
𝐪𝐮𝐚𝐫𝐞𝐧𝐭𝐚 𝐞 𝐪𝐮𝐚𝐭𝐫𝐨.
JESSICA.
Meus pés esquentaram ao pisarem no chão da casa que eu costumava dividir com o meu irmão. Umedeci meus lábios enquanto olhava em volta, tentando achar algum resquício dele que não fosse alguns pertences seus, que ele provavelmente não havia feito questão de levar, seja lá pra onde ele foi. Forço meus ouvidos pra escutar sua voz, mas não ouço nada. Fungo diversas vezes na tentativa de sentir o seu cheiro, mas o aroma de JJ só ficou nas cobertas da cama. Dizendo assim, até parece que aconteceu algo muito mais grave com ele, mas não estou acostumada. Definitivamente não estou acostumada a passar mais de dois dias longe do meu irmão. Desde que nascemos, não nos separamos mais. Até parecia que éramos gêmeos siameses.
A angústia no meu peito cresce. Obviamente, ele não estava muito longe. Devia ter fugido pra algum lugar do cut ou até mesmo se arriscado à dormir no trabalho, pra não precisar tomar mais esporro do patrão como já estava acostumado. Poderia estar com alguns dos meninos também, mas creio que qualquer um dos dois, teria me avisado. Pope e John B. sabem a gravidade da situação. Não me esconderiam algo assim, eu espero.
Sentada no sofá e passando as mãos pela raiz do meu cabelo, eu me levanto dali pra beber uma água na cozinha. Meu coração já acelerava pela ansiedade. Pensar demais naquela situação me deixava nervosa feito o inferno. A dúvida quase me enlouquecia, já que tinha dias que JJ não respondia nenhuma mensagem minha.
Parece até um ciclo interminável. Eu ignoro Rafe, JJ me ignora, e ambos se ignoram, porque podiam acabar se matando.
Encho um copo de água, tomo devagar e respiro fundo. Quando abro meus olhos novamente, um pouco mais calma, noto que há algo estranho na mesa. Tem um bilhete. Um pequeno bilhete com letras escritas por caneta preta no mesmo. Quase deixo o copo cair quando me apresso para pegar o papel nas mãos e ler o recado que está ali. E, novamente, meu coração acelera em pensar que JJ poderia ter ao menos me avisado aonde estaria.
Não era ele. A letra era bonitinha demais para ser do meu irmão, mas o que leio, me faz soltar todo o meu ar pelo alívio.
"JJ está comigo. Ele está bem e estou ajudando ele. Não precisa se preocupar, ele só precisa de um tempo.
Se quiser conversar sobre toda essa loucura, você sempre terá um colo aqui.
Leslie."
Mal largo o bilhete e saio correndo de dentro de casa. JJ tinha levado a moto dele, então resolvo ir andando de qualquer forma. Foda-se. Já cansei de ir à festas no Figure 8 na base da canela, nada me impediria de alcançar o meu irmão. JJ podia fugir pra fora do país que eu sempre iria atrás dele. Em qualquer lugar que fosse.
Sentindo minha nuca suar e minhas pernas tremerem, eu caminhava pelas ruas daquela ilha me sentindo um peixe fora d'água. Nasci e cresci em Outer Banks, mas diante das coisas que estavam acontecendo, eu não me sentia em casa. Minha cabeça está em outro lugar. Longe do meu irmão, as coisas se tornam tão confusas e irreconhecíveis que chego à me assustar na possibilidade de uma vida sem JJ. Nossa convivência como gêmeos nunca foi algo extremamente difícil. Apesar do nosso embate de personalidades, JJ nunca me tratou como menos do que a pessoa mais importante da sua vida, assim como eu o tratava. Isso me causava arrepios.
Mesclando-se com o som das batidas dos meus pés no chão, o barulho das rodas de um carro se aproximava. Eu só precisei levantar um pouco a cabeça para querer me esconder entre os arbustos. O carro de Rafe andava em lenta velocidade ao meu lado, como se ele tivesse freado bruscamente apenas para acompanhar o meu ritmo. Aos poucos, o vidro do motorista se abaixou e revelou sua face tensa. Os olhos azuis mais claros que nunca devido à insegurança e o lábio levemente pressionado pelos dentes. Rafe estava ali, e parecia nervoso, tanto quanto eu.
━ Jessica, entra no carro. ━ Rafe pediu.
━ Não fode. ━ murmuro ao acelerar o passo.
Obviamente, não adianta que eu force as pernas para andar mais rápido. A velocidade de um carro não era comparável ao meu nervosismo ao caminhar.
━ Por favor, entra no carro. ━ novamente, ele insiste.
━ Me deixa em paz, Rafe.
━ Entra na porra do carro, Jessica!
Quando Rafe aumenta o tom de voz, eu interrompo meus passos. Me viro na sua direção e coloco as mãos na cintura, indignada com o que acabara de acontecer. Imediatamente, minha raiva sobe à cabeça.
━ Não tenta mandar em mim, garoto. E não adianta levantar o tom de voz, não sou uma criança que...
━ Pelo amor de deus, Jessica. Só entra na porra do carro. Depois você me enche de esporro. Me escuta ao menos uma vez na porra da sua vida.
Seu suplico me fez calar a boca imediatamente. Estou irritada, nervosa, querendo quebrar os vidros do seu carro, mas apenas respiro fundo após um intervalo de silêncio. Com vontade de bater o pé de forma birrenta, apenas abro a porta do veículo e me aconchego no banco do passageiro. Parados no meio da rua deserta, estamos em silêncio. Não tomo a iniciativa de iniciar um assunto, mas percebo que ele está achando uma forma boa de dar o primeiro passo.
━ Nós podemos...
━ Me leva pra casa da Leslie. Eu quero ver o meu irmão. ━ mando.
━ Você nem me deixou terminar.
━ Eu quero ver o JJ. Ou você me leva agora, ou eu desço do carro.
━ Você consegue escutar alguém por um minuto, Jessica? Só um minuto? Eu te levo até pra puta que pariu, se você quiser. Mas eu preciso que a gente converse de forma civilizada.
Fico quieta. Meus braços estão cruzados e meus pés se aconchegam no banco. Estou sentada de forma despojada. Afinal, sinto que se eu me mexesse bruscamente, teria uma parada cardíaca de tanto que meu corpo está tenso.
Rafe passa a mão pelo volante de forma lenta e respira fundo. Observo como seu braço com as veias marcadas está esticado para alcançar o material de couro que reveste aquilo. Sua cabeça está encostada no banco, e posso ver que ele engole em seco, deixando seu pomo de Adão ainda mais marcado. E, rapidamente, minha tensão some aos poucos. Porque sua presença é leve demais para que me deixe tão negativamente eletrizada.
━ É só isso que vai acontecer? ━ perguntou.
━ Como assim?
━ Nós ━ me olhou. ━ É só isso? Você me deixa desse jeito, diz que não quer que eu a procure mais e é só isso?
━ Não sei o que você quer que eu diga. ━ murmuro, desviando o olhar.
━ Qualquer coisa, Jessica. Só... ━ Rafe fecha os olhos por um momento. ━ Eu tô cansado de ficar vivendo no escuro em relação a você.
━ Viver no escuro? Que merda quer dizer com isso?
Rafe suspira mais uma vez. Ele não parecia estar se controlando para não perder a paciência, como a maioria dos homens provavelmente estariam diante à tanta relutância, mas Rafe se demonstra cansado. Como se, o processo de ter resolvido vir atrás de mim e ainda aguentar minhas patadas, estivessem lhe esgotando.
Detesto ter que admitir, mas me sinto mal. Mal por ser alguém difícil de lidar, porque apesar de não verbalizar nunca para ninguém, eu sei que não aguentaria conviver comigo mesma.
━ Porra, Jessica. ━ quase choraminga.
Presenciando aquela cena, pressiono meus lábios um contra o outro e me ajeito no banco do seu carro. Agora, estou olhando diretamente pro rosto de Rafe e consigo sentir o cheiro forte de seu perfume masculino. Ele continua na mesma posição, mas pela sua expressão, posso ler tudo que ele está sentindo no momento. Talvez nervosismo ou desconforto. Qualquer coisa que não seja relaxado demais para conseguir me olhar nos olhos por muito tempo.
━ Me diz ━ pressiono. ━ Eu não vou saber se você não falar nada, Rafe.
Cameron tira sua mão do volante e consigo vê-lo passando a língua na parte interior de sua bochecha. Ele fica em silêncio, e naquele curto período que escutávamos apenas o som do ar condicionado de seu carro, sinto que posso infartar. Odeio suspense.
━ Gosto de você mais do que eu consigo controlar, e precisar ir atrás de você o tempo todo está me deixando maluco.
Por mais incrível que pareça, sua declaração repentina não me surpreende. Estou encarando o seu rosto da mesma forma que ele ficou há alguns segundos atrás: em completo silêncio. Ele ainda não olha pro meu rosto, provavelmente com medo de que eu esteja carregando algum semblante de reprovação diante daquela confissão. Mas não é isso que acontece. Na verdade, não tinha o porquê disso acontecer, nem uma mísera possibilidade.
Porque eu também gostava dele e isso estava me deixando maluca. Mais do que eu já fui um dia.
Sinto que a maior loucura da minha vida não foi o dia que eu, meus amigos e meu irmão fugimos da polícia quando eles nos pegaram fumando numa casa abandonada do cut. Também não foi aquela noite que eu pichei o muro da mansão Cameron junto de Kiara e, no dia seguinte, fingi que nada estava acontecendo quando Sarah Cameron estava dando piti sobre isso na festa pública de Topper. Mas sim estar apaixonada por Rafe. Essa sim, era a atrocidade que eu tenho cometido há algum tempo e que seria o meu pior pesadelo na minha cabeça de meses atrás.
Foram essas exatas coisas que saíram da minha boca pra Rafe dentro daquele carro. Minha confissão parecida com a dele, e praticamente lhe dizendo que meu pior pesadelo aconteceu, que era me apaixonar por ele.
Sua expressão tenta some aos poucos, dando lugar a um mísero sorrisinho de canto. Seus olhos azuis resolvem me encarar agora, e eles brilham tanto quanto o oceano refletindo a luz do sol.
━ É a primeira vez que estou presenciando Jessica Maybank abrindo seu coração? Ou, pode ser mais um deboche. ━ Rafe morde o lábio inferior.
É automático que eu sorria de volta.
━ Já abri meu coração pra você outras vezes. Deve ser por isso que estou cometendo essa atrocidade.
━ É uma atrocidade tão grande assim gostar de mim, garota? ━ ele tombou seu rosto pro lado. ━ Você não reluta tanto assim quando...
━ Cala a porra da boca antes que eu me arrependa disso tudo e me jogue pra fora desse carro, por favor.
A gargalhada de Rafe preenche todo o carro e todo o meu coração. Ele se inclina levemente para beijar meus lábios, e não sinto nenhuma vontade de fugir. Não sei o que isso significa, na verdade. Mas me parece que somos oficialmente um casal agora, talvez? Não sei. Nunca vivi isso antes.
━ Então, o que acontece agora? ━ falo com a voz baixa.
Rafe umedece os lábios e acaricia meu rosto com sua mão grande, aquecendo boa parte da minha bochecha com seu toque cuidadoso.
━ Vou te levar pra ver o JJ. Depois resolvemos isso, tudo bem? Sem pressão.
Meu peito explode no momento. É, estou realmente apaixonada por Rafe Cameron. E é a primeira vez que não me culpo por isso.
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