
𝐯𝐢𝐧𝐭𝐞 𝐞 𝐜𝐢𝐧𝐜𝐨.
RAFE.
Tomo cuidado para não machucar os dedos enquanto desfiro socos certeiros no saco de pancadas na minha frente. Estou sozinho na academia de casa. Na verdade, estou sozinho por completo em Tannyhill. Meu pai e minha madrasta estavam na empresa cuidando dos negócios e Sarah tinha dormido na casa de John B. Agradeci à Deus que poderia pelo menos treinar em paz no dia de hoje. Os jogos de dezembro estavam chegando, e eu não pretendia nem um pouco dar a vitória pra outra pessoa. Principalmente se a outra pessoa carregar o sobrenome Maybank.
Estou focado nos meus golpes de boxe contra o saco de pancadas preso no teto quando ouço um barulho dentro da academia, como se alguém tivesse deslizado a porta de blindex para entrar na área. Torço mentalmente pra que não fosse Sarah e nem Ward. Qualquer uma das duas opções encheriam o meu saco pra atrapalhar o meu treino. Sarah pediria-me pra ensina-la os meus golpes e Ward mandaria eu cuidar de alguma coisa em seu escritório.
Maldito filho da puta do caralho.
━ Não vou te ensinar boxe agora, Sarah. ━ deixo claro, sem sequer tirar meus olhos do saco de pancadas.
━ Ew. Dentre tudo que você já me xingou, esse nome foi o pior de todos.
Paro no mesmo segundo de treinar e desvio minha atenção na direção daquela voz conhecida. Franzo minhas sobrancelhas em confusão. Certo, que merda é essa? Por que a Jessica Maybank está na minha casa, na minha academia e atrapalhando o meu treino?
━ Mas que...
━ Mas que porra é essa. É, eu sei. ━ ela me cortou, dizendo exatamente o que estava na ponta da minha língua. ━ Acredite, não estou aqui porque acho legal sentir esse cheiro de suor e ver você despejando golpes do jeito errado.
━ Você invade a minha casa, interrompe o meu treino e ainda está me ofendendo? Você é muito abusada, Jessie J. ━ tiro as proteções das minhas mãos por um momento.
━ Tanto faz. Não é como se eu tivesse vindo aqui pra te ver, especificamente. ━ Jessica cruza seus braços. ━ Preciso que me dê umas aulas.
Rio como se ela tivesse me contado uma piada hilária. Enquanto ando na sua direção com uma garrafinha de Gatorade nas mãos, ainda me mantenho com um sorriso no rosto.
━ Nem fodendo.
━ Tá com medo que eu ganhe de você e da sua irmãzinha, Rafe? ━ Jessica sorri, nitidamente ironizando minha resposta.
━ Não. Só não estou com a mínima vontade, não que eu te deva satisfação ━ cruzo os braços. ━ Você me odeia. Por que eu te ajudaria?
━ Pra tentar provar que não é um arregão, talvez? ━ tombo meu rosto pro lado. ━ Mas só me mostrou mais ainda como é um cuzão medroso.
Puta que pariu. Que garotinha filha da puta.
Num reflexo, eu agarro o seu queixo firmemente na mesma hora, forçando seus olhos nos meus. A expressão debochada no rosto de Jessica some no mesmo momento, pois ela percebe que eu estou verdadeiramente irritado pra caralho.
━ Não sou um cuzão. ━ rosno.
Jessica encosta seus dedos na minha mão que segura seu queixo com força. Ela relaxa seus olhos e me encara da forma mais inocente possível, como uma porra de vilã de novela.
━ Se você não me largar nos próximos cincos segundos, eu vou matar você. ━ ameaça com a voz mansa.
Travo a mandíbula, mordendo uma insatisfação imaginária. Rapidamente a largo, afim de não ter que resolver futuras fraturas no meu corpo apenas por ter perdido o controle em certo momento.
━ Eu não preciso da sua ajuda, Rafe. Eu me viro sozinha desde que me entendo por gente. Não tenho empregados que limpam até a minha bunda como você. ━ escuto suas palavras ríspidas com atenção. ━ Mas não terei tempo de treinar com o meu irmão nesse fim de ano. E eu trabalho. Não sou uma porra de herdeira como você e a sua irmã. Os jogos são a única chance que eu tenho de fazer algo diferente na minha rotina repetitiva.
Se a tentativa era me fazer ficar com dó, não funcionou. Eu não costumo ligar muito pro vitimismo das pessoas, especialmente se vier de alguém como Jessica.
Mas eu sei muito bem o que é ter um dever. E o porquê não se pode desistir dos meus afazeres antes da hora.
Vendo que ela não obtém resposta, Jessica balança os ombros e antes de dar as costas, solta mais algumas verdades na minha cara, junto com seu veneno escorrendo pelo canto da boca.
━ Eu não esperava muita coisa, de qualquer forma. Você é tão egoísta e medíocre quantos os perdedores dessa merda de competição. Todo mundo sabe que você compra os jogos, Rafe. Se divirta gastando seu dinheiro com corrupção por mais um ano.
Ela sorri sarcasticamente e me manda um beijo no ar, agora se direcionando até a porta para sair da minha academia. E meu sangue está fervendo, porque não é verdade. Eu não uso do meu dinheiro pra trapacear. Não tiro oportunidades de quem poderia estar acima de mim. Posso ser muitas coisas ruins, mas mau caráter eu não sou. De forma alguma.
Pelo menos é o que eu tenho certeza de quem sou hoje em dia. Não me identifico mais com o passado. Me arrependo pra cacete, pra ser honesto.
━ Jessica ━ chamo pelo seu nome, sentindo um gosto amargo na língua.
Ela me olha com seus olhos azuis cristalinos por cima do ombro. Eu respiro fundo, sem acreditar nas palavras que saem da minha boca no segundo seguinte.
━ Me mostra o que você sabe.
Percebo que Jessica tenta esconder, mas o sorriso satisfeito nasce na mesma hora. Ela fecha a porta da academia novamente e anda na minha direção, estendendo as mãos como se esperasse alguma coisa. Não demoro pra entender sua mensagem. Empresto-a minhas luvas de boxe e observo como ela cobre suas mãos com a mesma rapidamente.
Odeio precisar admitir isso mentalmente, mas Jessica parece estar com total disposição pra treinar. E eu não duvido nada da sua possibilidade de dar um soco na minha cara enquanto golpeia o saco de pancadas.
Ela me dá uma última olhada antes de começar à desferir sua força no objeto pesado na sua frente. Noto que seus golpes são um pouco diferentes do meu. Talvez ela seja mais focada na base do Muay-Thai, enquanto eu nunca saí do boxe. Ainda que na teoria seja parecido, na prática é visível como algumas coisas não se batem. E apesar de Jessica ter pedido minha ajuda, ela está me mostrando o que ela sabe. E estou impressionado, porque a garota bate pra caralho.
Jessica está concentrada demais em mostrar como ela é capaz de destroçar qualquer inimigo que não percebe como não tiro meus olhos dela por momento algum. Na real, não estou prestando tanta atenção assim nos seus socos ferozes. Observo como as mechas que escapam do seu coque de cabelo balançam em frente ao seu rosto conforme ela golpeia, seu rosto totalmente dominado pelo foco e seus dentes mordendo os lábios inferiores à cada força que ela coloca sob os punhos. Se eu não a conhecesse o suficiente, até pensaria que ela não estava fantasiando eu ou a minha irmã embaixo das porradas que ela dava.
E ainda assim, não deixo de ficar puto.
Porra, às vezes meu ódio não me deixa enxergar como Jessica Maybank é estupidamente bonita.
Quando ela acaba de me mostrar que seria capaz de me matar de tanta porrada se tivesse vontade, solta um suspiro e tira os fios dourados grudados na testa pelo suor. Então, olhou pra mim logo em seguida.
━ Tá bom pra você?
Respondo mais rápido do que eu esperava.
━ Você é uma máquina mortífera.
E ela sorri, satisfeita com algo mais que parecia uma ofensa.
Ela é um problema. E eu estou exageradamente interessado em aonde essa história vai dar.
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