𝐭𝐫𝐢𝐧𝐭𝐚 𝐞 𝐝𝐨𝐢𝐬.
JESSICA.
Eu saí de casa o mais rápido que pude para driblar todas as perguntas do meu irmão. Quando JJ estava destrancando a porta do seu quarto pra me perguntar onde eu ia, eu já estava na outra esquina. Eu não teria culhão pra olhar nos seus olhos e mentir sobre o que estou fazendo novamente. Então, agora estou pilotando a moto no endereço certo que Rafe me enviou. Ele cogitou a possibilidade de vir me buscar, mas eu lhe disse que ele estava enlouquecendo. Sinto que ele deve ter algum tipo de amnésia para esquecer que temos uma "amizade proibida".
Amizade. Com o Rafe Cameron. Não sei onde vim parar, sinceramente.
Penso na loucura que é a minha vida. Há um mês atrás, eu não suportaria a ideia de estar no mesmo lugar que Rafe sem agredi-lo fisicamente. Muito menos da sua irmã, já que dentre os dois, ela quem sempre insiste em criar situações desconfortáveis. Foi a coisa que mais me deixou completamente chocada. Após me confessar que sua raiva por mim não era algo totalmente concreto, ela simplesmente voltou à erguer seus muros e me tratar como merda. E, honestamente, eu quero que ela se foda. É o tipo de pessoa que eu não faço questão nenhuma de ter por perto.
Estaciono minha moto num lugar vazio e um pouco afastado do tal endereço que Rafe me falou. Opto por caminhar até o local. JJ era mais conhecido que eu nesta ilha, e as pessoas obviamente sabem muito bem de quem pertencia a moto vermelha cheia de riscos com as palavras "Pogues" e "P4L". Não quero dar sorte ao azar.
Eu ouço a música calma, provavelmente sendo cantada por algum hipster com violão na mão em cima de um pequeno palco e sei que estou onde eu deveria. Realmente, era um barzinho ao ar livre com música ao vivo. Tenho amigos que não gostam desse tipo de lugar, mas honestamente, é mil vezes melhor do que uma balada lotada de gente suando e com droga na mente. Não que em lugares como esse não existam pessoas com drogas na mente.
De longe, eu avisto Rafe sentado numa mesa um pouco longe do palco. Pelo visto, o som de violão alto demais provavelmente irritava ele também. O local não está tão cheio, apesar de bem frequentado. Sinto-me incrivelmente confortável. Obviamente Rafe deveria saber que se me levasse à uma boate ou coisa do tipo, eu nem me daria o trabalho de responder sua mensagem de texto.
━ Ei, Jesse. ━ é o que diz quando me avista chegando perto de sua mesa.
Ele está incrivelmente arrumado pra ocasião. Uma blusa rosada com os botões abertos, permitindo um pouco da vista do seu peitoral aparecer, uma bermuda de verão preta e chinelos brancos. É uma das primeiras vezes que não está com os cabelos lambidos por gel capilar. Em todos os nossos treinos, ele não faz questão de arrumar o cabelo por motivos óbvios. O suor derrete qualquer fragrância ou produto forte aplicado em seu corpo.
E hoje, ele não fez muita questão de parecer uma pessoa despojada. Sinto seu perfume másculo de longe.
━ Ei, Rafe. ━ rebato na mesma moeda.
Eu puxo a cadeira pra me sentar. Quando noto a movimentação repentina de Rafe para tentar ser cavalheiro e ser mais rápido que eu em puxar a cadeira, eu lhe lanço um olhar mortífero. Ele logo recua com suas mãos pra cima.
━ Então ━ comento ao sentar-me. ━ Não sabia que curtia esse tipo de lugar.
━ Eu não curto ━ ele fez uma careta. ━ Não gosto muito de música ao vivo.
Viro meu rosto na direção do cara que estava se apresentando. Ele cantava calmamente o refrão de Never Be Alone do Shawn Mendes. Sua voz era tão bonita e sua facilidade com instrumento nas mãos era tão grande que era visível como deveria ser experiente no violão. Acabo dando um sorriso, admirando como artistas locais se sentem absurdamente confortáveis em ambientes acolhedores como esses.
━ Mas pelo visto, você curte.
Diante da fala de Rafe, eu concordo.
━ Acho que me sinto acolhida em lugares que as pessoas tem o mesmo pensamento que eu sobre a arte. ━ me ajeito na cadeira.
━ Como assim? ━ perguntou, curioso.
━ Eu escrevia composições autorais há um tempo atrás. Depois que comecei a trabalhar, acabei deixando isso um pouco de lado.
━ Você escrevia? Porra, legal. ━ sorrio fraco diante do seu entusiasmo. ━ Não consigo. Não sou tão chegado em escrita, nem em leitura.
━ Pois deveria. Ler é conhecimento e também uma forma de arte.
Quando termino de falar, uma funcionária do local passa pela nossa mesa e deixa um cardápio sobre a mesma. Levanto os olhos pra Rafe.
━ Então, tá com fome? ━ ele questionou e eu assenti.
━ Um pouco, sim. Só almocei hoje. ━ o vejo abrir um sorriso.
━ Imagina se tivéssemos ido treinar. Você ia cair dura, Jessica.
━ Você que ia ━ pego o cardápio em mãos. ━ Eu ia te encher de porrada.
Escuto sua risada por trás do cardápio que abro bem na frente do meu rosto. Dou uma olhada pelas opções de petiscos, tão entretida quanto uma criança lendo o menu do Mc Donald's.
━ Tô morrendo de vontade de batata-frita. O que acha? ━ sugiro.
━ Pode pedir o que quiser ━ levanto as sobrancelhas. ━ A noite é nossa.
Isso seria facilmente uma frase de um casal que acabara de chegar num motel. Mas, no caso, somos apenas duas pessoas que estamos nos deixando de odiarmos completamente. Então, ouvir esse tipo de coisa da sua boca ainda é terrivelmente estranho pra mim.
Por fim, acabamos efetuando o pedido de uma porção de batata frita, outra de frango frito e coca-cola gelada.
━ Não está mais falando com os seus amigos? Não vi mais você saindo com eles. ━ Rafe me perguntou.
Pressiono meus lábios um contra o outro.
━ Consegue ouvir uma confissão louca sem se achar o último homem do mundo? ━ acho difícil, mas Rafe concorda.
Eu acaricio meu próprio polegar e penso um pouco antes de dizer algo do tipo. Mas é a mais pura verdade. E, na real, agora estamos num momento vulnerável. Não há mais motivos pra destilar ódio, muito menos alguma situação que traga esses sentimentos ruim à tona novamente. Por isso, apenas respiro fundo.
━ Acho que me sinto mais confortável aqui e agora com você do que estando com eles e fingindo gostar da sua irmã.
Rafe fica em silêncio. Estamos nos encarando agora. Apesar de não conseguir decifrar o que tem em seus olhos, ele tem um semblante compreensivo. Logo, ele apoia seus cotovelos sobre a mesa e, por um breve momento, nossas mãos estão perto demais uma da outra.
━ Eu entendo. ━ mordeu o lábio inferior. ━ E você? Consegue escutar algo sem se sentir a Mulher Maravilha?
Rio baixo diante de seu palavreado, logo concordando também.
E retirando meu ar num choque completo, Rafe toca sua mão na minha, segurando meus dedos entre sua palma e analisando os anéis que tenho espalhados abaixo das unhas.
━ Eu acho que tenho um Maybank preferido.
Não tenho dificuldade pra decifrar. Rafe não conhece meus pais, muito menos diria que meu irmão é o membro da família que ele mais simpatiza. Diante de sua declaração, abaixo minha cabeça de forma tímida. Merda.
━ Estamos quites, então.
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