
𝐯𝐢𝐧𝐭𝐞 𝐞 𝐨𝐢𝐭𝐨.
JESSICA.
Depois de mais um treino, estou guardando minhas coisas dentro da pequena mochila para subir na moto e ir pra minha casa no cut. Rafe e eu não temos o costume de nos despedirmos educadamente um do outro, apesar de já não estarmos mais num pé de guerra insuportável. Não somos amigos. Então, apenas fazemos um gesto com a cabeça e é assim que encerramos os treinos. Mas hoje, em específico, percebo como ele me observa atentamente, como se quisesse dizer alguma coisa.
━ O gato comeu a sua língua? ━ provoco, o vendo dar um sorrisinho irônico.
━ O único gato aqui sou eu, Jessica ━ noto que ele se levanta do tatame onde estava sentado. ━ Vai agora?
━ Claro, pra onde mais eu iria? ━ pergunto, achando seu questionamento engraçado.
Não obtenho uma resposta concreta de Rafe naquele momento, mas ainda percebo seus olhos não me deixando em paz. Termino de guardar meus pertences na mochila e dou uma última olhada pro seu rosto antes de me virar para caminhar na direção da minha moto. Quer dizer, da moto do meu irmão. Então, antes que eu mais um passo largo, sua voz me fez parar.
━ Estou sozinho. Tem cerveja na geladeira. ━ me viro no mesmo instante. ━ Quer tomar uma?
Rafe está me chamando pra tomar uma na sua casa. Penso que por um momento, meu ouvido esteja sujo demais ou que eu estou ficando louca. Mas diante dos seus olhos sem mostrar qualquer resquício de deboche, quase me assusto com seu pedido sincero.
━ Tá falando sério?
━ Virei palhaço?
Ele espera um pouco pra receber minha resposta. Quando percebe meu silêncio duradouro, Rafe só balança os ombros de forma indiferente e entra pra dentro de sua casa. Bom, não tenho nada melhor pra fazer. JJ ainda estava no trabalho e o pessoal com certeza estava ocupado com outras coisas, pois não me mandaram mensagem me convidando para nada. Então, assim que o vejo caminhar pra mansão Cameron, eu lhe sigo ainda quieta.
Enquanto caminhamos até o segundo andar, me sinto incomodada com a decoração exageradamente colorida. As paredes amarelas com muitos quadros espalhados, o teto com luminárias também amareladas e o chão todo feito por madeira. Apesar de ser uma casa bonita, era uma propriedade dos Cameron. Perde todo o seu glamour no mesmo instante.
Adentramos a varanda da mansão localizada no segundo andar e eu deixo minha mochila em uma das cadeiras acolchoadas que haviam por ali. Rafe se direcionou até a geladeira que ficava do lado de fora e retirou duas garrafinhas de vidro de cerveja. Ele logo se senta em uma das cadeiras, coloca uma das garrafas em cima da mesa e a que fica com ele, ele desenrosca a tampa com os próprios dentes.
Levanto as sobrancelhas diante da sua habilidade com a boca.
━ Senta aí. ━ me influencia.
Pressiono meus lábios numa linha reta e me aconchego em uma das cadeiras. Também pegando a outra garrafa, abro a mesma sem dificuldade. Agora, Rafe e eu estávamos bebendo cerveja e em completo silêncio.
Por incrível que pareça, não me sinto nenhum pouco desconfortável com o que está acontecendo aqui. Na real, sou a maior apoiadora que existe do silêncio em casos que é desnecessário ficar tagarelando. Rafe e eu não temos tanto assunto assim pra quebrarmos o silêncio com qualquer coisa aleatória. Aliás, ele sabe que qualquer besteira que sair de sua boca, eu posso facilmente joga-lo daqui de cima.
━ Então ━ presto atenção. ━ Por que quer ganhar essa competição?
━ Não é óbvio? ━ Rafe tomba um pouco o rosto pro lado. ━ Ganhar é bem melhor do que perder.
━ Mas não é por isso que você veio me pedir ajuda ━ franzo as sobrancelhas. ━ Vamos lá, Jessica. Eu te conheço.
Essa é nova.
━ Você me conhece? Desde quando? ━ beberico mais da cerveja.
━ Desde que eu roubei o seu diário no fundamental.
Diante do seu sorriso maléfico e debochado, eu cerro os olhos, como se minhas íris fossem capazes de fuzila-lo por inteiro. Eu acho incrível como depois de anos, as pessoas resolvem me trazer revelações que uma Jessica de treze anos nunca sacaria. Sarah revelando que tinha ciúmes de mim, Rafe confessando que havia roubado o meu diário que misteriosamente sumiu no colegial. Ah, que legal.
━ Me dê um motivo para eu não quebrar essa garrafa agora e enfia-la no seu pescoço. ━ aponto minha unha na sua direção.
Rafe dá uma risada fraca e enfia sua mão dentro do bolso. O que ele chacoalha diante dos meus olhos assim que seus dedos estão no meu campo de visão novamente, faz minha vista brilhar.
━ Porque eu tenho maconha.
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Certo. É o momento mais cômico, aleatório e contraditório de toda a minha vida. Estou chapada com Rafe Cameron na varanda da sua casa.
Enquanto eu sopro a fumaça pro ar, o escuto gargalhar e comentar alguma coisa sobre como minha fumaça tem formato de algum bichinho aleatório. Mando ele se foder e digo pra ele tentar fazer uma fumaça mais bonita. Ele não demora pra roubar o baseado da minha mão e tentar copiar o que eu estava fazendo. O resultado é da varanda de Rafe estar completamente embaçada pela fumaça que ele solta dentre seus lábios, pois não consegue ao menos formar uma nuvem bonita. Sou obrigada à gargalhar, tombando minha cabeça pra trás.
Eu estou muito chapada.
Só assim para que eu conseguisse conviver no mesmo ambiente que Rafe e não sentisse vontade de apertar seu pescoço. Agora, estamos rindo sozinhos de nosso estado. Fumamos maconha juntos, bebemos cerveja juntos e gargalhamos como velhos amigos. Cara, que merda está rolando aqui?
━ Tá tudo errado. Você não deveria me odiar? ━ observo como ele me encara, com seu rosto um pouco deitado pro lado.
━ Mas eu te odeio ━ ele puxa mais do baseado. ━ Eu nunca vou conseguir parar de te odiar, Jessica.
Enquanto ele me responde, a fumaça escapa dentre os espaços que seus lábios dão.
E isso é perigosamente atraente.
A maconha me deixa aérea, um tanto quanto fora de mim. É como se minhas ideias e meus princípios de quando estou sóbria, se concentrassem apenas dentro de uma bolha e fossem jogadas pra um parte do meu cérebro pra voltarem à funcionar apenas quando eu estiver "limpa" novamente. Meu corpo fica nas nuvens e todo o estresse que percorre pelo meu sangue, já não está mais presente. É literalmente como uma anestesia geral. Por isso, não estranho quando me levanto de onde eu estou sentada e me direciono até a cadeira de Rafe, confortando minhas pernas em cada lado do seu corpo quando subo em cima dele, mesmo sabendo que era errado e fugia de tudo que eu ordeno pra mim mesma. Diante de sua expressão que muda no mesmo instante, tiro o baseado da sua boca e coloco na minha, puxando um pouco daquela essência.
━ Você me odeia tanto assim? ━ não lhe dou tempo pra responder. ━ Você escrevia meu nome nas portas do seu armário da escola.
━ E você o meu nas páginas do seu diário ━ ele tirou o baseado com cuidado dentre os meus lábios. ━ Quem de nós dois é pior?
E, assim como fiz com ele, ele não me deixa responder. Rafe me beijou antes que eu o mandasse se foder.
Percebo o exato momento que ele joga o baseado de lado e enfia uma de suas mãos dentro dos meus cabelos. Com a outra, ele segura minha cintura como se eu fosse fugir à qualquer momento. Não fujo de sua atitude. Coloco as mãos no seu pescoço e finco as unhas na sua nuca, as arranhando levemente e não demorando pra escutar seu suspiro contra os meus lábios.
E, definitivamente, é a maior loucura que eu já fiz estando chapada. Mas tô pouco me fodendo. Afinal, tô chapada. Não lembrarei de nada disso amanhã.
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