𝑶𝒏𝒆
— Por isso, no Inbound marketing vocês precisam atrair os clientes, então é preciso usar um conteúdo relevante. Assim, vocês não estão necessariamente indo atrás dos clientes, eles virão até vocês. Mas lembrem-se, crianças, o conteúdo deve ser relevante e de qualidade para seu público, deve agregar valor a eles — O professor discursava para sua turma de aproximadamente quarenta alunos.
Wendy Watanabe fazia suas anotações como de costume. A garota era frequentemente vista com caderno e caneta em mãos. A jovem, de cabelos castanhos e olhos felinos, fazia faculdade de marketing e estava a caminho do terceiro ano.
— Claro que vocês precisam buscar pelas pessoas certas, descobrir quais são seus interesses, dúvidas e desafios, então, assim vocês descobrem quem é seu público — O professor retornou a falar.
Ao ser liberada da aula, Wendy aguardou alguns instantes ainda sentada na cadeira, já com seu material na mochila, estava esperando duas pessoas para deixar a sala. A faculdade, além de lhe dar diversos ensinamentos, também lhe deu a amizade de duas pessoas. Mina Yoshida e Haruto Saito.
— Querem passar o tempo livre na cafeteria? — Mina questionou os amigos, caminhando com eles pelos corredores.
— Você vai pagar? — Haruto a encarou.
— Não me encara. A Wendy que tem que bancar a gente. Esqueceu? — Riu juntamente com o garoto. Então, redirecionaram olhares para a Watanabe.
— Vocês são péssimos — Revirou os olhos, mas logo um sorriso surgiu em seus lábios. Passou seus braços sobre os ombros de seus amigos e disse: — Vamos, súditos!
♡♢♤♧
— Vocês já começaram o trabalho de Marketing de relacionamento? — Haruto encarou as duas garotas em sua frente. Estavam sentados em uma das mesas na cafeteria que iam frequentemente.
— Eu nem sei como começar. Todo trabalho que faço para essa matéria dá errado. — Wendy soltou um suspiro. — Acho que o Akira me odeia. No último trabalho que entreguei eu senti que tinha evoluído, mas ele disse que eu precisava ser mais autoconfiante.
— Não seja tão dramática. Ele só estava tentando te ajudar a aprimorar suas habilidades — Mina disse dando um gole em seu café gelado.
— Sério? Ele sugeriu que eu criasse uma Persona pra mim. Eu preciso "entrar no personagem" para fazer um trabalho agora? — A watanabe ouviu o amigo conter uma risada, enquanto sua amiga pareceu pensar por um instante.
— É. Talvez ele te odeie um pouco. — Wendy revirou os olhos — Mas você consegue superar isso, só precisa ser mais incisiva. Crie uma Persona, que seja. Veja isso como um teste, você precisa ser mais forte para passar de nível, e se isso não lhe servir de incentivo, apenas pense que precisa terminar essa matéria para nunca mais ter aula com o Akira.
— Gostei mais da segunda opção — A de cabelo castanhos comentou.
Não é tão fácil agir conforme um personagem. Na verdade, o termo persona é usado como representação, algumas pessoas também fazem uso dessa palavra, criando uma espécie de personagem, especialmente pessoas extremamente tímidas e inseguras, que criam uma personalidade forte, com diversos pontos fortes e entram no personagem quando sentem que precisam dessa força e autenticidade. De certa forma, para Wendy não seria uma má ideia ter uma persona, entretanto, lhe parecia patético criar uma exclusivamente para fazer um trabalho da faculdade.
Mais tarde, quando todas as aulas do dia haviam terminado. O sol estava se pondo no momento em que o trio de amigos caminhava até a saída da faculdade. Estavam exaustos, assim como todos os alunos da instituição, já que o período estava chegando ao fim e, consequentemente, trazia provas e atividades de extrema importância para quem deseja as tão aguardadas férias.
— Não vejo a hora de chegar em casa e cair na cama — Haruto começou.
— Também... — Foi a vez de Mina falar — Vai para casa, Wendy?
— Só de noite. Tenho que trabalhar — Ela arrumou a mochila nas costas. Wendy estudava em tempo integral e trabalhava em uma loja de conveniência de noite, nos finais de semana fazia aula de artes marciais na academia e descansava um pouco, mas parecia que nunca era o suficiente.
— Sempre me pergunto como você consegue acordar cedo — Seu amigo comentou em um tom brincalhão, porém seus olhos tinham um toque de preocupação.
— Tenho sorte que meu emprego não ficar muito longe da minha casa — A garota disse antes de chutar uma pedra pequena que estava em seu caminho.
— Bem, nos vemos amanhã. Se tiver sem nenhum cliente, manda mensagem lá no grupo que a gente pode ficar conversando. — Ele sorriu e recebeu um aceno.
Wendy seguiu para um lado e seus amigos para o lado oposto. A loja de conveniência em que trabalhava se localizava no bairro de Shibuya, bairro vizinho de onde morava. A garota morava com sua mãe em uma casa não muito grande, mas de tamanho suficiente para duas pessoas morarem. Antes de ser apenas as duas, as Watanabe dividiam a moradia com George Darling, pai de Wendy.
George e Akemi se conheceram quando eram muitos jovens. Ele sendo um homem britânico, professor de inglês e literatura que tinha uma paixão por cultura e viagens, já ela sendo uma mulher japonesa, recém formada na faculdade de odontologia, que a princípio estava buscando um emprego, não um amor.
Tempos depois, após muita luta para conquistar Akemi, como diz George, eles finalmente começaram a namorar. O homem teve que voltar para a Inglaterra depois de um mês no Japão, entretanto o relacionamento permaneceu apesar da distância entre eles. Óbvio que mantiveram o contato e se falavam por telefone, mas não era a mesma coisa que estar juntos de verdade. Então, George conseguiu um emprego de professor de inglês e literatura na universidade de Tokyo, e finalmente voltou para Akemi.
Quase cinco anos depois tiveram Wendy, isso causou extrema felicidade em ambos, os dois amavam a filha e a garotinha também os amava. Se alguém pedisse para ela escolher um, ela diria que seria uma decisão muito difícil, praticamente impossível, embora em sua mente o nome de seu pai aparecesse de forma clara. Sempre foi a garotinha do papai, não tinha como negar.
Seu pai quem deu seu primeiro livro, que virou um de seus favoritos futuramente. Peter pan. O nome da menina foi retirado do clássico na literatura, assim como o de seu pai. Paralelamente, na ficção, George Darling é o pai de Wendy Darling e seus irmãos, os apaixonados pela história do menino que nunca cresce, amavam o fato de ter os mesmos nomes dos personagens, como se isso causasse uma ligação mais forte com o livro.
Quando Wendy tinha dezesseis anos seus pais lhe deram a notícia que iriam se separar, na época ela se sentia independente, forte, como se pudesse fazer qualquer coisa, vendo tudo com o olhar de uma criança, cheio de esperança. Entretanto, após o baque com a notícia, as coisas mudaram. Seu pai voltou para a Inglaterra, ligava com frequência e gostava de planejar as próximas viagens com a filha, seja ela indo visitá-lo, ou o contrário. Ela gostava da animação do mais velho toda vez que conversavam, mas também sentia falta de ter seu pai por perto.
Seu turno na loja de conveniência passou rápido, trocou algumas mensagens com Haruto quando ficava sozinha, deixando o celular de lado assim que alguém passava pela porta de vidro. A garota foi para casa às sete da noite, encontrando sua mãe jantando e a mesa pronta.
— Boa noite, filha. Como foi a aula? — Foi a primeira coisa que a mais velha falou.
— Boa noite. — A mais nova disse tirando os sapatos e os deixando perto da porta — Foi normal. — Caminhou até seu quarto para tirar a mochila das costas, quando voltou à cozinha, perguntou: — E o trabalho?
— Ótimo — Ela respondeu, vendo a filha se sentar em sua frente, para pegar a comida.
Akemi era dentista em um consultório no centro da cidade e sempre chegava em casa antes de sua filha, por isso quando Wendy retornava de noite o jantar já estava pronto. Assim, ela apenas comia, tomava banho e dormia. E foi o que a acastanhada fez, assim que terminou a refeição e suas higienes, caminhou até seu quarto e se jogou na cama, seus olhos já estavam pesados, então não demorou para que fosse para o mundo em seus sonhos. A sua Terra do Nunca.
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