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Put your glad rags on and join me hon',
We'll have some fun when the clock strikes one.
HAVIA UM GIGANTESCO SORRISO TRIUNFANTE sobre os lábios rosados de Perséfone, o qual não tardou a se transformar em uma gargalhada nervosa. Parada dentro de um beco qualquer na Cidade, a jovem mulher no auge dos seus vinte e nove anos – pelo menos assim aparentava, desacreditava no seu último feito. Aquela poderia ser considerada uma missão suicida caso fosse capaz de morrer, mas sua imortalidade e insensatez deixavam tudo pior, pois se fosse pega por mãos erradas passaria o resto da vida sendo torturada das formas mais brutais existentes.
— Você é louca? — Perguntou de modo grosseiro o mendigo que acabou sendo acordado pelas gargalhadas da ruiva.
— Sou! Com certeza — Assentiu Perséfone bem humorada e, sem hesitar, destruiu a pesada maleta preta que carregava, destroçando o objeto em vários pedaços que soltavam faíscas azuis para todos os lados.
Assustado com a cena e sem um pingo de curiosidade sobre aquela estranha mulher, o mendigo rapidamente recolheu seus poucos pertences e os jogou dentro do carrinho de supermercado, deixando o beco às pressas. O comportamento do moribundo fez com que Perséfone gargalhasse o dobro, dessa vez com humor genuíno.
Loucura não era a palavra que Perséfone utilizaria caso tivesse que descrever os eventos que a trouxeram para dentro de uma linha do tempo apocalíptica, mas insensatez. Ela não estava sendo louca em tentar salvar a humanidade do fim eminente de sua existência, mas insensata por ter aceitado o "convite" do melhor amigo para tal ato sem ao menos terem um plano descente ou pista do que pode ter devastado com a vida na Terra.
Pela primeira vez Perséfone estava indo contra as regras da Comissão Temps, a organização que supervisiona e gerencia o continuum espaço-tempo e onde trabalha como médica desde muito tempo. Apesar de ter assistido todas as extensas fitas e insuportáveis palestras sobre os problemas que ocorrem quando interfere na linha do tempo durante os anos de trabalho, ela estava fazendo questão de ignorar e assinando sua sentença como foragida.
Antes de dar continuidade ao plano, ela retirou algumas pílulas do bolso e as ingeriu. Por estar em um ambiente desconhecido e não saber ao certo o que encontraria dentro da linha do tempo, ela preferiu tomar a medicação para se precaver de qualquer mal que pudesse cruzar seu caminho, eliminando as chances de ser contaminada.
"Agora só preciso achar o velho Cinco" Pensou Perséfone ajeitando a boina preta sobre a cabeça enquanto deixava o beco. Precisava ser rápida para encontrar o melhor amigo, pois, caso estivesse certa, em breve ele estaria ingressando na linha do tempo utilizando de seus poderes.
Por terem combinado o plano previamente e saber da história pessoal do melhor amigo, seu raio de busca diminuía para um único lugar: A mansão do velho Sir. Reginald Hargreeves. Essa era a parte "fácil" do plano em sua concepção, já que estava com alguns trocados no bolso que seriam o suficiente para usufruir de um táxi como meio de locomoção. A parte difícil seria explicar aos irmãos do melhor amigo sobre o futuro apocalíptico que os esperava caso Cinco fosse incapaz de saltar pela longa distância do espaço-tempo, pois ela não tinha certeza se as contas feitas pelo mesmo estavam batendo, apesar de inteligente, aquele tipo de matemática não era seu forte.
Durante o percurso até a mansão do Hargreeves, Perséfone treinou mentalmente o discurso que utilizaria para se explicar aos membros da família numeral. Precisava ser cordial, didática e rápida, pois caso as coisas saíssem do controle teria de correr ou lutar e, como parte pacifista, preferia a primeira opção, visto que prometera para Cinco deixar seus irmãos vivos e não utilizar dos poderes contra os membros restantes da família.
— Olá, meu nome é Perséfone e trago informações sobre o futuro... Não, muito idiota. — Sussurrou ela ao descer do táxi e caminhando em direção à porta de entrada da mansão — Olá, sou Perséfone e trago péssimas novas!.... Definitivamente não. — Ela balançou a cabeça negativamente enquanto ria — Não tenhas medos, numeral Hargreeves! Venho do futuro para ser sua salvadora. — Parou na frente da porta, abriu os braços imitando asas — Ótimo, vai ser esse!
Rindo baixo da própria imitação do que deveria ser o "anjo", nesse caso da morte, ela levou a mão até a pesada Aldabra de ferro e a utilizou para bater três vezes contra a porta de madeira. Mesmo que algumas pessoas pudessem pensar que era louca, seguia sensata, sabendo que seria uma péssima ideia ingressar em uma mansão cheia de heróis sem ser anunciada.
Demorou alguns segundos para que Pogo, o chimpanzé que servia como mordomo da excêntrica família fosse atendê-la na porta. Ele abriu somente uma fresta, o suficiente para colocar seu rosto e impossibilitar Perséfone de visualizar qualquer coisa que ocorria dentro da mansão.
— Desculpe, mas não estamos dando entrevistas para a mídia — Falou o chimpanzé antes que Percy pudesse dizer qualquer coisa ou se apresentar, cortando qualquer intenção da jovem mulher.
— Eu não sou da mídia — Antes que Pogo fechasse a porta em sua cara, ela enfiou a mão na fresta e a segurou com força. O chimpanzé olhou furioso da mão dela para seu rosto.
— Tem cinco segundos para retirar a mão, senhorita — Crispou Pogo entre os dentes.
— Ótimo, significa que preciso ser rápida! — Disse Perséfone, ela tomou fôlego e começou a cuspir as palavras o mais rápido que conseguia — Meu nome é Perséfone, eu vim do futuro e estou aqui para ajudar o Cinco. Ou morrer tentando. Um apocalipse aproxima, não temos muito tempo e preciso falar com os números que sobraram.
— Deve ter um equívoco, Cinco não... — Antes que Pogo fosse capaz de terminar a frase, uma confusão se alastrou dentro da mansão, os Hargreeves gritavam enquanto soava a forte tempestade no fundo.
— Ele acabou de chegar! — Anunciou Perséfone sorridente.
Aproveitando que o chimpanzé havia abaixado a guarda graças as gritarias, Percy empurrou a porta com ambas as mãos e ingressou rapidamente na mansão. Seguindo o som típico da anomalia temporal, ela correu destemida o mais rápido que pode pelos corredores da mansão, alcançando o pátio no exato momento que a versão adolescente de Cinco caiu dos céus e cessou a confusão.
— Alguém ai vê a imagem do pequeno... — Um dos irmãos adotivos do recém adolescente começou a falar, mas teve a frase terminada por Percy.
— CINCO! — Gritou Perséfone chamando a atenção de toda a família. Os membros olhavam assustado do adolescente no chão para a visitante surpresa, não sabendo se a atacavam ou esperavam um pouco mais para derrubá-la. — Você está uma gracinha!
— Merda! — Reclamou Cinco olhando para o próprio corpo e em seguida para Perséfone, ele levantou do chão e caminhou até a amiga. — Você está com fome?
— Um pouco — Assentiu Perséfone colocando as mãos no bolso.
— Uou! — Disse o número Dois. Percy descobriu que se tratava do rapaz da pior forma, ele atirou uma faca em sua direção, fazendo o objeto cortar delicadamente sua bochecha antes de fincar na porta de madeira. — Quem é você?
— Aí! — Reclamou Perséfone levando a mão para a bochecha, ela tocou com sutileza o machucado com a ponta dos dedos e olhou o sangue — Isso não foi educado, faqueiro Hargreeves. Eu sou visita.
— Ela é minha amiga, Perséfone! — Alertou Cinco olhando desgostoso para o irmão — E pediria que não a atacassem, não vou poder salvá-los se ela perder a paciência.
— É, estou sendo cordial com vocês — Assentiu Percy seguindo o adolescente. — Ainda vão agradecer por me terem. — Ela apoiou o braço sobre o ombro de Cinco e sussurrou — Sorte que conseguiu, o macaco não queria me deixar entrar.
— Disse para vir pelas portas dos fundos — Falou Cinco empurrando o braço da amiga e teletransportando pela cozinha para pegar alimentos e mexer nas prateleiras.
— E ser morta pela trupe circense? Não, obrigada! — Reclamou Perséfone puxando uma cadeira e sentando a mesa.
— Que dia é hoje? — Perguntou Cinco sem encarar os irmãos enquanto colocava alguns potes em cima da bancada para preparar um sanduiche para ele e Perséfone. — A data exata!
— Dia 24 — Respondeu Allison com os braços cruzados na frente do corpo e cheia de receios quanto a nova visitante e o irmão desaparecido.
— De que mês? — Perguntou Perséfone olhando docemente na direção da irmã número três. — É importante.
— Março — Respondeu Allison curvando os lábios.
— Bom — Disse Cinco trocando olhares com Perséfone, a qual assentiu concordando com a descoberta. De fato aquela era uma ótima notícia, o que significava que tinham alguns dias para descobrirem e impedirem a causa do apocalipse.
— Vamos falar sobre o que acabou de acontecer! — Exigiu Luther tomando a postura de líder.
Porém tanto Cinco quanto Percy o ignoraram, estando mais interessados em lancharem antes de tratar qualquer assunto. O adolescente entregou para a ruiva um sanduiche com recheio de pasta de amendoim e marshmallow, seu favorito. Mesmo achando o recheio duvidoso, ela aceitou o lanche.
— Obrigada! — Agradeceu Percy dando uma mordida generosa no alimento — Hum, até que não é ruim.
— Fazem dezessete anos. — Insistiu Luther ficando irritado por não obter as respostas na hora que desejava.
— Faz muito mais do que isso — Disse Cinco lançando um olhar severo para Luther e caminhando em sua direção, mas antes que o tocasse, ele saltou pelo espaço-tempo e teletransportou na estante.
— Eu não senti falta disso — Comentou Luther fazendo caretas com o poder do menino.
— É irritante, né? — Perguntou Perséfone retórica e cobrindo a boca que estava cheia com uma das mãos.
— Aonde você foi? — Crispou Diego entre os dentes, não era possível dizer se estava mais irritado com os enigmas do Cinco ou com a presença da visita inusitada que estava sendo mais bem tratada pelo garoto do que qualquer outro irmão foi.
— Para o futuro — Respondeu Cinco caçando alguma coisa dentro do armário — A propósito é uma merda.
— Eu sabia! — Disse Klaus sarcástico.
— Ela é do futuro? — Perguntou Diego apontando para Percy com a ponta da faca.
— Não gosto de rótulos, principalmente temporais — Perséfone moveu os ombros com desdém — Sou do passado, o presente, do futuro. Mas o que é o tempo afinal?
— Ignorem ela por enquanto — Ordenou Cinco revirando os olhos — Eu deveria ter escutado o velho. Saltar pelo espaço é uma coisa, saltar através do tempo é jogar com a sorte.
— Como você voltou? — Perguntou Vanya mostrando sua presença pela primeira vez, Perséfone não havia notado a irmã número sete até o momento.
— No fim tive que projetar minha consciência numa versão de mim suspensa em estado quântico que existe em todas as instâncias possíveis de tempo. — Respondeu Cinco calmamente.
— Isso não faz sentido — Disse Diego visivelmente confuso.
— Faria se fosse mais esperto — Rebateu Cinco sem pestanejar. O irmão número Dois ameaçou partir para cima do adolescente, mas foi contido por Luther antes que pudesse tentar qualquer coisa.
— E ela? — Insistiu Vanya olhando levemente temerosa para a visitante.
— É uma amiga de longa data — Respondeu Cinco antes que Perséfone pudesse dar a resposta.
— Quanto tempo estiveram lá? — Perguntou Luther mantendo o braço esticado na frente do Diego.
— Eu, uns quarenta e cinco anos, mais ou menos — Falou Cinco, em seguida apontou para Perséfone — Porém eu a conheci depois disso.
— Impossível! Você teria uns cinquenta e oito — Falou Luther demorando alguns segundos para completar a conta.
— A consciência dele tem Cinquenta e oito — Explicou Perséfone limpando as mãos nas vestes — Mas o corpo dele está com treze novamente, erro de percurso.
— Como isso funciona? — Perguntou Vanya curiosa.
— Houve um problema com as equações. Delores disse que isso ia acontecer... — Quando Cinco citou o nome da namorada manequim que o acompanhou em seus anos de solidão, Percy foi incapaz de segurar o riso frouxo e breve. Sabia que aquela tinha sido a forma dele não sucumbir totalmente a loucura, mas mesmo assim achava engraçado e triste ao mesmo tempo. Ele ignorou a risadinha da amiga e prosseguiu — Acho que perdi o funeral.
— Como soube quando voltar? — Insistiu Luther em saber.
— Qual a parte do futuro que você não entendeu? — Rebateu Cinco revirando os olhos com a pergunta estúpida feita pelo irmão — Insuficiência cardíaca?
— Sim — Assentiu Diego.
— Não — Disse Luther ao mesmo tempo em que o número Dois.
— É bom ver que nada mudou — Ironizou Cinco se teletransportando em direção à saída da cozinha — Percy, vou subir. Fique a vontade para interagir com meus irmãos.
— É isso? É tudo o que tem a dizer? — Perguntou Allison enquanto o irmão se afastava.
— O que mais há para dizer? É o ciclo da vida — Respondeu Cinco com desdém.
— He! He! Rei Leão — Comentou Perséfone mostrando uma das referências que conhecia.
O silêncio incômodo caiu sobre a cozinha no instante que Cinco deixou o recinto, todos ainda estavam abalados e confusos com o regresso do irmão para a casa. Tentavam compreender todas as informações com as quais foram bombardeadas. Definitivamente aquele ainda era o mesmo adolescente que fugiu de casa, cheio de prepotência e superioridade.
— Hum... Como disse que se chama mesmo? — Perguntou Vanya quebrando o silêncio e de modo educado, apesar de ter receio.
— Meu nome é Perséfone. Algumas pessoas me chamam de Caronte devido meus poderes — Ela estendeu a mão para que Vanya pudesse apertar, mas a mesma se afastou com o comentário — Não vou te matar, se é isso que acha. Minha função era médica, salvo vidas. Falando em salvar vidas, pode me estender à faca o Golias? Por favor! — Ela pediu apontando para a faca de serra próxima do Luther, ao invés de estender o objeto ele afastou — É sério que vocês acham que irei mata-los?
— Não confiamos em você — Respondeu Diego grosseiramente.
— Foda-se! — Percy deu com os ombros e colocou-se em pé — Não vou ficar aqui, estou tentando ser educada e vocês são ignorantes. Sorte que estou levemente chapada.
— O que você tomou? — Perguntou Klaus animado.
— Algo que me ajuda a fugir dos meus problemas. Quer?
— Ele não vai tomar nada — Crispou Luther segurando Klaus antes que ele pudesse aceitar as pílulas que Percy estava prestes a retirar do bolso para oferecer.
— Desisto de tentar ser legal com vocês — Urrou Perséfone erguendo as mãos em rendição e deixando a cozinha com passos pesados.
Os cinco irmãos restantes observaram em silêncio a jovem mulher se afastar para a sala principal da mansão. A desconfiança que sentiam de Cinco não se comparava com a desconfiança que estavam com Perséfone. De uma coisa ela tinha razão, seria difícil convencer os Hargreeves que estavam lutando do mesmo lado naquela batalha.
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