
𝐭𝐫𝐢𝐧𝐭𝐚 𝐞 𝐪𝐮𝐚𝐭𝐫𝐨.
RAFE.
Estou tranquilo demais no início desse dia. Tomo um banho gelado, coloco uma calça de moletom cinza e desço as escadas. Me concentro em preparar o café da manhã e me distraio notando que o relógio marca o exato horário das nove horas. Passei um café, cortei algumas frutas, preparei uma mistura com suplemento pra poder malhar daqui à pouco e olho pro meu relógio de pulso assim que escuto um som de porta batendo. Conto exatos cinco segundos. Então, agora estou ouvindo gritos furiosos e altos. Que comece o show de horrores.
Na sequência dos gritos, sons de passos na escada ecoam pela casa vazia e quanto mais eu escutava a tal presença se aproximando da cozinha, mas o meu sorriso no rosto aumentava. Conto mais cinco segundos de novo e o Taz Mania está bem na minha frente em seu modo destruição.
━ Você! ━ apontou o dedo pra minha cara. ━ Eu vou matar você. O que fez comigo?
━ Quer mesmo escutar? ━ me viro, tomando minha mistura energética que preparei.
━ Porra, não! Fica calado. ━ rosnou.
Jessica passou suas mãos pelos olhos, coçando suas pálpebras de forma desesperada. Ela anda de um lado pro outro, passeia os dedos pelos cabelos loiros e só então percebo que está trajando uma camisa minha. O pano bate quase nos seus joelhos. Quero rir da sua cara pelo seu nítido nervosismo, mas também não quero parar de olha-la. Absurdamente bonita pela manhã. Ela deveria ser presa.
E então ela parou. Colocou suas mãos na cintura e respirou fundo, agora olhando pra mim com mais calma. Me encosto na bancada da cozinha, também mantendo o contato visual. Um pouco parecido com o que tivemos ontem, mas dessa vez, sem tanta intensidade e fogo.
━ Fizemos isso mesmo?
Termino de tomar minha mistura e coloco a garrafa sobre a bancada de mármore. Logo me viro pra Jessica novamente, concordando com a cabeça. Ela quase choraminga e se senta na cadeira da mesa de jantar.
━ Mas que merda, Rafe ━ bufou. ━ Me dá um café.
━ Você tava prestes à me esfaquear, agora quer que eu te dê café? ━ ironizo.
━ Pega logo a porra do café pra mim antes que eu te mate, caralho.
O apelo irritado de Jessica me faz rir. Ponho o café quente numa xícara qualquer e lhe sirvo, escutando-a suspirar novamente depois de tomar um gole da bebida. Agora estamos em silêncio. Não nos encaramos. Quer dizer, eu estou olhando pra ela, enquanto Jesse se encontra perdida e com seus olhos num ponto aleatório da parede. Penso que ela se arrependeu. Bom, era óbvio que isso aconteceria.
━ Eu sabia. ━ cruzo os braços.
━ Do que? ━ questionou.
━ Que você iria se arrepender. Por isso perguntei se tinha certeza mesmo.
Jessica franze sua testa e passa suas unhas pelas mechas loiras de seu cabelo.
━ O que? Não. Eu não me arrependo. ━ colocou uma mecha atrás da orelha. ━ Quer dizer, não pode me cobrar sinceridade quando eu estou chapada de maconha.
━ Eu também tava chapado e eu fui bem sincero.
Percebo a confusão nos seus olhos e minha ficha cai. Mas que puta merda. Ela realmente não lembra de boa parte dos fatos que aconteceram ontem. Inclusive de minhas confissões, suas frases abusivamente eróticas direcionadas pra mim e, obviamente, muito menos de seus pedidos para mim não parar de meter. Jesus. Minha cabeça dói.
━ Do que tá falando?
━ Nada. Pensei alto. ━ pressiono meus lábios um no outro. ━ Quer alguma roupa da minha irmã pra tomar banho?
━ Isso é algum tipo de xingamento? ━ ela arqueia as sobrancelhas.
━ Por que seria?
━ Você quer que eu use as roupas amaldiçoadas da Sarah, e ainda está indiretamente me mandando ir tomar um banho. Quer me chamar de fedida, Rafe?
Não seguro a risada. Jessica também não contém o sorriso bobo. Ela dá mais alguns goles no café e logo se levanta.
━ Prefiro a camisa. Gostei dela. ━ aponta pra minha blusa que se comportava como um vestido em seu corpo.
━ Quer levar uma lembrança minha pra sua casa, Jessica?
Ela ergue os dedos médios pra mim e amarra seus próprios cabelos num coque. Penso que ela irá tomar um banho. Quando vejo-a se direcionar até o banheiro, quero me concentrar em lavar as louças. Mas outros sons de passos invadem meus ouvidos. Sei que não são de Jessica porque seus pés descalços tocam o carpete fofo do chão. E meu corpo gela.
Se Ward tiver resolvido voltar de sua noite de núpcias cedo demais, fodeu.
Jessica está paralisada em frente a porta do banheiro. Suas mãos estão escondidas atrás do corpo e ela pressiona os lábios um contra o outro, visivelmente tensa. Ela não tem medo de Sarah, muito menos de Ward. Na real, Jessica não tem medo de ninguém. Mas ela sabe que se qualquer membro da família Cameron presenciar essa cena, possíveis cabeças iriam rolar. Com certeza seria a minha.
Os cabelos escuros e a meia altura de uma adolescente surgem na minha frente. É a Wheezie. Minha irmã mais nova carrega uma expressão desconfiada e um tanto quanto duvidosa. Ela intercala olhares entre mim e Jessica, que está com a mão na maçaneta do banheiro e pronta para se trancar ali dentro caso qualquer outra pessoa extremamente ameaçadora da família Cameron surgisse.
━ Oi, Wheezie. ━ coço a nuca. ━ O que tá fazendo aqui?
Ela me olha como se eu fosse um idiota. E, sinceramente, que pergunta bem idiota.
━ Eu moro aqui. ━ ela desvia os olhos pra direção de Jessica. ━ Jessica?
━ Oi.
Diante daquele clima extremamente merda, Jessica olhou pra mim e indicou com a cabeça que iria entrar no banheiro. Então, agora estávamos apenas eu e a minha irmã caçula. Escuto o som do chuveiro sendo ligado e sei que Jessica arranjou a maneira mais fácil e inteligente de fugir daquela situação de merda, me deixando sozinho e com a batata esquentando nas mãos.
Wheezie cruza os braços e olha pra mim, esperando meu veredito final. Eu conhecia bem a irmã que tenho. Ou eu lhe dava o que ela queria, ou ela era capaz de estragar a minha vida. A língua de uma adolescente observadora é um tanque de guerra. Ela sabia bem como minha irmã odiava Jessica, também presenciou por longo tempo nossa rivalidade com os Maybank. Mas, como eu disse, ela era observadora e também não era idiota. Se Wheezie dormiu em casa como estou pensando, ela provavelmente escutou tudo e eu não teria tempo de bolar uma desculpa convincente o suficiente.
━ Beleza. O que você quer?
━ Metade da sua mesada. ━ eu arregalo os olhos, incrédulo com o que acabara de escutar.
━ Garota, você tem catorze anos. Pra que quer metade da minha mesada?
━ Meu pai tá pouco se fodendo pra mim, Rafe. Dentre você e a Sarah, eu sou a que menos ganha as coisas. ━ Wheezie cruza os braços. ━ E, fala sério, já está na hora de você começar a trabalhar.
Não sei porque ainda fico impressionado com o quanto essa garota é abusada.
Fico irritado. Estou puto porque estou sendo obrigado à ser coagido por uma garota de catorze anos. Uma melequenta que acabou de sair das fraldas. Merda, eu sou um completo otário. Tudo isso porque quero permanecer na minha zona de conforto.
Quero continuar vendo Jessica. Ainda mais depois de ontem.
Pego minha carteira em cima da mesa e a abro, tirando toda a minha mesada dali e contando nota por nota. Com os cálculos certeiros e tendo metade do dinheiro nas minhas mãos, eu estendo na mão da minha irmã. Com o sorriso satisfeito no rosto, ela pisca um olho pra mim.
━ Bom romance escondido, irmãozinho.
E sumiu.
Estou cem por cento arrependido de minhas influências escrotas em cima de uma adolescente. Eu criei um monstro.
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