
𝐯𝐢𝐧𝐭𝐞 𝐞 𝐧𝐨𝐯𝐞.
JESSICA.
━ Eu vou te matar, seu filho da puta!
São dez da manhã do dia seguinte após o meu sucumbo aterrorizante por causa da maconha. Eu acordei, tomei um banho e, enquanto escovava os dentes e olhava pro meu reflexo no espelho, as memórias vieram na minha cabeça com tanta rapidez que me fez ficar tonta. Meus olhos arregalaram, eu rapidamente cuspi a espuma na minha boca pro ralo da pia e tive vontade de colocar todos os tipos de alvejantes do mundo na minha língua.
Rafe Cameron tinha me beijado e eu deixei.
Eu levei menos de vinte minutos pra chegar até o Figure 8. Com a velocidade que eu corria pela pista, com certeza poderia tomar alguma multa por ter ultrapassado um pouco o limite em cima da moto. Mas, foda-se. Eu estava convicta de que iria arrancar a cabeça de Rafe e jogar no matagal mais próximo. Pelo menos é o que eu mais tenho vontade de fazer agora.
E quando eu cheguei, agi da primeira forma que passou na minha cabeça quando avistei Rafe aparando a grama da casa, concentrado e sem sua camisa. Se fosse no dia de ontem que eu tava completamente vulnerável por conta da droga, eu poderia ter fantasiado as cenas mais mirabolantes possíveis. Mas agora eu só quero mata-lo o mais rápido possível, para que eu não consiga nunca mais olhar pra sua cara e me lembrar dessa merda.
Então, estou correndo atrás dele em círculos em seu quintal enquanto Rafe gargalhada, se divertindo horrores. Cada vez que eu via o quão hilário aquilo parecia pra ele, mais o meu sangue fervia de ódio. Céus. Não sei do que sou capaz de fazer se ele continuar debochando desta porra.
━ Ei, calma, Jesse ━ Rafe diz após se esconder atrás de uma pilastra. ━ Não precisa se desesperar tanto assim. Foi só um beijo.
━ Você tá se escutando, seu desgraçado? ━ dou a volta pela pilastra, tentando alcança-lo. ━ Você me assediou. Aproveitou que eu estava chapada e se aproveitou de mim. Eu vou acabar com você, porra!
Agora, Rafe se tranca pra dentro de casa e eu estou batendo na porta de vidro, convincente à quebrar todo aquele blindex se fosse preciso.
━ Você tá exagerando. Foi você quem me beijou, lembra? ━ seu sorriso divertido não sumia nenhum segundo.
Eu estou enlouquecendo.
━ Você é louco e eu vou matar você. Quando eu disser pro meu irmão que você me assediou, você... ━ agora, seu sorriso some, dando lugar pra uma expressão irônica.
━ Não te assediei e não tenho um pingo de medo do seu irmão tampinha, Jessica. Para de falar essas merdas. ━ Rafe cruza os braços.
Eu quase rosno. Bato com tanta força contra o vidro que começo a sentir meus dedos doerem. Sinto que estou usando todos os golpes que Rafe me auxiliou contra o próprio móvel da sua casa.
━ Ei, chega. Você vai se machucar.
Rafe tentou me advertir. Consigo vê-lo tocando a mão na porta de vidro por dentro, mas estou tão cega de ódio que ajo no automático. Aumento a velocidade e a força na qual despejo os socos na superfície envidraçada, e consigo escutar as camadas da porta se dilacerarem aos poucos.
O ódio dentro do meu peito deixa todo o meu corpo tenso. Estou tremendo de tanta raiva. Me sinto usada e totalmente vulnerável, e isso sempre foi o meu maior medo. Estar vulnerável na frente de quem já foi o meu maior motivo de insegurança. Eu tinha certeza que Rafe estava se divertindo com aquela situação, esperando que eu encostasse um dedo nele para me chamar de louca e abrir a boca pra sua irmã. Mas, quando olho pro seu rosto através do vidro quase completamente rachado, Rafe está negando com a cabeça, se apressando pra abrir a porta por dentro.
Literalmente um segundo antes dele conseguir destranca-la por completo, o som do vidro estourando sobre as minhas mãos ensurdece os meus ouvidos. Rafe é mais rápido em pular pra longe da porta, mas estou tão tensa que não consigo sair do lugar. Foco minha atenção nas minhas mãos, que além de carregar machucados nos dedos pela força que eu golpeava a porta, agora tem cortes sangrentos espalhados pelas mesmas. Não dá nem tempo de eu tentar analisar se havia cacos de vidro dentro dos ferimentos. Rafe praticamente me agarra em seu colo e me leva pra dentro da mansão.
Me levou pro cômodo da cozinha, onde eu reconheci pelos utensílios de culinária espalhados pelo lugar. Ele nem me diz nada. Se direciona rapidamente até os armários embutidos nas paredes e caça em cada um, um provável kit de primeiros socorros. E ele achou com agilidade. Rafe puxou sua cadeira pra sentar na minha frente e pegou nas minhas mãos, soltando um gemido baixo vendo os meus ferimentos.
━ Que merda, Jessica. Você é maluca pra caralho. ━ ele lamentou.
Fico quieta. Não quero abrir a boca pra xinga-lo, mas também porque estou sentindo bastante dor. Obviamente não ia confessar isso em voz alta. Já era humilhação suficiente Rafe estar cuidando dos meus machucados que eu mesma fiz tentando quebrar a sua cara.
Era visível que ele estava improvisando. Provavelmente tinha visto aquilo em algum programa de hospital ou coisa assim. Ele despeja um pouco de álcool num pedaço fofo de algodão e se aproxima da minha mão, subindo os olhos pra mim.
━ Isso vai doer...
━ Passa logo essa merda, Rafe. ━ rosno entredentes.
Ele nega com a cabeça e eu noto como está nervoso. Suas mãos tremem enquanto segura meu pulso para limpar os meus machucados. Respiro fundo quando ele encosta o primeiro algodão no primeiro corte. Fecho os olhos enquanto o espero limpar tudo. Rafe também procura algum resquício de vidro nas minhas mãos, mas por sorte (ou extremo milagre), não encontra nada.
Durante todo o processo dele cuidar dos ferimentos e enfaixar minhas mãos, permanecemos em silêncio, sendo acompanhados apenas pelos meus gemidos baixos de dor. Também pelos xingamentos de Rafe ao ver como eu estava na merda, como "Porra, que merda você fez." ou "Ainda bem que eu não sou você."
Obviamente, nada pra me confortar e sim me deixar ainda mais vontade de o empurrar naquela piscina de cacos de vidro espalhados pelo chão da sala.
━ Pronto. Tenta não fazer muito esforço com as mãos. ━ eu reviro os olhos.
━ Eu preciso trabalhar e treinar pra competição, Rafe. Não tenho tempo pra ficar de repouso por causa de uns cortezinhos.
━ Se essa merda infeccionar, você perde as duas mãos. É melhor descansar por uns dias ou deixar de ter mão pra sempre?
Quero manda-lo ir à merda pelo comentário, mas fico quieta. Eu mesmo sabia que quando JJ visse as minhas mão todas cortadas, ele não deixaria nem eu usar o banheiro sozinha.
━ Jessica ━ levanto minha cabeça pra olhar nos seus olhos azuis. ━ Esquece o que rolou ontem. Estávamos chapados e aconteceu.
━ Não vai acontecer de novo. ━ quase bato o pé com minha certeza.
Rafe fica quieto por um tempo, mas logo concorda com minha afirmação.
━ É, não vai.
Encaro as minhas mãos enfaixadas e por mais que eu ainda esteja irritada com o fator de ontem, eu suspiro e me mantenho na linha novamente. Não quero parecer descontrolada, apesar de eu ser um pouco. Não justifica, mas não quero mais motivos para as pessoas me chamarem de selvagem.
━ Rafe ━ ele me encarou. ━ Obrigada.
Ele levantou as sobrancelhas, surpreso.
━ Não tem de quê.
E agora estamos nos encarando em um silêncio desconfortável.
Mas o silêncio não dura muito. O tempo que ficamos extremamente quietos, é o que consigo escutar passos, um comentário como "Mas que porra é essa?", a presença de alguém chegado e logo, uma respiração mudando de calma pra descontrolada.
━ Que porra tá acontecendo aqui?
Eu preferia ter continuado no meu silêncio desconfortável do que ter que ouvir a voz transtornada de Sarah Cameron novamente.
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