
09 | Nove
Nós arriscamos
Deus sabe que tentamos
E durante todo esse tempo,
eu sabia que ficaríamos bem
Então, me sirva uma bebida
Vamos passar a noite acordados
E veremos tudo
Nós podemos viver nesse amor em câmera lenta
Eu tenho te amado desde que tínhamos dezoito anos
Bem antes de pensarmos do mesmo jeito
Sobre ser amado, e estar apaixonado
Tudo o que posso fazer é dizer
Que estes braços foram feitos para te abraçar
E eu quero amar como você me fez sentir
Quando tínhamos dezoito anos
— 18; One Direction
──── ✧ ────
Saint Helier, Jersey
29 de dezembro, 7:00pm
M E L I S S A
O passar dos dias parecia cada vez mais lento, como quase sempre era naquela época de fim de ano entre natal e réveillon. Raramente precisava tratar de algo de trabalho nesse momento, a empresa estava em pausa, todos de folga. O que aparecia de essencial, eu tinha uma equipe de prontidão para cobrir, então poderia aproveitar.
Bom, viajei com esse intuito. Descansar. Mesmo que não fosse isso o que estava de fato acontecendo.
Tentava não pensar demais na minha situação com Gerrett, e não me deixar levar pela frustração de estar praticamente sendo ignorada por ele com o passar dos dias. Não é como se eu fizesse questão de falar também. Estava aproveitando da oportunidade para me desfazer um pouco do celular e focar em terminar os livros que estava lendo.
Além de poder passar um tempo de qualidade muito melhor com a minha família.
— Quer mais chocolate, ô coisa? — Meu irmão pergunta, chutando meu pé.
— Benjamin! — Minha mãe repreende, nos fazendo rir.
— Quero sim, praguinha.
— Esses dois..
— Sempre foram assim. — Meu pai sequer tenta, focado demais em algum vídeo de humor duvidoso no celular.
Benjamin me passa a barra de chocolate, tendo deixado o ao leite para mim. Comi alguns cubinhos, deixando de lado e fora do alcance de Peach enquanto bebia água. E então repassei o doce, jogando no colo de Henry, que estava focado demais em passar alguma fase no videogame. E então pausa para comer, apertando o meu dedinho do pé como um estranhíssimo agradecimento.
Foquei minha atenção no caça-palavras que eu fazia, com a cabeça deitada no colo da minha mãe. Enquanto Benjamin volta e meia fazia massagens nos meus pés, se dividindo entre isso, ver Henry jogar como uma gameplay pessoal e conversar com uma das ficantes no celular.
O dia havia sido todo assim. Entre nós, e tranquilo.
— Achei os álbuns! Estão todos misturados, mas tem tanta coisa… — Marianne diz, trazendo duas caixas com álbuns de fotos dentro.
Honestamente, sentia falta daquilo. De sentar e rever tantas memórias quanto conseguisse. Sempre era um momento quieto e tão bom, olhar foto a foto, comentar, relembrar os momentos… Foi o que mais senti falta nos dois anos que tivemos que passar separados.
— Mel.. Esse tem muitas fotos suas. — Marianne me entrega o álbum com a capa azul e enfeites coloridos.
— Aww, obrigada. — Lhe dou um doce sorriso quando me sento, pegando o álbum.
Vejo quando ela deixa álbuns com os outros na sala, percebendo como todos parecem se concentrar naquilo agora. Ouço quando Henry pausa o jogo também, o que me faz sorrir, por algum motivo. Me encosto no sofá, começando a passar as páginas do álbum, vendo fotos antigas da família.
— Achei fotos dos casamentos aqui. — Ben diz.
Ergo o olhar para ver o álbum com fotos maiores ali, com meus pais no seu casamento, e ao lado, Marianne e Colin, também no seu casamento. Eles tinham cópias das fotos e guardavam nas duas casas, a diferença é que meus pais mantinham tudo quase inalcançável e guardado pela casa.
— Diane estava tão linda.. — Mari elogia, percebendo o sorriso da minha mãe. — É incrível como parece como se parecem. — Completa, me olhando agora, e se dividindo entre nós duas.
— Dee tirou uma xerox quando teve Melissa. — Meu pai diz agora, me fazendo rir outra vez.
— Esse é o tal vestido que fica guardado e ninguém pode tocar? — Ben pergunta, passando para o lado e vendo os dois ainda mais de perto, abraçados agora, no casamento.
Eram tão jovens…
Esse era meu medo.
— Sim. É. Só tiro ele dali caso Mel queira se casar com ele. — Minha mãe diz, passando as páginas do próprio álbum como se não tivesse dito nada demais.
Quanto mais eu tentava fugir, parecia que me perseguia. Eu não tinha a menor certeza se casaria algum dia. Já não estava mais tão jovem assim, não como ela era quando se casou com meu pai. Não parecia ter uma pretensão correta para o meu próprio futuro. Ainda mais com as dúvidas que cercavam minha mente.
Mas, como se soubesse que meus neurônios estavam começando a fritar, Henry se senta do meu lado, tocando meu joelho distraidamente. Vejo que ele também estava com um álbum e parece folhear, como eu. Então volto a me concentrar, quieta e calada, sem responder minha mãe sobre o vestido. Ou casamento.
Passo as folhas, vendo fotos minhas bebê, e Henry e eu com quase um ano, deitados no mesmo berço e dormindo. A data da foto estava marcada atrás, com uma nota dizendo que pouco depois ele havia puxado minha chupeta e eu não parei de chorar por alguns minutos diretos.
— Viu só? Você me odeia desde bebê. — Provoco, mostrando a foto e a nota para Henry, que ri alto.
— Você que é chorona. Fiz bem em tirar sua chupeta.
— Eu joguei fora porque quis. — Retruco, lhe empurrando brevemente com o braço.
— Tá bom, Melzinha. Vai se achando.
Sua resposta me faz gargalhar também. E então volto a atenção para o álbum. Podia ouvir os cochichos ao redor, os outros rindo e comentando das fotos também. Mas estava focada. Eram boas lembranças. Nós com nosso primeiro cachorro, que Henry e eu ficávamos revezando para cuidar, e Benjamin dizia que odiava mas amava brincar de freesbee com ele.
Passei mais algumas, e senti quando Henry me cutucou, me mostrando uma foto de nós dois. Éramos pequenos, estávamos de mãos dadas e com mochilas grandes demais para nós. Na nota de trás dizia que era o nosso primeiro dia de aula após o ensino infantil, quando de fato começaríamos a escola, com seis anos.
— Você sempre teve essa carinha de estressada, ‘tá vendo? — Ele provoca de novo, me fazendo franzir o nariz e as sobrancelhas quando o olho.
Mas não conseguiria conter meu riso nem se quisesse.
— E você sempre possessivo, olha como segurava minha mão! — Aponto, percebendo ele rir agora.
— Certeza que estava tentando impedir você de bater em alguma criança indefesa.
— Eu não era assim. Que Melissa distópica é essa que você se lembra?
— Oh, eu me lembro muito bem.
Ainda rindo, nego, sem querer instigar mais provocações suas. Sabia bem que éramos capazes de permanecer ali a noite toda, jogando a bomba no colo um do outro como uma batata quente.
Com um gole de água na minha garrafa, volto a folhear cada foto, rindo com algumas minhas e de meu irmão que não via há algum tempo, ou até mesmo com meus pais, sempre me certificando de tirar fotos delas com meu celular para guardar num lugar mais fácil.
Passo mais algumas, chegando em anos mais avançados. Aquela provavelmente era de algum baile de fim de ano, mas não tinha data atrás. Eu que havia tirado, e era Henry e eu no espelho, arrumados, com alguma decoração azul e branca atrás de nós. Devíamos ter por volta de doze anos.
— Lembra disso? — Pergunto, mostrando a foto para ele.
— Sim, você não?
— Estranhamente, não desse lugar. Lembro do meu vestido, e..
Lentamente as peças parecem se encaixar, me recordando parte por parte daquela noite, o máximo que conseguia. Sim, havia sido um baile da escola. E justamente nesse onde Henry e eu nos beijamos pela primeira vez. Havia sido o primeiro beijo em todos os sentidos para nós. Um tanto tardio, comparado ao que os nossos colegas de classe costumavam se vangloriar, mas.. Havia sido no tempo certo.
No nosso tempo.
— Lembrou, hm?!
— Sim.
— Foi no jardim. No balanço. — Ele diz, folheando as fotos do outro álbum como se não estivesse falando nada demais. — E você ficou vermelhinha depois.
— Como lembra tão bem?
— Não sei. É uma boa recordação boa, acho que meus “divertidamente” gostam dela.
Uma risada sincera escapa, negando. Volto a olhar a foto e sorrio breve, antes de também tirar uma foto dela com meu celular. E percebo Henry rir ao meu lado. Passando outras, acabo o álbum, sendo aquele mais fino que os outros. Deixo de lado, para devolver à Marianne, e me viro, encostando a cabeça no ombro de Henry.
Ele havia virado o seu, para que eu pudesse ver as fotos também, mais lembranças. Aniversários nos Cavill, viagens em família. Todos sempre juntos, que, antigamente, poderíamos lotar uma van de viagem. E sendo só nós, sem cônjuges dos rapazes.
Hoje em dia era mais difícil. Mas não impossível.
— A gente era tão inseparável assim? — Pergunto, observando ele passar uma sequência de fotos nossas, da infância e adolescência. Henry ri.
— Eram sim. Costumavam perguntar se vocês eram irmãos, as vezes até se eram gêmeos. — Minha mãe explica.
— Vocês só saíam juntos, só iam para algum lugar se o outro fosse.. — Meu pai completa.
— Vocês até tentavam usar roupas parecidas. Lembro que eu tive que ir trocar um moletom que comprei para ele porque o seu era roxo, o dele era amarelo. — Marianne se junta a eles agora, com um sorrisinho no rosto.
Henry e eu nos encaramos e rimos, sem conseguir segurar aquilo. Eu sabia que éramos apegados, mas jamais imaginaria que chegava a esse ponto. Minha infância não era tão clara assim em muitos aspectos, mas lembrava de passar muito tempo com Henry, realmente.
E ainda gostava de usar roupas parecidas. Os suéteres e meias de natal não nos deixava mentir. Talvez assim que surgiu a nossa tradição.
— Já pensaram se Henry e eu não tivéssemos virado amigos? — Pergunto, percebendo como minha mãe me olha, como se eu fosse louca.
— Como assim?
— Se não gostássemos um do outro, ou.. Não sei, alguma briga de infância. Poderia acontecer.
— Poderia. Mas vocês nunca brigaram.
E isso era uma verdade estranhamente curiosa. Eu não me lembrava de ter brigado com Henry na parte da infância, que eu conseguia lembrar, nem na adolescência, e cresci achando que aquilo era uma coisa de amigos. Mas não. Nem em nosso namoro tivemos brigas, até mesmo nosso término foi pacífico.
A gente sempre se entendia, como se fôssemos uma única mente compreendendo os sentimentos do outro. E eu gostava disso. Me fazia acreditar um pouco mais em existir uma outra metade de nós, até mesmo fora do sentido romântico.
Mas não podia negar que no tempo em que fomos namorados, tudo parecia mais completo. A vida era mais fácil aos dezoito anos.
— Esse é um multiverso que não existe, Mel. Vocês não foram feitos para ficarem separados. — Meu irmão diz, o que acarreta em um riso meu.
— Sabe aquela música do Kiss? — Henry pergunta, me encarando de lado enquanto fecha o álbum que via.
— I Was Made For Lovin You? — Pergunto, e vejo seu sorriso se abrir mais.
— Viu só? Estamos conectados.
Prenso meus lábios quando percebo que praticamente havia lido sua mente agora. Poderia ter dito qualquer outra música, mas compreendi o que ele quis dizer. Talvez pelo assunto que conversávamos, e aquilo se encaixava.
Bom, ele havia provado seu ponto.
— Para de gracinha e vai buscar água pra mim. — Peço, querendo sair daquele impasse.
— Virei garçom?
— Quer que eu responda?
— Melissa!
— Por favor, Henry!
— Agora sim.
— Chato.
— Mandona.
✧
Caras, eu amo eles.
E a Memel mandona 🤏🏼
Bommm, estamos quase chegando no último ciclo da fic, como está no título, ela não vai ser longa como eu costumo fazer.
Espero que estejam gostando até aqui!
Beijinhos 🤍
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