
𝐭𝐫𝐢𝐧𝐭𝐚 𝐞 𝐬𝐞𝐢𝐬.
RAFE.
Tenso. Tonto. Preocupado, até.
São as palavras que eu consigo imaginar pra me descrever nesse momento. Jessica não me atende. Depois da mensagem que me digitou parecendo até mesmo uma despedida, cogito até mesmo que a maluca cometeu suicídio. Ou, sei lá, matou alguém e se livrou dos seus itens pessoais para não ser identificada. Penso que ela pode ter fugido para as colinas ou se afogado no mar quando foi surfar. Mas, na real, nenhuma dessas possibilidades poderiam ser verdadeiras. Jessica não é burra, e pelo que a conheço, ela jamais se enfiaria numa situação de perigo se não lhe trouxesse algum benefício. Além disso, ela não é o tipo de pessoa que se rende fácil as coisas. Não deve ter acontecido nada tão grave, eu espero.
Enquanto estou quebrando a cabeça ao tentar decifrar um enigma e descobrir o que aconteceu com Jessica para ela não responder nenhuma mensagem ou atender qualquer ligação, Sarah passou pelas portas principais da casa e apareceu na sala de estar, aonde eu estava sentado bem no meio do carpete com o celular nas mãos.
━ Por que tá sentado no chão? ━ ela estranhou.
━ Ah, nada. O sofá dói a minha bunda. ━ Sarah me encarou fazendo careta, mas logo suavizou sua expressão. ━ Onde estava?
━ Com o John B ━ a loira se sentou no sofá e pegou o controle da televisão nas mãos. ━ A Jessica desapareceu.
Puta que pariu. Agora, todas os possíveis cenários criminosos que fantasiei na minha cabeça realmente podem ser realidade. Eu engulo em seco, mas disfarço meu desconforto.
━ Ah, é? ━ ela assente. ━ Sabem o que aconteceu?
━ Nem ideia. JJ disse que ele só a viu antes de dormir. Quando acordou, ela já não estava mais lá. Nem os pertences dela. ━ me explicava, passando os canais.
Talvez ela tivesse sido vítima de um assalto seguido de sequestro. Novamente, descarto essa ideia. JJ teria acordado com o barulho, ao menos que os criminosos fossem ninjas.
━ Suponho que você esteja soltando fogos. ━ tento soltar algum veneno para camuflar o bolo em minha garganta.
Sarah me olhou de rabo de olho e com a cara séria. Quando voltou a encarar a televisão, continuou passeando pelos canais da TV.
━ Eu os ajudei a espalhar os cartazes de desaparecida pelo bairro. ━ meu queixo quase cai. ━ O JJ tava quase subindo na moto e caçando ela pela ilha toda, mas o John B não deixou. Pope disse que nem carteira de motorista ele tinha, ainda. Se a polícia o pegasse pilotando transtornado daquele jeito, ele perderia a moto e a cabeça.
Então, a situação é realmente grave. Se o irmão gêmeo e os melhores amigos não faziam ideia de onde poderiam encontrar Jessica, algo precisava ser feito. Mas, uma dúvida surge à minha cabeça.
━ Não contataram a polícia? ━ pergunto. Sarah nega.
━ Não. O JJ tem antecedentes. Não levariam ele à sério, além de ser um Pogue. ━ me respondeu tranquilamente.
━ Isso nem faz sentido, porra. É o trabalho deles. Tem uma pessoa desaparecida. ━ me levanto do chão, quase transtornado.
Sarah levantou seus olhos pra mim, estranhando minha reação. Eu respiro fundo diante do seu olhar julgador.
━ Temos que aguardar completar vinte e quatro horas. Até lá, a Jessica pode voltar. Caso o contrário, aí sim eles tem carta branca pra fazer alguma coisa. Você sabe muito bem como esses policiais daqui são uns imprestáveis.
Apenas pros Pogues, eu penso. Porque sei bem que quando Ward Cameron esteve em apuros, a viatura estava na porta da minha casa em menos de cinco minutos. Nem me pergunto o porquê. A resposta é ridícula de tão óbvia.
━ Então... Não resolveram nada? ━ minha irmã suspira e nega com a cabeça.
━ Por enquanto, só resta esperar e torcer para que alguém tenha alguma informação. ━ os olhos claros de Sarah se viram pra mim. ━ Sabe de alguma coisa?
Sei. Claro que sei. Sei de muitas coisas, inclusive, que ela me disse para encontra-la horas antes de sumir completamente.
━ Claro que não. ━ sôo como um Leonardo DiCaprio da atuação.
Sarah pressiona seus lábios um contra o outro e respira fundo, se deitando no sofá assim que parou num canal de reality show sobre culinária. Passo os dedos nos meus cabelos e me retiro dali, indo direto pro meu quarto. Imediatamente começo à reler toda a minha conversa com Jessica. Tento procurar algum sinal que ela possa ter dado de onde estaria. Me recordo de nossos diálogos quando saímos, ou até mesmo outras coisas que ela me falou em todos os nossos momentos juntos. Sinto que minha cabeça vai explodir com tanta falta de informação. Ou, até mesmo, falta de atenção. Talvez a culpa fosse minha de não focar nos mínimos detalhes. Eu poderia saber onde Jessica tinha se enfiado. Chego a cogitar que ela deve estar, agora, no meio do mar, fazendo sei lá o que.
E minha cabeça quase explode com o tanto de informação repentina. O mar.
Imediatamente pulo da cama que tinha acabado de me sentar. Tiro minha camisa, coloco meu boné virado pra trás, ponho minha corrente fina de prata e me agilizo em pegar alguns dos meus pertences. Rapidamente volto pra sala, vendo que minha irmã ainda permanece na mesma posição, deitada no sofá e assistindo ao programa.
━ Tô saindo. ━ aviso.
Sarah apenas levanta seu polegar, indicando aprovação, eu acho. Sei lá. Tenho pra mim que ela nem me escutou.
Rodei o meu carro quase pela ilha toda. Só tentei não passar tanto por perto da área dos Pogues para não parecer suspeito, mesmo sabendo que a probabilidade de Jessica estar do seu lado da ilha do que do Figure 8 era cinco vezes maior. Respiro fundo, nervoso. Minha cabeça gira de tanta confusão.
Por que ela mandou aquela mensagem justo pra mim?
Podia ter mandado às suas amigas, aos amigos, ou até mesmo se arrependido de sumir assim e dado algum sinal de vida pro seu irmão. Mas a mensagem chegou no meu celular e agora os meus neurônios estão fritando.
Em todos os lugares que havia resquício de água, me lembro de ter visitado. Praia, cachoeira e outros lagos. Eu já sentia uma gota de suor escorrer pela lateral do meu rosto quando uma lâmpada quase que fluorescente acendeu-se em cima da minha cabeça.
Paro o carro num certo ponto perto da minha casa, me direciono até o jetski da família parado há um bom tempo perto do mangue e após todo o processo de coloca-lo na água, eu não espero demais pra acelerar nas águas dali. Procuro com os olhos naquela escuridão da noite algum resquício de luz. A lanterna do veículo conseguia me dar uma noção de onde eu estava indo, mas ainda sim, eu sentia minha cabeça doer pelo estresse da situação. Quando eu encontrasse Jessica, teria que me segurar para não arremessar algum objeto na sua direção.
Sinto meu coração palpitar contra a minha vontade ao enxergar uma certa luz um pouco afastada de mim no meio do mangue noturno. Imediatamente acelero o jetski, e quando estou perto demais, paro o mesmo ao notar que era um barco. A lanterna ilumina as pequenas letras escritas em branco indicando o "HMS Pogue". E, mesmo que a lua fosse a luz natural mais predominante daquele céu, eu não confundiria aqueles fios loiros reluzentes em nenhum lugar do mundo.
Jessica está sentada com os joelhos encostados no peito e abraçada com as próprias pernas. Está em silêncio, e me surpreendendo totalmente, não carrega nenhum baseado nas mãos. Parece pensativa enquanto encara a lua, mas obviamente não demora pra perceber minha presença ali. Ela até mesmo se assusta, arregalando os olhos.
Acho que sua surpresa não é por ter sido achada, mas ter sido achada por mim.
━ Você... ━ gaguejou.
━ Você disse pra eu te achar ━ sorrio de canto. ━ E eu te achei.
Sei exatamente que cara ela faz quando está segurando o sorriso. E é a mesma que está fazendo agora. Jesse se vira pra mim e a lanterna do jetski ilumina os seus olhos azuis.
━ É, você me achou.
Estamos nos olhando em silêncio agora. Eu respiro fundo, tentando achar em seus rosto algum resquício de insegurança, mas incrivelmente não encontro. Jessica esconde as coisas muito bem quando quer.
━ Você devia...
━ Eu não vou voltar agora, Rafe. Isso não é sobre você. ━ me calo. ━ Não me sinto bem para estar com eles de novo. Não no momento.
Quero debater sua resposta, mas a verdade é que ela está certa. Quem sou eu pra me meter nas suas decisões? Jessica e eu nos conhecemos há pouco tempo. Quando digo conhecer, não me refiro à sabermos da existência um do outro, mas não nos tratamos como animais faz uma boa cota. Ainda assim, eu sabia bem que se tinha algo que Jessica não suportava, era que dessem pitaco sobre suas escolhas.
Passo a língua nos lábios e saio de cima do jetski, apoiando um dos pés no barco e conseguindo subir em cima do mesmo. Jessica observa meus movimentos com atenção, provavelmente aguardando o momento certo que eu tentaria tira-la dali e força-la a subir no jetski para me socar na cara. Mas não faço isso. Pelo contrário.
Eu me encaixo no espaço ao seu lado e me sento sobre pernas de índio. Então, levanto meus olhos pro céu, percebendo como as estrelas e a luz da lua ficam ainda mais evidentes diante daquele ambiente tão escuro.
━ Por que me mandou aquela mensagem?
Minha pergunta faz Jessica me encarar. Mesmo que eu não tenha sido específico, ela não demorou para me decifrar. Respirou fundo e encarou a lua junto comigo.
━ Consegue lembrar de quando eu te disse que me sentia mais confortável com você do que com eles?
Quando se refere à eles, não preciso fazer muito esforço pra saber que ela está falando dos Pogues. Eu logo assinto com a cabeça.
Jessica tira seus olhos do céu para fitar os meus. Com alguns segundos de silêncio, ela abre a boca novamente.
━ Acho que me sinto confortável até demais.
Diante do meu silêncio e o sorriso que cresce no canto da minha boca, Jessica estreita os olhos.
━ Não ouse usar essa frase contra mim.
E então, rimos levemente.
Ao contrário do que ela pensa, não tento usar sua fala para iniciarmos uma discussão chata ou para implicar com ela de alguma forma. Tomo outra atitude que sinto que a surpreende um pouco. Ergo meu tronco na sua direção e a beijo, sem dizer mais nenhuma palavra após nossas risadas calmas. Ela também não demora pra me retribuir. Em poucos minutos, Jessica está deitada sobre o chão do barco e estou em cima dela, sem separar nossos lábios em momento algum.
Estou aliviado por acha-la. Mas, sendo um pouco egoísta, não quero leva-la pra casa. Nem mesmo eu quero voltar pra casa.
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