𝐱𝐯𝐢𝐢𝐢. 𝐅𝐑𝐄𝐄 𝐅𝐑𝐎𝐌 𝐇𝐈𝐌
TUDO HAVIA PARADO EM SUA VOLTA. Jason passou a mão pelo rosto como ato de desespero. O médico em sua frente já esperava pela atitude, era de costume as pessoas agirem daquela forma, perante a notícia. Jason encarou Louise dormindo na cama, ela parecia serena e inconsciente do que realmente estava acontecendo com ela.
— Tem certeza, doutor? — Jason perguntou ofegante. O médico entregou os resultados dos exames a ele.
— Sim, lamento muito, mas há um nódulo ainda pequeno do seio esquerdo de Louise. Com o tratamento certo, pode ser que não evolua para um câncer — respondeu a ele. — Mas são chances pequenas. Louise apresenta quadros hereditários, provavelmente da mãe.
Nódulo no seio. Era tudo que Jason não planejava para aquele momento, estava ciente que Louise andava estranha nos últimos dias, ela parecia abatida e mais magra. Jason não sabia muita coisa da vida da primeira senhora Lemony, mas com certeza a mulher havia falecido pelo mesmo motivo que rondava a garota.
— Ainda tenho outra notícia. — O médico continuou trocando o peso da perna. Jason encarou o homem. Quantas desgraças ele poderia suporta em uma noite? — Louise está grávida.
Jason deu passo para trás se apoiando na parede. Ele mordeu o lado interno da boca com toda força que tinha até sentir o sabor metálico inundar sua boca.
— Doutor, Louise toma pílulas. — Foi a única coisa que ele conseguiu dizer.
— Bem, nem todo método é cem por centro seguro. — O médico alertou. Jason fitou a menina através da porta, sua vista estava embaçada devido às lágrimas. — Sua filha ainda é jovem para passar por tantas coisas assim.
— O que está dizendo? — Jason encarou o médico rapidamente.
— Uma gravidez na situação que a jovem se encontra, pode ser perigoso. Tudo vai se torna mais complexo! — O homem de jaleco disse seriamente.
— Está sugerindo um aborto? — Jason fechou a face visivelmente abatido. O médico confirmou em silêncio.
— Geralmente não recorremos a esse método, mas estou sugerindo pelo bem da sua filha.
Abortar poderia soar como crime para muitos, mas para Jason, era a luz no fim do túnel que ele buscava, além de ser um problema a menos. O escritor se sentia promissor em sua carreira e não teria tempo para um filho e agora a situação de Louise lhe preocupava. Jason colocou as mãos no bolso decidido pelo que ia fazer.
— Tire o feto. — Ele disse firmemente. — Minha Lo ainda é jovem para isso... Para isso tudo!
— Preciso da sua assinatura e dela... Quando acordar — O médico informou.
— Louise é minha... minha filha, eu tomo as decisões por ela! — Jason cerrou os dentes.
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Louise abriu os olhos lentamente. As vozes e tudo que havia ouvido pareciam apenas um terrível pesadelo, até quando ela se deu conta que era real. Nódulo no seio? Grávida? Aquilo era a pior coisa que havia lhe acontecido, tão ruim quanto os abusos que havia sofrido nos últimos dias. A doença que tinha levado sua mãe quando ela ainda era pequena agora a esperava. O feto dentro dela era fruto de estupro, sentia que carregava algo ruim em seu ventre. Louise chorou em silêncio. Jason havia determinado seu futuro, mas ainda cabia a ela tomar as decisões por si.
Chorou baixinho. Em parte, preferia ser acolhida pela mãe morta do que ficar em terra sofrendo amargurada. Ela fechou os olhos sendo tomada pelo sono novamente.
Jason contemplou Louise na cama. Passando a mão sutilmente por seu rosto, despertou a menina. Ela olhou em sua volta levemente confusa pelo que havia acontecido, não se lembrava de muito depois que havia se entregado ao sono novamente, mas seus pesadelos eram reais e um deles estava ao seu lado com um olhar duvidoso.
— Que bom que acordou! — Jason disse sorridente. Louise afastou o rosto alguns centímetros das mãos do homem.
— Não diria bom. Você ainda está aqui. — Ela disse áspera. Jason fechou o riso em uma linha dura.
— Não seja malcriada. Louise, tenho boas notícias... — Ele trocou de expressão rapidamente. Estava certa que Jason Delarue era um ator melhor que ela podia imaginar.
— Não quero saber! — retrucou mal humorada.
— A editora gostou do meu livro, irei para uma reunião com eles. — Jason disse. A garota não respondeu, encarou a janela de vidro fechada e pensou no mais óbvio: A altura do quarto que ela estava, poderia lhe matar? — Louise!
Jason chamou atenção da menina que parecia perdida em seus devaneios. Lo o encarou, seus olhos estavam escuros e não possuíam mais o brilho de antes. Estava certo de que esse era o efeito de uma gravidez indesejada, por parte dele, já que tinha certeza de que a menina não sabia de nada.
— Quer que eu lhe dê os parabéns? — Louise torceu a boca. — Vá se foder, Jason!
Ele travou o maxilar, teria que controlar o palavreado da filha. O homem apertou o pulso fino da menina, parecia mais magra do que o normal, mesmo assim não se importou em deixar as marcas dos seus dedos sobre a pele pálida.
— Quando eu voltar, vamos ter uma conversa séria com o seu médico. — Ele disse cauteloso. Louise arregalou os olhos. — Não se preocupe, você ficará bem. Não apronte nada!
— O que quer dizer? — perguntou. Jason a deixou falando sozinha enquanto saía pela porta do quarto.
Ele ouviu seu nome ser gritado de dentro do cômodo. Não teria forças para contar a sua amada o que estava acontecendo, isso poderia assustá-la e piorar as coisas. Jason não gostaria de deixar Louise sozinha, mas seu encontro seria rápido. Agora seus planos haviam mudado um pouco, pensava em se instalar na cidade para começar o tratamento de Louise o quanto antes, ele não pretendia perdê-la para uma doença infernal.
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ALGUMAS HORAS DEPOIS
— Jason Delarue, que obra fantástica! — A editora executiva disse entusiasmada.
— Obrigado, fico contente com seu elogio. — Ele sorriu tomando um gole de café.
— Sabe... me pergunto de onde tirou toda essa história. — A mulher questionou curiosa. — Lolita é uma jovem tão doce ao mesmo tempo que tão sagaz. Acho que algumas garotas vão se identificar com ela.
— Lolita é uma musa para mim. — Jason lembrou-se da sua juventude. Ela era doce e delicada, tal como sua personagem. Mas o gênio sagaz da personagem vinha completamente da sua Louise.
— Você a descreve como se ela existisse!
— O fato é que ela existe. É o grande amor da minha vida... — Jason soou apaixonado.
— Adoraria conhecê-la. — A mulher sorriu confiante.
Jason sorriu mais uma vez. Para ele seria uma honra mostrar ao mundo a sua cordial Louise, embora ainda quisesse mantê-la apenas para ele. Lo era como uma peça de museu, poderia ficar exibição a todos, mas teria apenas um dono e nesse caso, ela pertencia inteiramente a Jason e a mais ninguém.
O tempo voou como areia. Ele havia assinado os papéis que deveria para publicar seu livro, em alguns meses poderia ter sua obra em mãos, assim como Louise. Jason dirigiu novamente ao hospital, sabia que agora teria que estar ao lado dela nesse momento delicado. Ambos estavam no ápice do relacionamento conturbado, em parte, tudo era por conta da sua doença indesejável.
O movimento no hospital era calmo. Jason caminhou até a recepção do hotel, uma mulher robusta lhe atendeu com certo mau-humor.
— Posso ajudá-lo? — Ela perguntou sem encará-lo.
— Vim para ver minha filha, Louise L. Delarue. Ela está no novecentos e onze. — Ele disse no mesmo tom. A recepcionista procurou nos dados do computador sobre a paciente, para sua surpresa, ela já havia recebido alta.
— Louise Lemony Delarue recebeu alta mais cedo, senhor. — Ela disse entediada. Jason fechou as mãos em um punho sobre o balcão de mármore.
— O que disse? — Sua voz saiu pesada. Sentia seu corpo vibrar com a raiva.
— A paciente recebeu alta, foi levada pelo tio Murtagh! — Ela disse. — Ah sim, lembro-me deles saindo pela porta, seria impossível não reparar em um homem daquele.
— Murtagh! — Jason gritou na recepção. Sua voz ecoou por toda sala fazendo alguns pacientes que esperavam ali se assustarem.
— Contenha-se senhor! — A mulher deu um passo para trás quando percebeu que o homem em sua frente estava prestes a explodir.
A face de Jason estava vermelha, assim como seus olhos. Sentiu a sala rodar em sua volta, as vozes se tornaram abafadas em seu ouvido. Gritou e correu pelo corredor que levaria ao quarto que Louise estava. Naquele momento, nem mesmo seus batimentos cardíacos podiam ser ouvidos. Jason parou em frente ao quarto que a filha esteve, o lugar estava arrumado como se ninguém tivesse passado por lá, no chão, havia uma pétala de bromélia como se tivesse sido jogada despretensiosamente ali.
— Senhor Delarue, precisa se retirar do hospital! — Ele ouviu o mesmo médico que havia conversado mais cedo dizer.
— Levaram a minha filha! — Jason disse, então sua voz se tornou berros. - Levaram a minha filha, levaram a minha Louise!
Avançou contra o médico acertando um soco com toda força que tinha. O homem de jaleco caiu tonto contra algumas enfermeiras que passavam pelo corredor. Elas gritaram socorro ao perceber o homem transtornado que Jason havia se tornado.
— Chamem a polícia! — O médico disse com a mão sobre a boca. — Guardas, contenham esse homem!
Tudo que Jason conseguia fazer era pensar em Lo e como ela havia sido levada por um desconhecido. Ele sentiu braços fortes prenderem os seus, rapidamente se encontrava imobilizado no chão por um enorme segurança.
— Não! Não! Não ligue para a polícia! — Jason disse ofegante. Ele não queria se envolver com a polícia, não nesse momento ou em qualquer outro.
Aos poucos o clima tenso foi desfeito. Jason convenceu que estava passando por um momento difícil ao encarar a gravidez precoce da filha juntamente com o câncer, quase havia se esquecido que havia pedido ao "tio Murtagh" para buscá-la. Louise não havia abortado nenhuma criança, ela havia partido com Murtagh para longe, sem ao menos dizer adeus, exatamente como sua Lolita.
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1 ANO DEPOIS
Por nove incansáveis meses, Jason procurou Louise por onde suspeitava que ela pudesse estar. Estava ciente que a garota deveria ter sido sequestrada por Murtagh. Quando a achasse, ele a perdoaria e até acolheria o filho que ela carregava. Mas havia prometido a si mesmo que mataria Murtagh com as próprias mãos.
Jason caiu em seu próprio precipício. Ele se enxergava enterrado em uma cova funda e coberta por terra sem sua Louise por perto. Havia chegado ao ponto de desistir das buscas, estava prestes a completar um ano, seu livro iria ser publicado em breve e precisaria de dinheiro para bancar algumas coisas.
O escritor e professor, nunca pensou em dinheiro, mas Louise havia sumido e abandonado toda a fortuna em seu nome, deixada por seu verdadeiro pai. Jason procurou advogados e com certo esforço, conseguiu o dinheiro, por algum tempo, ele estava financeiramente seguro.
Louise havia morrido, uma grave doença havia ceifado a vida da jovem. Era essa a grande mentira que havia inventado e convivido por um ano inteiro logo após ter parado as buscas por ela.
— Louise, onde ela está? — Enzo perguntou do outro lado da linha.
— Só Deus é capaz de dizer — lamentou com o celular no ouvido.
— Você é um fodido Jason, não aprende mesmo! — disse o amigo do outro lado. Jason sentou-se em uma cadeira do escritório da sua nova cobertura, encarando a cidade de Nova York.
— Caro amigo, Louise não era quem todos pensavam. — Ele fez uma pausa ao lembrar-se do riso da jovem. — Eu a amei, e no final era ela a grande vilã, partiu meu coração, mas antes brincou com ele.
Jason suspirou.
— Mas a questão é: alguém acreditaria em mim? — questionou-se ao amigo.
Aquilo deveria soar como uma pergunta, mas Enzo sabia muito bem as coisas que Delarue era capaz de fazer. O próprio já havia presenciado a maneira que Jason havia tratado a garota que se dizia amar, nas férias de Paris. Em seu íntimo, o escritor achou que finalmente havia conseguido domá-la, mas Louise era como fumaça... Até quando desapareceu.
—NOTAS
Espero que não queiram me matar, mas nossa história está chegando ao fim, todavia, algumas coisas ainda vão acontecer. Onde Louise está? Será que Murtagh está realmente com ela? Jason vai se safar tão facilmente?
Aguardem os próximos caps ❤️
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