com que todos nos olhássemos na mesma direção.
De começo não enxerguei nada que poderia ter provocado aquela reação, até que um raio atingiu o chão e um clarão de luz iluminou toda a estrada. Meus olhos se arregalaram no mesmo momento, um touro gigante vinha em nossa direção, em alta velocidade. O animal se assemelhava ao que Grover havia me mostrado na semana passada, em uma carta de um jogo. O animal começou a correr ainda mais rápido, nos alcançando e batendo contra a lateral do carro. Os pneus fizeram barulho quando automóvel foi jogado para fora da estrada, entrando na floresta, girando milhares de vezes, antes de finalmente parar de cabeça para baixo.
Desafivelo meu cinto de segurança com as mãos tremendo, me aproximo da janela quebrada na intenção de sair dali, puxando Grover junto comigo, os cacos do vidro furam meus dedos enquanto tateio a grama molhada. Meu corpo é puxado para cima pela mulher mais velha, nos indicando a correr em direção ao topo da colina, os trovões eram altos de mais, a chuva era forte de mais, o medo era demais para mim. Me sentia tonta, perdida, correndo em direção ao desconhecido tentando me salvar de outro desconhecido.
O Minotauro ruge em nossa direção, me desespero ainda mais, ofegando enquanto corria para frente, a adrenalina anulando as marteladas agonizantes das contusões, sentia que poderia morrer a cada segundo que aquela coisa se aproximava. Estávamos perto de um grande pinheiro, de uma folhagem exuberando e um tronco muito grosso, eu nunca havia visto uma árvore como aquela antes.
Sally continuava parada, mais abaixo de nós, ainda gritando para que corrêssemos e para não olhar para trás. Mas eu não consegui dar mais um passo quando entendi exatamente o que aconteceria naquele momento, ela estava garantindo que sobreviveríamos, estava dando a vida dela pelas nossas. Meus olhos encontraram o rosto de Percy, não soube dizer com certeza se eram lágrimas ou pingos de água que molhavam seu rosto.
O monstro estava a encurralando, o cheiro que ele exalava me deixava enjoada, a visão também me fazia querer vomitar. Ele a agarrou com uma mão, em um aperto cerrado, impossível de se libertar, a levantou do ar, e com um último olhar em nossa direção, ela se foi. Sumindo em muitas pedaços, em um clarão de luz dourada, como quando explodimos confetes em um aniversário.
Senti meus joelhos doerem e meu corpo cedeu, a dor da perda me queimando de dentro para fora, o pranto quente deixando minha vista nublada, volto a sentir o padecimento, todo os meus músculos em combustão, uma fina camada de sangue volta a descer pelas rupturas em meu dorso, minha cabeça gira, meus braços não conseguem manter meu rosto longe do chão, a exaustão me vencendo.
Minha visão está se embaralhando, não consigo distinguir com clareza Percy de Grover, mas vejo que um deles está em uma batalha intensa com aquela criatura mística, enganchada em seu pescoço, balançando de um lado para o outro. Um dos garotos veio até mim e começou a me arrastar pela grama, pegando em um dos meus pés, soltei um grunhido alto, terra grudando em minhas madeixas.
Meu barulho atraiu o olhar do Minotauro, que andou em minha direção em posição de ataque, fechei os olhos e aguardei, torcendo para não sentir mais dor. Mas o ataque não veio, tentei concentrar minha visão na frente, mas então a coisa se desintegrou, da mesma maneira que aquela Fúria que matei mais cedo, como um caminhão despejando areia, mas essa era podre e escura.
Aquela foi minha última lembrança, minha cabeça caiu, a sensação da grama me pinicando antes que meus olhos se fechando completamente, com um sôfrego de lamúria, dessa vez meu corpo foi levado de uma maneira muito melhor, não sendo arrastado pelo solo mole e sujo de lama, braços fortes me mantiveram segura, mas ainda provocando sofrimento por estarem pressionando contra as lesões.
Me deixei ser colocada sobre uma superfície macia, com cheiro de lavanda, mesmo com as íris fechadas, sabia que pessoas estavam me olhando, mas decidi me preocupar depois, escolhendo relaxar sobre o travesseiro fofo.
01. Oioi pessoas, como vocês estão?
02. Votos e comentários são sempre muito bem vindos.
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