
𝐯𝐢𝐧𝐭𝐞 𝐞 𝐝𝐨𝐢𝐬.
JESSICA.
Estou voltando da praia completamente exausta. Os cabelos suados preso num coque, meu corpo totalmente revestido pela água salgada do oceano. Minha prancha bem limpa embaixo do meu braço. É assim que caminho na direção da minha casa, me sentindo bem após um fim de tarde surpreendentemente bom. Não sei se trégua é a melhor palavra. Quando me irritasse de novo, todo o meu ódio da sua cara voltaria num estalar de dedos. Mas tento esquecer disso um pouco pelo menos por agora, que ainda estou em êxtase pela sensação das ondas me levando aos céus.
Surfar me dá divindade mental. É minha paixão desde que eu era garotinha.
Mal piso os pés dentro de casa e escuto o som dos passos familiares na minha direção. JJ para bem na minha frente, apontando pro relógio do seu celular e o semblante extremamente irritado.
━ Sabe que horas são? ━ observo o horário de quase sete horas marcando no seu celular. ━ Por que não responde as minhas mensagens?
━ Eu não levo celular pra praia. Você sabe muito bem disso. ━ passo reto do meu irmão, indo em direção ao meu quarto e prendendo minha prancha novamente no apoio da parede.
━ Passou o dia todo fora, Jessica. Tava com quem? ━ reviro os olhos com o questionamento irritante.
━ Desde quando eu te devo satisfação, garoto? ━ agora me direciono pra cozinha, também sendo seguida por JJ.
━ Desde quando eu sou a única pessoa que se preocupa de verdade com você na sua vida ━ ele está de braços cruzados. ━ Vai me falar onde você tava ou vou ter que descobrir?
━ Boa sorte com isso. ━ coloco uma panela no fogo e pego no armário alguns ingredientes para preparar um brigadeiro.
Meu irmão está bufando de raiva do meu lado. Sinto que virará um Pinscher raivoso à qualquer momento.
JJ se sentou na mesa, fechou a cara e continuou mexendo no seu celular como se eu não estivesse ali. Preparo o brigadeiro tranquilamente, sem me preocupar com seu xilique momentâneo. Sei que no momento que eu sentasse do seu lado, sua birra se dissiparia em minutos. O conheço melhor do que ele gostaria.
━ Cadê a Leslie? ━ pergunto, desligando o fogo quando noto que o ponto do brigadeiro está ideal.
━ Ajudando os pais dela na empresa ━ ele passava a ponta do dedo pela mesa lentamente. ━ Deve sair daqui a pouco.
Me sento do seu lado com duas colheres de metal. Assim que estendo uma delas em sua direção, JJ pega sem olhar pra mim, o que me faz dar uma risada fraca.
━ Sarah perguntou por você ontem.
Franzo a testa no momento momento e preciso me certificar se escutei direito.
━ Oi?
━ Sarah perguntou se você não vinha ontem, quando você resolveu dar a maluca e sair por aí com a minha moto.
━ E por que caralhos ela perguntaria de mim? ━ lambo um pouco do brigadeiro na colher. ━ Essa garota me odeia.
━ Não sei. Talvez esteja querendo resolver as coisas? ━ JJ supõe. ━ Sinceramente, acho mais em conta que Sarah tente se resolver com você. São garotas, precisam se manter unidas. Só não quero aquele filho da puta perto de você.
Com o brigadeiro na boca, é uma desculpa pro meu silêncio repentino. Ainda odeio Rafe, obviamente. Não dá pra limpar toda essa merda de anos em apenas alguns dias por atos de gentileza, mas sei como JJ é protetor quando se trata dos Cameron. Mais especificamente, de Rafe Cameron. Se soubesse que usei sua moto pra ir na casa dele e também que ele tocou na prancha que a mamãe me deu, JJ enlouqueceria. Não estou falando da boca pra fora.
━ Não tem essa de se manter unidas. Ela só sabe me atormentar. Não sou obrigada à me aproximar dela só porque somos garotas. Não é disso que se trata o feminismo. ━ JJ revira os olhos.
━ Só tentei ajudar com uma analogia.
━ Suas analogias são podres ━ ele me mostra a língua. ━ Tente outras melhores.
Meu irmão fica quieto por um tempo. Parece estar querendo dizer algo, mas procurando a melhor maneira de como. Merda. Parece que leio sua mente.
━ Quero pedir a Leslie em namoro ━ soltou, levantando o queixo pra me olhar nos olhos. ━ Me ajuda com isso?
O sorriso cresce no meu rosto quase que instantaneamente. Vejo sinceridade em suas íris azuis. JJ sempre foi extremamente inseguro com relação à se envolver com outras pessoas, especificamente por ter medo de dar errado e precisar superar todas essas merdas sozinho depois. É um ato de coragem, e também de puro sentimento. Ele tenta esconder, mas é um imbecil apaixonado pela minha melhor amiga. Só não vê quem é cego.
━ Claro que ajudo.
Meu gêmeo está sorrindo genuinamente agora. Pousa sua mão em cima da minha e acaricia meu dorso com cuidado. Naquele momento, apenas curtimos a presença um do outro sem nos atacarmos com nossa implicância rotineira.
━ Jess ━ JJ me chamou. ━ Vamos prometer uma coisa de novo?
Eu assinto.
━ Pode falar.
━ Não vamos deixar nenhum Cameron atrapalhar a nossa vida mais uma vez. Nada.
Porra. Que merda.
Fizemos essa mesma promessa quando tínhamos uns treze anos, logo na fase que os irmãos infernais insistiram em atormentar nossos dias. Percebemos que estávamos brigando muito pela energia que emanavam em cima da gente. Então, juramos de dedinho que não deixaríamos nada abalar nossa união. E, porra, para duas crianças de treze anos, uma promessa de mindinho era tipo um acordo entre países durante uma guerra mundial.
Só que agora é um pouquinho diferente. Somos adultos praticamente, não temos mais treze anos. Não estamos mais no colegial. Era muito fácil das coisas mudarem, pois numa época como essa, estamos preocupados demais em pagar as contas do que manter inimizades de anos. Ainda que eu guardasse todo o rancor do mundo de Rafe e Sarah, sinto que uma hora não dará pra sustentar tanta merda. Sarah é namorada do meu melhor amigo, Rafe é irmão dela. A convivência é algo que está sendo preciso manter e minha vontade de arrastar sua cara no asfalto também.
Mas, eu tenho esse pensamento. Pode ser que eles não tenham. Quem me garante que os Cameron não tem a mesma mente de crianças perversas que cometem bullying com os outros e são capazes de fazer tudo pra infernizar a vida de outras pessoas? Não posso arriscar.
Não confie em ninguém que já te feriu uma vez. Nada os impedem de feri-la cinquenta vezes. Palavras da mamãe.
━ Prometo.
Meu irmão levanta o mindinho e eu reviro os olhos. Achando que isso é uma idiotice de criança, também levanto o dedo e entrelaço com o dele. Agora, estamos de pacto renovado mais uma vez.
Não há nada pior do que adolescentes que se odeiam a todo custo e querem se atingir acima de qualquer coisa. Então, não há como piorar as nossas inconsequências de criança. Acho que nada mais pode acontecer, assim eu espero.
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