
10 | Dez
Pensei que ficaria melhor sem você
Eu não consigo parar de pensar em você
Agora estou com um novo alguém
Eu sinto sua falta
O que diabos eu fui fazer, eu fui fazer?
Brincando com um novo alguém
Pensando que eu queria isso
Acontece que eu não quero um novo alguém
Eu quero você…
— New; Daya
──── ✧ ────
Saint Helier, Jersey
30 de dezembro, 3:00pm
M E L I S S A
A noite de ontem havia me deixado pensativa. Havíamos passado bons momentos como uma família gigante, mas eu ainda me sentia cercada pelos meus pensamentos quanto à minha amizade com Henry. Tudo por conta das fotos que revemos.
Saber que eu havia dedicado toda uma parte da minha vida para estar ao lado dele sempre, me assustou um pouco. Mesmo sabendo que nada foi em vão, e que não estivemos juntos só pelo namoro. Sempre fomos leais um ao outro muito além disso, e a conexão de uma vida jamais seria deixada de lado.
— Mel, Peach está chorando na porta. — Meu pai avisa, seguindo da sala de estar para a cozinha.
Quando tiro totalmente os fones, posso ouvir, e caminho até a porta da casa, vendo-a encarar a área externa, e Kal lá fora, ao lado de Henry. Um breve riso escapa, percebendo o quão apegada ela estava, e abro a porta, deixando que passe. Vendo os outros ali, sigo para o sofá, sentando ao lado de minha mãe.
— Achei que não sairia da sala.
— Peach me deu um empurrãozinho.
— Fez bem. É bom tomar um sol.. — Ela diz casualmente, sem tirar os olhos da revista que folheava.
Com o corpo relaxado na poltrona e a mente mais leve, pego o celular, abrindo o app de mensagens. Troco algumas com a equipe de suporte do trabalho, garantindo mais uma vez que tudo estava correndo bem, e, por impulso, passo o olho pela conversa de Gerrett. Nada mais do que uma mensagem que eu havia mando ontem.
E ele sequer havia visualizado.
Sabia que já estava na casa de campo dos amigos, e tentava ficar tranquila com aquilo. Mesmo com o meu sexto sentido apitando. Não tinha nada que me alarmasse para mandar uma mensagem agora, e se o fizesse, não mudaria nada, já que ele não está respondendo.
— Hey.. Vou levar o Kal na cidade, Peach não sai de perto dele. Posso levar ela, se você quiser.
Dou minha atenção a Henry assim que ele começa a falar, e observo os dois sentados lado a lado agora. Sabia que se ele saísse, ela ficaria chorando até que voltasse.
Mas eu precisava clarear meus pensamentos também. Sentia uma ansiedade curiosa no peito.
— Vai agora?
— Sim. Só vou pegar a guia dele.
— Traz a da Peach, eu vou com você.
Henry suspira, parecendo querer argumentar algo, mas segue para dentro da casa. Eu apenas troco o par de chinelos que eu usava para um par de tênis. A calça jeans e o moletom grosso eram mais que suficientes para me aquecer.
Quando Henry entra, deixo que ele ponha as guias nos cachorros e corro até a sala apenas para pegar minha carteira com dinheiro e documentos. E então saio, me despedindo da minha mãe com um beijo no topo da cabeça, como sempre fazemos.
Henry pôs os dois no banco de trás, prendendo o peitoral com o cinto de segurança, e eu entrei no lado do passageiro, vendo ele dar a volta no carro. Pus o cinto e deixei que ele cuidasse do resto, conectando meu celular ao bluetooth do carro e cuidando da playlist.
— Como está se sentindo hoje? — Ele pergunta, me fazendo franzir o cenho.
— Bem.. Porque?
— Ben comentou que você estava com dor de cabeça ontem, ou algo assim.
— Ah, sim. É, estava. Mas passou antes mesmo de eu ir dormir. — Afirmo, o olhando e percebendo quando ele me olha de relance, focando na estrada outra vez.
— Menos mal.
Seu meio sorrisinho me faz rir também, sabendo que sua preocupação era genuína, e não queria deixá-lo alarmado. Foi realmente algo de momento e já havia passado ontem mesmo. Apenas o peso de ficar pensando demais, e obsessivamente.
Henry logo saiu do nosso bairro, dirigindo de forma hábil enquanto eu cantava ao seu lado, e o puxava para cantar o refrão comigo, usando o meu celular como o microfone. Só parei quando chegamos na parte mais movimentada da cidade, e vi quando ele dirigiu em direção à um dos mercados dali, e logo chegou ao estacionamento.
— Quer entrar?
— Se você não for demorar, eu fico.
— Não vou. Só comprar um lanche.
— Traz batata pra mim? — Peço, falsificando meu melhor olhar pedinte, encarando Henry e percebendo como ele sustenta a encarada. — Vai, Henry!
— Eu mimei você demais.
Ele sai, me deixando ali, com uma risada contida. Baixo um pouco as janelas para que não fique abafado para Kal e Peach e permaneço quieta, com o celular em mãos, encarando as músicas da playlist. Até ver uma nova notificação chegar, de um número desconhecido.
“Você é a Melissa?”
“Namorada do Gerrett?”
Estranhei a mensagem de imediato, não reconhecendo o número e muito menos a foto da pessoa. Então me rendi, abrindo o chat. Não haviam outras mensagens, sinal de que nunca havíamos conversado. E automaticamente abri a foto, esperando carregar. Mas nem assim reconhecia o rosto.
Não entenderia se não perguntasse, sendo mais automática ainda em digitar, mas ficando pensativa. Os amigos de Gerrett tinham meu contato, geralmente falavam comigo quando acontecia algo em alguma festa. Mas, sem querer pensar demais, enviei.
“Sim, sou eu.”
“Porque?”
A mensagem não chegou, apenas foi enviada. E tentar não ficar pensando muito nisso por mim mesma não funcionaria, por isso agradeci mentalmente quando Henry retornou. Ele deixou algumas sacolas no colo e tirou o pote de batatas de dentro, me entregando. Havia escolhido o meu sabor favorito, o que me trouxe um sorrisinho honesto.
— Para o parque agora? — Pergunto, vendo ele manobrar para sair dali
— Sim senhora.
Ele segue dirigindo, e eu deixo o celular no porta-luvas, tentando evitar aquela ansiedade pelas tais mensagens. Comi um pouco das batatas e dei algumas à Henry, não querendo distrair ele. Até chegarmos. Ele saiu, circulando o carro enquanto eu ajustava a jaqueta no corpo, e abriu a porta para mim.
Agradeci com um sorrisinho, e então saí, fechando a porta. Ele tirou os cães pela porta do lado e me deu a guia de Peach, caminhando com Kal. Lado a lado, seguimos juntos pelo parque da orla, observando a maior movimentação de crianças e indo por um caminho mais vazio. O sentia me dando breves empurrões enquanto caminhávamos, e eu devolvia, mesmo que meu corpo mal movesse o dele.
— Precisa de mais força, tampinha. — Ele provoca, rindo. Fofo.
— Ou você tem força demais. Já pensou nisso? — Ergo a sobrancelha, como se perguntasse o segredo do universo. E Henry ri ainda mais.
— Definitivamente não.
Com mais risos, continuamos o caminho pelo parque. Juntos, nos sentamos em um espaço com pedras grandes, perto da orla, e observamos Kal e Peach se deitarem no canto, onde estava com pouca neve. Embora isso definitivamente não fosse um problema para eles.
Por impulso, me encostei no ombro de Henry, deitando a cabeça sobre ele e percebendo como ele claramente se aproxima mais, zelando pelo meu conforto. Era bom estar perto, aproveitar sua companhia e calor enquanto observava a maré fria e as ondas fracas batendo contra as pedras da costa, mais distantes de nós.
— Como está se sentindo? — Henry pergunta, virando um pouco o rosto para que possa me ver, e o encaro, não deixando seus olhos por um segundo.
— Em relação à quê?
— Tudo. Psicologicamente, como você está? Notei que os últimos dias não foram os mais fáceis.
Ele sempre sabia, e eu nem conseguia mais ficar surpresa, embora amasse inegavelmente esse carinho. E suspiro, pensando no pouco que havia acontecido esses dias, mas que era um pouco demais para mim.
— Honestamente, nada bem. Mas vou melhorar, eu acho.
— Tem certeza? Sei que aquele dia não foi só passear com a Peach no parque. Entendo como é difícil querer um pouco de espaço numa casa tão cheia, então..
— Não, Henry. Quer dizer, sim, eu fui respirar um pouco e tentar tirar aqueles pensamentos em nó da minha cabeça, mas não é por querer espaço. Eu prefiro estar com meus pais, com Ben e com você. Sempre significa que estou em meu lugar de conforto.
Ele dá um singelo sorriso de canto, sem mostrar os dentes, e volta o olhar para a água e as pedras. Sempre ficando tímido com tão pouco, jamais deixava ade ser aquele garoto que eu me lembrava.
— Eu precisava falar com alguém que não iria me julgar pelas minhas escolhas, e nem me daria conselhos, porque eu não queria ouvir naquele momento. Não é uma questão de não ser grata pelo que você e meu irmão fazem por mim, é só-
— A vontade de pôr para fora sem necessariamente querer um conselho. É um desabafo, Mel. E você deve fazer, da forma que se sentir mais confortável. Conversando comigo, com seu irmão, com a Peach ou sozinha no espelho… O importante é não deixar isso preso aí, corroendo sua mente.
Solto um suspiro que sequer havia percebido estar preso. Mas estava muito mais confortável agora. Não era novidade que ele não me julgaria, mas era bom ouvir aquilo, ser compreendida. Henry era alguém que todo mundo precisava ter um igual, ou, pelo menos, alguém que fosse tão aberto mentalmente quanto ele.
Ele havia sido um dos meus maiores presentes desde que me conheço em vida.
— Ver aquelas nossas fotos não deixou você emotivo?
— Deixou. Pensativo também. Quer dizer, foram tantas coisas acontecendo seguidas, que..
— É, eu sei.
As suas declarações, as fotos, as memórias do passado e o seu abraço e acalento após pensar tanto em tudo e no que fazer. Não precisava pensar demais para perceber que Henry sempre estava comigo nos momentos mais importantes, mesmo não sendo mais uma parte tão ativa na minha vida.
Mesmo nas suas viagens de gravação, ele sempre me atualizava, mandava foto dos cenários quando gravava na natureza, e das comidas que experimentava. Gerrett jamais fez. Quando viajava, pouco falava comigo, apenas para avisar quando estava saindo e quando chegava, não me dizia como a viagem estava, não me mandava foto de cada cachorro que via na rua porque sabia que eu acharia fofo.
As fotos da viagem? Eu veria no Instagram dele, se eu quisesse. Isso se ele postasse algo.
E de fato era notável que os gatilhos sempre estiveram lá, eu quem os ignorei, e agora me sentia entre a cruz e a espada. Eu quis isso, eu preferi esse limbo de amar por dois a estar em um relacionamento saudável, com Henry. Sabia que se tentássemos outra vez, não seria uma recaída. Seria sério, como nós dois merecíamos. Como sempre quisemos após aquele término precoce.
E eu sabia que isso me assustava, por isso fugi e aceitei o primeiro que me ofereceu o básico.
— Como está seu namorado?
— Não fala comigo há um tempo.
— O que houve agora?
— Viajou para uma casa de campo com amigos, não deve ter sinal.
Ou não deve é ter vontade de falar comigo.
Mas eu não estava me importando. Sentia como se lentamente um peso estivesse sendo tirado das minhas costas lentamente, um pouquinho a cada dia, e entendia a leveza que era não ter mais Gerrett na minha vida.
Só não tinha coragem. Ainda não. Sempre fui assim. Era como uma bomba perigosa, mas que sempre precisaria da chama para acender o pavio.
— Mel..
— Não precisa dizer de novo, eu já sei. Sei que mereço mais, mas não acho que eu mereço você, Henry.
As palavras saem, não deixando de encarar seus olhos. Era verdade o que disse. Ele era bom demais para mim, oposto ao namorado que eu tinha agora.
— Eu não mereço alguém tão bom e tão apaixonado como você, alguém tão devoto e que já fez tanto por mim sem pedir nada em troca… Não é justo!
— Melissa, por favor..
— Me desculpa. Achei que estava no caminho certo mas seus conselhos já me fizeram perceber que não, e… Eu juro que quero melhorar. Eu juro que estou tentando, por você. Porque eu achei que Gerrett seria melhor para mim, mas ele nunca vai ser você.
Suspiro, encarando os olhos do homem quando ele se vira ainda mais de frente para mim.
— Achei que era ele quem eu queria, Henry… Mas, mesmo sabendo que não é justo, eu quero você.
✧
Voltei!
Após uma lesão no joelho e alguns dias de início de recuperação, tô melhorando!
As atualizações voltam ao normal, e amanhã ou domingo tem mais um bônus!
O próximo capítulo vai ser coisa de louco...
Beijinhos 🤍
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