
𝐨𝐢𝐭𝐨.
JESSICA.
Eu penso e repenso o que eu tinha feito na minha vida passada de tão ruim para ter que aturar um castigo nessa intensidade. Parece que minha cabeça vai explodir.
Enquanto todo mundo almoçava espalhados pela sala de estar da minha casa, eu fumava um baseado na varanda, sem a mínima vontade de comer a comida que Cleo preparou com o auxílio de Rafe. Havia perdido completamente a fome. Só de pensar em comer algo que aquele filho da puta tocou, tenho vontade de arrancar minha própria língua. Opto por ficar na minha, sem arranjar confusão com ninguém e deixando o pessoal à vontade na sala. Não quero ter que lidar com essa ideia de girico que Sarah teve de forma alguma.
Até agora, todos tiveram a decência de não virem me perturbar no meu momento de paz. Agradeço mentalmente por isso. Mas quando você é uma pessoa que o único contato de "família" que você tem é um irmão da sua idade e amigos também seguindo sua faixa etária, é impossível que nenhum deles aja como sua mãe ou pai às vezes. Não mexo um músculo quando Cleo aparece aparece carregando seu prato de almoço. Ela tem um semblante preocupado.
━ Você não vai comer? ━ nego.
━ Tô sem fome. ━ respondo, soltando a fumaça do baseado.
Ouço-a respirar fundo. Cleo pousa uma mão na cintura e me observa angustiada.
━ Vai bater uma puta larica do caralho à qualquer hora. Para de birra e vem comer logo, garota.
Sorrio inevitavelmente com sua postura de irmã mais velha.
━ Tá tranquilo, CL ━ levito os olhos pra ela. ━ Foi bom cozinhar com o ajudante de ouro?
Ela revirou os olhos e deu uma risada fraca.
━ Vai se foder ━ bagunçou meus cabelos. ━ Não me deixa sozinha lá, cara. O perfume de rico deles tá empesteando o oxigênio.
Dou uma gargalhada e aceno com a cabeça, gesticulando com a mão pra ela voltar pra sala. Cleo deixa um beijo em minha bochecha e faz o que peço. Fecho os olhos, sentindo o vento fraco daquela tarde bater contra o meu rosto. Não quero arranjar mais confusão com ninguém. Quer dizer, essa situação já é uma merda completa. John B me enfiou num cenário desagradável, onde eu tinha que literalmente engolir a menina que fez bullying comigo na adolescência só porque ela era sua namorada e de brinde, o seu irmão que foi outro imbecil focado em atormentar nossas vidas. Tudo bem que depois do colegial não tivemos mais tanto contato, mas essa ilha é pequena demais e era inevitável eu ter que me esbarrar com a Tica e o Teco versão filhos do capeta, seguindo a metáfora de Kiara.
Não que eu seja rancorosa, mas não sou idiota. Sei que não é justo que eu tenha que aturar os Cameron se fazendo de bons moços pra cima de mim. Bem, no caso, é a única opção. Ou eu me fazia de idiota ou simplesmente os expulsava na base do chute.
Continuo fumando do meu cigarro, tentando me desvencilhar da ideia que meus arqui-inimigos estavam na sala da minha casa, comendo da comida que meus amigos compraram como se estivessem numa porra de pensão quando mais uma pessoa entra na varanda. Já não é mais Cleo, pois noto a falta de suas tranças. Minhas veias pulsam de ódio quando vejo a figura alta de Rafe Cameron na minha frente. Diferente de Cleo, ele não está segurando nenhum prato de comida. O desgraçado já devia estar de rabo cheio e procurava alguém pra encher o saco. Se esse era seu objetivo, sinto muito, eu não lhe daria essa moral nem fodendo.
━ Não vai comer? ━ o senhor Cara de Pau me pergunta.
Não respondo. Sinto que se eu abrir a boca, vai ser pra manda-lo meter o pé da minha casa e levar o troço ruim da sua irmã junto. Aspiro a fumaça da marola, sentindo-a tomar conta dos meus pulmões e relaxar todo o meu corpo tenso. Rafe não pensa duas vezes antes de desrespeitar a minha escolha de silêncio.
━ Além de maconheira, é surda? ━ cruzou os braços.
Aperto minhas pálpebras com a ponta dos dedos. Pelo amor de Deus, ele está testando minha paciência.
━ O que você quer, porra? ━ falo entredentes.
━ Tô perguntando se você vai almoçar ou não. Sobrou comida na cozinha. ━ Rafe indicou com a cabeça pra dentro de casa.
━ Tô ocupada. Você é burro ou é cego? ━ ele arqueia sua sobrancelha com a ofensa.
━ Já está tempo demais aí e a larica vai chegar. É mais fácil parar de agir feito criança e ir comer logo. ━ ele repete a mesma falácia de Cleo.
━ Estou sendo obrigada a conviver com você ━ solto a fumaça. ━ Não aja como se fôssemos amigos.
━ Longe de mim. Ser seu amigo parece um castigo. Só odeio desperdício de comida. Tá muito boa, inclusive.
Ele sorri cínico.
Me pergunto quanto tempo de cadeia devo levar se assassinar alguém e dizer que foi por legítima defesa. E seria mesmo. Ele estava agredindo minha paciência feito o inferno.
━ Legal. Já acabou? Se manda. ━ estou com os olhos fixos no mangue.
Noto o silêncio na varanda e penso que ele já voltou pra dentro de casa. Quase solto um suspiro de alívio. Nem deu tempo. Logo noto Rafe se aproximando e se agachando para ficar na minha altura, já que estou sentada numa cadeira de balanço. Ainda assim, ele conseguia ficar mais alto do que eu. Estou na estatura perfeita para dar um golpe em seu pescoço agora se ele me irritar mais do que o normal.
━ Divide aí. ━ aponta pro meu baseado.
Eu o olho como se ele tivesse acabado de xingar minha família.
━ Você deve estar muito louco pra pensar que eu vou dividir o meu baseado com você.
Rafe me olha perplexo com o egoísmo. Alguém está negando algo pro menino de ouro, tomem cuidado. Ele vai sentar, chorar e espernear em alguns segundos.
━ Cara, você tá praticamente fumando uma ponta. Só um trago, qual é. ━ tenta pedir com jeitinho.
Quero vomitar na sua cara.
━ Foda-se ━ amasso a pontinha do meu baseado entre os dedos propositalmente. ━ Vai comprar a sua droga de fracassado com o Barry. Não enche o meu saco.
Diante da sua expressão irritada, minha barriga ronca alto. É claro que a larica ia bater uma hora, mas a porrada veio mais rápido do que eu pensava. Bufo, me levantando da cadeira.
━ Eu avisei ━ Rafe deu de ombros, se divertindo. ━ Vai pra cozinha, Jungle Jessie.
Empurro o seu peito, raivosa. O faço cambalear pra trás com um sorrisinho.
━ Vai se foder, filho da puta. ━ rosno, lhe mostrando o dedo do meio enquanto entro pra casa.
Sua risada afastada ecoa abaixo dos meus ouvidos. É. Devia mesmo ser um castigo. Odeio esse cara. Odeio Rafe Cameron mais do que qualquer coisa nessa porra de ilha.
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