𝐭𝐫𝐢𝐧𝐭𝐚.
RAFE.
━ Pode me explicar ou eu tô falando grego?
Sarah está parada bem na porta da cozinha, com os braços cruzados e o semblante irritado. Enquanto isso, Jessica continua sentada na minha frente com as mãos enfaixadas. Temo no mesmo momento no que pode acontecer nos próximos minutos. Se Jessica inventasse de bancar a Xena Guerreira agora, as mãos dela poderiam cair dos próprios punhos de tão fodidas.
━ John B passou por aqui. ━ Sarah franze a testa.
━ O John B esteve aqui? Por que? ━ perguntou, estranhando.
━ Queria te ver, ué ━ balanço os ombros. ━ Trouxe a Jessica com ele.
━ Meu namorado esteve aqui e trouxe ela. ━ Sarah recapitula o que eu disse e aponta pra Jessica com a ponta da unha.
Eu concordei com sua fala, sem escrúpulo nenhum. Sinto que Jessica está me encarando, de fato impressionada com a minha cara de pau.
━ E por que a porta da sala tá estraçalhada no chão? ━ minha irmã faz mais uma pergunta. ━ E isso? ━ fez novamente, agora apontando para as mãos da Maybank.
━ Eu tava sem a chave. Tive que arrombar. ━ invento a pior desculpa possível.
━ Você tá mentindo.
Minha irmã larga sua bolsa de lado e avança alguns passos na minha direção. Jessica ainda se mantém imóvel, apenas presenciando uma possível futura cena de assassinato. Tenho quase certeza que ela não seria uma testemunha ao meu favor, tampouco da minha irmã. Quando os policiais vissem suas mãos completamente cortadas, dariam algum tipo de veredito de suspeita pra ela. Apesar do rostinho bonito, Jessica Maybank é o tipo de mulher que não pensaria duas vezes antes de matar alguém por vingança ou algo do tipo.
━ Me explica que porra tá acontecendo, Rafe. Por que ela tá aqui? ━ Sarah gesticula de forma irritadiça.
Abro a boca pra tentar responde-la, mas minha desculpas já acabaram. Não consigo pensar em mais nada. Nunca fui muito bom mentindo, só pra algumas coisas. Mas, pra Sarah, eu não conseguia sustentar uma falsidade por muito tempo. Ela me conhecia melhor do que eu mesmo.
━ E você? Não fala nada? ━ se virou pra Jessica.
━ Escutou minha voz? ━ ela cerra os olhos. ━ Tá ficando doidinha, Cameron.
Percebo o momento que Sarah se prepara pra avançar em Jessica e sou mais rápido. Me levanto e a puxo pelo braço, negando com a cabeça e demonstrando reprovação.
━ Hoje não, Sarah. Pelo amor de Deus. ━ pedi.
Diante dos seus olhos revoltados e confusos pra caralho, ela diz exatamente o quê estou pensando.
━ Eu tô confusa pra caralho. ━ Sarah nega com a cabeça e passa os dedos pelos cabelos loiros, logo se virando e se retirando da cozinha.
Respiro fundo, cansado daquela situação de merda. Odeio ter que bancar o maduro ou me auto-intitular alguém superior aos outros por ser mais velho, mas honestamente, me sinto lidando com crianças. Faz tempo que eu não faço mais questão de manter os muros intactos, nem mesmo erguer as defesas pra sempre. É cansativo estar na estaca zero sempre, e estou puto por Sarah não conseguir também ser flexível.
Noto que Jessica se levanta em silêncio. Com um pouco de dificuldade, ela pega as suas coisas nas mãos e caminha pra fora da cozinha. Eu a sigo, estranhando como estou com medo dela não cuidar desses machucados direitos. Tive que aprender à me virar sozinho quando eu me machucava, por isso, virei um obcecado em ler matérias sobre coisas de medicina. Então, sabia que se ela não se cuidasse da forma que deveria, as feridas poderiam ficar piores.
━ Jessica. ━ a chamo.
Ela me encara por cima dos ombros com seus olhos azuis calmos. Estranho também que ela não mandou eu me foder quando estou chamando seu nome depois de momentos tão estressantes.
━ Eu posso te levar em casa, se você quiser.
Com cuidado, ela abraça os cotovelos e me olha novamente.
━ Por que tá sendo gentil?
━ Você estourou uma porta por minha causa. É o mínimo que eu posso fazer.
Diante das minhas palavras e provavelmente analisando tudo que aconteceu em menos de uma hora, Jessica dá uma risada fraca. Me permito rir baixo também. E, mais uma vez, estranho a sensação boa que domina meu peito justamente com ela. Talvez porque estamos nos entendendo? Ou só por não estar numa situação onde o ódio prevalece acima de tudo. Estou cansado de odiar as pessoas. Porra, estou velho. Sou atleta, tenho uma boa saúde e ainda assim estou sentindo sono às dez da noite. Gosto de festas, gosto de beber de vez em quanto, mas tô de saco cheio de usar drogas pra me aliviar das minhas emoções de merda.
O tempo passa rápido pra cacete. Não quero precisar passar toda a minha juventude espalhando e recebendo ódio das pessoas.
Quando estou saindo de casa e andando até a moto de Jessica, vejo Sarah me encarando pela janela do segundo andar. Sua expressão mescla confusão e raiva. Gesticulo de uma forma, indicando que quando voltasse, a explicaria tudo. Então, subi na moto, ajudando Jessica à montar na garupa.
Tento não ir rápido demais para que Jessica não acabasse, sei lá, caindo da garupa por não conseguir se segurar com tanta força no banco. E eu entro em choque quando senti o toque dos dedos enfaixados no meu tronco, logo acompanhado do seu rosto tocando as minhas costas. Obviamente ela só está fazendo isso por pura segurança, mas não consigo evitar abrir um sorrisinho. É uma cena que eu não imaginaria em anos. Dito que nos matávamos em quase todo o colegial, esse tipo de intimidade sempre esteve fora de cogitação, tanto pra mim, quanto pra ela.
Jessica deu alguns toques na minha cintura para que eu parasse duas esquinas atrás da sua casa, para não correr o risco do seu irmão ou dos seus amigos me virem com ela. Com minha ajuda, ela desceu da moto e também com meu auxílio, subiu novamente, agora no controle.
━ Tem certeza que quer ir sozinha? Posso te levar até a porta. ━ sugiro.
Jessica abre um sorriso divertido.
━ Você seria um ótimo namorado, sabia? É tão protetor que chega à ser irritante.
O silêncio nasce no ambiente. Enquanto seu sorriso murcha, o meu cresce cada vez mais.
━ Não, não pra mim. Digo que você seria um ótimo namorado pra alguém, um dia, porque...
━ Sem desespero, Jesse.
Ela estala a língua no céu da boca e nega com a cabeça, antes de colocar o capacete na sua cabeça.
Então, quando ela se prepara pra sair dali, decido brincar com a morte. Dou dois tapinhas em sua bunda coberta pelos shorts jeans, e Jessica toma um susto tão forte que dá um pulinho em cima do banco. Seus olhos azuis se arregalam pra mim, e na medida que ela acelera pra se afastar, escuto o seu grito alto que me fez gargalhar.
━ Seu grande filho de uma puta!
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